(232) Depois prosseguiu: “Se a fé faz crer, a esperança faz esperar, a caridade faz amar. Se a fé é
luz e serve de vista à alma, a esperança que é o alimento da fé fornece à alma o valor, a paz, a
perseverança e todo o resto; a caridade que é a substância desta luz e deste alimento, É como
aquele unguento dulcíssimo e odoroso que penetrando por toda parte, aplaca, adoça as penas da
vida. A caridade torna doce o sofrer e faz chegar a alma até mesmo a desejar este sofrimento.
A alma que possui a caridade expande odor por toda parte, suas obras feitas todas por amor
despedem odor gratíssimo, e qual é este odor? É o cheiro do próprio Deus. As outras virtudes
tornam a alma solitária e quase rústica com as criaturas; a caridade, ao contrário, sendo substância
que une, une os corações, mas onde? Em Deus. A caridade sendo unguento perfumado se
expande por toda parte e por todos. A caridade faz sofrer com alegria os mais impiedosos
tormentos, e chega a não saber estar sem o sofrer, e quando se vê privada dele diz a seu esposo
Jesus: “Me sustente com os frutos, como é o sofrimento, porque definho de amor, e em que outra
maneira posso te mostrar meu amor senão no sofrer por Ti? A caridade queima, consome todas as
outras coisas, e até as mesmas virtudes, e converte tudo nela. Em suma, é como uma rainha que
quer reinar em toda parte, e que não quer ceder este reinar a nenhum”.
(233) Quem pode dizer o que me ficou depois deste falar de Jesus? Só digo que se acendeu em
mim tal desejo de sofrer, e não só desejo, senão que sinto em mim como uma infusão, como uma
coisa natural, tanto, que tenho para mim como a maior desgraça o não sofrer. Depois disso,
naquela manhã, Jesus, para dispor principalmente meu coração, falou sobre a aniquilação de mim
mesma, também me falou sobre o desejo grandíssimo que devia me excitar para me dispor a
receber a graça. Dizia-me que o desejo supre as faltas e imperfeições que possam existir na alma,
que é como um manto que cobre tudo. Mas isto não era um falar simplesmente, era um infundir em
mim o que dizia.
(234) Enquanto minha alma estava se excitando em ardentes desejos de receber a graça o próprio
Jesus queria fazer-me, Ele voltou e transportou-me para fora de mim mesma, para o paraíso, e ali,
diante da presença da Santíssima Trindade e de toda a corte celestial renovou o matrimonio. Jesus
tirou o anel adornado com três pedras preciosas, branca, vermelha e verde e o entregou ao Pai
que o abençoou e o devolveu ao Filho, o Espírito Santo me tomou a mão direita e Jesus me pôs o
anel no dedo anular. Depois fui admitida ao beijo da Três Divinas Pessoas e me abençoaram.
(235) Quem pode dizer minha confusão quando me encontrei diante da Santíssima Trindade? Só
digo que assim que me encontrei ante sua presença caí rosto em terra e ali haveria permanecido
se não tivesse sido por Jesus que me animou para ir a sua presença, tanta era a luz, a Santidade
de Deus. Só digo isto, as outras coisas deixo-as porque as recordo confusamente.
(236) Depois disto, recordo que passaram poucos dias, e ao receber a Comunhão perdi os sentidos e vi a
Santíssima Trindade que tinha visto no Céu presente diante de mim, logo me prostrei ante sua
presença, a adorei, confessei meu nada. Lembro-me que me sentia tão abismada em mim mesma
que não me atrevia a dizer uma só palavra, quando uma voz saiu do meio deles e disse:
(237) “Não temas, dá-te ânimo, viemos para te confirmar como nossa e tomar posse do teu
coração”.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade