Livro do Céu Volume 1-26
Recordo que uma manhã depois da comunhão o Senhor me disse: “Filha, são tantas as iniquidades que se cometem que a balança da minha Justiça está por transbordar. Agora saiba que pesados flagelos farei cair sobre os homens, especialmente uma feroz guerra na qual farei massacre de carne humana. “Ah sim””, continuou quase chorando. “Eu dei os corpos aos homens, a fim de que fossem tantos santuários onde devia ir me deleitar, mas os transformaram em esgotos de imundícies, e é tanta a pestilência que me obrigam a estar longe deles. Vê a recompensa que recebo diante de tanto amor e tanta dor que sofri por eles. Quem foi tratado como Eu? Ah, nenhum, mas quem é a causa? É o tanto amor que tenho. Por isso vou prová-los com os castigos”.
Eu me sentia partir o coração pela dor, me parecia que eram tantas as ofensas que lhe faziam, que para fugir delas queria esconder-se em mim, a fim de encontrar refúgio. Sentia também tanta pena porque os homens deveriam ser castigados, que me parecia que não eles, mas se eu tivesse podido, teria sido mais suportável sofrer todos aqueles castigos, antes de ver os outros sofrerem.
Tratei de sensibilizá-lo o máximo que pude, e com todo o coração lhe disse: “Ó Santo Esposo, evita os flagelos que a tua Justiça tem preparado! Se a multiplicidade das iniquidades dos homens é grande, há aí o mar imenso do teu sangue onde podes inundá-las, e assim a tua Justiça ficará satisfeita. Se não tens onde ir para deleitar-te, vem a mim, te dou todo meu coração, para que repouses, e te deleites com ele; é verdade que também eu
sou um lugar imundo de vícios, mas Tu podes purificar-me e fazer-me como Tu queres. Mas, por favor, aplaca-te, se for necessário o sacrifício da minha vida de bom grado o farei, contanto que poupe tuas imagens”.
E o Senhor interrompendo o meu falar continuou a dizer-me: “Precisamente isto é o que Eu quero; se tu te ofereceres para sofrer, não como até agora, de vez em quando, mas continuamente, todos os dias e por um curto período de tempo, Eu pouparei os homens. Vê, pois, que te porei entre a minha justiça e as iniquidades das criaturas, e quando a minha justiça estiver cheia de iniquidades, de modo que não as possa conter e se veja obrigada a mandar os flagelos para punir as criaturas, encontrando-te no meio, em vez de golpeá-las, ficarás tu golpeada. Só assim poderei te contentar em livrar os homens, de outro modo, não”.
Eu fiquei toda confusa, e não sabia o que dizer, minha natureza fazia sua parte, se assustava e tremia, mas
via meu bom Jesus que esperava uma resposta, se aceitava ou não, então vendo-me quase obrigada a falar,
disse-lhe: “Ó meu Diviníssimo Esposo, por minha parte estaria pronta a aceitar, mas como se arrumará por parte
do confessor? Se não queria vir de vez em quando, como será possível que queira vir todos os dias? Liberta-me
desta cruz de precisarmos do confessor para me libertar, e então tudo ficará resolvido entre o mim e o Senhor”.
Então o Senhor me disse: “Vá ao confessor e pede-lhe obediência; se ele quiser; dize-lhe tudo o que tenho dito, farás o que ele disser. Vê, não será somente para bem das criaturas que quero estes sofrimentos contínuos, senão também para teu bem, neste estado de sofrimentos purificarei muito bem tua alma, a fim de te dispor a constituir Comigo um matrimônio místico, e depois disto farei a última transformação, de modo que ambos seremos como duas velas postas no fogo, onde uma se transforme na outra e forme uma só; assim Me transformarei em ti, e tu ficarás crucificada Comigo. Ah, não ficaria contente se pudesse dizer: — O Esposo é crucificado, mas também a esposa é crucificada? Ah sim, não há nada que me faça diferente dele”.
Então, quando pude falar com o confessor disse-lhe tudo o que o Senhor me havia dito, e aquela palavra que o Senhor me disse: “Por um certo tempo” (sem me dizer o tempo exato que devia estar continuamente sofrendo), eu a tomei como por quarenta dias, mais ou menos, contudo já se passaram cerca de doze anos que continuo assim38; Mas sempre seja bendito Deus, sejam adorados sempre seus inescrutáveis julgamentos.
Eu creio que se o Senhor bendito me tivesse feito entender com clareza o tempo que devia estar na cama, minha natureza teria se espantado muito, e dificilmente se teria submetido. Recordo que estive sempre resignada, mas então não conhecia a preciosidade da cruz como o Senhor me fez conhecê-la no decorrer destes doze anos, e o confessor tivesse concordado em dar-me a obediência.
Então assim disse ao confessor, que por quarenta dias o Senhor queria que me desse a obediência de estar continuamente sofrendo, e também lhe disse o resto. Com grande surpresa minha, porque eu achava impossível. O confessor me disse que se fosse verdadeiramente Vontade de Deus, ele me dava a obediência, que na realidade o motivo não era que ele não pudesse vir, mas sim um pouco de respeito humano.
A minha alma alegrou-se muito porque podia contentar ao Senhor e também livrar as criaturas, mas
38 Isto ela escreveu em 1899: portanto, Luísa permaneceu
continuamente na cama em 1887.
a minha natureza se entristeceu muito ao receber esta obediência, tanto que por alguns dias estive muito afligida; também a alma a sentia pensativa, porque devia estar tanto tempo sem poder receber a Jesus no Sacramento, minha única consolação; às vezes sentia uma guerra tão feroz em mim que eu mesma não sabia o que me havia acontecido, muitas coisas acrescentava-as o demônio, mas o meu bom Jesus curou tudo, e eis como aconteceu.
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