LUZES INÉDITAS
Luisa é escolhida como vítima.
(103) “Aproxima-te a beijar as chagas de meu Filho, Ele te escolhe como vítima, e se tantos o ofendem, tu oferecendo-te a sofrer o que Ele sofre lhe darás um alívio em tanto sofrer, não o aceitas?”
(104) Eu me sentia tão aniquilada, tão má (como ainda sou) e indigna, que não ousava dizer “sim”. Minha natureza tremia, me sentia tão fraca pelas penas passadas, que mal me restava um fio de vida. Além disso, não sei como, de longe via os demônios que tanto alvoroçavam, faziam muito ruído, e via que tudo o que tinha visto que tinham feito ao Senhor deviam faze-lo a mim se aceitasse. Em mim mesma sentia tais penas, dores, estiramentos de nervos, que acreditei que deixaria a vida. Finalmente me aproximei e lhe beijei as chagas, parecia que ao fazê-lo aqueles membros tão lacerados se curavam, e o Senhor que antes parecia quase morto começava a reanimar-se a nova vida. Internamente recebia tais luzes sobre as ofensas que se cometem, atrações para aceitar ser vítima ainda que devesse sofrer mil mortes, porque o Senhor tudo merecia, e que eu não poderia opor-me ao que Ele queria. Isto acontecia enquanto estávamos em silêncio, mas aqueles olhares que reciprocamente nos dávamos eram tantos convites, tantas flechas ardentes que me trespassavam o coração. Especialmente a Santíssima Virgem me incitava a aceitar, mas quem pode dizer tudo o que passei? Finalmente o Senhor, olhando-me com benignidade, disse-me:
(105) “Tu viste o quanto me ofendem e quantos caminham pelos caminhos da iniqüidade, e sem o perceberem precipitam-se no abismo. Vem oferecer-te ante a Divina Justiça como vítima de reparação pelas ofensas que se fazem e pela conversão dos pecadores, que a olhos fechados bebem na fonte envenenada do pecado. Um imenso campo se abre diante de ti, de sofrimentos, sim, mas também de graças; Eu não te deixarei mais, virei em ti a sofrer tudo o que me fazem os homens, fazendo-te participar das minhas penas. Como ajuda e consolo te dou a minha Mãe”.
(106) E parecia que me entregava a Ela, e Ela me aceitava. Eu também me ofereci toda a Ele e à Virgem, disposta a fazer o que Ele queria, e assim terminou a primeira vez.
(107) Depois de me recuperar daquele estado, sentia tais penas, tal aniquilamento de mim mesma, que me via como um miserável verme que não sabia fazer mais que arrastar-se por terra, e dizia ao Senhor: “Ajuda, tua Onipotência me aterroriza, vejo que se Tu não me levantas, meu nada se desfaz e vai dispersar-se. Dá-me o sofrimento, mas te rogo me dê a força, porque me sinto morrer”. E assim começou um alternar-se de visitas de Nosso Senhor e de tormentos por parte dos demônios; quanto mais me resignava, tanto mais aumentava sua raiva.
(108) Poucos dias depois do dito anteriormente, senti de novo perder os sentidos (Lembro-me que no início, sempre que isso me acontecia, eu achava que devia deixar a vida). Quando perdi os sentidos, Nosso Senhor voltou a fez ver-se com a coroa de espinhos na cabeça, tudo jorrando sangue, e dirigindo-se a mim disse:
(109) “Filha, olha o que me fazem os homens; nestes tristes tempos é tanta sua soberba que infestaram todo o ar, e é tanta a peste que por toda parte se espalha, tanto, que chegou até meu trono no empírico. Fazem de tal modo que eles mesmos se fecham o Céu; os miseráveis, não têm olhos para ver a verdade porque estão ofuscados pelo pecado da soberba, com o cortejo dos demais vícios que levam consigo. Ah, dá-me um alívio a tão acerbos dores e uma reparação a tantas ofensas que me fazem”.
(110) Dizendo isto ele tirou a coroa, que não parecia coroa mais um novelo inteiro, assim, nem sequer uma pequena parte da cabeça ficava livre, mas toda era atravessada por aqueles espinhos.
Quando ele tirou a coroa, veio ter comigo e perguntou-me se eu a aceitava. Eu me sentia tão aniquilada, sentia tais penas pelas ofensas que lhe são feitas, que me sentia destroçar o coração e lhe disse: “Senhor, faz de mim o que queiras”. E assim o fez e a empurrou sobre minha cabeça e desapareceu.
2-13
Abril 12, 1899
Jesus disse a Luísa: Tu és o meu tabernáculo, aliás, sinto-me mais feliz em ti, porque te compartilho as minhas dores.
(1) Hoje, sem me fazer esperar tanto, Jesus veio logo e me disse:
(2) “Tu és o meu tabernáculo; para mim é o mesmo estar no sacramento que em teu coração, aliás, em ti se encontra outra coisa de mais, que é o poder participar minhas penas e te ter junto Comigo como vítima vivente ante a divina justiça, o que não encontro no Sacramento”.
(3) E enquanto dizia estas palavras se fechou dentro de mim. Estando em mim, Jesus fazia-me sentir agora as picadas dos espinhos, agora as dores da cruz, os esforços e os sofrimentos do coração. Em torno de seu coração via um trançado de pontas de ferro que fazia sofrer muito a Jesus. Ah! Quanta dor me dava vê-lo sofrer tanto, teria querido sofrer tudo eu antes de fazer sofrer a meu doce Jesus, e de coração lhe pedia que a mim me desse as penas, a mim o sofrer. Então Jesus me disse:
(4) “Filha, as ofensas que mais trespassam meu coração são as Missas ditas sacrílegamente, e as hipocrisias”.
(5) Quem pode dizer o que compreendi nestas duas palavras? Parece-me que externamente se faz ver que se ama, se louva ao Senhor, mas internamente se tem o veneno pronto para matá-lo; externamente se faz ver que se quer a glória, a honra de Deus, mas internamente se busca a honra, a estima própria. Todas as obras feitas com hipocrisia, mesmo as mais santas, são obras todas envenenadas que amarguram o coração de Jesus.
3-12
Novembro 24, 1899
Luisa quer receber as amarguras de Jesus.
(1) Esta manhã o meu doce Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma. Agora, como tenho visto tudo cheio de amargura, pedi-lhe e voltei a pedir-lhe que a derramasse em mim, mas, porque lhe roguei, não consegui obter que vertesse em mim suas amarguras, e conforme me aproximava de sua boca para recebê-las saía um hálito amargo. Enquanto fazia isto via um sacerdote que morria, mas não sabia bem quem era, e como tinha a intenção de rezar por um sacerdote doente, não o reconhecendo me confundi se era ele ou algum outro. Então eu disse a Jesus: “Senhor, o que fazes? Não vês quanta falta de sacerdotes há em Corato, e queres tirar-nos outros?” Jesus não me dando atenção e ameaçando com a mão dizia:
(2) “Eu os destruirei demais”.
4-13
Setembro 29, 1900
As almas vítimas são apoios e suportes para Jesus.
(1) Tendo passado alguns dias de silêncio entre Jesus e eu, e com pouco sofrimento, parece-me que gostaria de continuar a tentar fazer-me exercitar um pouco mais a paciência, e eis como:
(2) Ao vir, dizia: “Minha amada, do Céu te suspiro, no Céu, no Céu te espero”.
(3) E como relâmpago desaparecia. Depois, voltando, repetia: “Cessa já dos teus ardentes suspiros, que me fazes definhar continuamente, até desfalecer”.
(4) Outras vezes: “Teu ardente amor, tuas ânsias são consolo a meu triste coração”.
(5) Mas quem pode dizer tudo? Parecia-me que tinha vontades de fazer versos, e estes versos às vezes os expressava cantando-os; mas sem dar-me tempo de lhe dizer uma palavra, logo fugia.
Depois, esta manhã, tendo posto o confessor a intenção de me fazer sofrer a crucificação, vi a Rainha Mãe que chorava e quase discutia com Jesus para livrar o mundo dos tantos castigos, mas Ele mostrava-se relutante, E só para agradar à mãe, ela veio para me fazer sofrer. Pouco depois, como se tivesse diminuído um pouco disse:
(6) “Minha filha, é verdade que quero castigar o mundo, tenho na mão os castigos para golpeá-lo, mas é também verdade que se se interessarem tanto você como o confessor em rogar-me e sofrer, é sempre um apoio, e viriam a pôr tantos suportes para livrar o pelo menos em parte, caso contrário, não encontrar qualquer apoio e escora, mãos livres eu vou desabafar sobre as pessoas”.
(7) Dito isto desapareceu.
5-13
Junho 15, 1903
Quem se serve dos sentidos para glorificar a Nosso Senhor, conserva em si a sua obra Criadora.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, meu adorável Jesus, não sei como, via-o dentro do meu olho. Então eu me admirei e Ele me disse:
(2) “Minha filha, quem se serve dos sentidos para me ofender deforma em si minha imagem, por isso o pecado dá morte à alma, não porque verdadeiramente morra, mas porque dá a morte a tudo o que é Divino. Se, pelo contrário, se serve dos sentidos para me glorificar, posso dizer: “Tu és o meu olho, o meu ouvido, a minha boca, as minhas mãos e os meus pés”. E com isto conserva em si a minha obra criadora, e se ao glorificar-me acrescenta o sofrer, o satisfazer, o reparar por outros, conserva em si a minha obra redentora e, aperfeiçoando em si estas minhas obras, ressurge a minha obra santificadora, santificando tudo e conservando-o na própria alma, porque de tudo quanto fiz na obra criadora, redentora e santificadora, Transfundi na alma uma participação de mim mesmo obrar, mas tudo está em si a alma corresponde a minha obra”.
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5-14
Junho 16, 1903
O que torna a alma mais amada, mais bela, mais amável e mais íntima com Deus, é a perseverança no agir só para agradar a Ele.
(1) Continuando o meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma, e via o menino Jesus que tinha na mão uma taça cheia de amargura e uma vara, e Ele disse-me:
(2) “Olha minha filha que taça de amargura me dá a beber continuamente o mundo”.
(3) E eu: “Senhor, parti-me algo a mim, assim não sofrerás sozinho”.
(4) Então me deu a beber um pouquinho daquela amargura, e depois com a vara que tinha na mão pôs-se a trespassar-me o coração, tanto que fazia um buraco de onde saía um rio daquela amargura que tinha bebido, mas mudada em leite doce, e ia à boca do menino, que tudo se adoçava e confortava, e depois me disse:
(5) “Minha filha, quando dou à alma o amargo, as tribulações, se a alma se uniformiza à minha Vontade, se me agradece por isso, e disso me faz um presente oferecendo-o a Mim mesmo, para ela é amargo, é sofrimento, e para Mim se muda em doçura e alívio, mas o que mais me alegra e me dá prazer, é ver se a alma quando obra e padece está atenta a me agradar somente a Mim, sem outro fim ou propósito de recompensa, porém o que faz mais querida à alma, mais bela, mais amável, mais íntima no Ser Divino, é a perseverança neste modo de comportar-se, tornando-a imutável junto com o imutável Deus; porque se hoje faz e amanhã não; se uma vez tem um fim, e outra vez outro; hoje trata de agradar a Deus, amanhã às criaturas, é imagem de quem hoje é rainha e amanhã é vilíssima serva, hoje se alimenta de deliciosos alimentos e amanhã de porcarias”.
(6) Pouco depois desapareceu, mas logo voltou acrescentando:
(7) “O sol está para benefício de todos, mas nem todos gozam de seus benéficos efeitos. Assim o Sol Divino, a todos dá sua luz, mas quem goza seus benéficos efeitos? Quem tem abertos os olhos à luz da verdade, todos os outros, apesar de que o Sol está exposto ficam na escuridão; mas propriamente goza, recebe toda a plenitude deste Sol, que está tudo ocupado em me agradar”.
6-14
Volume 06
11
Dezembro 24, 1903
O desejo faz com que Jesus nasça na alma. O mesmo faz o demônio.
(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, veio o menino Jesus, e eu, vendo-o muito pequeno, como se acabasse de nascer, disse-lhe: “Meu querido, qual foi a causa, quem te fez vir do Céu e nascer tão pequeno no mundo?”
(2) E Ele: “O amor foi a causa, e não só isto, mas o meu nascimento no tempo foi o desabafo de amor da Santíssima Trindade para com as criaturas. Num desabafo de amor de minha Mãe nasci de seu seio, e num desabafo de amor renasci nas almas. Mas este desabafo é formado pelo desejo, assim que a alma começa a desejar-me, eu fico já concebido, quanto mais se adentra no desejo, assim me vou alargando na ama, quando este desejo enche todo o interior e chega a transbordar fora, então renasço em todo o homem, isto é, na mente, na boca, nas obras e nos passos.
(3) De igual modo, também o demônio faz seus nascimentos nas almas, assim que a alma começa a desejar e a querer o mal, fica concebido o demônio com suas obras perversas, e se este desejo vem alimentado, o demônio se engrandece e enche todo o interior de paixões, as mais feias e asquerosas, e chega a transbordar fora, dando ao homem o caminho de todos os vícios. Minha filha, quantos nascimentos faz o demônio nestes tristíssimos tempos, se tivessem poder, os homens e os demônios teriam destruído meus nascimentos nas almas”.
7-13
Abril 29, 1906
A alma vazia de tudo é como a água que corre sempre.
(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus, enchendo todo meu interior de Si mesmo me disse:
(2) “Minha filha, a alma vazia é como a água que corre sempre, e só se detém quando chega ao centro de onde saiu; e assim como a água que não tem cor pode receber em si todas as cores que nela se reflitam assim a alma vazia, corre sempre para o centro divino de onde saiu, e só se detém quando chega a encher-se toda, toda de Deus, porque estando vazia nada lhe escapa do Ser Divino, e como não tem cor própria recebe em si todas as cores divinas. Agora, só a alma vazia, porque está vazia de tudo, compreende as coisas segundo a verdade, por exemplo:
a preciosidade do sofrer, o verdadeiro bem da virtude, a única necessidade do eterno, porque para amar uma coisa é de absoluta necessidade que se odeie a coisa contrária à que se ama, e só a alma vazia é a que chega a tanta felicidade.
8-15
Outubro 29, 1907
O verdadeiro amor e sacrifício.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e via o Menino Jesus, que, pondo-se sobre a minha cama, me batia com as suas mãos todo o corpo, dando-me também pontapés. Quando me derrubou muito bem e pisou, desapareceu. Voltando em mim mesma não entendia o por que destes golpes, mas estava contente porque lembrava-me que eu mesma me punha debaixo de Jesus para ser mais golpeada. Depois, sentindo-me toda ferida, de novo fui surpreendida pelo bendito Jesus, que, tirando a coroa de espinhos, Ele mesmo a cravou na minha cabeça, mas com tal força que todos os espinhos me penetravam dentro; depois, entrando no meu interior, quase no ato de seguir adiante me disse:
(2) “Minha filha, como estamos? Vamos, vamos mais adiante em castigar o mundo”.
(3) Eu me assustei ao ouvir que unia minha vontade à sua no ir além nos castigos. E Ele acrescentou:
(4) “O que Eu te digo não deves esquecer. Lembra-te que há muito tempo eu te fazia ver os castigos presentes e aqueles que devia mandar, e tu, apresentando-te ante minha justiça, tanto imploraste em favor do género humano, oferecendo-te tu a sofrer qualquer coisa, que te foi concedido como esmola que em vez de fazer por dez faria por cinco em consideração tua. Por isso esta manhã te bati, para poder te conceder seu desejo, que deve fazer por dez faça só por cinco”.
(5) De novo acrescentou: “Minha filha, o amor é o que enobrece a alma e a põe em posse de todas minhas riquezas, porque o verdadeiro amor não tolera divisão de classe ou condição, por muito que um possa ser inferior ao outro. O que é meu é teu, esta é a linguagem de dois seres que na verdade se amam, porque o verdadeiro amor é transformação portanto, a beleza de um tira a fealdade do outro e o torna belo; se é pobre o torna rico; se é ignorante o converte douto; se é ignóbil o torna nobre; um é o batimento, um o respiro, uma a vontade em dois seres que se amam, E se algum outro batimento ou fôlego quiser entrar neles, eles se sentem sufocados, agitados e dilacerados, e ficam doentes.
Assim, o verdadeiro amor é saúde e santidade, e nele se respira um ar balsâmico, perfumado, qual é o respiro e a vida do mesmo amor, mas onde este amor fica mais enobrecido, mais consolidado, mais confirmado e maior, é no sacrifício, assim que o amor é a chama, o sacrifício a lenha; então onde há mais lenha, mais altas são as chamas, e o fogo é sempre maior.
O que é sacrifício? É o desvirar-se um no amor e no ser da pessoa amada, e quanto mais se sacrifica, tanto mais fica consumado no ser amado, perdendo seu ser e retomando todos os lineamentos e nobreza do Ser Divino. Olhe, também no mundo natural a coisa passa assim, se bem em modo muito imperfeito, quem adquire nome, nobreza, heroísmo, um soldado que se sacrifica, se expõe às batalhas, expõe a vida por amor do rei, ou algum outro que se está com os braços cruzados? Certamente o primeiro. Assim, um servo, quem pode esperar sentar-se à mesa de seu mestre, o servo fiel que se sacrifica, que põe a própria vida, que tem mais cuidado dos interesses de seu amo que dos seus por amor a seu amo, ou aquele servo que, embora faça seu dever, quando pode fugir do sacrifício o evita? Certo que o primeiro. E assim o filho com o pai, o amigo com o amigo, etc. Assim que o amor enobrece e une e forma uma só coisa; o sacrifício é a lenha para engrandecer o fogo do amor, e a obediência ordena tudo”.
9-12
Julho 29, 1909
A paz é virtude divina.
(1) Continuando o meu habitual estado dizia entre mim: “por que o Senhor quer que não entre em mim nem um sopro de perturbação, e que em todas as coisas me mantenha sempre em paz?
Parece que nada lhe agrada, ainda que fossem obras grandes, virtudes heróicas, sofrimentos atrozes; parece que Ele cheira a alma, e apesar de todas estas obras, virtudes e sofrimentos, se não há paz fica nauseado e descontente da alma”. Nesse momento se fez ouvir, e com uma voz digna e imponente, respondendo a meu “porque”? , disse-me:
(2) “Porque a paz é virtude divina, e as outras virtudes são humanas; assim, qualquer virtude, se não é coroada pela paz, não se pode chamar virtude, mas vício. Eis por que me preocupo tanto com a paz, porque a paz é o sinal mais certo de que se sofre e se trabalha por Mim, e é a herança que dou a meus filhos, a paz eterna que gozarão Comigo no Céu”.
10-17
Fevereiro 8, 1911
O amor torna Jesus feliz. Luísa, o Paraíso de Jesus na terra.
(1) Continuando meu habitual estado, passei cerca de seis dias imersa no amor de meu bendito Jesus, tanto, que às vezes sentia que não podia mais e lhe dizia: “Basta, basta porque não posso mais”. Sentia-me como dentro de um banho de amor que me penetrava até a medula dos ossos, hora me falava Jesus de amor e de quanto me amava, e hora eu lhe falava de amor. O belo era que às vezes Jesus não se deixava ver, e eu nadando neste banho de amor sentia romper-me o cerco da pobre natureza, e me lamentava com Jesus, e Ele me sussurrava ao ouvido:
(2) “O Amor sou Eu, e se você sente o amor, certo é que estou contigo”.
(3) Outras vezes, me lamentando, me dizia ao ouvido, mas tudo de improviso:
(4) “Luísa, tu és o meu paraíso na terra, e o teu amor faz-me feliz”.
(5) E eu: “Jesus, meu amor, o que dizes? Queres gozar comigo? Você está feliz por Si mesmo, por que diz que está feliz por mim?”
(6) E Ele: “Ouça-me bem, minha filha, e entenderá o que Eu te digo. Não há coisa criada que não tenha vida de meu coração, todas as criaturas são como tantas cordas que saem de meu coração e que têm vida de Mim, por isso por necessidade e naturalmente tudo o que fazem repercute em meu coração, ainda que seja um só movimento; por consequência, se fazem mal, se não me amam, dão-me contínuo incômodo, aquela corda faz soar em meu coração sons de desgostos, de amarguras, de pecados e forma sons fúnebres que me tornam infeliz por parte daquela corda ou vida que sai de Mim; em troca se me ama e está toda atenta a me contentar, aquela corda me dá contínuo prazer e forma sons festivos, doces, que harmonizam com a minha própria Vida, e por parte daquela corda Eu gozo tanto, até me tornar feliz e gozar por causa dela meu mesmo paraíso.
Se compreendes bem tudo isto, não dirás mais que me burlo de ti”.
(7) E agora digo o que dizia eu de amor e o que dizia Jesus, o direi enlouquecendo e talvez revoltado, porque a mente não se adapta de tudo às palavras:
(8) “Oh! meu Jesus, amor és Tu, és todo amor, e amor eu quero, amor desejo, amor suspiro, amor eu suplico e te rogo amor, amor me convida, o amor me é vida, amor me arrebata o coração até o seio de meu Senhor. De amor me embriaga, de amor me faz feliz. Eu sozinha, sozinha e só para Ti! Você sozinho, e só para mim! Agora que estamos sozinhos falemos de amor, ah! faz-me entender quanto me amas, porque só em teu coração, amor se compreende!”
(9) “De amor queres tu que te fale? Escuta filha amada minha vida de amor: Se respiro te amo; se me bate o coração, meu coração te diz amor, amor, são loucuras de amor por ti; se me movo, amor te acrescento, de amor te inundo, de amor te circundo, de amor te acaricio, de amor te flecho, de amor te atraio, de amor te alimento e agudos dardos te mando ao coração”.
(10) “Pare com isso! meu Jesus por agora, já me sinto desfalecer de amor, segure-me entre teus braços, me endireite em teu coração e desde dentro dele me faz desalar também a mim de amor, de outra maneira morro de amor, de amor deliro, de amor me queimo, de amor faço festa, de amor definho, de amor me consumo, o amor me mata e me faz ressurgir mais bela a uma vida nova. A minha vida foge-me e sinto só a vida de Jesus, meu amor, e em Jesus meu amor sinto-me imensa e amo todos, sinto-me ferida de amor, doente de amor, de amor, embeleza-me e faz-me mais rica ainda. Dizer mais não sei, oh! Amor, só Tu me entendes, Tu só me compreendes, meu silêncio te
diz mais ainda, em teu belo coração se diz mais com o calar que com o falar, e amando se aprende a amar. Amor, Amor, fala só Tu, porque sendo amor sabes falar de amor”.
(11) “Amor tu queres ouvir? Tudo o que é criado te diz amor: Se as estrelas brilham amor te dizem; se nasce o sol, amor te manda; se resplandece de toda a sua luz no seu pleno meio-dia, dardos de amor te manda ao coração; se o sol se põe te diz: “Jesus morre por ti de amor”. Nos trovões e relâmpagos amor te mando e toques de beijos te dou ao coração; sobre as asas dos ventos é amor que corre; se murmuram as águas te estendo os braços; se se movem as folhas, te estreito ao coração; se perfuma a flor, te recreio de amor. Tudo o que foi criado em linguagem muda diz ao coração: Só de ti quero vida de amor. Amor Eu quero, amor desejo, amor mendigo de dentro do coração, só estou contente se me der amor”.
(12) “Meu bem, meu tudo, amor insaciável, se queres amor, dai-me amor; se me queres feliz, amor me dizes; se me queres contente, amor me entregas. Amor me investe, amor me eleva, me leva ao trono de meu Criador; o amor me indica a sabedoria incriada e me conduz ao eterno amor e aí eu faço minha morada.
(13) Vida de amor viverei em teu coração, te amarei por todos, te amarei com todos, te amarei em todos. Jesus, seque-me toda de amor dentro de teu coração, abre-me as veias e em vez de sangue faz correr amor; tira-me o fôlego e faz que respire ar de amor; queima-me os ossos e as carnes e toma-me toda, toda de amor. O amor me transforme, o amor me conforme, o amor me ensine a sofrer Contigo, o amor me crucifique e me torne toda similar a Ti”.
11-13
Março 20,1912
O todo está em dar tudo a Jesus e fazer em tudo e sempre o seu Querer.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, meu sempre amável Jesus fazia-se ver todo sofredor e me disse:
(2) “Minha filha, não querem entender, que o todo está em dar tudo a Mim e fazer em tudo e sempre o meu Querer; quando Eu obtiver isto, Eu mesmo vou empurrando as almas dizendo a cada uma:
“Minha filha, toma este gosto, este conforto, este consolo, este descanso”, com esta diferença, que antes de dar-se toda a Mim e de fazer em tudo e sempre minha Vontade, se os tomava eram humanos, em troca depois são divinos, e Eu, sendo coisas minhas, já não me dão ciúmes e digo entre Mim: “Se toma o lícito prazer toma-o porquê o quero Eu, se trata com pessoas, se licitamente conversa, é porque o quero Eu, e se Eu não o quisesse ela está disposta e pronta a deixar tudo”, e por isso Eu ponho as coisas a sua disposição, porque tudo o que faz é todo o efeito do meu Querer, não mais do seu. Diz-me! Minha filha, o que te faltou desde que me deste tudo? Dei-te os meus gostos, os meus prazeres e todo o Eu mesmo para tua satisfação, isto na ordem sobrenatural, e na ordem natural também não te fiz faltar nada, confessores, comunhões, e todo o resto, aliás, tu querendo só a Mim não querias aos confessores tão frequentemente, Mas eu, desejando que abundasse de tudo quem de tudo se queria privar por Mim, não te prestei atenção. Filha, que dor sinto em meu coração ao ver que as almas não o querem compreender, nem mesmo as almas que se dizem as melhores!”.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade