(193) Uma manhã, não me lembro muito bem, creio que tinham passado cerca de três meses
desde que comecei a estar continuamente na cama, enquanto estava no meu estado habitual, veio
meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um jovem, como de dezoito anos. ¡ Oh como
era belo! , com sua cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que encadeava os
pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte serena e ampla, onde se olhava como dentro de um
cristal o interior de sua mente, e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. ¡ Oh
como me sentia tranquilizar minha mente, meu coração, aliás, minhas mesmas paixões diante de
Jesus caíam por terra e não se atreviam a me dar o mínimo incômodo. Eu acredito, não sei se
estou errada, que não se pode ver a este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda
que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter uma vista tão bela. Ah sim! Ao ver a
serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que creio
que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus não se acalme. Ó meu todo e belo
Jesus, se por poucos momentos que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que
se podem sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita
tranquilidade, me parece uma mistura de paz e de dor, o que será no Paraíso?
Oh, como são belos seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do sol que querendo olhá-la danifica
nossa vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o olhar, e só de olhar o interior
de sua pupila, de uma cor celeste escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus
olhos, que um só olhar seu basta para me fazer sair de mim mesma, e me fazer correr atrás Dele
por caminhos e por montes, pela terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e
sentir descer em mim algo de Divino. Quem pode dizer além da beleza de seu rosto adorável? Sua
tez branca semelhante à neve tingida de uma cor de rosas, das mais belas; em suas bochechas
rosadas descobre-se a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo Divino, que
infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá tanta confiança, que quanto a mim jamais
encontrei pessoa alguma que me dê ao menos uma sombra da confiança que dá meu amado
Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores, nem nas minhas irmãs. Ah sim, esse rosto santo,
enquanto é tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto, de modo
que a alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se veja.
Belo é também o seu nariz afiado, proporcional ao seu rosto. Graciosa é sua boca, pequena, mas
extremamente bela, seus lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça
que é impossível poder descrevê-lo. É doce a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto
fala sai de sua boca um perfume tal, que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante,
de modo que penetra tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos afetos produz,
Mas quem pode dizer tudo? Além disso, é tão agradável que acho que não se pode encontrar
outros prazeres como os que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de meu Jesus
é potentíssima, é obrante, e no mesmo ato que fala obra o que diz. Ah sim, é formosa sua boca,
mas mostra mais sua formosa graça no ato de falar, então se vêem seus dentes tão nítidos e bem
alinhados, e exala seu sopro, amor que incendia, setas são lançadas, consome o coração. Belas
são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os move com
uma maestria tal, que é um encanto. ¡¡¡¡¡¡ Oh, como você é bonito, todo bonito, oh meu doce
Jesus! O que eu disse sobre sua beleza é nada, é mais, eu acho que disse muitos desatinos. Mas
o que queres de mim? Perdoe-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido
a dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade.
(194) Agora, enquanto via Jesus com o aspecto já descrito, de sua boca me enviou um alento que
me investía toda a alma, e me parecia que Jesus me atraía com esse alento a Ele e comecei a
sentir que a alma saía do corpo, me sentia realmente sair de todas partes, da cabeça, das mãos e
até dos pés, sendo esta a primeira vez que me sucedia dentro de mim comecei a dizer: “Agora
morro, o Senhor veio para me levar”. Quando me vi fora do corpo, a alma tinha a mesma sensação
do corpo, com esta diferença, que o corpo contém carne, nervos e ossos, a alma não, é um corpo
de luz, portanto senti um temor, mas Jesus continuava a enviar-me esse alento e me disse:
(195) “Se te dá tanta pena estar privada de Mim, agora vem junto Comigo porque quero consolar
te”.
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