Venerável Bartolomeu Holzhauser
Túmulo do venerável Pe. Bartolomeu Holzhauser, igreja de São Martinho, Bingen, Alemanha |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Paralelismos
entre o Segredo
e a interpretação do Apocalipse
do venerável Pe. Holzhauser
Ouvimos falar com frequência das profecias do Servo de Deus Pe. Bartolomeu Holzhauser (1613-1658).
Por vezes o preclaro sacerdote é tratado de Beato Holzhauser, tal vez por um equívoco proveniente da inicial de seu nome. Assim, a B. do Pe. B. Holzhauser foi lida como abreviando Beato em lugar do correto Bartolomeu.
Esse engano tal vez provenha da fama de santidade do sacerdote, já grande durante sua vida.
Ele foi um apóstolo incansável pela restauração moral, disciplinar, doutrinal e material do clero católico, muito decaído no tempo das guerras de religião na Alemanha.
Ele também foi objeto de fenômenos místicos extraordinários e ficou célebre pelo seu dom de profecia. Nessa linha, sua interpretação do Apocalipse ficou célebre.
Les Petits Bollandistes, a grande autoridade em matéria de hagiografia, colocam a interpretação do Pe. Holzhauser muito por cima das demais.
“Holzhauser, escreveram os Bollandistas, deixou entre outras obras uma interpretação do Apocalipse de São João (…) que apresenta uma concordância tão admirável dos tempos e dos acontecimentos, que os outros comentários desse livro sagrado em comparação com o dele não passam de brincadeira de crianças”. (Les Petits Bollandistes, sétima edição, 1878, tomo 6, página 229).
A Sociedade dos Bolandistas é a mais antiga sociedade científica, formada quase exclusivamente por sacerdotes jesuítas, que vem estudando há quatro séculos a vida dos santos. Cfr.: Société des Bollandistes)
Não visamos aqui tratar de todos os inúmeros, densos e imensos problemas ligados a essa interpretação.
Procuramos, isso sim, pôr em destaque as afinidades entre os escritos sobrenaturalmente inspirados do venerável sacerdote alemão com as partes correspondentes do Segredo de La Salette.
Faremos isso numa série de posts.
Em La Salette, Nossa Senhora desvenda o Segredo seguindo uma ordem histórica cronológica. Em primeiro lugar fala da época dos videntes – que é a nossa época – e para a qual prevê grandes calamidades.
Nela manifestar-se-iam os Apóstolos dos Últimos Tempos que anunciaram tantos e tão grandes santos como São Luis Maria Grignon de Montfort.
Essa época se encerraria com uma estrondosa intervenção divina que redundará num triunfo de Nossa Senhora, a rainha dos Apóstolos dos Últimos Tempos, que serão seus escravos modelares.
Saltam aos olhos as afinidades entre a interpretação inspirada do venerável Pe. Holzhauser dois séculos antes da aparição da La Salette e da mensagem de Nossa Senhora a Melania e Maximino.
Nenhum desses personagens conheceu ao outro: 1º) pela diferência no tempo e 2º) porque Melania e Maximino eram iletrados e não poderiam ter lido qualquer escrito que mencionasse ao Pe. Holzhauser e suas interpretações.
Entretanto, as semelhanças são tantas e em pontos tão essenciais que dispensam qualquer comentário. De onde poderiam vir essas semelhanças senão de Deus?
Há, obviamente, coisas que estão ditas em La Salette e não se encontram em Holzhauser, e vice-versa. Isto é comum nos escritos proféticos.
Acontece entre os profetas do Antigo Testamento, onde um diz uma coisa que não diz o outro, mas todos convergem em harmonia admirável no anúncio do Redentor.
Os espíritos avisados não terão dificuldade em identificar esses aspectos convergentes mais dissímeis entre La Salette e o venerável Holzhauser.
Introduzimos a série de posts com um breve resumo da biografia do insigne religioso que poderá ser de utilidade a nossos leitores.
Bartolomeu Holzhauser nasceu na pequena aldeia de Laugna, no sul da Alemanha, em 1613.
Desde seus primeiros anos foi favorecido por visões celestiais. Grande devoto de Nossa Senhora, foi por inspiração d’Ela que resolveu seguir a carreira eclesiástica. Celebrou sua primeira missa em Ingolstadt.
Logo tornou-se conhecido como confessor, a ele recorrendo grande número de penitentes. Em 1640 convenceu três outros padres mais antigos a seguir certas regras que eles próprios se impuseram e fundou em Salzburg, Áustria, o primeiro de seus institutos.
Dedicou-se a estabelecer seminários para formar padres exemplares por sua fé e virtudes.
A fim de formar padres virtuosos, vivendo segundo as regras canônicas e a disciplina eclesiástica, prescreveu ele três coisas: coabitação e conversa fraterna; afastamento das mulheres e comunidade de bens.
Após dez anos de atividades no vale do Tirol, transferiu-se para a diocese de Mainz, na Francônia. A convite do eleitor de Mainz tornou-se cura e deão em Bingen, no Reno.
O rei Carlos II da Inglaterra, que se encontrava exilado na Alemanha, teve uma conversa com Holzhauser para ouvir dele as previsões que fizera sobre a Inglaterra.
A saber: que aquele país passaria pelos maiores infortúnios; nem o rei seria poupado; a paz só viria com a conversão dos ingleses à fé católica romana, quando fariam pela Igreja ainda mais do que fizeram após a primeira conversão.
Holzhauser desejou muito ir à Inglaterra para iniciar essa obra de conversão, mas seu trabalho continuou na sua obra pastoral em Bingen, sobre o rio Reno, até sua morte, ocorrida em 20 de Maio de 1658, antes de completar 45 anos de vida.
Seu corpo repousa na igreja paroquial de Bingen, diante do altar da Santa Cruz.
Por uma simbólica coincidência, na mesma localidade – porém do outro lado do rio Reno, em Eibingen – se encontra a urna com os restos de Santa Hildegarda, abadessa da Idade Média.
Ela também ficou famosa pelos seus dons proféticos e suas visões sobre o Fim do Mundo e dos acontecimentos históricos que devem precede-lo.
São João contempla as Sete Igrejas do Apocalipse. Vital da catedral de York, Inglaterra |
Holzhauser escreveu sua interpretação do Apocalipse quando se encontrava no Tirol, em meio às maiores provações, passando dias inteiros no jejum e na oração, afastado de todo o contato com os homens.
Como essa interpretação ficou interrompida no versículo 4 do capítulo XV, seus discípulos lhe perguntaram a razão disso. Ele respondeu que não se sentia mais inspirado para continuar a obra, mas que outro viria depois para completá-la e coroá-la.
As previsões que faz para o futuro da humanidade não são fruto de visões ou revelações particulares, mas exclusivamente de uma interpretação inspirada do livro de São João.
que precederão o fim do mundo
De acordo com a interpretação do Pe. Holzhauser, no século VII as forças do mal no terreno temporal, instrumentos do demônio para combater a Igreja, estavam representadas pelo rei Chosroes da Pérsia, ao qual se seguiu Maomé e o império islamita.
Este deverá ser o grande inimigo da Igreja até o advento do Anticristo, seu grande restaurador e último dirigente.
A Igreja grega ficou cada vez mais dominada pelas heresias, que acabaram por levá-la ao rompimento definitivo com Roma.
Como a Igreja Católica não tivesse mais condições de sobrevida digna no Oriente, Deus propiciou seu florescimento em regiões ainda dominadas por povos bárbaros: a Alemanha e outras regiões da Europa Ocidental.
Suscitou então grandes santos, pregadores e apóstolos, que evangelizaram os povos da Alemanha, das Ilhas Britânicas e das outras regiões da Europa Ocidental, fazendo desse conjunto de povos e nações um abrigo para a Igreja que deverá durar 1260 anos, contra as investidas cada vez mais furiosas do império do mal.
Deus também estabeleceu um Império Romano Católico no Ocidente, tendo sido Carlos Magno o primeiro imperador da Alemanha.
Besta do Apocalipse. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek,Cgm 8010, Folio296r |
O demônio, furioso com o florescimento da Igreja na Europa Ocidental, tentou exterminá-la, suscitando cismas e heresias em seu interior.
Segundo Holzhauser, as sete igrejas do Apocalipse, do ponto de vista indicam sete idades, ou eras históricas, em que vai se dividir a história da Igreja até o Fim o Mundo.
A quinta igreja – Sardes – é a figura da idade atual estendendo-se desde o advento do protestantismo até a futura derrota do império do mal.
É uma época de calamidades, tanto no campo espiritual como no temporal. A Europa é devastada por sangrentas guerras de religião, os católicos são oprimidos por hereges e maus cristãos.
Porém a heresia é combatida em discussões, escritos e pela força das armas. E Deus manifesta de modo admirável sua assistência especial à Igreja nessa época de provações:
1) Opondo a Lutero e à sua funesta heresia Santo Inácio de Loiola e a Companhia de Jesus.
2) Convocando, por inspiração do Espírito Santo, o Concílio de Trento, para esclarecer os dogmas da Fé e restabelecer a disciplina eclesiástica, sobretudo o celibato.
3) Concedendo à Igreja, em outras partes do mundo, tantos fiéis quanto os que ela perdia na Europa, por meio da evangelização dos povos da América, Ásia, Índia, China e Japão.
4) Suscitando soberanos zelosos, entre os quais o mais notável foi o Imperador Fernando II [Nota: imperador do Sacro Imperador Romano-Germânico de 1619 a 1637, a totalidade do seu reinado desenrolou-se durante a guerra dos Trinta Anos que opôs católicos e protestantes].
Ruínas de Sardes, cidade histórica, também prefigura da V idade da Igreja |
Porém isso não será suficiente para por fim, ou mesmo para impedir o progresso do mal nessa idade.
Ao final da mesma o demônio gozará de uma liberdade quase absoluta e universal, e uma grande tribulação devastará a terra.
Os poucos servidores fiéis, unidos entre si pelos mais fortes laços, se conservarão puros no meio do mundo. Passarão por vís aos olhos deste, serão desprezados e repelidos.
Eles levarão uma vida humilde, sem procurar dignidades nem poder. Serão desprezados e ignorados pelos grandes e nisso se rejubilarão.
Sacrificarão seus proventos em benefício dos pobres e para a edificação e propagação da Igreja Católica, a qual eles amarão como sua própria mãe.
Sua vida retirada será considerada como loucura, pois desprezarão os bens e as honrarias mundanas; e se preservarão de se corromperem com mulheres. Sua conversa será conforme a santidade de sua vocação.
Mas Nosso Senhor Jesus Cristo terá olhares de complacência para com sua paciência, ação, constância e perseverança.
Terão pouca força material mas grande ajuda de Deus, que os recompensará na sexta idade com a conversão de pecadores e hereges.
Só uma transformação assustadora e inimaginável, feita pela mão de Deus, poderá por fim a essa época de tribulações.
As Sete Igrejas do Apocalipse. Basílica e Colegiata de São Isidoro, Leão, Espanha |
o Grande Monarca, o Pontífice Santo e o Reino de Maria
Segundo o exegeta, nossa época corresponde simbolicamente à igreja de Sardes, a quinta igreja do Apocalipse.
Essa época, segundo Holzhauser, será continuada pela época prefigurada pela igreja de Filadélfia, a sexta igreja da revelação do livro de São João.
Eis como prossegue a inspirada interpretação do venerável Pe. Holzhauser:
Também chamada de época de “consolação” da Igreja, ela se estenderá desde o advento do Grande Monarca e do Pontífice Santo, até a tomada do poder pelo Anticristo. Corresponde à igreja de Filadélfia.
Quando maior for a pressão exercida pelos infiéis contra os cristãos, ao final da quinta idade, Deus suscitará um Grande Monarca que, pelas suas virtudes, pela força das armas e pelo apoio que receberá de Deus, derrotará o império do mal e extirpará as heresias.
O Grande Monarca será grande por suas vitórias e solidamente estabelecido no trono de seu império. Reinará por muitos anos, humilhará os hereges e as repúblicas.
Nascerá no seio da Igreja Católica e será especialmente enviado por Deus, segundo os decretos da Providência Divina, que o terá escolhido para a consolação e exaltação da Igreja latina em meio à aflição e à humilhação.
Seu reinado se constituirá no mais sólido apoio à Igreja Católica e continuará a sê-lo em sua posteridade, até o aparecimento da apostasia e do Anticristo.
Também será suscitado um Santo Pontífice, que vai estimular, incentivar e auxiliar o Grande Monarca na luta para exterminar o império do mal.
Este Pontífice formará um grande exército com os Estados da Igreja e seus aliados, para o qual nomeará um grande general que irá com suas tropas em auxílio do Grande Monarca.
Este então, com tais reforços, fará uma grande matança entre os turcos e seus aliados, a ponto do sangue que jorrar dos infiéis se elevar até o freio dos cavalos.
Juntamente com os infiéis serão exterminados também os hereges, e a todos o Grande Monarca precipitará no inferno, pelo poder que Deus lhe concedeu.
Queda de Babilônia. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010, Folio302v |
Esta será a primeira queda da Babilônia citada no livro sacro, ou seja, o fim da opressão corruptora que os turcos exerciam sobre os cristãos.
Pelo poder do Grande Monarca e pela autoridade do Santo Pontífice será então convocado um concílio geral, que será o maior e o mais célebre de todos.
O Grande Monarca empregará todo o seu poder para fazer executar as sentenças e decretos dessa magna assembleia.
Por seus editos imperiais ordenará a execução, com todo o rigor, das decisões do concílio em favor da Fé católica e ortodoxa. E tais editos atingirão todas as nações.
Porém seu império e a propagação da verdadeira Fé não serão assegurados sem luta. Haverá protestos e brados daqueles que vão querer resistir ao Monarca.
Os príncipes e os grandes que se insurgirem contra ele farão ouvir suas vozes por ocasião do concílio. A resistência a este por parte dos maus será muito grande, chegando a haver mártires na obra de sua propagação.
Essa contestação será tanto de potências seculares como da parte dos maus sacerdotes.
A Igreja deverá sofrer amarguras, tribulações e dificuldades para a execução desse concílio.
Porém os maus não prevalecerão e ela pregará a Fé católica a todas as nações, mesmo às pagãs e àquelas que dela se haviam separado pelo cisma ou pela heresia.
E ela se expandirá por quase todo o universo, em todas as partes do mundo.
Na sexta idade todas as nações se converterão à Fé católica, o sacerdócio florescerá mais que nunca e a Igreja terá bons pastores.
Os homens viverão à sombra das asas do Grande Monarca e de seus sucessores.
O espírito de sabedora reinará nas ciências – sacras e profanas – e na interpretação das Escrituras.
O ateísmo, as heresias e as falsas doutrinas serão banidos.
A Igreja Católica será elevada ao apogeu de sua glória temporal e não haverá controvérsias nem discussões para saber qual é a verdadeira Igreja, como existe atualmente na quinta idade.
Porém, no fim dessa sexta idade a caridade vai se arrefecer, os pecados se multiplicarão e, pouco a pouco, será formada uma geração perversa e infiel.
Os justos, os santos, os bons prelados e pastores serão levados por Deus, em grande número, por morte natural. Em seu lugar virão homens tíbios e carnais, que só cuidarão de si mesmos.
Este estado de espírito da população em geral é que marcará a passagem gradual da sexta para a sétima e última idade da Igreja.
Jazigo do Servo de Deus Bartolomeu Holzhauser. Igreja de São Martinho, Bingen, Alemanha |
Ela se estende desde o aparecimento do Anticristo até o fim do mundo e o Juízo Final. Seu tempo de duração será curto em comparação com as outras idades. Corresponde à igreja de Laodicéia.
Será uma época de desolação e de defecção total da Fé: abominação da desolação.
No início, enquanto o Anticristo não estiver ainda no poder, será uma continuação do estado de espírito observado no fim da sexta idade: perda do amor de Deus e da Fé, reinos perturbados por agitações e divididos entre si, raça de homens egoístas, indolentes e tíbios. Os pastores, prelados e príncipes serão velhacos e impostores.
Um dos vícios morais dessa idade será uma presunção de espírito fundada na própria ciência.
Não reconhecerão seus pecados nem seus erros; ficarão empedernidos nos próprios vícios, volúpias e mentiras, a ponto de se justificarem a si próprios.
Outro vício será a vã confiança nas riquezas, nos tesouros, nos objetos preciosos, nos ricos ornamentos, na magnificência dos edifícios e dos templos, no esplendor externo das coisas espirituais e temporais.
E como tudo isto não estará unido ao amor de Deus, não será do agrado de Nosso Senhor Jesus Cristo e se tornará presa do Anticristo.
Então Nosso Senhor Jesus Cristo começará a vomitar a Igreja de sua boca e permitirá que Satanás e o Anticristo estendam seu poder a tudo, inclusive dentro da própria Igreja. Será o resultado da tibieza do período de decadência da sexta idade.
Por permissão de Deus, o filho de perdição [Anticristo] terá com o demônio uma completa união de posse desde o momento de sua concepção, ainda no seio de sua mãe.
O Anticristo com a ajuda do demônio, vai restaurar o antigo poder e extensão do império do mal, derrotando os cristãos e os submetendo ao seu poder tirânico e despótico.
Sempre por obra do demônio, ele terá uma grande capacidade de realizar prodígios, não só em obras como em palavras, dizendo coisas que parecerão a todos muito boas e sensatas, persuadindo assim grande número entre os próprios cristãos, exceção feita dos eleitos.
O Anticristo aconselhado por Satanás. Luca Signorelli, basílica de Orvieto |
Ele se apresentará como sendo Cristo, o Messias prometido e só então vindo à terra, acusando Nosso Senhor Jesus Cristo de ter sido um impostor.
Ele se fará adorar como Deus, não só em pessoa como em suas imagens, as quais terão o poder de falar e convencer.
Seu poder sobre povos e nações será o maior que jamais houve na história, e sua perseguição a mais cruel.
Seu reino será o da luxúria, da concupiscência e da crueldade. Abolirá o Santo Sacrifício, espezinhará o Santíssimo Sacramento, nascerá para fazer o mal. Alcançará o poder por meio de fraudes e artifícios, com a ajuda do demônio.
Possuirá tesouros escondidos revelados a ele pelo demônio e se apossará dos tesouros das igrejas, dos reis, dos príncipes e dos grandes.
E calcará aos pés tudo o que for santo e sagrado, queimará os templos mais magníficos e tudo o que for sagrado será consumido pelo fogo e reduzido a cinzas e ruínas.
Todos os que aderirem ao Anticristo serão obrigados a trazer sua marca impressa na fronte ou na mão direita, e que será o nome “cristo” escrito em letras hebraicas.
Os que não tiverem essa marca serão presos e conduzidos a uma de suas imagens para adorá-la, sendo martirizados se não o fizerem.
Na sua tarefa de perseguir os cristãos o Anticristo será auxiliado pelo falso profeta e antipapa, um cristão apóstata que, apoiado pelos judeus, invadirá os Estados da Igreja e matará o Papa legítimo, ficando em seu lugar.
Este antipapa vai induzir todos os cristãos a adorar o Anticristo e sua imagem, e também receberá poderes do demônio para fazer coisas prodigiosas, perseguindo cruelmente os que persistirem na verdadeira Fé.
A apostasia será generalizada, à exceção dos poucos eleitos, aos quais nada mais restará que a glória do martírio, pois qualquer luta armada contra as forças do Anticristo será inútil, e mesmo desaconselhada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
O último Papa legítimo – que, como o primeiro, também se chamará Pedro – increpará os seguidores do Anticristo, ameaçando-os com as penas do inferno.
Antes mesmo que o Anticristo entre na plenitude de seu poder, tal Papa já terá condenado a heresia do falso messias.
A grande maioria dos mártires dessa época será constituída por eclesiásticos de diversas ordens da hierarquia: bispos, pregadores, pastores, doutores, padres em geral, e também por grande número de leigos.
Todos estes confessarão sua fé no verdadeiro Deus e em Jesus Cristo como tendo sido o Messias, praticarão a virtude da pureza, a castidade e o celibato sacerdotal, completamente abandonados então.
Santo Elias, Convento de La Encarnación, Ávila, Espanha |
Nessa época Elias e Enoch serão enviados como testemunhas de Deus contra o Anticristo. Eles pregarão e farão grandes prodígios, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, contra as imposturas e os falsos milagres do Anticristo.
Pregarão às nações e aos judeus o fim do mundo, o juízo final, a penitência, a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e que Ele virá para julgar os vivos e os mortos.
O que foi feito nos dias de Faraó e de Acab, em matéria de milagres e castigos, se renovará.
O Anticristo, por permissão de Deus, tentará imitá-los. Haverá uma guerra de milagres e uma guerra de tormentos.
E passada a época de sua pregação o Anticristo os matará.
Seus corpos ficarão expostos em praças públicas de Jerusalém, que nessa época será uma cidade grande, rica e poderosa, para onde afluirão homens de todos os povos.
Pois o Anticristo anunciará a morte dos dois santos profetas para que todos possam crer que ele está acima de toda virtude e poder.
Junto aos corpos de Elias e Enoch ficarão corpos de muitos outros mártires, especialmente padres e doutores. Haverá grande regozijo dos ímpios durante as três semanas e meia em que os corpos ficarão expostos.
Serão o tempo de gozo do Anticristo pela sua vitória. Ele se fará adorar como deus no alto do Monte das Oliveiras, e os ímpios seus adoradores se entregarão a uma alegria frenética e cheia de volúpias.
Os poucos fiéis que resistirem serão obrigados a fugir para lugares desertos. Não haverá sinais de Deus no céu, será a paz dos maus.
Decorridos esses dias, Deus ressuscitará Elias e Enoch e os elevará ao céu em corpo e alma à vista de todos.
O Anticristo, enraivecido, tentará vingar-se fazendo-se elevar nos ares pelo poder do demônio.
Mas será precipitado vivo no inferno, entrando por uma abertura na terra que se formará em conseqüência do grande terremoto que haverá na ocasião.
Juízo Final, Cremona |
Seu número – 666 – foi deduzido da soma dos números representados por cada letra da palavra grega escrita por São João, e que significa “contrário”.
O número 666 não está no escrito de São João, mas na versão latina. Esse número representa em meses o tempo de vida do Anticristo, que assim terá um período de vida de 55 anos e meio, dos quais os últimos três anos e meio serão de seu maior poder e furor contra a cristandade.
Ele será morto pelo sopro da boca de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, por Sua palavra.
Após a morte do Anticristo poucos dias serão concedidos aos homens para fazer penitência, com os terríveis sinais que precederão a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e o juízo final.
Os judeus se converterão e se unirão aos cristãos para cantar louvores à glória, bondade e misericórdia de Deus Padre e de Seu Filho Jesus Cristo.
Então serão melhor conhecidas as vias de Deus para a criação, conservação e governo do gênero humano ao longo dos séculos, conhecimento este que será bem mais completo por ocasião do juízo Final, o qual ninguém sabe exatamente quando se dará, somente Deus.
Tanto o dia do juízo Final como a questão da predestinação constituem um grande mistério reservado só a Deus. Nessa ocasião todos os segredos serão manifestados. Os homens não crerão nesse dia até que ele venha.
Poliptico do Juízo Final, painel central. Roger van der Weyden. Beaune, Musée de l’Hôtel-Dieu |
Após resumirmos em linhas gerais a interpretação do livro do Apocalipse segundo o Venerável Servo de Deus Pe. Bartolomeu Holzhauser, apresentaremos excertos de comentários relevantes.
Apresentamos esses comentários sintetizados precedidos pelo versículo do livro sagrado que o inspirado autor comenta.
Como dizemos em “O venerável Pe. Holzhauser e La Salette: significado das sete igrejas do Apocalipse” a obra do Pe. Holzhauser ficou incompleta.
Solicitado por sacerdotes amigos para concluí-la, o autor respondia tê-la escrita sob inspiração, e essa tendo cessado, ele parou.
Mas, acrescentava, que alguém viria no futuro completá-la.
Não ousamos acrescentar observação ou glosa alguma. Percebemos os aspectos nebulosos do assunto até para os maiores exegetas da Igreja.
Admiramos a grandeza do tema e a beleza do comentário do Pe. Holzhauser, tirando proveito espiritual desta admiração e ficamos na paz de alma dentro dos limites que nos impõem as nossas limitações.
V.1 – “E vi outro anjo forte que descia do céu, vestido de uma nuvem, e com o arco-íris sobre a cabeça, e seu rosto era como o sol, e seus pés como colunas de fogo”.
É o anjo tutelar e protetor do império romano. Representa duas pessoas: o Grande Monarca e o próprio anjo, que anuncia algo oposto ao que anunciavam os anjos precedentes.
Pleno de força: é o poder do Grande Monarca. Descendo do céu: ele nascerá dentro da Igreja Católica. Vestido de uma nuvem: a humildade do Monarca. Um arco-íris sobre a cabeça: paz de Deus com a terra. Rosto como o sol: esplendor da justiça, glória, inteligência, sabedoria, caridade e zelo do Monarca; é como o sol no meio dos outros astros. Pés como colunas de fogo: poder e extensão do império do Monarca.
Tapeçarias do Apocalipsis, Angers V.2 – “E ele tinha em sua mão um pequeno livro aberto; e pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra”.
O livro é o concílio geral realizado por obra do Monarca. Está aberto devido à clareza de suas sentenças e definições. Pés sobre o mar e sobre a terra: extensão do império do Monarca sobre a terra e as ilhas.
V.3 – “E gritou com alta voz, como um leão quando ruge. E após ter gritado sete trovões fizeram ouvir seus ruídos”.
Voz como a do leão: terror que vai inspirar aos povos da terra e das ilhas; editos imperiais para a execução do concílio. Sete trovões: murmúrios, protestos e gritos contra o Monarca e o concílio.
V.4 – “E depois que os sete trovões fizeram ouvir suas vozes, eu me dispunha a descrevê-las; mas ouvi uma voz do céu que me dizia: Sela as palavras dos sete trovões e não as escrevas”.
V.5 – “E o anjo que eu vira de pé sobre o mar e sobre a terra levantou a sua mão ao céu”.
É o anjo representando a si mesmo, revelando os segredos divinos sobre o fim dos tempos, como guardião e protetor do império.
V.6 – “E ele jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, que criou o céu e tudo o que nele há, e a terra e tudo o que há nela, e o mar e tudo o que nele há, que não haveria mais tempo”.
Testemunho apoiado por um juramento. O tempo para os réprobos havia terminado.
V.7 – “Mas que nos dias da voz do sétimo anjo, quando começasse a soar a trombeta, se cumpriria o mistério de Deus, como ele o anunciou pelos profetas, seus servos”.
É o anúncio do fim dos tempos e do juízo final, a ressurreição dos mortos, o prêmio e o castigo. Os profetas são Moisés, Enoch, Elias e todos os do Antigo Testamento, os apóstolos, doutores e pregadores do novo.
V.8 – “E ouvi a voz do céu que novamente me falava, e que dizia: Vai e toma o livro aberto da mão do anjo, que está de pé sobre o mar e sobre a terra”.
V.9 – “E fui ter com o anjo, dizendo-lhe que me desse o livro. E ele me disse: Toma o livro e devora-o; e ele fará amargar o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel”.
V.10 – “E tomei o livro da mão do anjo e o devorei; e na minha boca era doce como o mel; mas depois que o devorei tornou-se amargo do meu ventre”.
V.11 – “E ele me disse: É necessário que ainda profetizes a muitas nações, povos, homens de diversas línguas e reis”.
São João representa aqui a pessoa moral de toda a Igreja e nos instrui sobre a qualidade e os efeitos daquele livro.
Túmulo do Pe. Bartolomeu Holzhauser, Bingen, Alemanha |
Era na boca doce como mel: contém uma doutrina sadia, unânime e santa em matéria de fé e costumes. Será doce na boca de toda a Igreja por ser obra do Espírito Santo, recebida com aclamação e unânime consentimento.
Mas também produzirá uma grande comoção, pois o mundo, o demônio e a carne sempre resistiram e resistirão às obras de Deus.
Esta sublevação será feita primeiramente pelos poderes temporais, que resistirão pelas armas ao Grande Monarca e perseguirão aqueles que empreenderem a conversão dos povos à Fé católica por ordem do Monarca. A execução dos decretos do concílio também enfrentará uma grande oposição da parte dos maus padres.
Todas essas dificuldades são expressas pelas palavras: “mas depois que o devorei ele tornou-se amargo no meu ventre”.
A Igreja deverá sofrer amarguras, tribulações e dificuldades na execução desse concílio, porém esses males não prevalecerão e seus inimigos não poderão impedir que se realize a grande obra de Deus.
“Que ainda profetizes a muitas nações, povos, etc” significa a pregação do Evangelho e da Fé católica nos países que o islamismo, o cisma, o protestantismo ou qualquer outra seita haviam separado da Igreja. Esta pregará pela voz daqueles que ela enviará aos povos que já haviam conhecido a luz da Fé católica, mas apostataram: “ainda”.
Isto acontecerá na sexta idade, que será uma época de consolação, enquanto a sétima será a idade da consumação.
V.1 – “E uma cana semelhante a uma vara me foi dada, e me foi dito: Levanta-te e mede o templo de Deus, o altar e aqueles que nele adoram”.
Estas palavras indicam que imediatamente antes dos últimos tempos a Igreja será imensa, como que novamente edificada e consagrada a Nosso Senhor Jesus Cristo. O templo do Senhor aumentará imensamente e a casa de Deus será edificada nos quatro cantos do mundo.
“Templo” significa a imensa extensão da nova Igreja que se reunirá à Igreja latina pela conversão de nações na América, África, Ásia e Europa.
“Altar” significa a honra e exaltação do Santo Sacrifício da Missa, que será celebrado em toda a superfície da terra.
“Aqueles que nele adoram” significa primeiramente os padres, que se espalharão pela terra em grande número, e também os leigos, pelo zelo que terão respectivamente em celebrar e assistir o Santo Sacrifício.
V.2 – “Mas deixa o átrio que está fora do templo e não o meças, pois ele foi dado aos gentios que calcarão a cidade santa durante quarenta e dois meses”.
É a instrução dada por Nosso Senhor Jesus Cristo a respeito da permissão de reservar um pequeno território para o reino de Maomé e do Anticristo. O átrio significa a Palestina e Jerusalém. O templo é a Igreja e a cristandade.
É uma rejeição do judaísmo ainda não convertido. Quarenta e dois meses será o tempo de seu domínio sobre a Terra Santa.
V.3 – “E darei às minhas duas testemunhas o poder de profetizar, revestidas de saco, durante mil duzentos e sessenta dias”.
A Igreja triunfante. Fachada da catedral Notre Dame, Paris. |
As duas testemunhas são Elias e Enoch, que receberão de Deus grande sabedoria e poderosa virtude contra o Anticristo, os falsos profetas e os falsos cristãos. A incumbência é a pregação, o traje o saco, o tempo 1260 dias e a meta é a conversão de judeus e gentios.
V.4 – “São duas oliveiras e dois castiçais de pé diante do Senhor da terra”.
Oliveiras e castiçais: ungidos com o óleo da santidade, da caridade e da sabedoria celeste. Derramarão o óleo da salvação sobre as feridas dos judeus e gentios, aos quais abrandarão os corações e farão cessar a dispersão de Israel. De pé: conservados vivos por vontade de Deus para a penitência e conversão das nações e dos judeus.
V.5 – “E se alguém lhes quiser fazer mal, sairá de suas bocas um fogo que devorará os seus inimigos; e se alguém os quiser ofender, do mesmo modo deverá morrer”.
Isto significa a virtude e o poder de realizar grandes milagres e prodígios de modo público e frequente. E farão recair toda espécie de mal sobre a cabeça daqueles que ousarem atacá-los.
V.6 – “E têm o poder de fechar o céu para que não chova durante os dia que profetizarem; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e de ferir a terra com toda espécie de pragas, todas as vezes que quiserem”.
Será uma repetição do que foi feito por Moisés e Elias nos tempos do Faraó e de Acab.
V.7 – “E quando tiverem terminado seu testemunho, a besta que se eleva do abismo fará guerra contra eles, os vencerá e matará”.
Será uma vitória corporal do Anticristo após a derrota espiritual que sofreu. O tempo do testemunho é de 1260 dias. Besta que se eleva do abismo: o Anticristo que conseguiu o poder a custa de fraudes, embustes e da ajuda do demônio. Permissão de Deus para vencê-los e matá-los.
V.8 – “E seus corpos ficarão estendidos nas praças da grande cidade, chamada espiritualmente Sodoma e Egito, onde também o Senhor deles foi crucificado”.
A grande cidade é a Jerusalém moderna, de grande população, rica e poderosa. Chamada espiritualmente, ou alegoricamente, Sodoma pela prática de todos os vícios que aí chegarão ao cúmulo.
Chamada Egito pela semelhança da luta empreendida pelo Anticristo com luta do Faraó contra Deus: de milagre a milagre, de prodígio a prodígio. A última frase é para não deixar dúvida que a cidade é Jerusalém.
As duas testemunhas. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek |
V.9 – “E os homens das diversas tribos, povos, línguas e nações verão seus corpos por três dias e meio; e não permitirão que sejam sepultados”.
O dia deve ser tomado por semana: três semanas e meia.
V.10 – “E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles, e farão festas, e mandarão presentes uns aos outros, porque estes dois profetas tinham atormentado os que habitavam sobre a terra”.
Grandes massas humanas afluirão a Jerusalém para ver os cadáveres, manifestando sua alegria de modo frenético, exaltando e glorificando o Anticristo, julgando que sua paz de ímpios não será mais perturbada pelos pregadores da penitência.
“Estas palavras permitem perceber a ebriedade da alegria levada até o frenesi, que os ímpios manifestarão durante o tempo que durará seu triunfo.
“E na sua cegueira eles exaltarão e glorificarão o Anticristo; e como ele terá tomado o cuidado de fazer publicar sua vitória sobre dois profetas tão célebres, a massa dos homens que cobrem a superfície da Terra se agitará como ondas do mar.
“E as tribos, as nações e os homens de diversas línguas afluirão nesses dias a Jerusalém para ver esses cadáveres tão famosos e contemplar a seu rei deificado em todo o esplendor de sua majestade.
“Então os homens dançarão de alegria pela morte dos dois profetas e de outros justos que terão sido martirizados por ódio ao santo Nome de Jesus, assim como Herodíade bailou e se regozijou pela degolação de São João Batista.
Adoração da imagem da besta. Tapeçaria de Angers. |
“Eles erigirão por toda a Terra troféus e estátuas magníficas ao Anticristo, eles queimarão incenso sobre seus altares e adorá-lo-ão como seu deus e seu messias.
“Todos os homens que acreditarão nele serão convidados a festins, a banquetes, a bailes, a casamentos e a voluptuosidades de todo gênero.
“Eles procurarão satisfazer todos os desejos da carne, porque eles acharão que atingiram a plenitude da distensão, depois da qual sua paz não será mais perturbada pelos dois pregadores da penitência. (pp. 496-497)
“Pois após a morte dos dois profetas será concedido poder à besta sobre todos os homens poderosos em obras e palavras, e esses serão entregues à morte em todas as regiões da Terra, ou serão forçados a se embrenhar pelas montanhas e locais desertos, e se esconder nas gretas dos rochedos e em cavernas obscuras. Pois ninguém ousará se declarar cristão de público. (p. 497-498)
“Dessa maneira, nos últimos dias, os homens verdadeiramente adorarão a besta, inclusive os cristãos – excetuados os eleitos. Eles verão ao mesmo tempo a morte ignominiosa de seus profetas, a paz dos malvados, a vitória do Anticristo, o silêncio e o abandono aparente de Deus, escandalizar-se-ão e apostatarão.
“Eles queimarão também seu incenso diante do altar da besta, e após terem recebido sua marca na mão ou na testa, eles adorarão sua imagem”. (p. 498)
V.11 – “Mas após três dias e meio o espírito de vida entrou neles da parte de Deus. E eles se levantaram em pé e um grande temor se apoderou daqueles que os viram”.
V.12 – “E ouviram uma voz forte que lhes dizia do céu: Subi aqui. E eles subiram ao céu numa nuvem, à vista de seus inimigos”.
Testemunho público e solene da parte de Deus sobre a verdade da pregação dos dois profetas.
V.13 – “E naquela mesma hora se produziu um grande terremoto; a décima parte da cidade caiu e sete mil homens pereceram no terremoto; os restantes foram tomados de pavor e deram glória ao Deus do céu”.
Morte do Anticristo, castigo dos ímpios e conversão do que restou de judeus e gentios.
V.14 – “Passou o segundo ai; e eis que o terceiro ai virá em breve”.
É o anúncio do fim do mundo e do juízo final.
Um anjo toca a trombeta. Tapeçaria de Angers, França. V.15 – “E o sétimo anjo tocou a trombeta e ouviram-se no céu grandes vozes que diziam: O reino deste mundo passou a ser o de Nosso Senhor e de seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. Amém”.
É o anúncio do grande dia do Senhor, após a vitória sobre o Anticristo e o mundo.
V.16 – “E os vinte e quatro anciãos, sentados sobre seus tronos diante de Deus, se prosternaram sobre seus rostos e adoraram a Deus dizendo:
V.17 – Nós te damos graças, Senhor Deus onipotente, que és, que eras e que hás de vir, porque assumiste o teu grande poder e reinaste.
V.18 – As nações irritaram-se mas chegou a tua ira e o tempo de julgar os mortos e de dar recompensa aos profetas teus servos, e aos santos e aos que temem o teu nome, pequenos e grandes, e de exterminar aqueles que corromperam a terra”.
Deus rodeado pelo coro dos 24 anciãos. Wallraf-Richartz Museum, Colônia. |
Os vinte e quatro anciãos representam a universalidade dos juízes no juízo final. A prosternação significa a submissão perfeita no culto de adoração que os santos prestam a Deus no céu.
Rendem graças a Deus Padre: alegria da Igreja triunfante. Nações irritadas por não poder mais praticar o mal. Tempo da ira: castigo dos maus. Alegria dos santos pela vingança de Deus. Recompensa dos bons. Extermínio geral dos ímpios.
V.19 – “Então abriu-se no céu o templo de Deus e apareceu a arca do seu testamento no seu templo e houve relâmpagos, vozes e um terremoto, e uma grande chuva de pedra”.
É a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo para o Juízo Final. Ressurreição dos mortos e precipitação dos maus e dos demônios no inferno.
A mulher coroada de estrelas, imagem da Igreja. Vitral de Notre Dame de Joinville, França. |
“Após São João ter recebido a revelação geral dos acontecimentos principais de todo o percurso da Igreja até a consumação dos séculos, Deus lhe fez conhecer com pormenores alguns mistérios especiais, secretos e escondidos, tão terríveis quanto surpreendentes, que Ele permitirá que se verifiquem nas diversas eras da Igreja militante.
“Esses mistérios dizem respeito sobretudo aos reinados de Maomé e do Anticristo, e muitas outras coisas que estão contidas nos capítulos seguintes, sob diversas figuras e enigmas. (pág. 1)
“A guerra descrita nos capítulos seguintes é a mais cruel, a mais violenta, a mais encarniçada e a mais longa que Lúcifer, o príncipe das trevas, jamais empreendeu para destruir a Igreja de Deus, se isso fosse possível.
“Mas as portas do inferno não prevalecerão contra Ela.
“Esta luta encarniçada começou com o horrível tirano Cosroes (*) que, vencido por Heráclio, suscitou em seu lugar um monstro ainda mais horrível na pessoa de Maomé, que se apoderou do trono dos Persas e estendeu consideravelmente seu império.
[*] N.T.: Cosroes II, o sempre vitorioso, rei da Pérsia de 590 a 628, saqueou Jerusalém e levou como espólios a Verdadeira Cruz e o patriarca Zacarias de Jerusalém. Heráclio, imperador de Bizâncio, recuperou tudo o que havia sido pilhado.
“O reinado deste inimigo hereditário e implacável, que fez derramar rios de sangue dos cristãos, dura até hoje; e embora deva ser consideravelmente diminuído na era da consolação da Igreja pelo braço do Monarca aguardado, um resto dele ficará apertado em limites estreitos, até que venha o filho da perdição.
“Este, por meio de tramas obscuras, ascenderá ao trono desse império do mal que fará reviver, e o restaurará até o ponto de submeter quase tudo ao seu poder.
“Lúcifer se servirá então desse último e mais poderoso soberano, para levar ao cúmulo seu furor contra a Igreja de Deus”. (págs. 2-3)
V.1 – “E um grande sinal apareceu no céu: uma mulher vestida de sol, e a lua sob seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça”.
V.2 – “E estando grávida, clamava em dores de parto e sofria tormentos para dar à luz”.
“Pela imagem da mulher aqui descrita se entende a Igreja militante de Cristo sobre a terra.
A Virgem do Apocalipse, Miguel Cabrera (1760) |
“É com razão que o profeta a representa com a figura de uma mulher, pois Ela é a esposa de Jesus Cristo, e nossa mãe no sentido de que ela nos torna filhos de Deus pelo batismo.
“E um grande sinal apareceu – quer dizer, a Igreja, que é um grande sinal, visível em todos os tempos e por toda a terra. É contra esse sinal que se insurgirá acima de tudo o filho da perdição por ódio ao Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, contra quem blasfemará e que poucos homens ousarão confessar sob seu reinado de horrível tirania. (…)
“Pois Deus jamais está tão perto dos seus, que Ele protege, como quando eles estão sujeitos aos maiores perigos e aos maiores males. (…)
“São João A anuncia sob a figura de uma mulher vestida de sol, porque no fim dos tempos, e nos dias de suas maiores tribulações, a Igreja será mais especialmente assistida por Jesus Cristo, que inspirará e fortificará seus eleitos, na verdade pouco numerosos, de medo que eles sucumbam.
“[Tendo] a lua sob seus pés, quer dizer, o globo terrestre, que cresce e decresce como a lua à medida que os cristãos que fazem parte dele diminuem ou se multiplicam no transcurso das épocas. (págs. 3-5)
“(…) É apontado especialmente que essa lua está sob os pés da Igreja; pois nos últimos dias seus pés apenas tocarão a terra, e Jesus Cristo, o Sol de Justiça, e a Igreja, que reflete a Sua luz, serão eclipsados pelos habitantes do globo terrestre.
“Porque, naquela época, haverá poucos homens que confessarão seu Santo Nome. Os príncipes da terra e quase todos os povos que se oporão à luz desse sol, cobrirão a superfície do globo como outros tantos gafanhotos, como a areia do mar, ou as folhas das árvores; e eles serão precipitados no inferno pela cólera do Cordeiro.
O dragão tenta inutilmente destruir a Igreja. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010, Folio295r |
“E uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça. Essas doze estrelas simbolizam todos os santos que se levantarão contra a torrente dos ímpios, e que combaterão pela Igreja e por Cristo, como fizeram os Apóstolos e os demais santos dos primeiros séculos nas grandes perseguições.
“É a respeito desses santos que Daniel, XII, 3, diz: ‘aqueles que serão sábios, brilharão como estrelas do firmamento, e aqueles que terão instruído muitos na via da justiça, brilharão como estrelas durante a eternidade’.
“Assim, esses santos que combaterão pela Igreja no fim dos tempos, serão sua coroa e seu ornamento sobre a terra, como as estrelas são o ornamento do céu. (págs. 5-6). (…)
“2º Mais ou menos até esse dia, a Igreja e o Sacro Império continuarão submersos na dor, nos perigos e nas angústias, pelo império de Maomé. Quer dizer, o império dos turcos, que os cristãos devem considerar como uma besta ferocíssima por causa de seu instinto diabólico, não cessará de perseguir a Igreja até o último ponto.
“3º Esse perigo e essas angústias tornar-se-ão extremos nos dias do Anticristo, que será o último representante dessa potência infernal. Mas também o mais temível e o mais terrível, porque a antiga serpente o inspirará a levar até o fim seu ódio e sua vingança.
“Assim, o enigma da mulher em dores de parto não se refere apenas a uma época, mas a diversas circunstâncias nas quais Deus lhe dará sempre filhos varonis, fortes e robustos.
“Quer dizer, imperadores, reis e príncipes que a defenderão e a protegerão, a Ela e ao Sacro Império, para impedir que Ela seja devorada por essa besta cruel.
“Embora o império turco seja apresentado na História com algumas modificações, no seu conjunto ele forma na realidade uma só monarquia, desde Cosroes até o Anticristo, porque seus soberanos têm um fim comum, que é o extermínio da Cristandade e do Sacro Império”. (pág. 8)
O ancião no trono. Vitral da catedral de York, Inglaterra |
V.3 – “E foi visto um outro sinal no céu: era um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez cornos, e nas suas cabeças sete diademas”.
V.4 – “E a sua cauda arrastava a terça parte das estrelas do céu, e as precipitou na terra; e o dragão parou diante da mulher que estava para dar à luz a fim de lhe devorar o filho logo que nascesse”.
“E as atirou à terra, porque a Igreja grega foi dispersa, e ficará assim em seu triste estado sob a dominação do império turco até o tempo do filho da perdição.
“É verdade que na sexta época, quando esse império turco terá sido comprimido dentro dos limites os mais estreitos, a Igreja grega voltará a se reunir com a Igreja latina.
“(…) no fim dos tempos essa Igreja grega será quase a primeira de todas a aderir ao filho da perdição e a seus falsos profetas, e se voltará contra a mulher vestida de sol, quer dizer, contra a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
“Então ela se aplicará, seguindo seu velho costume diabólico, a reproduzir seus erros sobre a natureza do Filho e sobre a procedência do Espírito Santo, e adorará e fará adorar sobre a terra um falso salvador do mundo e o mais criminoso dos impostores: o Anticristo. (págs. 12-13)
O dragao, símbolo de todas as abominações. Beatus de Facundus: Livro do Apocalipse para Ferdinando de Castela e a rainha Sancha |
“(…) Todo o mundo deve, portanto, saber que sob o enigma do dragão, o grande chefe e o grande diretor dos ímpios, e sob os enigmas das bestas e dos chifres, das cabeças, das águas e das mulheres, estão descritas por São João todas as abominações.
“Ele próprio manifesta sua surpresa porque as tribulações serão de fato grandes e verdadeiramente surpreendentes, arruinando mais ou menos a Igreja, e durante elas os eleitos serão provados como que pelo fogo.
“Isso porque o dragão, Cosroes, Maomé, todos os sucessores da seita do império turco, e também o filho da perdição, que será seu complemento, são todos inimigos declarados do Santo Nome de Jesus e de sua Igreja, e constituem um só corpo moral que é a besta ou o dragão. (pág. 16)
“(…) O povo cristão e a Igreja de Cristo terão sempre a nação turca e todos os povos bárbaros da seita de Maomé como adversários até o fim dos tempos.
“Esta besta receberá na verdade um grande golpe e uma ferida profunda do grande Monarca, que lhe arrancará o império de Constantinopla e uma grande parte de seu território.
“Mas, o Anticristo, que será o oitavo chifre da besta, cicatrizará sua ferida e fortificará de modo tão considerável esta besta, que ela vai ocupar quase todos os Estados, e chegará até mesmo a um grau supremo de elevação entre todos os reinos.
“Eu disse que ela vai ocupar quase todos os Estados; na verdade, o Anticristo subirá ao trono da monarquia turca na região onde o grande Monarca a terá relegado, restaurará seu império e o tornará mais poderoso do que nunca”. (págs. 22-23)
V.5 – “E ela deu à luz um filho varão, que havia de reger todas as gentes com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono”.
Vara de ferro: grande poder conferido por Deus. Arrebatado…: grande proteção de Deus, desde que fosse fiel.
V.6 – “E a mulher fugiu para o deserto, onde tinha um lugar que Deus lhe havia preparado, para aí ser sustentada durante mil duzentos e sessenta dias”.
Deus então transportou a Igreja, levando-a para terras habitadas ainda por povos bárbaros, como a Alemanha e outras regiões da Europa ocidental.
Os 1260 dias indicam a duração do refúgio da Igreja no Ocidente, que será de 1260 anos, a partir da origem do império turco e da conversão das nações ocidentais.
e missão providencial da Cristandade ocidental
“E houve uma grande batalha no céu”. São Miguel Arcanjo. Gérard David (1460 — 1523), Kunsthistorisches Museum, Viena |
V.7 – “E houve uma grande batalha no céu: Miguel e seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com seus anjos pelejavam contra ele.
V.8 – Porém estes não prevaleceram, e o seu lugar não se achou mais no céu”.
Foi um combate a propósito do estabelecimento da Igreja no Ocidente. Apesar dos esforços do dragão e seus sequazes, não foi possível impedir a conversão da Alemanha e das nações ocidentais.
E não houve mais lugar para o demônio na Igreja do Ocidente, pois a Fé católica foi estabelecida e difundida em toda a Europa pelo poder e piedade de Carlos Magno.
V.9 – “E aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama Demônio e Satanás, que seduz todo o universo, foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos”.
Terra significa a igreja e o império do Oriente. Tendo sido rejeitado e expulso da Igreja do Ocidente, foi-lhe permitido continuar a exercer seu furor no Oriente, por causa da malícia do pecado dessas nações, e para punir, por meio de Maomé e do império turco, o orgulho, a avareza, a ambição, as heresias e o cisma da igreja grega.
V.10 – “E ouvi uma grande voz no céu que dizia: Agora foi estabelecida a salvação, a força e o reino de nosso Deus, e o poder de seu Cristo; porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os acusava dia e noite diante de nosso Deus”.
Alegria no céu pela conversão da Alemanha e das regiões ocidentais da Europa.
V.11 – “E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro, e pela palavra de seu testemunho, e desprezaram suas vidas até a morte”.
Vitória dos servidores de Cristo com o auxílio da graça sobre Satanás e seus anjos, trazendo pouco a pouco as nações da Alemanha e das regiões ocidentais ao redil do Bom Pastor.
A mulher foge do dragão para o Ocidente. Bamberg Apocalypse Folio 031. V.12 – “Por isso alegrai-vos, ó céus, e os que habitais neles. Ai da terra e do mar, porque o demônio desceu a vós com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo”.
Estas palavras anunciam grande desgraça para a Igreja grega e para todo o Oriente. Tribulações, perseguições, tirania e servidão sob o jugo da seita de Maomé.
Males permitidos por Deus para punir o empezinhamento da igreja grega e os pecados das nações do Oriente. A cólera de Satanás é devida à sua derrota e fuga frente à Igreja do Ocidente.
V.13 – “Mas o dragão, vendo-se precipitado sobre a terra, perseguiu a mulher que havia dado à luz um filho varão”.
Este foi Carlos Magno, posto no mundo pela Igreja em 800, elevando-o a Imperador, o primeiro dos imperadores da Alemanha. Vendo que não podia impedir a conversão da Alemanha e das nações ocidentais, o demônio perseguiu a Igreja latina.
V.14 – “E foram dadas à mulher duas asas de uma grande águia, a fim de voar ao deserto, lugar de seu retiro, onde é sustentada por um tempo, e por tempos, e pela metade de um tempo, fora da presença da serpente”.
“Essa grande águia foi Carlos Magno e todos seus sucessores no Sacro Império, pois Carlos Magno transladou o império para o Ocidente. (pág. 34)
“(…) A Igreja de Cristo, que nunca foi estável no Oriente, fincará pé no Ocidente, quer dizer, no deserto, e ali fixará sua residência ou sua Sé, que Ela conservará durante mil e duzentos e sessenta anos”. (pág. 35)
Busto-relicário de Carlos Magno na catedral de Aachen, Alemanha. V.15 – “E a serpente lançou de sua boca, atrás da mulher, água como um rio para que ela fosse arrebatada pela corrente”.
São as grandes tribulações que Lúcifer suscitou contra a Igreja latina, como os cismas e as heresias dos séculos XI, XII e XIII, e para fazer desaparecer a fé na Alemanha e no Ocidente.
V.16 – “Mas a terra ajudou a mulher: abriu suas entranhas e engoliu o rio que o dragão havia lançado de sua boca”.
Os cismas e heresias não prevaleceram.
V.17 – “E o dragão irou-se contra a mulher e foi fazer guerra aos outros filhos dela que guardam os mandamentos de Deus e retêm a confissão de Jesus Cristo. E parou sobre a areia do mar”.
Irritado contra a Igreja latina do Ocidente, o demônio voltou-se contra os poucos cristãos fieis da Igreja grega. E foi esperar a besta que deveria sair do mar.
“Satanás pode comunicar sua força e poder de duas maneiras: em primeiro lugar, por sua ajuda, por seus maus conselhos, e produzir efeitos acima dos naturais: tal foi o poder que deu a Maomé e seu império. Essa primeira forma é extrínseca.
“A segunda é intrínseca e terá lugar quando Satanás se revestir por assim dizer do corpo e da alma do Anticristo, tornando-se um só com ele. (págs. 43-44)
“Ora, esta forma, que até agora Deus nunca permitiu a Satanás, será concedida ao filho da perdição.
“É por isso que Lúcifer, a criatura mais arrogante que existe, e que está sempre tentando imitar a Divindade em todas as coisas movido pela sua inveja, entrará no Anticristo, o formará, o possuirá, e se revestirá de alguma maneira de seu corpo e de sua alma a partir do primeiro momento de sua concepção no ventre de sua mãe.
“Ele permanecerá nele de uma maneira intrínseca e o habitará corporalmente, de maneira que o Anticristo, de acordo com Daniel, VII, 7, será uma terrível e maravilhosa besta, operará prodígios incríveis pelo poder e pela alta potência de Lúcifer, por quem estará possuído.
O demônio comunicará seu poder ao anticristo. Beatus de Facundus, Iluminuras para os reis de Castela. |
“E assim como o Verbo de Deus se uniu verdadeira e hipostaticamente à natureza humana, e que por meio desta união a Divindade comunicou à humanidade a força e o poder de realizar milagres para provar que Ele é verdadeiramente o Filho Deus, assim Satanás procurará demonstrar com grandes prodígios que a divindade habita espiritualmente no Anticristo, e conseguirá persuadir quase todos os homens, exceto aqueles cujos nomes estão escritos no Livro da Vida.
“É por isso que está dito: O dragão lhe dará sua força e seu grande poder. Ninguém deve imaginar que eu estou falando de maneira inconsistente, confundindo a besta com o Anticristo; porque os profetas em seus enigmas têm o costume de apresentar e incluir numa única figura várias coisas que vão acontecer em momentos diferentes, quando elas têm alguma relação entre si. (págs. 44-45)
“(…) No entanto, como Maomé e seus sucessores, e especialmente o Anticristo, que será a plenitude derradeira de toda prevaricação, têm um objetivo comum, que é o de negar e destruir o Santo Nome de Jesus, é coerente dizer que eles formam um conjunto que é um corpo moral e uma só besta.
“E convém, sobretudo e com propriedade ao Anticristo o nome da besta, porque ele vai ser o mais celerado e o mais poderoso de todos os monarcas turcos, e seu império será o último, o mais vasto e o mais poderoso; porque seu reinado tirânico resumirá todos os outros.
“Ele vai devastar e rugir como um leão contra o Santo Nome de Jesus; e calcará o Santo dos Santos como um urso.
“Finalmente, quem quer negue que Jesus Cristo, Filho de Deus, veio à terra e se fez carne como nós, é um anticristo, e todos aqueles que agem da mesma forma constituem um único corpo, do qual o Anticristo, o filho da perdição, é a cabeça e a cauda.
“Daí estas palavras: I. Jo, II, 18 “assim como vós ouvistes que deve vir o Anticristo, agora há vários Anticristos”, isto é, que ele veio em seus membros e seus precursores, aguardando o momento em que ele virá em pessoa para consumar a prevaricação”. (págs. 45-46)
A besta que sai do mar. Biblioteca de Toulouse, anos 1220-70 aprox. |
V.1 – “E vi levantar-se uma besta do mar, que tinha sete cabeças e dez chifres, e dez diademas sobre os chifres, e nomes de blasfêmia sobre as cabeças.
V.2 – E a besta que vi era semelhante a um leopardo, e seus pés eram como pés de urso e a sua boca como boca de um leão. E o dragão deu-lhe sua força e um grande poder”.
V.3 – “E vi uma de suas cabeças como ferida de morte; mas esta ferida mortal foi curada. E toda a terra, na admiração, seguiu a besta”.
“Estas palavras encerram um sentido oculto e difícil.
“1º Diz-se que uma de suas cabeças estava como ferida de morte, ou seja, o animal receberá uma ferida mortal porque isso vai acontecer, de fato.
“Porque o império turco ou o império de Maomé vai experimentar uma grande derrota e sua ruína será quase total, a ponto de que ele será como que aniquilado; porém, ficará uma parte dele num pequeno reino.
“Mas o Anticristo reerguerá este império; porque ele vai ocupar seu trono e reparar todas as suas perdas. Ele vai até aumentá-lo imensamente, muito mais do que foi antes.
“O Anticristo nascerá e terá suas origens nos restos desse império em ruínas. Pode-se ver, nas profecias mencionadas acima, que Daniel disse a mesma coisa quando falou com grande admiração do chifre pequeno, que surgiu entre os dez chifres.
Anticristo sendo adorado. Igreja de Santa Maria. Frankfurt, Alemanha. |
“E ele acrescenta que tinha olhos como os de um homem e uma boca que proferia grandes coisas, e que esse chifre era maior do que os outros.
“2º São João continua: mas esta ferida mortal foi curada. Isto realmente será realizado pelo Anticristo, que restabelecerá o reino caído das nações, previamente arruinado de modo quase total.
“E esse reinado do Anticristo será maior do que todos os outros reinos da terra desde o princípio do mundo.
“É o que também disse Daniel, VII, 23: “o quarto reino será maior do que todos os reinos, ele devorará toda a terra, e pisará aos pés”.
“3º É por isso que São João acrescenta: E toda a terra, na admiração, seguiu a besta.
“O significado dessas palavras é que o universo inteiro, vendo o poder da besta passar por cima de todas as potências terrestres, suscitará a maior das admirações; os homens ficarão tão encantados e em êxtase por causa de seus prodígios; e eles vão seguir a besta, ou seja, a doutrina do Anticristo. Eles farão ainda mais:”
V.4 – “E adoraram o dragão que deu poder à besta. E adoraram a besta dizendo: Quem é semelhante à besta e quem poderá pelejar contra ela?”
“Estas palavras se ligam de maneira admirável com as precedentes; porque todas as nações adorarão Lúcifer corporizado no Anticristo, porque o considerarão como a divindade, e acreditarão que a divindade existe nele, por causa de seu poder e dos grandes prodígios que operará com a ajuda de Lúcifer.
“E também por causa da ciência, dos conhecimentos e das grandes maravilhas que sairão de sua boca, e que lhe vão ser sugeridas pelo príncipe dos demônios. (págs. 47-48)
“O verdadeiro Deus criador do céu e da terra permitirá estas maravilhas para punir os homens que naqueles últimos dias atingirão o cúmulo da prevaricação.
“Então, quando as pessoas virem esses grandes prodígios do Anticristo, todas as nações vão lhe render culto, e vão adorá-lo como Deus e o Messias. (pág. 48)
“Assim o império turco vai durar o mesmo número de anos que o número de dias que durará o Anticristo, incluindo nisso o tempo em que a besta estará como que mortalmente ferida”. (pág. 51)
V.5 – “E lhe foi dada uma boca que proferia coisas arrogantes e blasfêmias; e lhe foi dado o poder de fazer guerra durante quarenta e dois meses”.
“Esta passagem e as seguintes expressam o poder que Deus permitirá à besta de exercer, e por causa do qual todas as nações vão obedecê-lo e adorá-lo como deus.
“Está dito: E lhe foi dada uma boca que proferia coisas arrogantes e blasfêmias. Aqui o profeta designa a causa instrumental como sendo a principal, e essa causa é a grande sabedoria e a ciência surpreendente que o dragão comunicará ao Anticristo, de modo que vão sair de sua boca coisas grandes, admiráveis, plausíveis na aparência, misteriosas e acima de toda inteligência humana.
“E é sobretudo por causa disso que ele seduzirá todas as nações e vai levá-las a acreditar que ele é Deus e o Messias.
“E lhe foi dada uma boca que proferia coisas arrogantes e blasfêmias contra os mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação, contra a doutrina de Jesus Cristo e contra todo o Novo Testamento”. (pág. 50)
A besta do mar, figura do falso-profeta que se apossa do Papado e vira antipapa. Tapeçaria do Apocalipse, Angers, detalhe. |
V.6 – “E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, seu nome e seu tabernáculo, e contra aqueles que habitam no céu”.
Três verdades contra as quais serão dirigidas essas blasfêmias: o nome de Deus, a união hipostática em Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja triunfante e a Igreja militante que se opõe à besta.
V.7 – “E lhe foi permitido fazer guerra aos santos e os vencer; e lhe foi dado poder sobre toda a tribo, povo, língua e nação”.
“Mas a vitória da besta que surgirá dos abismos contra os santos, isto é, contra os homens justos, piedosos e tementes de Deus, será apenas temporária e limitada a esta vida mortal.
“Ela consistirá em:
“a) nos mais refinados prodígios e imposturas, e no aplauso da doutrina e da grande sabedoria do Anticristo, nos quais os judeus e todas as nações acreditarão unanimemente. Os homens preferirão essa doutrina à de Enoque e Elias que com todos os santos pregarão em mútuo acordo.
“b) Essa vitória consistirá no poder e no nervo da guerra na imensa extensão do império do Anticristo. E também na impiedade e na perfídia das nações e dos judeus, que fornecerão todas as ocasiões e toda a assistência necessária para fazer imolar os fiéis como se fossem ovelhas.
“Pois, naquele tempo, ninguém poderá confessar e pregar impunemente o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus.
“3º e lhe foi dado poder sobre toda a tribo, povo, língua e nação. Estas palavras mostram ainda o poder desse reino. Esse poder será tal, que nunca houve igual desde que o mundo começou”. (53-54 págs.)
V.8 – “E a adoraram todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro, que foi imolado desde a origem do mundo”.
“E o Livro da Vida é a presciência de Deus, perscrutador dos corações; presciência com que Deus dispôs seu reino desde a eternidade, e quer premiar a cada um segundo suas obras.
“É por isso que o apóstolo Paulo disse aos Romanos, VIII, 30: “Aqueles a quem havia conhecido em sua presciência, também os predestinou para ser conformes à imagem de seu Filho, a fim de ele ser o primogênito entre muitos irmãos. E aqueles que Ele predestinou, eles os chamou; e aqueles que chamou, Ele justificou; e aos que justificou, Ele glorificou”. (pág. 56)
Adoração da besta. Tapeçaria do Apocalipse, Angers, França. |
“(…) Deus também permitirá que os ímpios e os tiranos prevaleçam contra sua Igreja e contra nós mesmos, uma vez que as perseguições não terão outros resultados para nós senão o de nos corrigir, nos justificar, e fazer-nos chegar mais rápido à felicidade suprema da vida eterna.
“Eis por que Deus permite que os ímpios prevaleçam nesta vida, enquanto os justos e aqueles que mostram zelo pela causa de Deus são oprimidos e sucumbem nas mãos dos ímpios.
“Isto é, o que Deus vai permitir, especialmente no tempo do Anticristo, em relação a quem quer que combata pelo nome de Jesus Cristo.
“Seja pelas armas, por exemplo, tomando parte no exército dos cristãos, seja pela palavra, ou por qualquer outro meio; porque então o justo sucumbirá diante do poder da besta e será imolado. (pág. 58)
“(…) Naqueles tempos, o fim do mundo ter-se-á aproximado muito, e Deus permitirá que todos esses santos e bravos soldados que combaterão pela justiça e pela verdade sejam vencidos e imolados como vítimas para completar o número de mártires.
“Assim, nesses dias de dor, não se deve esperar nenhum poder e nenhuma vitória, senão a mais bela de todas as vitórias, o triunfo do martírio. (pág. 59)
“(…) Assim, a única vitória possível para os cristãos naqueles dias tão terríveis, consistirá em serem vencidos, perseguidos, torturados e condenados à morte mantendo-se fiéis, constantes e firmes, esperando contra toda a esperança na fé em Nosso Senhor Jesus Cristo”. (pág. 59)
Vs. 9 e 10 – “Quem tiver ouvidos, ouça. Aquele que levar outros para o cativeiro irá para o cativeiro; aquele que matar pela espada deverá morrer pela espada. Aqui está a paciência e a fé dos santos”.
Todo aquele que quiser resistir à besta pela força das armas sucumbirá. Deus permitirá que aqueles que combaterem pela justiça e verdade sejam vencidos e imolados como vítimas para acumular o número dos mártires. Não haverá vitória a esperar que não seja a do martírio.
A besta da terra, o falso profeta, “vai ter dois chifres semelhantes aos de cordeiro, porque vai ser um cristão apóstata” |
V.11 – “E vi outra besta que subia da terra, que tinha dois chifres semelhantes aos do Cordeiro, e que falava como o dragão”.
“Esta besta que subirá da terra é um falso profeta que vai anunciar o filho da perdição como sendo Cristo, e será o braço com cujo auxílio o Anticristo operará coisas surpreendentes por meio de sinais e pelo poder de suas armas.
“É por isso que Daniel, XI, 42, diz: “Ele estenderá a sua mão sobre as terras”.
“Está dito que essa outra besta subirá da terra, porque o Anticristo com os seus exercerá sua tirania no Oriente e sobre os mares; enquanto que o falso profeta se levantará, prevalecerá e devastará a terra firme, que beira os mares e sobre a qual hoje se encontra o Sacro Império contendo em seu interior os Estados da Igreja.
“Está dito que esta besta vai ter dois chifres semelhantes aos de cordeiro, porque vai ser um cristão apóstata, que será educado secretamente e de forma fraudulenta. Ele vai reunir todos os judeus que por toda parte serão muito numerosos naqueles dias, e eles vão se unir unanimemente a seu partido.
“Ele invadirá os Estados da Igreja com um grande exército, ocupará a Sé pontifícia, matará o último Papa legítimo sucessor de São Pedro, e derramará o sangue dos cristãos, especialmente o dos prelados, como se fosse água em volta de Jerusalém.
São João vê o falso profeta pregando em favor das bestas. De suas bocas saem rãs, símbolo de sua impureza e heterodoxia. ‘Welles Apocalypse’, Inglaterra, início siglo XIV, British Library. |
“Então a Igreja ficará dispersa pelas solidões e pelos lugares desertos, pelas florestas e pelas montanhas, e nas fendas das rochas, pois o pastor foi atingido e as ovelhas foram dispersas. Porque vai acontecer igual ao momento da Paixão de Nosso Senhor. (…)
“A Igreja Latina será então dilacerada e, com exceção dos eleitos, haverá uma defecção total na fé. Este falso profeta proclamará o filho da perdição como sendo Cristo.
São João também destaca que essa outra besta tinha dois chifres semelhantes aos do Cordeiro por causa do poder que ela terá de dizer e fazer coisas maravilhosas e surpreendentes, como está escrito com verdade a respeito de Jesus de Nazaré, Lucas XXIV, 19: “Ele foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo”.
“Ora, esses dois poderes de Jesus Cristo para falar e operar eram como dois chifres, como dissemos no cap. V, e é com esses dois chifres que Ele combateu e venceu os judeus e os gentios.
“O falso profeta terá, pois, um poder mais ou menos semelhante na aparência, mas falso na realidade; porque ele receberá esse poder não de Deus, mas do dragão do abismo, e se servirá dele para seduzir e enganar os habitantes da terra.
“É por isso que é acrescentado: e falará como o dragão; isto é, o dragão irá comunicar-lhe tal sabedoria e tal astucia na arte de falar e de seduzir os homens que será como se ele próprio em pessoa conversasse com o mundo.
“Finalmente, esses dois chifres simbolizam a lei e os profetas; e assim como eles contêm os mais belos e mais numerosos testemunhos da verdade de Jesus Cristo de Nazaré Crucificado, pelo quais o próprio Senhor convenceu os discípulos de Emaús de que é Cristo, o Filho de Deus.
Segundo São Lucas XXIV, 27: “Como a partir de Moisés e continuando por todos os profetas, explicava-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras”, assim também esse idólatra, o maior celerado possível, vai usar essas duas testemunhas, a lei e os profetas, e as porá por assim dizer sobre sua cabeça, como dois chifres, com os quais vai lutar por ele e pelos seus.
“Ele demonstrará com provas capciosas que Cristo só veio naqueles tempos, e não antes. Cristo, dirá ele, é o redentor da nação judaica, o Deus das nações, Cristo é o rei de Jerusalém.
“E ele confirmará suas asseverações com tais prodígios, que a grande maioria dos cristãos será seduzida por esse escândalo; e quase todos desertarão, com exceção dos eleitos que serão poucos numerosos em relação à massa, e renegarão o Nome de Jesus Cristo de Nazaré crucificado.
“Mas, previamente, os principais pastores de almas terão sido arrancados a seu rebanho pela perseguição e pelo martírio, segundo Daniel, IX, 32 ss”. (págs. 61-63)
V.12 – “E ela exercia todo o poder da primeira besta na sua presença. E fez que a terra e os que nela habitam adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal havia sido curada”.
Tal como o Anticristo, esta besta poderá, pelo poder das trevas, operar prodígios e seduzir as nações. Os homens crerão que o Anticristo é Cristo que veio ao mundo.
O falso profeta será animado pelo mesmo espírito do Anticristo e lhe será submisso, sustentando sua honra e sua glória, fazendo com que seja adorado por todos, por meio da força e da persuasão.
V.13 – “E operou grandes prodígios, e até fez descer fogo do céu sobre a terra à vista dos homens.
V.14 – E seduziu os habitantes da terra com os prodígios que lhe foram permitidos fazer diante da besta, dizendo aos habitantes da terra que fizessem uma imagem da besta, a qual tinha recebido um golpe de espada, mas conservara a vida.
V.15 – E foi-lhe concedido dar espírito à imagem da besta, de modo que esta falasse, e fazer com que fossem mortos os que não adorassem a imagem da besta”.
A adoração da imagem da besta. Tapeçaria de Angers, França |
“Além disso, esse apóstata operará essas maravilhas, em grande parte pelo poder oculto do diabo. (pág. 65)
“(…) Quanto à imagem da besta, eis o que vai acontecer: o sacrifício diário será eliminado em toda a terra, procurar-se-ão meticulosamente quaisquer hóstias consagradas para calcá-las, jogá-las ao fogo, ou lhes fazer sofrer ultrajes ainda mais escandalosos.
“E os principais autores destes escândalos serão sobretudo os judeus, que prevalecerão por toda parte. Eles destruirão os altares; entregarão às chamas os paramentos sacerdotais e os ornamentos das igrejas.
“As relíquias dos santos também serão pisoteadas, os vasos preciosos serão coletados e fundidos para se fazer a imagem da besta, ou seja, do Anticristo, rei de Jerusalém.
“O diabo morará nos altares erigidos em sua homenagem e para seu culto. E essas imagens falarão e darão sinais como se estivessem vivas! Essa será a abominação da desolação. (pág. 66)
“ (…) Todos os que se recusarem adorá-lo serão atormentados e mortos pelos suplícios mais refinados e horríveis. Porque a besta estará por cima em toda parte.
A perseguição do Anticristo. Apocalipse 1220-70. Biblioteca de Toulouse, França. |
“O poder de suas armas será tal, que para os cristãos não haverá nenhuma outra esperança de salvação nem de vitória, senão aguardar a tortura e a morte de mártir. (pág. 66)
“ (…) Esta perseguição diferirá das precedentes, sobretudo pelo fato que será a mais cruel e mais generalizada, e que haverá uma sedução incrível dos homens por meio de prodígios capazes de surpreender até os próprios eleitos, se possível fosse.
“Mais ainda, ela superará todas as anteriores pela deserção de quase todo o universo; e isto por causa das torturas mais refinadas, mais longas e mais dolorosas que se possa imaginar. Os homens estarão aterrorizados e para evitá-las sacrificarão suas vidas adorando a besta”. (pág. 67)
Vs. 16, 17, 18 – “E fará que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tenham um sinal em sua mão direita ou em sua fronte. E que ninguém possa comprar ou vender, exceto aquele que tiver o sinal ou o nome da besta, ou o número do seu nome. E aqui está a sabedoria. Quem tem inteligência calcule o número da besta. Porque é número de homem; e o número dela é seiscentos e sessenta e seis”.
O número 666 é formado pela soma dos números representados por cada letra da palavra grega escrita por São João e que significa “contrário”.
A marca da besta. Walters Manuscript W.917, fol 136v. |
“1º o suplício da fome, pelo qual os cristãos se verão condenados a morrer. Porque eles não poderão comprar ou encontrar os alimentos necessários para a vida, a menos que concordem em adorar o ídolo ou a imagem da besta. (…)
“2º Estas palavras ainda indicam a cessação de todo tráfego e de todo negócio para aqueles que se recusarão a realizar este ato de idolatria. E esse meio pode ser contado entre os mais poderosos, que agem sobre o coração e sobre a vontade do homem, como nos mostra claramente a experiência diária, especialmente na classe média. Porque não há nada que os homens não tentem ou sacrifiquem para obter sucesso em seus negócios e em seu comércio. (págs. 68-69)
“(…) Quanto ao caráter da besta, eis o que ele será: os reis e os príncipes, por ocasião e como lembrança de seu nascimento, de sua ascensão ao trono, ou qualquer outro fato notável, fazem cunhar medalhas de ouro, prata ou bronze, onde gravam seu nome, os anos de seu reinado e as insígnias de seu reino.
“Ora, o Anticristo fará algo semelhante, mas de uma maneira ainda mais cruel, pois todos aqueles que aderirão à sua doutrina deverão portar sua marca: os homens da classe alta na mão direita, e os populares na testa.
“Esta marca será impressa na pele por meio de tatuagens, mais ou menos como se vê nos braços de alguns mercenários.
“E todo aquele que se apresentará livremente ou pela força para oferecer incenso ao ídolo da besta, deverá sofrer logo esta cirurgia para receber na mão ou na testa, de acordo com sua condição, a impressão da figura do ídolo.
“A partir do momento em que a receba, bastará mostrá-la para desfrutar de total liberdade para vender, comprar, viajar, dedicar-se a seus negócios, etc.
“Enquanto aqueles que não possuirão esse sinal, não se atreverão a aparecer em público, ou mesmo cuidar das coisas mais necessárias da vida. (pág. 69)
“(…) Ora, esse sinal é chamado de caráter, porque ele será impresso na pele e contêm certas letras de uma determinada língua. Além disso, esse sinal é chamado de nome, e este será o nome da besta. (pág. 73)
“(…) Esse caráter da besta, portanto, consistirá em certas letras hebraicas que serão impressas na mão direita ou na testa dos homens, e significarão Cristo em grego, Christus em latim”. (pág. 75)
“Pois tais serão os efeitos da pregação dos ministros de Jesus Cristo, nos últimos dias.
“1º Ela brilhará por meio de grandes milagres contra o Anticristo e seus falsos profetas.
“2º Ela será forte e poderosa como o rugido do leão.
“3º Ela destruirá e esmagará o prestígio das maravilhas da besta.
“4º Ela inspirará um grande temor de Deus e dos males que pairarão sobre a multidão dos homens”. (p. 83)
V.1 – “E olhei; e eis que o Cordeiro estava de pé sobre o monte Sion, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham o seu nome e o nome de seu pai escritos sobre suas frontes”.
O Cordeiro é Cristo e o monte Sion a Igreja. O número designa a universalidade dos mártires que serão imolados, uma grande multidão.
Esses mártires serão os doutores, pregadores e pastores, sobretudo eclesiásticos das diversas ordens hierárquicas da Igreja militante, que resistirão ao Anticristo e aos seus falsos profetas.
Vs. 2-5 – “E ouvi uma voz do céu, como rumor de muitas águas, e como o estrondo de um grande trovão; e a voz que ouvi era como de tocadores de cítara que tocavam suas cítaras.
“E cantavam como que um cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos.
“E ninguém podia cantar este cântico senão aqueles cento e quarenta e quatro mil, que foram resgatados da terra.
“Estes são aqueles que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens.
“Estes seguem o Cordeiro para onde quer que ele vá.
“Estes foram resgatados entre os homens como primícias para Deus e para o Cordeiro, e na sua boca não se achou mentira, porque estão sem mácula diante do trono de Deus”.
Estas palavras se aplicam muito mais à Igreja militante que à Igreja triunfante. A voz é a dos pregadores e confessores do nome de Jesus Cristo e de seu Pai nos dias do Anticristo.
Efeitos dessa pregação: grandes milagres contra o Anticristo e seus profetas, eliminando assim o seu prestígio; confirmar os povos na fé e encorajá-los para o martírio.
Só os 144 mil resistirão à fúria do Anticristo. Sua castidade e celibato serão como que um cântico novo, pois muitos eclesiásticos calcarão aos pés seus deveres mais sagrados, serão apóstatas e se casarão.
A face da cristandade será lívida e horrível como nunca. Mistério do silêncio de Deus. Resgatados da terra: os eleitos. Não se contaminaram com mulheres: celibato sacerdotal.
Serão mansos como o Cordeiro que é levado ao matadouro. Os mártires serão principalmente eclesiásticos – doutores, pregadores, pastores – e também grande número de leigos. Livres de toda a sujeira no meio do século que será a borra da corrupção de todas as idades.
Vs. 6 e 7 – “E vi outro anjo voando pelo meio do céu, que tinha o Evangelho eterno para pregar aos que têm domínio sobre a terra, e sobre toda nação, tribo, língua e povo, dizendo em alta voz: Temei o Senhor e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas”.
“Então, a voz do sacerdócio, ou do anjo que é seu representante, será verdadeiramente uma voz forte e muito eficaz. A conversão dos pecadores será antes que a besta (império turco) receba a ferida mortal e antes da queda da primeira Babilônia, que é o reino das nações, como veremos a seguir.
“A segunda época da pregação deste anjo será a dos últimos tempos, nos quais a caridade de muitos esfriará, a fé desaparecerá e o filho da perdição se manifestará. Então o anjo (o sacerdócio) levantará sua voz com força, em nome de Jesus Cristo e de seu Pai.
“Ele pregará corajosamente por toda a terra, e dirá a todos os homens que a habitam: Temei a Deus, e dai-lhe glória, porque é chegada a hora do seu julgamento. Adorai aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes.
“Porque naquela época, disse Daniel, XI, 33: “os sábios do povo instruirão muitas pessoas”.
“Será nessa época que os últimos apóstolos percorrerão a terra, levando o Evangelho eterno, e fazendo maravilhas pela virtude do Todo-Poderoso, e não pelo poder deste mundo.
“Esta segunda época será a do fim dos tempos, quando a Babilônia, que é o reino deste mundo, cairá e será consumida pelo fogo, como nós veremos mais adiante”. (págs. 98-99)
A queda de Babilônia, Tapeçaria de Angers. |
V.8 – “E outro anjo o seguiu dizendo: Caiu, caiu aquela grande Babilônia, que fez beber a todas as gentes o vinho da cólera de sua fornicação”.
“Ela tem dois significados. O primeiro é do reino que foi sempre inimigo e adversário da casa de Israel no Antigo Testamento, como o foi e sempre será oposto ao cristianismo no Novo, até o fim dos tempos.
“No entanto, o reinado atual das nações é o império turco fundado por Maomé, cujo último e mais poderoso governante será o Anticristo.
“É com razão e verdade que São João lhe dá o nome de Babilônia, porque esse império está formado por uma mistura de diversos povos e diferentes nações, e que sua seita é uma fusão de paganismo, de judaísmo e de cristianismo, que ensina dogmas ou melhor os erros mais bizarros, segundo se pode ficar convencido pelo Corão. (…)
“2º Babilônia também representa o mundo com todas suas delícias e voluptuosidades, como sendo a associação de todos os malvados coligados juntos contra os bons, sob a condução de seu chefe Lúcifer. (págs. 99-100)
“E outro anjo o seguiu dizendo: Caiu, caiu aquela grande Babilônia”. |
“(…) Caiu, caiu aquela grande Babilônia. A primeira queda se refere à ruína do império turco, e a segunda está ligada à ruína do reino deste mundo, como veremos a seguir.
“E outro anjo o seguiu dizendo, etc. Este anjo também representa duas pessoas: uma que anuncia a queda de Babilônia a São João, e a pessoa representada.
“1º Este anjo é São Miguel, que anunciava acima a queda do império turco e a ruína final deste mundo.
“2º Este anjo representa ao mesmo tempo o Monarca poderoso sob cujo império o reino das nações será destruído e o império dos turcos que será mortalmente ferido. (…)
“(…) Está dito que esse outro anjo seguiu ao primeiro. A diferença provém do fato de que o anúncio de um evento precede naturalmente a sua realização.
“De fato, no espaço de tempo que separará o anúncio do acontecimento propriamente dito, Deus suscitará um Monarca poderoso entre os príncipes da terra, para derrubar o grande chifre da besta, ou seja, o império de Constantinopla, ou o império do Oriente, e para ocupar sua sede”. (101-102 págs.)
Vs. 9-12. “E um terceiro anjo os seguiu, dizendo em alta voz: Se alguém adorar a besta e sua imagem, e receber o sinal dela na fronte ou na mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, lançado puro no cálice de sua ira, e será atormentado em fogo e enxofre diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. E o fumo de seus tormentos se levantará pelos séculos dos séculos, sem que tenham descanso algum, de dia ou de noite, aqueles que tiverem adorado a besta e sua imagem, e o que tiver recebido a marca de seu nome. Aqui está a paciência dos santos, que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”.
V. 13 – “E ouvi uma voz do céu que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor. Diz o Espírito que desde já descansem de seus trabalhos porque suas obras os seguem”.
São João contempla a queda de Babilônia. Inglaterra século XIV. Royal 19 B. British Library. |
“Este anjo é o último pontífice romano. Ele é chamado de terceiro anjo porque será o terceiro em importância depois de Jesus Cristo, de quem será o predecessor imediato da segunda vinda, como São Pedro foi o sucessor imediato na primeira; e também porque um e outro serão os únicos Papas a levar o nome de Pedro.
“Porque, segundo a profecia de São Malaquias, primaz da Irlanda, não terá havido pontífice com esse nome em toda a cadeia de Papas, exceto o primeiro e o último.
“Esse pontífice governará a Igreja nas derradeiras e maiores tribulações, quando aparecerá pouco a pouco a questão e a heresia horrível da pretensa vinda de Cristo e do Messias que é a besta que sobe da terra, e que se anunciará como rei de Jerusalém; isto é, quando o filho da perdição se manifestará.
“Então este papa ou terceiro anjo bradará em alto e bom som contra o Anticristo e seus adeptos, contra os judeus, contra os cristãos e as nações apóstatas, por meio de suas definições apostólicas e de suas encíclicas, que ele dirigirá a todos os príncipes, a todos os povos e a toda a Cristandade. (pág. 106)
“(…) Enquanto isso, ao contrário, aquele que adorará a besta e sua imagem, e portará consigo sua marca sobre a testa ou na mão, será atormentado no fogo e no enxofre, pelos séculos dos séculos.
“Porque Deus não aceitará quaisquer desculpas da demasiada crueldade e dos enganos sedutores da besta. É por isso que Jesus Cristo teve o cuidado de informar com antecedência toda a Cristandade, para fortalecer os fiéis e instá-los a morrer corajosamente, e a suportar com paciência os suplícios que Ele permitirá para provar seus eleitos”. (págs. 111-112)
O grande Monarca: Deus consolará sua Igreja antes do reinado do Anticristo. Tapeçaria do Apocalipse, Angers, França. |
V.14 – “E eis que eu vi uma nuvem branca e alguém sentado sobre ela, semelhante ao Filho do Homem, tendo em sua cabeça uma coroa de ouro e em sua mão uma foice cortante”.
“Porque Deus consolará mais uma vez sua Igreja antes que venha a noite tenebrosa do reinado do Anticristo.
“Eis aqui a interpretação deste enigma: aquele que São João viu sentado sobre a nuvem branca é o grande Monarca, que já foi mencionado mais de uma vez.
“Está dito que ele está sentado sobre uma nuvem branca porque seu reinado, designado com a expressão estar sentado, vai ser santo e estável, apoiado pela proteção de Deus Todo-Poderoso.
“O Monarca é chamado de semelhante ao Filho do homem por causa de suas grandes virtudes, pelas quais ele imitará seu Salvador Jesus Cristo.
“Pois ele será humilde, suave, amoroso da verdade e da justiça, poderoso nas armas, prudente, sábio e zeloso pela glória de Deus.
“Ele realizará de alguma forma a profecia de Isaías sobre Jesus Cristo, XI, 2 ss:
Visão do Trono de Deus 2. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor.
3. (Sua alegria se encontrará no temor ao Senhor.) Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer;
4. mas julgará os fracos com equidade, fará justiça aos pobres da terra, ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca, e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio.
5. A justiça será como o cinto de seus rins, e a lealdade circundará seus flancos.
6. Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá;
7. a vaca e o urso se fraternizarão, suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi.
8. A criança de peito brincará junto à toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na caverna da áspide.
9. Não se fará mal nem dano em todo o meu santo monte, porque a terra estará cheia de ciência do Senhor, assim como as águas recobrem o fundo do mar.
10. Naquele tempo, o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua morada.
11. Naquele tempo, o Senhor levantará de novo a mão para resgatar o resto de seu povo, os sobreviventes da Assíria e do Egito (de Patros, da Etiópia, de Elão, de Senaar, de Emat e das ilhas do mar).
12. Levantará o seu estandarte entre as nações, reunirá os exilados de Israel, e recolherá os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra.
13. A inveja de Efraim abrandar-se-á, e os inimigos de Judá se desvanecerão. (Efraim não mais invejará Judá, e Judá não será mais inimigo de Efraim.)
14. Eles voarão para o lado dos filisteus ao Ocidente e, juntos, saquearão os filhos do Oriente. Estenderão a mão sobre a Iduméia e Moab, e os amonitas lhes serão submissos.
15. Assim como o Senhor pôs a seco o braço de mar do Egito com seu sopro ardente, ele estenderá a mão sobre o rio e o dividirá em sete braços, de sorte que se poderá atravessar a vau.
16. O caminho se abrirá para o resto de seu povo que escapar da Assíria, como se abriu para Israel no tempo em que ele saiu da terra do Egito”.
“O que foi dito de Jesus Cristo nesta profecia pode se aplicar de alguma forma e por via de semelhança a este Monarca poderoso que São João diz que será semelhante ao Filho do Homem, que tinha sobre sua cabeça uma coroa de ouro.
O Grande Monarca ceifa a Terra com seu exército. Tapeçaria do Apocalipse, Angers, França. |
“Isso quer dizer que ele vai ser um grande Monarca, rico e poderoso, e o dominador dos dominadores. Ele vencerá os reis das nações e estará cheio da caridade de Deus.
“Percebe-se então o que foi dito sobre ele no capítulo III, na sexta idade da Igreja. E na sua mão uma foice afiada. Esta foice que o grande Monarca terá na mão é o seu grande e forte exército, com o qual traspassará os reinos das nações, repúblicas e fortalezas que ele perfurará de lado a lado.
“E está dito que sua foice é cortante, porque ele não vai se engajar em combate algum que não resulte na vitória para suas armas, ou em grandes perdas e grande carnificina para o inimigo.
“É narrado de Jonas e de Saul no Velho Testamento, que II. Sam, I, 22: “com o sangue de feridos, com a gordura de guerreiros, o arco de Jonas jamais recuou, a espada de Saul jamais brandiu em vão!”.
“Ora, assim será o exército desse grande e poderoso Monarca. Está dito que ele segura a foice em sua mão, porque seu exército não empreenderá nada sem seu conselho, e ele próprio o dirigirá com seus conselhos, como se diz de Alexandre Magno.
“Está dito também que ele segura a foice em sua mão porque seu exército vai obedecê-lo na perfeição, estará unido a ele e o amará de tal maneira, que ele vai manipulá-lo como um cajado e obrará por meio dele coisas grandes, surpreendentes e admiráveis”.
Anjo sai do Templo e manda segar e vendimiar. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010. |
V.15 – “E um outro anjo saiu do templo, gritando em alta voz para o que estava sentado sobre a nuvem: Mete a tua foice e sega, porque é chegada a hora de segar, pois a seara da terra está seca”.
“E esse Pontífice, impulsionado por uma inspiração divina, exortará e engajará esse Monarca a empreender essa guerra sagrada. Ele vai lhe dizer: mete a tua foice e sega, ou seja, corta, arranca e extirpa os hereges e os bárbaros, porque chegou o tempo de colher, pois a seara da terra está seca.
“Esse Pontífice usará essa linguagem por revelação e é com estas palavras que incitará o coração dos príncipes e os engajará a trabalhar em conjunto para empreender essa guerra.
“E Deus tocará o coração dos soldados, de modo que eles aderirão de mente e de coração à empresa de seu poderoso Monarca.
“Porque a seara está seca, ou seja, é hora de segar a cizânia para jogá-la no fogo. É uma metáfora que significa o aniquilamento e a ruína das heresias e da barbárie”.
V.16 – “E o que estava sentado sobre a nuvem meteu sua foice na terra e a terra foi segada”.
V.17 – “E outro anjo saiu do templo que há no céu, tendo ele também uma foice cortante”.
Anjo manda ceifar e vendimiar o mundo. Jacobello Alberegno (… – 1397) |
“Essa foice é outro exército que os Estados da Igreja e seus aliados forte e estreitamente unidos reunirão e enviarão em auxílio do grande Monarca.
“É por isso que está dito que esse outro anjo saiu do templo, isto é, dos Estados da Igreja de que o templo é a figura, que está no céu, ou seja, na Igreja militante representada pela palavra céu.
“Aquele de quem está dito: e outro anjo saiu do templo, será o grande general em chefe que esse mencionado santo Pontífice constituirá ou nomeará para comandar este forte exército, que se incumbirá de arruinar e esmagar o poder dos turcos e dos hereges”.
V.18 – “E um outro anjo saiu do altar, que tinha poder sobre o fogo. E gritou em alta voz para o que tinha a foice aguda, dizendo: Mete tua foice aguda e vindima os cachos da vinha da terra, porque as suas uvas estão maduras”.
“Trata-se ainda aqui de outra voz que exorta com zelo ardente a agir e combater com força para arrancar a vitória sobre os inimigos da Igreja que A tinham de tal maneira oprimida.
Porque a besta, que é o império turco, vai ocupar antes de tudo a Itália, e se estenderá consideravelmente por toda parte. Ela apertará de tão perto a Cristandade, que esta, tendo ficado reduzida à mais extrema necessidade, também tentará e obterá in extremis um enorme sucesso.
“Ela rasgará o assento ou o reino da besta, ou seja, o império turco, e precipitará no inferno a perfídia dos hereges.
“É por isso que São João designa duas espécies de inimigos, que ele distingue pelas palavras safra e vindima. A primeira palavra significa as nações dos turcos, e a segunda designa os hereges.
“Porque por feixes de palha entendem-se as nações bárbaras, e por cachos de uvas selvagens os hereges que se gabam de ser cristãos. É desses últimos que se fala por alegoria no Evangelho, Jo, XV, 1-7:
“1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará;
2. e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto.
3. Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado.
4. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim.
5. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6. Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á.
7. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito”.
“As palavras colheita e vindima de que fala o Apocalipse encerram uma grande e difícil metáfora. Porque Deus sempre deu grandes reinos às nações da terra, enquanto encerrou seu povo escolhido dentro de limites estreitos, apertados e desvantajosos, como uma terra cercada por uma sebe de espinhos.
“E é nesse estado que se encontra hoje a Igreja, que é a vinha do Deus dos exércitos.
“Assim, pois, pela colheita – ou melhor, pelos feixes de palha seca, ou pela cizânia – são representadas as nações da terra, e pelas uvas que crescem nos galhos selvagens da videira que é a Igreja de Cristo, são designados ao pé da letra os hereges.
“Porque Jesus Cristo é a videira, e na sua vinha que é a Igreja crescem dois tipos de uvas: os cachos bons, que são os verdadeiros cristãos, e os selvagens, que são os hereges, representados de outra forma pelos ramos secos”.
“O Senhor despertou como de um sono, como se fosse um guerreiro dominado pelo vinho. E feriu pelas costas os inimigos, lhes infligindo eterna ignomínia”. Tapeçaria do Apocalipse, Angers, França. |
V.19 – “E o anjo meteu sua foice aguda na terra, vindimou a vinha da terra e lançou no grande lagar da ira de Deus”.
“Porque o Senhor falou e cumprirá sempre sua palavra. E Ele jogou as uvas no grande lagar da ira de Deus. Esse grande lagar da ira de Deus é a bacia ou a prensa em que a justiça divina executará suas vinganças contra os hereges e as nações bárbaras.
“É neste grande tanque que o Senhor sempre jogou uns e outros para consolação do povo de Israel e da Igreja de Cristo, para que as nações não possam dizer: “onde então está o seu Deus etc.?”
“Nas Escrituras está dito sobre esta cólera ou sobre esta vingança de Deus (Salmo LXXVII, 65 ss): “o Senhor despertou como de um sono, como se fosse um guerreiro dominado pelo vinho. E feriu pelas costas os inimigos, lhes infligindo eterna ignomínia”.
“Este tanque será o extermínio e a ruína das nações bárbaras e dos hereges; e será o poderoso Monarca quem, pela permissão e colaboração da justiça, da vingança e da cólera do Todo-Poderoso, os precipitará lá.
“Porque Deus é a causa principal, e os homens agem como instrumentos de seu braço todo-poderoso”.
V.20 – “E o lagar foi pisado fora da cidade, e do lagar saiu sangue até os freios dos cavalos, num espaço de mil e seiscentos estádios”.
“Será o extermínio e a ruína das nações bárbaras e dos hereges pelo poderoso Monarca”. The DouceApocalypse, Bodleian Library, 180_roll196T |
“Estas palavras significam uma efusão muito grande de sangue, que Deus na sua ira e indignação fará derramar a seus inimigos por meio dos exércitos cristãos.
“E o lagar foi pisado fora da cidade. Ou seja, Deus vai fazer sentir os efeitos de sua cólera sobre as nações fora da cidade santa e da Palestina, que ficará reservada para os gentios até que venha o filho da perdição.
“E saiu sangue até os freios dos cavalos. Esta expressão é hiperbólica e significa um tão grande derramamento de sangue que os cavalos quase nadarão no sangue dos mortos e feridos. Pois, quando os cavalos nadam, eles afundam na água até as narinas.
“Num espaço de mil e seiscentos estádios. É ainda uma hipérbole que representa a imensa carnificina que os cristãos imporão a seus inimigos”. (págs. 114-125)
As sete últimas pragas. Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek, Cgm 8010. |
V.1 – “E vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos que tinham as sete últimas pragas; porque com elas é consumada a ira de Deus.
V.2 – E vi como um mar de vidro misturado com fogo; e os que venceram a besta, a sua imagem e o número de seu nome estavam sobre o mar de vidro, tendo cítaras divinas”.
Os que vencerão a besta são:
1) O que restou dos cristãos que se esconderam durante a perseguição do Anticristo e sobreviveram após a queda deste no inferno.
2) O que restou dos judeus, que tendo presenciado o julgamento e a morte horrível do Anticristo, lhe sobreviveram e darão glória a Deus e a seu Filho Jesus Cristo, e serão salvos.
O mar de vidro significa o batismo, e o fogo o Espírito Santo, onde os cristãos ainda não batizados e os judeus serão batizados. Cítaras divinas são os louvores que os neófitos cantarão ao Senhor, pela misericórdia de que foram objeto.
Segunda vinda de Cristo em pompa e majestade.
Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek.V.3 – “E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus onipotente; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos”.
Cântico de Moisés: confissão do único Deus verdadeiro, criador do céu e da terra. Cântico do Cordeiro: confissão de Jesus Cristo, Filho de Deus. São as duas verdades banidas pelo Anticristo.
V.4 – “Quem não te temerá, ó Senhor, e quem não glorificará o teu nome? Porque só tu és misericordioso, e todas as gentes virão e adorarão em tua presença, porque teus juízos foram manifestados”.
As vias de Deus são espantosas e admiráveis em sua manifestação, desde a criação do primeiro homem até o último. Essas vias, embora nos pareçam surpreendentes, são fundadas em sua admirável sabedoria, justiça e verdade.
Elas nos são pouco conhecidas atualmente e parecem veladas aos nossos olhos; mais ainda o serão na época do Anticristo. Mas após a morte deste, e sobretudo no juízo final, elas serão manifestas de forma evidente.
Os juízos de Deus, mesmo nas obras exteriores que dizem respeito à criação, conservação e governo do gênero humano, são abismos admiráveis e impenetráveis que só serão bem conhecidos nos últimos dias e, mais especialmente, no juízo final.
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