(153) Estes dois modos tão diferentes de sair fora de mim mesma, eu os notei sensivelmente,
porque no primeiro modo, devendo eu obedecer ao confessor que vinha a me despertar, o vi desde
o lugar onde me conduzia Jesus; isto é, desde os confins da terra, ou do ar, ou dos montes, ou do
mar, ou do purgatório, ou mesmo do mesmo Paraíso, parecia-me que não tinha tempo de voltar
para que o confessor encontrasse minha alma no corpo, e poder obedecer, e como me encontrava
com a alma tão longe, Eu me agia toda, me angustiava e me afligia pensando que não teria tempo
de voltar ao corpo para que o confessor me encontrasse, e portanto não ter tempo de obedecer,
mas devo confessar que sempre me encontrei a tempo, e me parecia que a alma entrasse no
corpo antes que o confessor começasse a me dar a obediência de despertar.
(154) E mais, digo a verdade, muitas vezes eu via de longe o confessor que vinha, mas para não
deixar Jesus, parecia que não pensava em confessor que vinha e então o próprio Jesus me
apressava a voltar com a alma ao corpo para poder obedecer ao confessor, e então eu sentia uma
grande repugnância, por deixar a Jesus, mas a obediência vencia, e deixando a Jesus, Ele mesmo,
ou me beijava ou me abraçava ou fazia outra coisa para despedir-se de mim. E eu deixando ao
meu amado Jesus dizia: “Vou com o confessor, mas Tu, meu bom Jesus, volta logo que o
confessor se vá”.
(155) Estes são os dois modos pelos quais a alma parecia sair do corpo, e nestes dois modos de
sair a alma, Deus me fala. Este modo de falar, Ele mesmo o chama falar intelectual. Tentarei
explicar: A alma que sai do corpo e se encontra diante de Jesus, não tem necessidade de palavras
para entender o que o Senhor lhe quer dizer, nem a alma tem necessidade de falar para se fazer
entender, senão que tudo é por meio do intelecto, Que bem nos entendemos quando nos
encontramos juntos! De uma luz que de Jesus me vem à inteligência, sinto imprimir em mim tudo o
que meu Jesus quer que eu entenda. Este modo é muito alto e sublime, tanto que a natureza
dificilmente sabe explicá-lo com palavras, apenas pode dizer alguma idéia, este modo em que
Jesus se faz entender é rapidíssimo, num simples instante se aprendem muitas mais coisas
sublimes que lendo livros inteiros.
Oh, que mestre engenhoso é Jesus, que num simples instante
ensina muitas coisas, enquanto que qualquer outro necessitaria anos inteiros, se é que o
consegue, porque o mestre terreno não tem poder para poder atrair a vontade do discípulo, nem de
lhe poder infundir na mente sem esforços nem fadigas o que lhe quer ensinar, mas com Jesus não
é assim, tanta é sua doçura, a amabilidade de seu trato, a suavidade de seu falar, e ademais é tão
belo, que a alma apenas o vê se sente tão atraída, que às vezes é tanta a velocidade com que
corre ao lado de Jesus, que quase sem adverti-lo se encontra transformada no objeto amado, de
modo que a alma não sabe discernir mais seu ser terreno, tanto fica identificada com o Ser Divino.
Quem pode dizer o que a alma experimenta neste estado?
Precisaria do próprio Jesus, ou de uma alma separada perfeitamente do corpo, porque a alma encontrando-se outra vez circundada pelos
muros deste corpo, e perdendo essa luz que antes a tinha abismada, muito perde e fica
obscurecida, de tal modo que se quisesse dizer algo, o diria grosseiramente. Para dar uma idéia
digo que me imagino a um cego de nascimento, que nunca teve o bem de ver o que há no universo
inteiro, e que por poucos minutos tivesse o bem de abrir os olhos à luz, e pudesse ver tudo o que
contém o mundo: o sol, o céu, o mar, As tantas cidades, as tantas máquinas, as variedades das
flores e as tantas outras coisas que há no mundo, e depois daqueles poucos minutos de luz, voltei
à cegueira de antes. Poderia ele dizer claramente tudo o que viu? Somente poderia fazer um
esboço, dizer alguma coisa confusamente. Isto é uma semelhança do que acontece quando a alma
se encontra separada, e depois no corpo, não sei se digo desatinos; assim como a esse pobre
cego ficaria a pena da perda da vista, assim a alma, vive gemendo e quase em um estado violento,
porque a alma se sente violentada sempre para com o sumo Bem, é tanta a atração que Jesus
deixa na alma de Si, que a alma gostaria de estar sempre abstraída em seu Deus, mas isto não
pode ser, e por isso se vive como se vivesse no purgatório. Acrescento que a alma não tem nada
do seu neste estado, tudo é operação feita pelo Senhor.
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