LOUVOR MATUTINO
Chegada, no entanto, a manhã, a manhã, antes de raiar o dia, à hora destinada ao cântico dos louvores divinos, em união á minha dileta Mãe e a seu esposo José, adorei o Pai. Tendo pedido seu auxílio para aquele exercício, começamos a louvá-lo. Parece que seria supérfluo pedir ajuda ao Pai para aquele exercício, visto que eu não sou sujeito a distrações, ou ao que impeça louvá-lo com toda a perfeição; igualmente minha Mãe, por ser isenta de culpa e José, por ser tão santo e perfeito. Todavia no princípio de cada ação, sempre unidos pedíamos ao Pai ajuda e favor. Eu naquele ato, não pedia só por mim, mas também por todos os meus irmãos e principalmente por aqueles que deixam de fazê-lo. Oferecia-o depois ao Pai em nome de todos, para que ficasse satisfeito em relação a todos. Fazia-o ainda, porque tendo vindo ao mundo para ensinar aos irmãos o modo com o qual devem se portar relativamente ao Pai e como viverem para agradar-lhe, e cumprir a sua vontade, quis em todas as minhas obras deixar-lhes exemplo vivo e perfeito, e por isto, antes de cada obra preparava-me pedindo ao Pai o seu favor, embora não tivesse tal necessidade por estar unido inseparavelmente à pessoa do Verbo, Deus, em tudo igual ao Pai.
Fazia, porém, estes atos, por serem do gosto de meu Pai, e depois para satisfazer pela obrigação de meus irmãos e ensinar-Ihes a fazerem suplicas sem omiti-las, por mais que se julguem santos e perfeitos porque não existe alguém, por santo e perfeito que não tenha em todas as ações e operações, grande necessidade do auxilio e favor do Pai, especialmente nas coisas relativas ao culto, a fim de realiza-las conforme devem e são obrigados, e com a perfeição requerida pelo Pai. Terminados os louvores divinos, demos graças ao Pai. Em seguida, eu Ihos ofereci, como costumava fazer sempre, por parte de todos os meus irmãos, agradecendo-Ihe ainda em nome de todos e rogando desse-Ihes Iuz para conhecerem a grande graça que Ihes faz ao comprazer-se em ser louvado por eles, no intuito de que ofertem os louvores ao Pai e agradeçam-lhe pelos favores concedidos. Ao ver que muitos nisto falhariam, parecendo-lhes fazer ao Pai grande favor, enquanto, na verdade, o favor Ihes é feito a eles, agradecia em seu lugar, e pedia ao Pai iluminasse-os para que o conhecessem. Estes atos apraziam muito ao Pai, que me prometia dar a todos a Iuz por mim suplicada, como de fato o vai realizando. Ele a concede a cada um, embora não penetre na mente de muitos, porque estão mergulhados nas trevas, que impedem tal efeito, assim como as nuvens impedem que os raios do sol penetrem bem onde elas se estendem. Grande pesar sentia por causa destes espíritos tão obcecados. Por eles suplicava muito ao Pai se dignasse projetar-Ihes na mente as mais poderosas luzes, as quais, dissipando-Ihes a cegueira, produzissem efeitos divinos. Tanto pedi que obtinha o que almejava, se não para todos, ao menos para muitos. Delas eram privados os que não Ihes davam importância e não queriam prevalecer-se delas. Em todos os atos e súplicas ao Pai, em vista de obter favores e graças para os meus irmãos, embora alcançasse o que almejava e encontrasse o Pai disposto a conceder-me tudo, sempre restava algum pesar por ver a vontade perversa de alguns, que jamais se renderiam à graça divina, e sempre resistiriam as suas luzes, querendo permanecer na cegueira e na obstinação. Oh! quanto esses tais me traspassaram Coração! Meu Coração estava desejoso da salvação de todos e de que todos servissem e amassem o Pai como deviam. Vendo-me desenganado em relação a este desejo, por causa da dureza deles, sofria continua dor.
A BENÇÃO
Terminados todos esses atos, à hora da partida, genuflexo em terra, pedia benção a meu Pai. O mesmo fizeram a querida Mãe e José. Obtida a benção do Pai com toda a plenitude, supliquei-a também à minha querida Mãe e a São José. Apesar de relutantes, abençoaram-me com grande amor, cumprindo a vontade do Pai, que determinou fosse-Ihes eu submisso. Na ocasião da benção que deram, roguei ao Pai comunicasse-Ihes vivo desejo de que eu fosse por todos conhecido e honrado como Filho de Deus e por meu intermédio as divinas misericórdias se manifestassem ao mundo. Meu Pai, de fato, o fez e eles, ao dar-me a benção exprimiram-me seu vivo desejo, qual me foi muito agradável; muito mais do que a Jacó a benção de Isaac, seu pai, pois aquela tendia vantagem e esta tendia inteiramente somente a glória de meu Pai e ao bem de meus próprio irmãos. Quis esta benção de modo particular, porque devia começar pela primeira vez a ficar em público e a manifestar a obra do Pai. Quis realizá-lo com todas as circunstâncias requeridas, dando exemplo a todos aqueles que hão de manifestar ao mundo a palavra divina, de pedirem antes a benção a meu Pai. Procurem entender a divina vontade, fazendo além disso muitas orações prévias, em vista de obterem o favor divino. Alcançado esse, devem ainda obter a benção e o beneplácito dos superiores e daquele que os governa, a fim de que a palavra que hão de manifestar produza próprio efeito. Então fiz todos esses atos, não só por mim, mas por todos aqueles que nisto se empenhariam, e em suplência por todos os que omitiriam, impetrando-Ihes do Pai a graça necessária para assim agirem. Obtida a benção, abençoei a ambos, em nome do Pai, impetrando auxílio e graça para aquela viagem e fortaleza em sofrerem as tribulações preparadas para eles. Mostrei-me assim ser-Ihes afeiçoado, reconhecendo os serviços que deles recebia. Ofereci esta gratidão ao Pai, em desconto de muitas ingratidões dos filhos para com seus genitores. Depois que estes muito se afadigaram e esgotaram para criá-los, são pagos pelos mesmos com ingratidões e desprezos.
Sentia a este respeito muita pena e mais ainda porque desagradam muito a meu Pai, transgredindo o seu preceito. Por esta razão, oferecia-Ihe frequentemente a minha gratidão, obediência e submissão em desconto por eles. Com isso, o Pai muito se aplacava. Do contrario, teria castigado severamente ainda em vida a esses tais, porque com rigor de justiça reclama de todos os filhos a honra e o respeito aos progenitores, e a submissão a pessoa deles, principalmente quando não ordenam coisas opostas a vontade de meu Pai. Então, é certo que não são obrigados a obedecer, se eles ordenarem coisas contrárias a vontade divina e ofensivas a Ele. Vi então, como nesta questão se desviavam do mandamento divino tanto os pais como os filhos. Ao verificar tamanha desordem, tantos erros, e como neste ponto se caminha de modo tão diversa da ordem estabelecida por meu Pai, senti imenso pesar. Via todas essas desordens como uma corrente sem barragem, e muito me afligia por tanta confusão. Suplicava ao Pai, pedindo misericórdia e piedade para cada um. O Pai se demonstrava a respeito disso muito irado e prestes a castigá-los. Com novas súplicas e novas ofertas tanto fazia que se aplacava. Quantas graças, depois de vê-lo aplacado, obtinha para todos! Em seguida, via em muitos deles os efeitos pelos quais ansiava, e rendia graças depois ao Pai, também por parte de todos aqueles que aproveitariam suas misericórdias. Ao Pai agradaram muito meus agradecimentos. Aplacava-se e safisfazia-se.
A PARTIDA. ALEGRIAS
Havendo obtido do Pai quanto desejava e feito os costumeiros atos, unido à querida Mae e a São José, dirigi-me a Jerusalém para ir ao Templo. Andava no meio deles no caminho, ia no meio, para que cada um fruísse de minha presença e proximidade, pois enquanto filho muito amado, não podiam suportar que me distanciasse deles. Ainda, porque aquele lugar competia-me qual Filho de Deus. Ocupando o meio, demonstrava que os dois se ocupavam de minha pessoa. Era muito grande o jubilo de seus corações ao ver-me entre eles. Prosseguia com majestade e simultaneamente com grande jovialidade e amor, nesta viagem mais do que as outras, pois deviam sofrer depois dor tão intensa por causa de minha perda. Não experimentavam tédio ou cansaço naquela caminhada por terem consigo aquele que os consolava plenamente. Eram levados mais pelas asas do amor do que pelos passos. Alegrava-me, também eu, em vista de seu consolo. O prazer deles era pleno, porque não sabiam o que devia se seguir, meu era misturado de dor, pela tribulação que em breve deviam suportar. Amando-os muito, assaz me afligia a sua tribulação. Prosseguíamos no entanto os três com grande alegria. Mas, eu alegrava-me muito porque ia ao Templo por uma finalidade muito mais nobre do que a deles, no intuito de manifestar as misericórdias do Pai e tornar conhecida minha vinda ao mundo, enquanto eles iam só para cumprir a obrigação, adorar o Pai e oferecer-se a Ele.
Este fim, tinha-o também eu. Mas além desse, possuía ainda outra finalidade mais nobre, como já disse, e, portanto, motivo de maior alegria. Nesta caminhada, por conseguinte, oferecia ao Pai meu regozijo e as finalidades pelas quais ia ao Templo, em suplemento por aqueles que se dirigem, por finalidades tão diversas, aos templos que Ihe são dedicados, e onde tenho meu trono, com tamanha majestade. Via naquela viagem todos os meus irmãos e conhecia a maneira de cada um se portar, quando se dirigisse a casa de meu Pai para adora-lo. Vi todos os defeitos e as faltas que cometeriam pelo caminho. Vi terem fins muito diferentes daqueles que deveriam possuir. Vi a pouca devoção e compostura com os quais se encaminham para a casa de Deus. Senti grande confusão neste particular por causa deles. Em verdade, não ousava voltar-me ao Pai para pedir-Ihe perdão em nome de todos. Vi que muitas e muitos, ao invés de irem em minha companhia, levando-me no coração, iriam acompanhados dos inimigos infernais, e em vez de tencionarem oferecer-se ao Pai e adorá-lo, ofertar-se-iam ao inimigo, adorá-lo-iam, prestar-lhe-iam culto e lhe dariam satisfação. Apesar de toda a minha confusão, não deixei de voltar o olhar ao Pai e com todo o afeto suplicara e perdão, em favor de cada um em particular, segundo a necessidade de cada qual. Ofereci ao Pai, em nome de todos, os fins tão nobres que me propunha ao encaminhar-me para o Templo, o amor com o qual para lá me dirigia, a preparação que fizera antes de empreender a caminhada. Vendo que o Pai tinha muito gosto nestas minhas ofertas e nas minhas obras, tão perfeitas em tudo, pedi-Ihe se dignasse recebe-las em suplência das faltas de meus irmãos. O Pai amoroso aceitava-as com grande amor. Em verdade, demonstrava-se como Deus das misericórdias em tudo e por tudo. Agradecia-lhe, pois, essas ocasiões, nas quais patenteava sobretudo sua misericórdia. Agradecia-lhe pela misericórdia que usava e em seguida agradecia-lhe por me haver mandado ao mundo, onde podia dar-lhe plena satisfação pelas culpas de todo o gênero humano eu haver mandado ao mundo, onde podia depois de todo o gênero humano. De outra maneira, não teria existido quem por grande santo que fosse, pudesse dar ao Pai satisfação proporcional à gravidade e a multidão inumerável das culpas cometidas pelas criaturas em todas as ocasiões. Só um mérito infinito seria bastante para satisfazer por elas e aplacar Pai irado. Tao grande é o numero das culpas, e tamanha a sua deformidade e malícia, que frequentemente sentia-me repleto de confusão e não ousava apresentar-me ao Pai para pedir-Ihe perdão.
Fazia-o, contudo, reconhecendo meu merecimento infinito, por estar unido ao Verbo. Oferecendo ao Pai meu mérito e as minhas obras, dava-lhe satisfação superabundante, por ser, enquanto Verbo, Deus igual a Ele, e de merecimento infinito. Feitas estas ofertas, pedia concedesse todos os meus irmãos verdadeiro sentimento de amor, na caminhada que fazem a seu Templo, e luzes particulares para conhecerem a maneira de se portarem; isto é, indo para lá com devidas disposições e reverência, sejam-Ihe agradáveis os passos que dão, e em consequência, sejam também premiados. O Pai é tão liberal para com seus servidores que não se premeia os passos dados por sua glória, mais até os respiros da criatura, ao agirem por sua glória. Senão, há de perecer um só cabelo de quem o serve, isto e, um só pensamento, muito menos respiro será debalde, não recompensado. O Pai atendeu-me nisto e vi naquele instante todas as graças, as luzes, os bons sentimentos que daria a cada um. Como eram em grande abundância, muito me regozijei e agradeci por parte de todos. Este regozijo, porém, foi muito amargurado, porque vi também que quase todos os meus irmãos abusariam de tanta graça e bem poucos seriam os que aproveitariam as luzes, inspirações e bons sentimentos que meu Pai Ihes comunicaria. Ao ver que a maioria deles tudo desprezaria e sem dar-Ihes importância alguma, teriam seguido antes as sugestões dos inimigos infernais, que com todo o seu poder nisto se empenham, para privarem meu Pai daquela glória e as criaturas de tantos bens, senti sumo desgosto, que me feria o Coração e voltei-me para o Pai, exclamando: “Pai amantíssimo, tende piedade de todas estas criaturas tão enganadas e assediadas por seus inimigos! Concedei-lhes maior graça, luzes mais potentes e sentimentos mais fortes! Recordai-vos de que são obra e produto de vossas mãos e assim por meu amor. tende piedade delas!” O querido Pai movia-se à compaixão e fazia-me ver as novas e maiores graças que Ihes concedia por meu amor e por minhas suplicas. Por isso, muito lhe agradecia, o engrandecia e louvava, considerando feito a mim mesmo o que Ele fazia a meus irmãos, uma vez que tudo fazia por amor, e por ter eu por isso rezado.
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