As Questões sobre as paixões estão inseridas por São Tomás de Aquino em seu tratado, que afirma que o fim último da ação do homem é a bem-aventurança. Para alcançá-la, não basta desejar chegar até ela, nós precisamos agir. Existem, de acordo com o autor, duas espécies de atos, uma genuinamente humana e outra que é comum a homens e animais. As paixões fazem parte dessa segunda classe de ações. Porém, enfatizamos nesse artigo as paixões na natureza do homem, escolha que tem algumas implicações, principalmente porque no homem as paixões da alma situam-se no âmbito das ações voluntárias, isto é, circunscritas pela noção de vontade, do agir consciente.
O autor faz essa afirmação porque, pela sua análise, as paixões são, essencialmente, vinculadas ao apetite sensitivo e não ao intelectivo. Nesse sentido, a presença das paixões na alma intelectiva é um acidente, no sentido de que não é um atributo essencial dela.
S. Tomás de Aquino explica que a paixão está na parte apetitiva da alma. Quando nos sentimos atraídos por alguma coisa não no sentido de possuí-la verdadeiramente por necessidade natural, como quando estamos com fome, mas na paixão nos sentimos atraídos pelo alimento movidos pela potência apetitiva. O teólogo-filósofo afirma que a potência apetitiva tem o bem e o mal como objetos.
Com efeito, o apetite nos conduz à ação, o apetite no homem é denominado vontade. A vontade deseja alguma coisa de maneira necessária? A vontade quer necessariamente tudo o que ela quer? A vontade é uma potência superior ao intelecto? A vontade move o intelecto? Assim, a vontade nos impele à ação mediante o que, pelo intelecto, nós estabelecemos como conveniente. O intelecto, faculdade responsável pelo saber, conhece o desejo da vontade e a vontade, faculdade responsável pela ação, deseja que o intelecto saiba. Não há como separar, na perspectiva tomasiana, intelecto e vontade na análise da ação humana.
Essas explicações sobre a vontade ajudam-nos a compreender porque as paixões estão na parte apetitiva, que no homem é chamada de vontade.
Como já foi dito, existe propriamente paixão onde há transmutação do corpo; e esta se encontra nos atos do apetite sensível, não só espiritual, como na apreensão sensitiva, mas também natural. O ato do apetite intelectivo, ao contrário, não requer nenhuma transmutação corporal, porque esse apetite não é potência de nenhum órgão. Daí ficar claro, que a razão de paixão reside mais propriamente no ato do apetite sensitivo do que no do intelectivo; A paixão, em sentido próprio, pertence mais ao apetite sensitivo. De acordo com o autor, a paixão em sentido próprio requer mudança física e isto pertence ao apetite sensitivo, relacionado aos sentidos do corpo. O apetite intelectivo, ao contrário, não implica mudança corporal, pois ele é eminentemente espiritual.
As paixões estão distribuídas entre a parte concupiscível e a parte irascível da alma. A parte concupiscível é responsável por considerar os objetos do desejo absolutamente. Isso significa que, na perspectiva tomasiana,
perseguimos o que convém e nos afastamos do que não convém pelo concupiscível. Todavia, quando esses movimentos implicam alguma dificuldade, manifestamos a potência do irascível. Logo, todas as paixões que visam o bem ou o mal, absolutamente considerados, como a alegria, a tristeza, o amor, o ódio e semelhantes, pertencem ao concupiscível. Todas as paixões, como a audácia, o temor, a esperança e semelhantes, que visam o bem ou o mal sob razão de árduos, enquanto difíceis de algum modo de serem alcançados ou evitados pertencem ao irascível.
Tomás de Aquino afirma que as paixões da alma são movimentos do espírito em relação ao bem e ao mal. Nesse sentido, as diferenças entre elas se estabelecem pela espécie de movimento que elas provocam. As paixões do concupiscível, que tem o bem como objeto, movem para ele em sentido absoluto: “Ora, o bem, enquanto bem, não é um termo do qual poderíamos nos afastar, para o qual nos dirigimos, porque nada foge do bem, enquanto bem, tudo, ao contrário, o deseja. Essas paixões, segundo o autor, são o amor, o desejo e a alegria. Já as paixões do concupiscível que tem o mal como objeto provocam o movimento inverso. Elas são o ódio, a fuga ou aversão e a tristeza.
A diferença fundamental das paixões do irascível em relação às paixões do concupiscível é que elas só se manifestam quando o ser encontra alguma dificuldade na consecução do bem almejado ou prevenção do mal
indesejado. As paixões que consideram o bem enquanto difícil de ser alcançado são a esperança − enquanto um bem difícil, mas que apresenta razões para ser perseguido −e o desespero − enquanto um bem difícil e que não apresenta motivos para ser perseguido, mas para que dele se afaste. As paixões nomeadas pelo Santo como temor e audácia consideram o mal como algo difícil de ser evitado ou enfrentado. O temor considera o mal enquanto existem razões para evitá-lo. A audácia, diferentemente, considera o mal como algo para ser enfrentado e, por isso, movimenta o ser para o encontro do mal.
Daí fica claro que há três pares de paixões no concupiscível: amor e ódio, desejo e aversão, alegria e tristeza. Semelhantemente, há três no irascível: esperança e desespero, temor e audácia, e a ira, à qual nenhuma paixão se opõe.
As paixões do irascível diferem especificamente das do concupiscível. Pois, tendo potências diversas objetos diversos, como dissemos na primeira parte (S. Th. I pars, Q. 77, a. 3), as paixões de potências diversas hão-de se referir necessariamente a objetos diferentes. Por onde, com maioria de razão, paixões de potências diversas hão-de diferir entre si especificamente; porque, para diversificar as espécies de potências é necessária maior diferença de objeto do que para diversificar as espécies de paixões ou atos. Pois, assim como nos seres naturais, as diversidades genéricas resultam das diversidades da potência da matéria, e a específica, das diversidades da forma na matéria existente, assim também os atos da alma pertencentes a potências diversas são diversos, não só específica, mas também genericamente; os atos, porém ou as paixões referentes a objetos diversos especiais compreendidos no objeto comum de uma mesma potência diferem como espécies desse gênero. (S. Th, I-II pars, q. 23)
Logo, são onze ao todo as paixões especificamente diferentes: seis do concupiscível e cinco do irascível. E estas abrangem todas as paixões da alma.
A Santa indiferença seria não ter nenhuma paixão.
Que nossa Vontade humana não se permite bloquear sua ação, diante delas. Seja qual for. O que for a Vontade Divina, estamos a disposição de Deus.
Porém, vivendo na Divina Vontade, somos fundidos totalmente a Deus. Assumimos o Seu Amor, a Sua aversão, a Sua Ira, A Sua Alegria, ou a Sua Amargura…
“Filha bendita, quando a alma se dá em poder de minha Vontade, Ela tem a virtude de fazer perder a vida do mal, não há pecado ou paixões que não sintam dar-se mais que por armas mortais a morte, mas por si mesmas morrem, enquanto a minha Vontade reina na alma assim sentem-se a perder a vida. Ela é para o mal como o gelo às plantas, que as queima, as seca e as faz morrer; é como a luz às trevas, as quais assim que aparece a luz, desaparecem e morrem, aliás, nem sequer se sabe onde foram; a minha Vontade é como o calor ao frio, o frio morre sob a virtude do calor. Se o gelo, a luz, o calor, têm virtude de fazer morrer as plantas, as trevas, o frio, muito mais minha Divina Vontade tem virtude de fazer morrer todos os males juntos; mas se a alma não se faz dominar sempre por minha Vontade, onde nem sempre Ela reina Ela não pode comunicar todos os bens e converter em Vida Divina todo o conjunto da criatura, e onde falta a Vida Divina surge o mal, e pode acontecer como as plantas se a força do gelo for retirada, as plantas, embora penosamente, começam a reverdecer; se a luz for removida, as trevas surgem de novo; e se o calor for retirado, o frio adquire de novo a sua vida.
Eis por que a grande necessidade de fazer sempre, sempre minha Vontade e de viver nela se quiser desterrar todos os males e erradicar também as raízes das paixões. Muito mais que meu Querer Divino quer dar sempre à criatura, mas para dar está à expectativa, para ver quando atua em sua Vontade, porque cada ato que faz nela adquire um direito divino, assim que por quantos atos faz, tantos direitos adquire no mar de meu Fiat, e Ela adquire tantos direitos sobre a criatura, estes direitos de ambas as partes tornam donos a Deus e à pobre criatura, e minha Vontade bilocada e encerrada na alma, por quanto é capaz de conter, como quer dar sempre, a leva a navegar no mar imenso de seu Querer que reina em Deus mesmo, e tornando-a mais capaz toma de seu mar e aumenta o pequeno mar de seu Querer no fundo da alma, pode-se dizer que faz dela sua pequena embarcação, para ir veranear em seu mar imenso de seu Querer, e conforme se dispõe e age, assim encerra novas doses de Vontade Divina. Por isso sempre n‟Ela te quero, assim me darás o direito de poder te dar sempre e você de sempre receber”. Livro do Céu 31.22,4
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Agora, você deve saber que a alma em graça é o templo de Deus, mas quando a alma vive em nossa Vontade, Deus se faz templo da alma, e oh! a grande diferença entre a criatura templo de Deus, e entre Deus templo da alma; o primeiro é um templo exposto aos perigos, aos inimigos, sujeito a paixões, muitas vezes nosso Ente Supremo se encontra nestes templos como nos templos de pedra, não cuidado, não amado como convém, e a pequena lâmpada de seu amor contínuo que devia ter como homenagem a seu Deus que reside nela, sem o óleo puro está apagada, e se jamais for, cai em pecado grave, nosso templo se derruba e fica ocupado por ladrões, nossos inimigos e seus, que o profanam e dele fazem massacre.
O segundo templo, ou seja, Deus templo da alma, não está exposto a perigos, os inimigos não podem aproximar-se, as paixões perdem a vida, a alma neste nosso templo divino é como a pequena hóstia que tem consagrado nela a seu Jesus, a qual com o amor perene que toma, recebe e se alimenta, forma a lâmpada viva que sempre arde, sem que jamais se apague; este nosso templo ocupa seu posto real, seu Querer completo e é nossa glória e nosso triunfo; e a pequena hóstia, o que faz neste nosso templo? Roga, ama, vive de Vontade Divina, suplica a minha Humanidade sobre a terra, toma o meu posto de penas, chama a todo o exército de nossas obras para nos cortejar, a Criação, a Redenção as tem como suas e faz de comandante sobre elas, e ora nos põe como exército ao redor em ato de oração, de adoração, ora como exército em ato de nos amar e glorificar, mas ela sempre à cabeça para fazer o que quer que façam nossas obras, e termina sempre com seu refrão tão agradável a Nós: Seu Querer seja conhecido, amado e reine e domine o mundo inteiro. Então, todas as ânsias, os suspiros, os interesses, as ansias, as orações desta pequena hóstia que vive em nosso templo divino são: que o nosso Fiat abrace a todos, ponha de lado todos os males das criaturas, e com o seu sopro onipotente se faça lugar nos corações de todos para fazer-se vida de cada criatura; pode-se dar ofício mais belo, mais santo, mais importante, mais útil para o Céu e para a terra, do que esta pequena hóstia que vive no nosso templo? Além disso, nosso amor, nossa potência, fazem todos os desabafos, todas as indústrias, todas as estratagemas com quem vive em nossa Vontade: Nosso amor se faz pequeno e se encerra na alma para formar sua Vida, e desta só ficam os despojos para ficar coberta; nossa potência se faz imensa qual é, e se forma templo suntuoso para tê-la dentro, ao seguro, e desfrutar de sua companhia. Para quem faz nossa Vontade ela está sempre ocupada de Nós, e Nós estamos sempre ocupados dela, por isso trata de te encontrar sempre em nossa Vontade”. Livro do Céu 33. 12,3
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