Apelos feitos pela Divina Vontade – Livro do Céu Volume 2

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Apelos feitos pela Divina Vontade – Livro do Céu Volume 2
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“não sejas tão insensato de ter os olhos fixos à terra, mas
eleva-os ao Céu, olha, lá em cima está o teu destino, a tua pátria, lá em cima está o Criador
meu e teu que te espera”.

“Me é tão querida a caridade, que você não pode compreendê-lo. A caridade é simples,
como meu Ser, que embora seja imenso, é também simplíssimo, tanto que não há parte na
qual não penetre. Assim a caridade, sendo simples, se difunde por toda parte, não tem
deferência por nenhum, amigo ou inimigo, vizinho ou forasteiro, a todos ama”.

¨Só Eu tenho o poder de infundir-me no coração humano de fazê-lo praticar as virtudes e
fazer sofrer com ânimo e tranqüilidade e com perseverança qualquer dor.¨

“A causa pela qual o mundo se reduziu a este triste estado, é por ter perdido a subordinação
aos seus líderes, e como a primeira cabeça é Deus, ao Qual se rebelaram, como conseqüência
aconteceu que perderam toda sujeição e dependência à Igreja, às leis, e a todos os outros que
se dizem líderes e autoridades e aos próprios pais.¨

¨Oh! , se todos conhecessem a preciosidade do sofrer, fariam
concorrência a ver quem quisesse sofrer mais, mas esta ciência não é conhecida pelo mundo,
por isso aborrecem tudo o que pode torná-los mais ricos in eterno”.

“Se tu soubesses quanto me agrada a humildade! A humildade é a planta mais pequena que
se pode encontrar, mas seus ramos são tão altos que chegam até o Céu, estão em torno de
meu trono e penetram até dentro de meu coração. A pequena planta é a humildade, os ramos
que produz esta planta é a confiança, assim que não se pode dar verdadeira humildade sem
confiança. A humildade sem confiança é falsa virtude”.

¨Ao ocupar-me das penas de Jesus esqueci um pouco as minhas, e assim comecei por sua
cabeça, oh! como era dilacerante ver aqueles espinhos tão metidos dentro, que mal se podiam
puxar. Enquanto isso fazia, Jesus se lamentava, tanto era a dor que sofria. Depois que tirei
aquela coroa de espinhos, toda despedaçada, a uni de novo, e sabendo que o maior prazer
que se possa dar a Jesus é o sofrer por Ele, tomei-a e a afundei sobre minha cabeça.¨

¨Então via almas devotas, que por bagatelas de nada não se preparavam bem à comunhão; sua
mente em vez de pensar em Jesus pensava em suas pequenas perturbações, em tantas coisas
de nada, e esta era sua preparação. Quanta pena davam estas almas a Jesus e quanta
compaixão davam elas, porque davam importância a tantas palhinhas, a tantas ociosidades e
em troca não se dignavam dirigir um olhar a Jesus.¨

“Minha filha, quanto impedem estas almas que minha Graça se derrame nelas, Eu não me
fixo nas minúcias, senão no amor com o qual se aproximam, e elas ao contrário, mais se fixam
nas palhas que no amor, é mais, o amor destrói as palhas, mas com muitas palhas não se
aumenta nem um pouco o amor, mas bem o diminui. Mas o que é pior destas almas é que se
perturbam muito, perdem muito tempo, quiseram estar com os confessores horas inteiras para
dizer todas estas minúcias, mas jamais põem mãos à obra com uma boa e corajosa resolução
para extirpar estas palhas.¨

“Quando o coração está cheio do conhecimento de si mesmo (ser um nada), os louvores dos homens são
como aquelas ondas do mar, que se elevam e transbordam mas jamais saem de seus limites,
assim os louvores humanos fazem estrondo, alvoroçam, aproximam-se até o coração, mas
encontrando-o cheio e bem circundado pelos fortes muros do conhecimento de si mesmo, não
tendo portanto onde ficar, voltam-se atrás sem fazer nenhum mal à alma, por isso deves estar
atenta a isto, que os louvores e os desprezos das criaturas não devem ser levados em conta”.

“Me são tão agradáveis as almas desapegadas de tudo, não só no afeto de seus familiares, mas também em
efeito, que à medida que vão despojando-se, assim minha luz as vai investindo e chegam a ser
como cristais, nos quais a luz do sol não encontra impedimento para penetrar dentro deles,
como o encontra nas construções e nas demais coisas materiais”.

“Minha filha, o que será de tantas obras, mesmo boas, feitas sem reta intenção, por
costume e com fins de interesse? Qual não será sua vergonha no dia do juízo, ao ver tantas
boas obras em si mesmas, mas murchas por sua intenção, que em vez de dar-lhes honra como
a tantos outros, as mesmas ações produzirão vergonha? Porque não são as grandes obras que
olho, mas a intenção com a qual se fazem, aqui está toda a minha atenção”.

¨Olhe, meu coração é grandíssimo, mas a porta é estreitíssima,
ninguém pode preencher o vazio deste coração, senão só as almas desapegadas, nuas e
simples, porque como você vê, sendo a porta pequena, qualquer impedimento, ainda mínimo,
isto é, uma sombra de apego, de intenção errônea, uma obra sem o fim de me agradar, impede
que entrem a deleitar-se em meu coração. O amor do próximo muito agrada ao meu coração,
mas deve estar tão unido ao meu, que deve formar um só, sem poder distinguir-se um do outro;
mas aquele outro amor ao próximo que não está transformado em meu amor, Eu não o olho
como coisa que me pertença”.

“Minha filha, a caridade só é perfeita quando é feita com o único fim de me agradar, e então
é verdadeira e é reconhecida por Mim quando está despojada de tudo”.

“A cruz dispõe a alma à paciência. A Cruz abre o Céu e une o Céu e a Terra, isto é, Deus e
a alma. A virtude da cruz é potente e quando entra em uma alma tem a virtude de remover a
ferrugem de todas as coisas terrenas, não só isso, senão que dá o tédio, o fastio, o desprezo
das coisas da terra, e em troca lhe dá o sabor, o agrado das coisas celestiais, mas por poucos
é reconhecida a virtude da cruz, por isso a desprezam”.

“Minha filha, o que olho em uma alma é quando se despoja da própria vontade, então minha
Vontade a investe, a diviniza e a faz toda minha. Olha um pouco para estas almas, dizem-se
devotas enquanto as coisas vão à sua maneira, depois uma pequena coisa, se não forem
longas as suas confissões, se o confessor não as satisfaz, perdem a paz e algumas chegam a
não querer fazer mais nada. Isto diz que não é minha Vontade que predomina, mas a
delas. Então acredite em mim, minha filha, você errou o caminho, porque quando eu vejo que
você realmente quer me amar, eu tenho tantas maneiras de dar a minha Graça”.

“A humildade é a certeza dos favores celestiais. A humildade veste a alma de tal segurança,
que as astúcias do inimigo não penetram dentro. A humildade põe a salvo todas as graças
celestiais, tanto, que onde vejo a humildade faço correr abundantemente qualquer tipo de
favores celestiais. Por isso não queira preocupar-se por isto, senão com olho simples olhe
sempre em seu interior se está investida pela bela humildade, e de todo o resto não se
preocupe”.

“Eu me comunico aos humildes e aos simples porque logo crêem em minhas graças e as
têm em grande estima, ainda que sejam ignorantes e pobres; mas com estes outros que você
vê Eu sou muito relutante, porque o primeiro passo que aproxima a alma a Mim é o crer; então
acontece que estes, com toda a sua ciência, doutrina e até santidade, nunca provam um raio
de luz celestial, isto é, caminham pelo caminho natural e jamais chegam a tocar nem sequer
por um momento o que é sobrenatural. Esta é também a causa de por que no curso de minha
vida mortal não houve nem sequer um douto, um sacerdote, um poderoso em meu seguimento,
senão todos ignorantes e de baixa condição, porque quanto mais humildes e simples, são
também mais fáceis a fazer grandes sacrifícios por Mim”.

“Minha filha, a doçura tem a virtude de fazer mudar a natureza às coisas, sabe converter o
amargo em doce, por isso, mais doce, mais doce”.

“Minha filha, por isso a primeira coisa que tanto recomendo é o desapego de todas as
coisas e até de si mesmo, e quando a alma se despegou de tudo, não tem necessidade de se
fazer força para estar longe de todas as coisas da terra, que por elas mesmas se põem a seu
redor, mas visto que não são levadas em conta, mas bastante desprezadas, dando-lhe um
adeus se despedem para não lhe dar mais incômodo”.

“O desprezo de si mesma só é louvável quando está bem investido pelo espírito de fé, mas
quando não está investido pelo espírito de fé, em vez de te fazer bem poderá te prejudicar,
porque vendo-te tal como tu és, que não podes fazer nada de bem, desconfiarás,
permanecerás abatida, sem te encorajar a dar um passo no caminho do bem, mas apoiando-te
em Mim, isto é, investindo-te do espírito de fé, virás a conhecer e a desprezar-te a ti, e ao
mesmo tempo a conhecer-me a Mim, confiando totalmente em poder operar tudo com a minha
ajuda, e eis que fazendo desta maneira caminharás segundo a verdade”.

“O que quero de ti é um obrar recto e simples, que do pro e do
contra das criaturas não te preocupes, deixa-as pensar como queiram, sem tomar-te o mais
mínimo incômodo, pois o querer que todos sejam favoráveis é um querer desviar-se da
imitação de minha Vida”.

“O maior favor que posso fazer a uma alma é fazer-se
conhecer a si mesma. O conhecimento de si e o conhecimento de Deus andam de mãos
dadas, pois quanto te conheceres a ti mesma outro tanto conhecerás a Deus. A alma que se
conheceu a si mesma, vendo que por si mesma não pode fazer nada de bem, esta sombra do
seu ser transforma-a em Deus e disto acontece que em Deus faz todas as suas
operações. Acontece que a alma está em Deus e caminha junto a Ele, sem olhar, sem
investigar, sem falar, em uma palavra, como morta, porque conhecendo a fundo seu nada não
se atreve a fazer nada por si mesma, senão que cegamente segue as operações do Verbo”.

“Minha filha amada, que tens que estás tão aflita? Diz-me tudo, que te contentarei e
remediarei tudo”.

“Não temas, esta manhã faremos as coisas juntos, assim Eu suprirei as tuas”.

“Não te aflija não sofrer, queres tu antecipar a hora designada por Mim? Meu agir não é
apressado, mas tudo a seu tempo, cumpriremos cada coisa, mas a seu devido tempo”.

“Minha filha, une teus sofrimentos com os meus, tuas orações às minhas, assim, diante da
majestade de Deus são mais aceitáveis e aparecem não como coisas tuas, senão como obras
minhas”.

“Tira todo temor de teu coração. Olha, eu trouxe este globo de luz para colocar entre você e
eu e aqueles que se aproximam de você. Aos que se aproximarem de ti com coração reto e
para fazer-te o bem, estes globitos de luz que saem penetrarão em suas mentes, descerão em
seus corações e os encherão de alegria e de graças celestiais e compreenderão com clareza o
que faço em ti; aqueles que vierem com outras intenções experimentarão o contrário, e por
estes globitos de luz ficarão deslumbrados e confundidos.” Assim fiquei mais tranqüila. Seja
tudo para glória de Deus.

“No entanto é assim, a verdadeira virtude, o verdadeiro amor, tudo faz desaparecer, tudo
destrói e com uma maestria que encanta, em todo o seu agir não faz resplandecer outra coisa
que só Deus e tudo olha em Deus”.

“O que mais me desagrada nestas almas é a instabilidade em fazer o bem, basta uma
pequena coisa, um desgosto, mesmo um defeito, enquanto é então o tempo mais necessário
para estreitar-se a Mim, estas em troca, irritam-se, incomodam-se e deixam a metade o bem
começado. Quantas vezes eu preparei obrigado para dar-lhes, mas vendo-os tão instáveis, fui
obrigado a retê-los”.

“Se te fizeres desaparecer a ti mesma, não cometerás pecados jamais”.

“Se te exercitares nesta fé, quase nadando nela, em recompensa te
infundirei no coração três alegrias espirituais: O primeiro, que penetrarás as coisas de Deus
com clareza e ao fazer coisas santas te sentirás inundado por uma alegria, por um gozo tal,
que te sentirás como empapado, e esta é a unção da minha graça.

O segundo é um aborrecimento das coisas terrenas e sentirás em teu coração alegria pelas
coisas celestiais.

O terceiro é um desapego total de tudo, e onde antes sentia inclinação, sentirá um
incômodo, como há tempos o estou infundindo em seu coração, e você já o está
experimentando. E por isso teu coração será inundado pela alegria que gozam as almas
totalmente desapegadas, que têm seu coração tão inundado de meu amor, que das coisas que
as rodeiam externamente não recebem nenhuma impressão”.

“Não temas, que não há culpas graves, e além disso, deve-se ter horror da culpa,
mas não se perturbar, porque a agitação, de onde quer que venha, jamais faz bem à alma”.

“A cruz comunica tal resplendor à alma, de torná-la
transparente e assim como quando um objeto é transparente lhe podem dar todas as cores que
se queira, assim a cruz, com sua luz dá todas as linhas e formas mais belas que jamais se
possam imaginar, não só pelos outros, mas também pela própria alma que os
experimenta. Além disso, em um objeto transparente logo se descobre o pó, as pequenas
manchas e até qualquer escurecimento; assim é a cruz, como faz transparecer à alma, logo
descobre os pequenos defeitos, as mínimas imperfeições, tanto que não há mão mestra mais
hábil que a cruz, para ter a alma preparada para torná-la digna habitação do Deus do Céu”.

“Minha filha, não sabes tu que a marca mais nobre que posso imprimir nos meus amados
filhos é a cruz?”

“Minha filha, o que te recomendo é conservar e estimar minhas palavras, porque minha
palavra é eterna e santa como Eu mesmo, e conservá-la em teu coração e aproveitá-la, terás
tua santificação e por isso receberás em recompensa um esplendor eterno, produzido por
minha palavra; fazendo de outra maneira a tua alma receberá um vazio e ficarás devedora de
Mim”.

“Filha, Eu amo grandemente as almas puras, e assim como das impuras sou obrigado a
fugir, das puras em troca como por um ímã sou atraído a fazer morada nelas. Às almas puras
com prazer lhes empresto minha boca para fazê-las falar com minha mesma língua, assim que
não se cansam para converter às almas; em ditas almas Eu me agrado não só de continuar
nelas minha Paixão, e assim continuar ainda a Redenção, mas o que é mais, me alegro
sumamente de glorificar nelas minhas mesmas virtudes”.

“Olha quantas graças devia verter sobre as criaturas, mas como não
encontro correspondência estou obrigado a retê-las em Mim, é mais, me fazem trocá-las em
castigos. Preste atenção, minha filha, a me corresponder às tantas graças que estou
derramando em você, porque a correspondência é a porta aberta para me deixar entrar no
coração e ali formar meu quarto. A correspondência é como aquela boa acolhida, aquela estima
que se dá às pessoas quando vêm fazer uma visita, de modo que atraídas por esse respeito,
por essas maneiras afáveis que se usam com elas, estão obrigadas a vir outras vezes e
chegam a não saber se separar. O todo está em me corresponder, e a medida que as criaturas me
correspondem e me tratam na terra, assim Eu me comportarei com elas no Céu, fazendo- lhes
encontrar as portas abertas, convidarei a toda a corte celestial a acolhê-los e os colocarei
no mais sublime trono, mas será o contrário para quem não me corresponde”.

“Quanto mais te aniquiles e conheceres o teu nada, tanto mais a minha humanidade,
enviando raios de luz, te comunicará as minhas virtudes”.

E Jesus: “Se tu és feia, sou Eu quem te pode tornar bela”.

“A resignação absorve tudo o que pode ser de dor ou de desgosto à natureza e o converte
em doce; e sendo meu Ser pacífico, tranquilo, de modo que qualquer coisa que possa
acontecer no Céu e na terra não pode receber nem sequer o menor alento de perturbação,
então a resignação tem a virtude de enxertar na alma estas mesmas virtudes minhas. A alma
resignada está sempre em repouso, não só ela, mas faz-me repousar tranquilamente também a
Mim nela.”

“A filha da justiça é a verdade. Assim como Eu sou Verdade eterna que não engano nem me
podem enganar, assim a alma que possui a justiça faz resplandecer em todas suas ações a
verdade; portanto, conhecendo por experiência a verdadeira luz da verdade, se alguém quer
enganá-la, ao advertir a falta da luz que tem em si, logo conhece o engano, então acontece que
com esta luz da verdade não se engana a si mesma, nem ao próximo, nem pode receber
engano.

Fruto que produz esta justiça e esta verdade, é a simplicidade, outra qualidade de meu Ser,
o ser simples, tanto que penetro em todas partes, não há nada que possa opor-se a que Eu
penetre dentro, penetro no Céu e nos abismos, no bem e no mal, mas meu Ser simplíssimo,
penetrando mesmo no mal; não se suja, aliás, nem sequer recebe a mais mínima
sombra. Assim a alma, com a justiça e com a verdade, recolhendo em si este belo fruto da
simplicidade, penetra no Céu, introduz-se nos corações para conduzi-los a Mim, penetra em
tudo o que é bem e encontrando-se com os pecadores para ver o mal que fazem, não fica
manchada, porque sendo simples prontamente se libera, sem receber dano algum. É tão bela a
simplicidade, que meu coração fica ferido a um só olhar de uma alma simples, e ela é causa de
admiração aos anjos e aos homens”.

“Minha filha, esta manhã quero uniformizar-te toda a Mim: Quero que penses com a minha
mesma mente, que olhes com os meus olhos, que ouças com os meus ouvidos, que fales com
a minha mesma língua, que trabalhes com as minhas mãos, que caminhes com os meus pés, e
que ames com o meu mesmo coração”.

“Graças grandes derramo em você, recomendo que as saiba conservar”.
E eu: “Temo muito, ó meu amado Jesus, ao conhecer-me que estou cheia de misérias e
que, em vez de fazer o bem, faço mau uso das tuas graças. Mas o que mais me faz temer é a
língua, que freqüentemente me faz faltar na caridade para com o próximo”.
E Jesus: “Não temas, eu mesmo te ensinarei o modo que deves ter ao falar com o próximo”:
A primeira coisa: Quando te disser algo a respeito do próximo, faz um olhar sobre ti mesma
e observa se tu és culpado desse mesmo defeito, e então querer corrigir é um querer me
indignar e escandalizar ao próximo.
A segunda: Se tu te vês livre daquele defeito, então levanta-te e procura falar como eu teria
falado, assim falarás com a minha própria língua. Fazendo assim jamais faltarás na caridade do
próximo, aliás, com as tuas palavras farás bem a ti, ao próximo, e a Mim me darás honra e
glória”.

Jesus: “Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma
alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum
defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em
tua alma”.

“Sabe por que esta nobre senhora obediência é como você diz? Porque dá morte a
todos os vícios, e naturalmente alguém que deve fazer sofrer a morte a outro deve ser forte,
valente, e se não o conseguir com isto se serve das impertinências e dos caprichos. Se isto é
necessário para matar o corpo que é tão frágil, muito mais para dar morte aos vícios e às
próprias paixões, que é tão difícil que muitas vezes enquanto parecem mortas, começam a
reviver de novo. Eis por que esta diligente senhora está sempre em movimento e
continuamente vigiando, e se vê que a alma põe a mínima dificuldade ao que lhe é mandado,
então temendo que algum vício possa começar a reviver em seu coração, lhe faz tanta guerra e
não lhe dá paz até que a alma se prostra a seus pés e adora em silêncio o que ela quer; eis por
que é tão impertinente e quase caprichosa como você diz.¡Ah! sim, não há verdadeira paz sem
obediência, e se parece que se goza de paz, é paz falsa, e digo parece, porque vai de acordo
com as próprias paixões, mas jamais com as virtudes e se acaba com arruinar-se, porque
separando-se da obediência se separam de Mim, que fui o Rei desta nobre virtude. Além disso,
a obediência mata a própria vontade e a torrentes verte a Divina, tanto, que se pode dizer que a
alma obediente não vive de sua vontade, senão da Divina; e se pode dar vida mais bela, mais
santa, que o viver da Vontade de Deus mesmo? Por isso, com as outras virtudes, mesmo com
as mais sublimes, pode estar junto o amor próprio, mas com a obediência jamais”.

“A minha palavra não só é verdade, mas também luz, e quando uma luz entra num
quarto escuro, o que faz? Dissipa as trevas e faz descobrir os objetos que há, feios ou belos,
se estão em ordem ou em desordem, e do modo como se encontra esse quarto julga-se a
pessoa que ocupa aquela habitação. Agora, a vida humana é o quarto escuro, e quando a luz
da verdade entra em uma alma, dissipa as trevas, isto é, faz descobrir o verdadeiro do falso, o
temporal do eterno, assim que lança de si os vícios e se mete à ordem das virtudes, porque
sendo minha luz santa, que é minha própria Divindade, não poderá comunicar outra coisa que
santidade e ordem, portanto a alma sente sair de si, luz de paciência, de humildade, de
caridade e mais. Se minha palavra produz em você estes sinais, por que teme?”

“Amada minha, assim como você não encontra outro prazer nem outro contente, que te
entreter e conversar Comigo e dar-me gosto só a Mim, de modo que todas as outras coisas
que não são minhas te desgostam, assim Eu, meu prazer e minha consolação é vir a me
entreter e falar contigo. Tu não podes entender a força que tem sobre meu coração, de me
atrair a ela, uma alma que tem a única finalidade de me agradar só a Mim; sinto-me tão unido
com ela que estou obrigado a fazer o que ela quer”.

“Quando sou Eu quem se apresenta à alma, todas as potências interiores se aniquilam e
conhecem o seu nada, e Eu, vendo a alma humilhada, faço abundar o meu amor, como tantos
rios, de modo a inundar tudo e fortalecê-la no bem. O oposto acontece quando ele é o
demônio”.

Ó santa obediência, como és forte e poderoso! Eu te vejo nestes dias de martírio ante mim
como um guerreiro potentíssimo, armado da cabeça aos pés com espadas, flechas, cheio de
todos aqueles instrumentos aptos para ferir, e quando vê que meu pobre coração cansado e
abatido quer consolar-se buscando seu refrigério, sua vida, o centro ao qual se sente atrair
como por um ímã, você, olhando-me com mil olhos, por toda parte me fere com feridas mortais.
¡ Ah, tenha piedade de mim e não seja tão cruel comigo!
Mas enquanto digo isto, a voz do meu adorável Jesus faz-se ouvir nos meus ouvidos que
diz:
“A obediência foi tudo para Mim, a obediência quero que seja tudo para ti. A obediência me
fez nascer, a obediência me fez morrer, as chagas que tenho em meu corpo são feridas e
marcas que me fez a obediência. Com razão disse que é um guerreiro potentíssimo, armado
com toda classe de armas aptas para ferir, porque em Mim não me deixou nem uma gota de
sangue, me arrancou as carnes, me deslocou os ossos, e meu pobre coração, destroçado,
sangrante, ia buscando um alívio, Alguém que tivesse compaixão de mim. A obediência então,
tornando-se para Mim mais do que cruel tirano, só se contentou quando me sacrificou na cruz e
me viu expirar vítima por seu amor. E por que isso? Porque o ofício deste potentíssimo
guerreiro é de sacrificar às almas, por isso não faz outra coisa que mover guerra encarniçada a
quem não se sacrifica tudo por ela, por isso não tem nenhuma consideração se a alma sofre ou
goza, se vive ou morre, seus olhos estão atentos para ver se ela vence, que das outras coisas
não se dá ao trabalho. Por isso o nome deste guerreiro é “vitória”, porque concede todas as
vitórias à alma obediente, e quando parece que esta morre, então começa a verdadeira vida. E
o que não me deu obediência? Por meio dele venci a morte, derrotei o inferno, desamarrei o
homem acorrentado, abri o Céu, e como Rei vitorioso tomei posse do meu reino, não só para
Mim, mas para todos os meus filhos que se teriam aproveitado da minha Redenção. ¡ Ah! sim,
é verdade que me custou a vida, mas a palavra “obediência” me soa doce ao ouvido e por isso
amo tanto as almas que são obedientes”.

“Minha filha, não queira perder o ânimo, este é meu costume, o obrar a perfeição passo a
passo e não tudo em um instante, a fim de que a alma, vendo sempre que lhe falta alguma
coisa, se impulsione, faça todos os esforços para alcançar o que lhe falta, a fim de me agradar
mais e de se santificar mais, então Eu, atraído por esses atos sinto-me forçado a lhe dar novas
graças e favores celestiais, e com isto se vem a formar um comércio todo divino entre a alma e
Deus, de outra maneira, possuindo a alma em si a plenitude da perfeição, e portanto de todas
as virtudes, não encontraria modos de se esforçar, como lhe agradar mais e viria a faltar a
fogueira para acender o fogo entre a criatura e o Criador”.

“A vida do coração é o amor. Eu sou como um enfermo que arde pela febre, que vai
buscando um refresco, um alívio para o fogo que o devora. Minha febre é o amor; mas onde
obtenho os refrescos, os alívios mais aptos para o fogo que me consome? Das dores e aflições
sofridas por minhas almas prediletas só por meu amor; muitas vezes estou esperando e
esperando a que a alma se volte a Mim para dizer-me: “Senhor, só por amor teu eu quero
sofrer esta dor”. Ah sim, estes são os meus lanches e os alívios mais aptos que me aliviam e
me apagam o fogo que me consome!”

“Minha filha, não quero que perca tempo, pensando nisso você se distrai de Mim e me faz
faltar o alimento para me nutrir, o que quero é que pense somente em me amar e em estar toda
abandonada em Mim, assim me preparará um alimento muito agradável, e não de vez em
quando como faria se continuasse fazendo assim, senão continuamente. E não seria isto a tua
grandíssima alegria, que a tua vontade, estando abandonada em Mim e no meu amor, fosse
alimento para Mim, teu Deus?”

E Jesus: “Olha no que quero que ocupes tua alma: Primeiro voa com as asas da fé e
submergindo nessa luz conhecerás e adquirirás sempre novas notícias de Mim, teu Deus, mas
ao conhecer-me mais teu nada se sentirá quase dispersa, e não terás onde te apoiar. Mas tu te
eleve mais e lançando-te no mar imenso da esperança, que são todos meus méritos que
adquiri no curso de minha vida mortal, e todas as penas de minha Paixão que também delas fiz
dom ao homem, e só por meio destes podes esperar os bens imensos da fé, Porque não há
outro meio para obtê-los. Então, servindo-te destes meus méritos como se fossem teus, teu
nada se sentirá mais dispersa e afundada no abismo do nada, senão que adquirindo nova vida
ficará embelezada, enriquecida em modo tal de atrair-se os mesmos olhares divinas; e então
não mais tímida, mas a esperança fornecer-lhe-á a coragem, a força, de modo a voltar à alma
estável como coluna, exposta a todas as inclemências do ar, como são as diferentes
tribulações da vida, que não a moverão nada, e a esperança fará com que a alma não só se
submerja sem temor nas imensas riquezas da fé, senão que se tornará dona e chegará a tanto
com a esperança, de fazer seu ao mesmo Deus. ¡ Ah! Sim, a esperança faz a alma chegar até
onde quer, a esperança é a porta do Céu, assim que só por seu meio se abre, porque quem
tudo espera, tudo obtém. Então a alma, quando tiver chegado a fazer seu ao mesmo Deus,
súbito, sem nenhum obstáculo se encontrará no oceano imenso da caridade, e aí levando
consigo a fé e a esperança, mergulhará dentro e fará uma só coisa Comigo, seu Deus”.

“Minha filha, não queira te afligir mais. Deves saber que tudo o que te faço escrever, ou
sobre as virtudes ou sob alguma semelhança, não é outra coisa que fazer que te pintes tu
mesma, e a essa perfeição à qual fiz chegar a tua alma”.

Jesus: “Não te perturbes, sou Eu mesmo quem ponho as dificuldades em teu interior para
ter ocasião de conversar contigo, e ao mesmo tempo para te instruir em tudo”.

“Eu não levo em conta suas oposições, porque sua vontade está tão fundida com a minha
que não pode querer senão o que quero Eu; por isso enquanto te repugna, ao mesmo tempo
se sente atraída como por um ímã a fazê-lo, Assim, suas repugnâncias não servem para outra
coisa que para tornar mais bela e resplandecente a virtude da obediência, por isso não as tomo
em conta”.

(8) “Minha filha, que faça de maneira que todas as suas obras resplandeçam só de virtude, mas
especialmente lhe recomendo que não se intrometa nas coisas de família; se tem alguma
coisa, que se desfaça dela, se não tem, não quero que  se intrometa; que deixe que as
coisas sejam feitas por quem deve e ele permaneça livre, sem se enfatizar nas coisas terrenas,
de outra maneira viria a incorrer na desventura dos demais, que a princípio, tendo querido
intrometer-se em alguma coisa de família, depois de todo o peso ter ficado nos seus ombros, e
Eu, somente por minha misericórdia, tive que permitir que não prosperassem, mas sim que
empobrecem e assim fazê-los tocar com a mão como inconveniente é a um ministro meu
enlamear-se nas coisas terrenas, enquanto, palavra que saiu da minha boca, que aos ministros
do meu santuário, desde que não tocassem nas coisas terrenas, jamais lhes faltaria o alimento
quotidiano. Agora, se a estes Eu os houvesse feito prosperar, teriam enlameado seu coração e
não teriam prestado atenção nem a Deus nem às coisas pertencentes a seu ministério; agora,
aborrecidos, cansados de seu estado, querem libertar-se mas não podem e isto é em castigo
pelo que não deveriam fazer”.

“Filha, não posso; eu sou como um rei que quer entrar numa casa, mas aquela casa
está cheia de coisas imundas, de podridões e de muitas outras porcarias. O rei, como rei tem o
poder de entrar, não há ninguém que o possa impedir e ainda pode limpar aquela habitação
com suas próprias mãos, mas não quer fazê-lo, porque não é decoroso a sua real pessoa
descer a tantas baixezas, e enquanto o quarto não for limpo por outros, contudo e que tenha o
poder, o querer e um grande desejo, até a sofrer, não se dignará pôr nele o pé. Assim sou Eu.
Sou Rei que posso e quero, mas quero sua vontade, quero que tirem a podridão das culpas
para entrar e fazer a paz com eles.¨

“Paz, paz, paz, paz, não sabes tu que o reino da esperança é reino de paz, e o direito desta
esperança é a justiça? Tu, quando vires que a minha justiça se arma contra as nações, entra
no reino da esperança, e investindo-te das mais poderosas qualidades que ela possui, sobe ao
meu trono e faze o que puderes para desarmar o meu braço armado; e isto o farás com as
vozes mais eloquentes, mais ternas, mais piedosas, com as razões mais poderosas, com as
orações mais ardentes, que a mesma esperança te ditará. Mas quando você vê que a mesma
esperança está para sustentar certos direitos de justiça que são absolutamente necessários, e
que querê-los ceder seria um querer fazer afronta a si mesma, o que não pode jamais ser,
então junte-se a Mim e entregue-se à justiça”.

(7) “Minha filha, não se perturbe, a esperança é paz, e assim como Eu, no momento mesmo de
fazer justiça estou na mais perfeita paz, assim você, imergindo-se na esperança esteja em paz.
A alma que está na esperança, ao querer afligir-se, turbar, desconfiar, incorreria na desventura
daquela que, enquanto possui milhões e milhões de moedas e é rainha de vários reinos, vai
imaginando e dando lamentos dizendo: “De que vou viver? Como eu vou me vestir? Oh, eu
estou morrendo de fome! Hum, eu sou muito infeliz! Eu vou me reduzir para a mais estreita
miséria e eu vou acabar perecendo!” E ao dizer isto chora, suspira e passa seus dias triste,
esquálida, imersa na maior tristeza. E isto não é tudo, o que é pior é que se vê seus tesouros,
se caminha por suas propriedades, em vez de alegrar-se aflige mais pensando em seu fim
próximo e vendo o alimento não o quer tocar para sustentar-se, e se alguém quer persuadi-la
fazendo-lhe tocar com a mão suas riquezas mostrando-as e dizendo-lhe que não pode ser que
se reduza à mais estreita miséria, ela não se convence, fica aturdida e chora ainda mais sua
triste sorte.O que as pessoas diriam dela? Que está louca, que se vê que não tem razão, que
perdeu o cérebro; a razão está clara, não pode ser de outra maneira. No entanto, pode
acontecer que esta situação possa cair na desventura que se imagina, mas de que modo?

Saindo de seus reinos, abandonando todas suas riquezas e indo a terras estrangeiras, no meio
de gente bárbara, onde ninguém se digne dar-lhe nem uma migalha de pão. E eis que sua
fantasia se tornou realidade; o que era falso agora é verdade. Mas quem foi a causa? A quem
se culparia de uma mudança de estado tão triste? a sua pérfida e obstinada vontade.

Precisamente assim é uma alma que se encontra em posse da esperança: o querer perturbar-
se, desanimar, já é a maior loucura”.

“A natureza da esperança é paz, e o que ela é por
natureza, a alma que vive no seio desta mãe pacífica consegue-o por graça”.

“À medida que o homem se intromete nas coisas terrenas, assim se afasta e perde a estima
dos bens eternos. Eu dei as riquezas para que se sirvam delas para sua santificação, mas elas
se serviram delas para me ofender e formar um ídolo para seu coração, e eu destruirei as
pessoas e as riquezas junto com elas”.

“Você sabe como os sentidos das criaturas se tornaram? Como aqueles rugidos das bestas
ferozes, que com seus rugidos afastam os homens em vez de atraí-los. É tanta a podridão e a
multiplicidade das culpas que sai de seus sentidos, que me obrigam a fugir”.

“O único meio é que tu faças sempre todas as tuas obras com a única finalidade de
me agradar e que uses todos os teus sentidos e poderes com a finalidade de me amar e
glorificar. Faz com que cada pensamento teu, palavra e todo o resto, não queira outra coisa
que o amor que tens por Mim, assim o teu eco subirá agradável ao meu trono e adoçará o meu
ouvido”.

“Quem sou eu, e quem és tu?”
Estas palavras me penetravam até a medula dos ossos e descobria a infinita distância que
há entre o Infinito e o finito, entre o Todo e o nada; e não só isso, senão que descobria também
a maldade deste nada e o modo como se tinha enlameado, me parecia como um peixe que
nada nas águas, assim minha alma nadava na podridão, nos vermes e em tantas outras coisas
aptas somente para dar horror à vista. ¡ Oh Deus, que vista abominável! Minha alma queria
fugir da vista de Deus três vezes Santo, mas com outras duas palavras me amarrou: “Qual é o
meu Amor para contigo? E qual é a sua correspondência para mim?”

A alma, quando começa a ver em si mesma o mal que fez, prepara-me um banho às minhas chagas. Vendo o mal, sente amargura e prova dor, e com isto vem  ungir as minhas chagas com um bálsamo requintado. Por este conhecimento a alma gostaria
de fazer uma reparação, e vendo a ingratidão passada, sente nascer nela o amor por um Deus tão bom e gostaria de dar a sua vida para testemunhar o seu amor, e estes são os cabelos, que como tantas correntes de ouro a unem ao meu amor”.

“Minha filha, a coisa principal para que Eu entre em uma alma e forme minha habitação
nela, é o desapego total de toda coisa. Sem isto, não só não posso viver nela, como nem
sequer uma virtude pode tomar lugar na alma.Depois que a alma fez sair tudo de si, então eu
entro nela e unido com a vontade da alma fabricamos uma casa, os fundamentos desta casa
se baseiam na humildade, e quanto mais profundos forem, tanto mais altos e fortes são os
muros; estas paredes serão feitas de pedras de mortificação, cobertas de ouro puríssimo de
caridade. Depois que os muros foram construídos, Eu, como um pintor excelentíssimo, não
com cal e água, mas com os méritos da minha Paixão, simbolizados pela cal, e com as cores
do meu sangue, simbolizados pela água, os revesti e neles formo as mais Excelentíssimas
pinturas, e isto serve para protegê-la bem das chuvas, das nevadas e de qualquer golpe.
Imediatamente depois vêm as portas, e para fazer que estas sejam sólidas como madeira, não
presas à mariposa, é necessário o silêncio, que forma a morte dos sentidos exteriores. Para
guardar esta casa é necessário um guardião que vigie por toda parte, por dentro e por fora, e
este é o santo temor de Deus, que a guarda de qualquer inconveniente, vento, ou qualquer
outra coisa que possa ameaçá-la.Este temor será a salvaguarda desta casa, que fará agir a
alma não por temor da pena, mas por temor de ofender ao proprietário desta casa. Este santo
temor deve fazer com que tudo seja feito para agradar a Deus, sem nenhuma outra
intenção. Logo se deve adornar esta casa e enchê-la de tesouros, estes tesouros não devem
ser outra coisa que desejos santos, lágrimas; estes eram os tesouros do Antigo Testamento e
neles encontraram sua salvação, no cumprimento de seus votos sua consolação, a força nos
sofrimentos; em suma, toda a sua fortuna se baseava no desejo do futuro Redentor e nesse
desejo agiam como atletas. A alma sem desejo trabalha quase como morta; mesmo as mesmas
virtudes, tudo é tédio, aborrecimento, animosidade, nada lhe agrada, caminha quase
arrastando-se pelo caminho do bem. Ao contrário a alma que deseja, nada lhe causa peso,
tudo é alegria, voa, nas mesmas penas encontra seus gostos, e isto porque havia um
antecipado desejo, e as coisas que primeiro se desejam, depois vêm a amar-se, e amando-se,
encontram-se os prazeres mais agradáveis. Por isso este desejo deve acompanhar a alma
desde antes de que se fabrique esta casa.
Esqueci de dizer que é preciso ver se há paz doméstica, e esta não deve ser outra coisa
que o recolhimento e o silêncio dos sentidos interiores”.

“Minha filha, não me faças violência, fazendo isto tu queres forçar-me, por isso fica quieta”.

 

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