Livro do Céu Volume 1-25
Depois disso me veio outra mortificação, que foi a de ter que mudar de confessor, porque sendo ele religioso foi chamado ao convento. Eu estava contente com ele, e a maior parte das coisas ditas acima aconteciam quando ele estava no campo, especialmente no último ano que foi meu confessor, pois pela cólera que havia na cidade, permaneceu seis meses no campo; por isso não participou tanto35 nessas coisas.
35 Ou seja, rumores
Ele fazia-me ficar um dia nesse estado de sofrimento e vinha. Depois de ter voltado do campo, não passou um mês, e soube que devia partir; isto foi doloroso para mim, não porque estivesse apegada a ele, mas pela necessidade que tinha. Então disse ao Senhor minha pena, e Ele me disse: “Não te aflijas por isso, Eu sou o mestre dos corações, e posso movê-los como me parece e me agrada. Se ele te fez o bem, não foi nada além de um instrumento, que recebia de mim e dava a ti, assim farei com os demais, de que tens medo? Amada minha, enquanto tiveres teu olhar, ora à direita, ora à esquerda, e o deixares repousar agora em uma coisa, agora em outra, e não conservando-o fixo em Mim, não poderás caminhar livremente o caminho do Céu, mas irás sempre tropeçando e não poderás seguir o influxo da Graça. Por isso quero que com santa indiferença olhes todas as coisas que acontecem ao teu redor, estando toda atenta somente a Mim”.
Depois destas palavras meu coração adquiriu tanta força, que pouco ou nada sofri pela perda desse confessor que tanto bem tinha feito à minha alma.
Foi assim que mudei de confessor e voltei ao que me confessava quando era pequena36. Seja sempre bendito o Senhor, que se serve desses mesmos caminhos que a nós parecem contrários e que praticamente deveriam levar um dano à nossa alma, para nosso
36 D. Michele de Benedictis foi seu confessor de 1888 a 1898.
maior bem e para Sua glória. Assim aconteceu que comecei a abrir-lhe a minha alma, porque até esse momento não tinha dito nada a nenhum; por quanto me dissessem não o conseguia, me via bem mais impotente para dizer as coisas de meu interior, tanta era a vergonha que sentia só em cogitar, que me era mais fácil dizer os mais feios pecados37. De onde veio isto, não sei dizer, por parte do confessor acho que não, porque ele era muito bom, me inspirava confiança, era doce e paciente para escutar, tomava cuidado detalhado de minha alma, tinha o olhar em tudo para que se pudesse caminhar direito. Por parte minha tampouco, porque sentia um obstáculo em minha alma e tinha toda a vontade de vencê-lo e de saber ao menos como pensava o confessor, mas me sentia impossibilitada de fazê-lo. Eu acredito que foi uma permissão do Senhor.
Então, encontrando-me com o novo confessor, comecei pouco a pouco a abrir meu interior; o Senhor muitas vezes me ordenava que manifestasse ao confessor o que Ele me dizia, e quando eu não o fazia, o Senhor me repreendia severamente e às vezes chegava a me dizer que se não o fizesse, Ele não viria mais; isto é para mim a pena mais amarga, diante da qual todas as outras penas não me parecem mais do que fios de palha; por isso, tanto era o temor de que não voltasse
37 Para Luísa foi uma cruz muito pesada — por toda a sua
vida — ter que dizer ou escrever tudo o que aconteceu entre
ela e Jesus.
mais, que fazia o quanto podia para manifestar meu interior. É verdade que às vezes me custava muito, mas o medo de perder o meu amado Jesus fazia-me superar tudo. Por parte do confessor também me via compelida a lhe dizer de onde provinha tal estado meu, o que me acontecia quando estava naquele adormecimento e qual era a causa; ora me ordenava manifestar, ora me obrigava com preceito de obediência, e logo me punha diante o temor de que pudesse viver na ilusão e no engano, vivendo para mim mesma, enquanto que se o manifestasse ao sacerdote poderia estar mais segura e tranquila, e que o Senhor jamais permite que o sacerdote se engane quando a alma é obediente. Assim, Jesus Cristo me compelia por um lado e o confessor por outro; às vezes me parecia que se punham de acordo entre eles. Assim pude chegar a manifestar meu interior. Isto não o fazia o confessor anterior, não me fazia nenhuma pergunta, não tratava de saber que coisas me aconteciam naquele estado de dormência, pelo que eu mesma não sabia como começar a falar destas coisas. O único cuidado que tomava era que estivesse resignada, uniformizada ao Querer de Deus, que suportasse a cruz que o Senhor me tinha dado, tanto que se às vezes me via um pouco perturbada, experimentava grande desgosto.
Depois aconteceu que passei cerca de outro ano com este confessor, no mesmo estado dito acima, mas como sabia de onde provinha esse estado de sofrimento, me dizia que quando Jesus Cristo quisesse que me viessem os sofrimentos, fosse pedir a ele a obediência para sofrer.
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