Propriedades dos dons
602. De acordo com isto, pareceme haver nos dons do Espírito Santo
especial ilustração do entendimento – o
qual se conserva passivo – para mover os
hábitos virtuosos da vontade em grau de
perfeição superior, até aos atos heróicos.
Assim como, se à pedra, além de seu peso
natural, se acrescentasse a força de outro
impulso, mover-se-ia muito mais rapidamente. Acrescentando-se à vontade a
perfeição e impulso dos dons, os movimentos das virtudes serão mais excelentes
e perfeitos.
O dom da sabedoria comunica à
alma certo gosto que a faz conhecer, sem se
enganar, o divino e o humano, por certa
experiência ou sabor espiritual. A cada
coisa dá o verdadeiro peso e valor, ao
contrário do que faz o gosto procedente da
ignorância ou estultice humana. Este dom
pertence à caridade.
O dom do entendimento ilumina a
rudeza e tardança de nossa inteligência,
para penetrar as coisas divinas.
O da ciência penetra o mais obscuro e forma perfeitos mestres contra a
ignorância. Estes dois dons pertencem à
fé.
O dom do conselho encaminha,
dirige e detém a precipitação humana da
imprudência. Pertence à virtude da prudência.
O da fortaleza expulsa o
desordenado temor e conforta a fraqueza.
Pertence à mesma virtude.
O da piedade toma o coração
benigno, tira-lhe a dureza e o abranda.
Pertence à virtude da religião.
O dom do temor de Deus afasta da
soberba e comunica amorosa submissão.
Pertence à humildade.
Os dons do Espírito Santo em Cristo e em Maria Santíssima
603. Maria Santíssima possuiu
todos os dons do Espírito Santo, com certo
direito a essa posse, sendo Mãe do Verbo
divino, de quem procede o mesmo Espírito
e a quem os dons são atribuídos. Medidos
pela dignidade especial de Mãe, era coerente que estes dons estivessem Nela na
devida proporção, com tanta vantagem
sobre todas as demais almas, quanta diferença existe em ser Ela Mãe de Deus e as
demais apenas criaturas suas.
Além desta razão, por causa de
sua dignidade e impecabilidade, a grande
Rainha é a criatura mais próxima do Espírito
Santo, enquanto as demais estão muito
distantes, assim pela distância da culpa,
como por serem criaturas comuns, sem
especial afinidade com o divino Espírito.
Se em Cristo, nosso Redentor e
Mestre, se encontram como em sua fonte
e origem, em Maria, sua digna Mãe, estão
como em reservatório ou mar, donde são
distribuídos a todas as criaturas; porque
de sua plenitude superabundante transbordam para toda a Igreja. Salomão
declarou-o nos Provérbios (9,1 e 2) sob a
metáfora da Sabedoria que para si edificou
uma casa sobre sete colunas etc. Nela
preparou a mesa, serviu o vinho e convidou os pequenos e insipientes, para tirá-los
do infantilismo e ensinar-lhes a prudência.
Não me detenho em maior explicação, pois nenhum católico ignora que Maria
Santíssima foi esta magnífica habitação do
Altíssimo. Edifiçada sobre os alicerces
destes sete dons, para sua beleza, solidez,
e para ser servido, nesta casa mística, o
público banquete de toda a Igreja. Em
Maria está preparada a mesa para todos os
párvulos e ignorantes filhos de Adão se
saciarem da influência e dons do Espírito
Santo.
A sabedoria e seus efeitos
604. Quando se adquirem estes
dons, mediante a disciplina e exercícios
das virtudes, vencendo os vícios contrários, o temor de Deus vem em primeiro lugar.
Em Cristo, Senhor nosso, porém, Isaías
começou a citá-los pela sabedoria que é o
mais perfeito, porque os recebeu como
Senhor e mestre, e não como discípulo, que
os adquire pela aprendizagem.
Na mesma ordem devem ser considerados em sua Mãe Santíssima que, nos
dons, mais se assemelhou a seu Filho
Santíssimo, do que o resto das criaturas a Ela.
O dom da sabedoria encerra saborosa iluminação, mediante a qual o
entendimento conhece a verdade das coisas por suas íntimas e supremas causas. A
vontade discerne e distingue, pelo gosto
da verdade, o bem verdadeiro do falso e
aparente.
Realmente sábio é aquele que,
sem erro, conhece o verdadeiro bem e
goza-o por esse conhecimento. Este gosto
da sabedoria consiste em fruir do sumo
bem, por íntima união de amor, ao qual
segue o sabor e gosto do bem honesto,
participado e praticado pelas virtudes inferiores ao amor.
Por isto, não se chama sábio o que
conhece a verdade somente por especulação, ainda que sinta deleite neste conhecimento. Tampouco será sábio quem pratica atos de virtude só pelo conhecimento,
e ainda menos se os faz por outros motivos.
O verdadeiro sábio será aquele
que o faz pelo gosto do sumo e verdadeiro
bem, por íntimo amor intuitivo. Conhece
esse bem sem engano, no próprio bem, e
por ele todas as verdades inferiores. Este
conhecimento é administrado à sabedoria
pelo dom do entendimento que a recebe e
acompanha, consistindo numa interior penetração das verdades divinas e das que a
elas podem ser dirigidas e relacionadas,
porque o espírito esquadrinha as profundezas de Deus (ICor 2, 10), como diz o
Apóstolo.
A sabedoria e o entendimento na Virgem Santíssima
605. Este mesmo espírito seria
necessário para dizer algo sobre os dons
da sabedoria e entendimento na Imperatriz
do céu, Maria. A correnteza do rio h ‘
tantos séculos represada na suma bond *
de, alegrou esta cidade de Deus (SI 45 ç\
com o caudal derramado em sua alma”
santíssima, através do Unigênito do Paj
seu.
Foi como se, a nosso modo de
entender, desaguasse neste pélago de sabedoria o infinito mar da divindade, no
mesmo instante em que Ela pôde invocar o
Espírito de sabedoria. Para que o pudesse
invocar, veio a Ela, a fim de que recebesse
a sabedoria sem intenções reservadas (Sb
7,13), e a comunicasse sem inveja (egoísmo), como o fez, pois por meio de sua
sabedoria manifestou-se no mundo a luz
do Verbo eterno humanado.
Conheceu esta sapientíssima
Virgem a estrutura do universo, as propriedades dos elementos (Sb 7,17), o princípio,
o fim, o meio e a mudanças dos tempos, o
curso das estrelas, a natureza dos animais
e os instintos das feras, a força dos ventos,
a compleição física e os pensamentos dos
homens, as propriedades das plantas, ervas, frutos e raízes, o que há de oculto nos
pensamentos humanos, os mistérios e caminhos escondidos do Altíssimo.
Tudo foi conhecido e saboreado
por Maria, rainha nossa, mediante o dom
da sabedoria, que bebeu em sua fonte
original, e transformou-se em palavra de
seu pensamento.
Elogio da Sabedoria, considerada em
Maria
606. Ali recebeu esta exalação
(Sb7,25) da virtude de Deus, emanação
de sua sincera caridade que a tornou
imaculada, a preservou da mancha que
contamina a alma, e a criou espelho sem
mácula da majestade de Deus. Ali participou do espírito de inteligência encerra o
na sabedoria, santo, único, multíplice, sutil
(Sb 7, 22) penetrante, discreto, ágil,
imaculado, claro, suave, amigo do bem, a
quem nada pode impedir; benfazejo, amigo
dos homens, benigno, constante, seguro,
que encerra todas as virtudes, tudo pode,
tudo compreende com pureza e finíssima
penetração de um limite a outro.
Todas estas propriedades do espírito da Sabedoria descritas pelo Sábio,
estiveram em Maria Santíssima, depois de
seu Filho Unigênito, de modo singular e
perfeito. Com a sabedoria lhe vieram todos
os bens (Sb 7,11) e em todos os seus atos
era precedida por estes altíssimos dons de
sabedoria e entendimento, para que todas
suas virtudes fossem por eles governadas
e impregnadas.
8-64 Janeiro 30, 1909 A história do porquê? (1) Encontrando-me em meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, parecia ver uma alma do purgatório, conhecida minha, e eu lhe dizia: “Olhe um pouco como estou diante de Deus, temo tanto, especialmente pelo estado em que me encontro”. E ela me disse: (2) “É preciso pouco para saber se está bem ou mal, se você aprecia o sofrer está bem, se não, está mal, porque quem aprecia o sofrer aprecia a Deus, e apreciá-lo jamais se pode desgostar, porque as coisas que se apreciam se estimam, se amam, têm-se amadas e guardadas mais que a si mesmo, e pode ser possível que alguém queira mal a si mesmo? Assim que é impossível que possa desagradar a Deus apreciando-o”. (3) Depois, assim que chegou o bendito Jesus me disse: (4) “Minha filha, as criaturas, em quase todos os eventos que acontecem, vão repetindo e dizendo sempre: E por quê? E por quê? E por quê? Por que esta doença? Por que este estado de espírito?
Por que esta punição? E por que tantos outros? A explicação do por quê? não está escrita na terra senão no Céu, e lá a lerão todos. Sabes tu que coisa é o porquê? É o egoísmo que dá contínuo alimento ao amor próprio. Você sabe onde foi criado o porquê? No inferno. Quem foi o primeiro a pronunciá-lo? Um demônio. Os efeitos que produziu o primeiro por quê? foram a perda da inocência no próprio Éden, a guerra das paixões implacáveis, a ruína de muitas almas, os males da vida. A história do porquê? é longa, basta dizer-te que não há mal no mundo que não tenha a marca do porquê? O porquê? é destruição da sabedoria divina na alma. E sabes tu onde será sepultado o porquê? No Inferno, para deixar a todos os condenados intranquilos eternamente, sem lhes dar jamais paz. A arte do por quê? é fazer guerra às almas sem jamais lhes dar trégua”.
(9) E Jesus: “Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz”. (10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: “Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz?
, só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da Sabedoria increada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos;
de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá, dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me perdida em Ti e vivo de tua mesma vida. 3-17
(6) “Minha Potência se estendia por toda parte, e de qualquer lugar que me encontrasse podia realizar os mais estrepitosos milagres, no entanto, em quase todos os milagres quis assistir pessoalmente, como ao ressuscitar Lázaro, fui, fiz remover a lápide, o fiz desatar, e depois com o império da minha voz voltei a chamar-lhe a vida. Ao ressuscitar a menina, tomei-a pela mão com a minha mão direita chamando-a de novo à vida, e tantas outras coisas que estão registradas no Evangelho, que a todos são conhecidas, quis assistir com a minha presença. Isto ensina, estando fechada a vida futura da Igreja na minha, o modo como deve Comportar-se o sacerdote em seu agir. E estas são coisas que se referem a ti, mas em modo geral, teu lugar próprio o encontrarão sobre o calvário. Eu, sacerdote e vítima e levantado sobre o tronco da cruz, quis um sacerdote que me assistisse naquele estado de vítima, que foi São João, que representava a Igreja nascente; nele eu via a todos: papas, bispos, sacerdotes e todos os fiéis juntos, e ele, enquanto me assistia, oferecia-me como vítima para a glória do Pai e para o bom êxito da Igreja nascente. Isto não aconteceu por acaso, que um sacerdote me assistisse nesse estado de vítima, senão que tudo foi um profundo mistério, predestinado desde “ab eterno” na mente divina, significando que ao escolher uma alma vítima pelas graves necessidades que na Igreja há, um sacerdote me la ofereça-a ,assista-a, ajude-a e encoraje-a a sofrer; se estas coisas são compreendidas, está bem, eles mesmos receberão o fruto da obra que prestam, como São João, quantos bens não recebeu por ter-me assistido no monte calvário? Se em troca não, não fazem outra coisa que pôr minha obra em contínuos conflitos, desviando meus mais belos desígnios. (7) Além disso, minha sabedoria é infinita e ao enviar alguma cruz à alma para santificar-se não só toma uma, senão cinco, dez, quantas Me aprazem, a fim de que não só uma, senão todas estas juntas se santifiquem. Como no calvário, não estive Eu só, além de ter um sacerdote tive uma Mãe, tive amigos e até inimigos, que ao ver o prodígio de minha paciência, muitos creram em Mim como o Deus que era e se converteram; se Eu tivesse estado só, teriam recebido estes grandes bens?
Certamente que não”. (8) Mas quem pode dizer tudo o que me disse, e explicar os mais minuciosos significados? Disse-o o melhor que pude, como na minha rusticidade soube dizê-lo, o resto espero que o Senhor o faça, iluminando-os para fazê-los compreender o que eu não soube manifestar bem. 4-157
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade