A criação de Adão: análise da obra de Michelangelo
A obra renascentista intitulada A criação de Adão foi feita por volta de 1511 pelo famoso artista italiano Michelangelo.
Esse é um trabalho realizado com a técnica do afresco e integra o conjunto de pinturas feitas no Teto da Capela Sistina, produzidas entre 1508 e 1512 por encomenda do papa Júlio II.
A criação de Adão é a representação da passagem bíblica em que o criador do mundo, Deus, dá origem à humanidade, simbolizada na figura do primeiro homem, Adão.
Essa foi a primeira obra em que um artista consegue expressar todo o mistério, espontaneidade e, ao mesmo tempo, força divina no ato da criação.
Análise detalhada da obra
A composição transmite harmonia ao criar dois planos que o expectador percorre visualmente a partir do chão.
Adão, segundo o livro bíblico, foi criado à semelhança de Deus. Na pintura, podemos constatar tal paridade e simetria.
Os corpos de ambos são exibidos deitados de frente, com o mortal no ambiente terrestre, inicialmente sozinho; já o ser divino está envolto em um manto e rodeado de anjos.
Selecionamos algumas áreas dessa grandiosa obra para uma análise mais detalhada. Veja:
1. O gesto de Deus
Os dedos das personagens, quase se tocando, são o ponto alto da composição.
A mão de Adão ainda denota falta de vitalidade, que será conferida a ele através do toque de Deus. O criador exibe o dedo indicador esticado, em um gesto simples e direto, agraciando o homem com a vida.
Segundo o historiador Ernst Gombrich, essa é considerada uma das maiores obras de arte já produzidas. Nas palavras dele:
Michelangelo conseguiu fazer do toque da mão divina o centro e o ponto culminante da pintura, e nos fez enxergar a ideia da onipotência por meio do poder de seu gesto criador.
2. Adão despertando
Adão é apresentado como um homem que, preguiçosamente, desperta. Ele levanta o tronco na direção de Deus e apoia o cotovelo em seu joelho, a fim de aproximar-se do gesto divino.
É como se ele acabasse de acordar de um sono profundo, pois podemos perceber seu corpo relaxado e sua feição acomodada.
A propósito, a figura humana é muito bem representada anatomicamente em Adão, que está completamente nu e tem os músculos à mostra.
3. A magnitude do criador
A figura de Deus é manifestada de forma vigorosa. Os longos cabelos grisalhos e barba volumosa transmitem a ideia de sabedoria.
Sua vestimenta é representada de maneira fluida, o que permite a observação do corpo jovem e musculoso, como o de Adão. Essa maneira de representação do ser humano, valorizando a corporeidade, é característica da arte renascentista.
Aqui, o criador tem o corpo envolvido por um manto vermelho, que é inflado pelo vento. Muitas figuras angelicais o acompanham, e pode-se dizer que a mulher ao seu lado vem a ser Eva, companheira de Adão, que ainda espera nos céus pelo momento de descer à Terra.
Cérebro humano em manto de Deus
Na década de 90, o pesquisador americano Frank Lynn Meshberger encontrou em A criação de Adão enorme semelhança entre o desenho da anatomia cerebral e a figura de Deus com anjos envoltos no manto vermelho.
As imagens são realmente muito similares e, segundo os estudos, Michelangelo representou inclusive algumas partes internas do órgão, como o lobo frontal, nervo ótico, glândula pituitária e o cerebelo.
Essa teoria faz sentido, tendo em vista que Michelangelo era profundo conhecedor de anatomia.
O pensamento que imperava na época, alicerçado pela ideologia humanista e antropocêntrica, também contribui para que essa hipótese seja verdadeira. Nesse período, o homem passa a ser visto como o centro do universo.
Michelangelo parece ter feito uma espécie de “homenagem” à racionalidade humana, representada pelo órgão cerebral.
Michelangelo e seu contexto histórico
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, ou somente Michelangelo, nasceu em 6 de março de 1475, em Caprese, na Itália.
Foi um artista excepcional, contribuindo grandemente para a história da civilização do Ocidente no momento em que enormes transformações culturais e sociais ocorriam.
Vivia-se o período Renascentista e a Itália era considerada o centro da efervescência artística, que despontava baseada na cultura clássica da Grécia e Roma antigas.
Nesse cenário, Michelangelo destacou-se devido a sua genialidade, colocando sua arte como objeto de encantamento e também de confronto.
O artista fez de sua vida uma devoção à arte, trabalhando até os últimos dias. Falece em 18 de fevereiro 1564, em Roma.
Referências Bibliográficas
Coleção Folha – Grandes Mestres da Pintura
PALESTRA A CRIAÇÃO DO HOMEM NO LIVRO DO CÉU
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade