LIVRO DO CÉU VOLUME 1
(216) Outras vezes me fazia ficar no lugar que me tocava e me dizia: “Este é seu lugar, ninguém pode te tirar”. E
às vezes eu chegava a acreditar que não devia voltar mais à terra, mas em um simples instante
me encontrava fechada no muro deste corpo. Quem pode dizer o quão amargo eu estava de volta?
A mim me parecia, pelas coisas do Céu, que as desta terra tudo era podridão, insípido, fastidioso;
as coisas que tanto deleitam aos demais, para mim eram amargas, as pessoas mais amadas, mais
respeitáveis, que os demais quem sabe o que teriam feito para entreter-se com elas, a mim me
resultavam indiferentes e até fastidiosas, só vendo-as como imagens de Deus me parecia que
podia suportá-las, mas minha alma tinha perdido toda satisfação, nada lhe dava a menor sombra
de contente, e era tanta a pena que eu sentia que não fazia mais do que chorar e lamentar-me
com meu amado Jesus.
Ah! Meu coração vivia inquieto, entre contínuas ânsias e desejos, me
sentia mais no Céu que na terra, sentia em meu interior uma coisa que me roía continuamente,
tanto, que me resultava amargo e doloroso ter que continuar vivendo. Mas a obediência pôs um
freio a estas penas minhas, mandando-me absolutamente que não desejasse morrer, e que só
devia morrer quando o confessor me desse a obediência. Então para cumprir esta santa
obediência fazia quanto mais podia para não pensar nisso, porque meu interior era uma
contínua jaculatória de desejo de me querer ir. Assim, em grande parte meu coração se acalmou,
mas não de todo. Confesso a verdade, muito faltou nisto, mas o que podia fazer? Não sabia deter
me, para mim era um verdadeiro martírio. Meu benigno Jesus me dizia:
(217) “Acalma-te, qual é a coisa que tanto te faz desejar o Céu?”
(218) E eu lhe dizia: “Porque quero estar sempre unida Contigo, minha alma não resiste mais estar
separada de Ti, não só por um dia, nem sequer por um momento, por isso a qualquer custo quero
ir”.
(219) “Pois bem”. Dizia-me. “Se é por Mim te quero contentar, virei a estar contigo”.
(220) Eu lhe dizia: “Mas logo me deixa e eu te perco de vista, em troca no Céu não é assim, lá jamais te
perderei de vista”
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