Texto do Tema 12 Livro do Céu Volume 1 – Cap 14
14 – A alma experimenta que não é capaz de nada sem Jesus Cristo e que deve tudo a Ele. Jesus, o verdadeiro Diretor espiritual a instrui sobre como fazê-lo no estado de escuridão e abandono, na oração, na comunhão e nas visitas ao Santíssimo Sacramento. Recordava-me também de todas as graças, as palavras, as correções, repreensões, via claramente que tudo Ele fizera até aí, tudo, tudo tinha sido obra de sua graça, e que de mim não ficava mais que o puro nada e a inclinação ao mal; tocava com a mão que sem Ele não sentia mais o amor tão sensível, nem aquelas luzes tão claras na meditação, de modo que permanecia por duas ou três horas, mas, mesmo assim fazia o máximo que podia, para repetir o que fazia quando o sentia, porque ouvia aquelas palavras se ressoarem: “Se tu fores fiel a mim, irei premiar-te, se ingrata, castigar-te”. Assim passava às vezes dois dias, às vezes quatro, mais ou menos como Lhe agradava; meu único consolo era recebê-lo no Sacramento…
Ah, sim, certamente, lá O encontrava, não podia duvidar, e lembro-me de que Ele raramente não se fazia ouvir, porque eu tanto lhe pedia e importunava, que me contentava, mas não amorosa e amavelmente, senão severamente15. Depois que passaram esses dias no estado descrito acima, especialmente se eu tivesse sido fiel a Ele, sentia-O voltar para o meu interior, falava comigo mais claramente, e como em dias passados eu não tinha conseguido conceber nem uma palavra dentro de mim, nem ouvido qualquer coisa, então entendia que não era minha fantasia, como muitas vezes eu costumava pensar antes. Até esse momento não dizia nada ao confessor ou a nenhuma outra alma vivente, entretanto fazia o quanto podia para corresponder-lhe, porque senão Ele me faria tanta guerra que não teria paz.
Ah, Senhor, tens sido tão bom comigo, e eu sou tão ruim ainda! Continuando com o que havia começado, sentia-o dentro de mim, abraçava-o, estreitava-o e dizia-lhe: “Amado Bem, veja como nossa separação tem sido amarga”. E Ele me dizia: “É nada o que tu passaste, prepara-te para provas mais duras; por isso eu vim, para dispor teu coração e fortalecê-lo.
Agora vais me contar tudo o que passou, tuas dúvidas e medos, todas as tuas dificuldades para poder te ensinar como se comportar na minha ausência”. Então eu narrei minhas tristezas dizendo: “Senhor, olha, sem ti eu não tenho conseguido fazer nada de bom; fiz a meditação toda distraída, feia, tanto que não tinha o espírito para oferecer a ti. Na comunhão, não pude passar horas inteiras como quando te sentia, me via sozinha, não tinha ninguém para me entender, me sentia vazia de tudo, a dor da tua ausência me fazia provar agonias mortais, minha natureza queria apressar-se imediatamente para fugir daquela dor, especialmente porque parecia que eu não estava fazendo nada além de perder tempo, e ainda o medo que ao voltar Tu me castigarias por não ter sido fiel, então eu não sabia o que fazer.
Além disso, a dor de que Tu estás sendo continuamente ofendido e que eu sem saber quando, onde antes me ensinavas a fazer esses atos de reparação, essas visitas ao Santíssimo Sacramento pelas ofensas que Tu recebes. Então diga-me, como devo fazer?” E Ele, me instruindo benignamente, me dizia: “Tens feito mal por estares tão perturbada, não sabes que eu sou o Espírito de paz? E a primeira coisa que te recomendo é não perturbar a paz do coração quando em oração não pode se recolher, não quero que pense sobre isso ou aquilo, como é ou como não é, fazendo dessa maneira, tu mesma chamas a distração. Pelo contrário, quando estás nesse estado, a primeira coisa é que te humilhes, confessando-te merecedora dessas penas, pondo-te como humilde cordeiro nas mãos do carrasco, que enquanto o mata lhe lambe as mãos; então tu, enquanto te vês espancada, abatida, sozinha, te resignarás às minhas santas disposições, me agradecerás de todo coração, beijarás a mão que te bate, reconhecendo-te indigna dessas dores, então me oferecerás aquelas amarguras, angústias e tédio, pedindo que eu as aceite como sacrifício de louvor, de satisfação por tua culpa, de reparação pelas ofensas que Me fazem.
Ao fazer isso, tua oração se elevará diante do meu trono como incenso perfumado, ferirá meu coração e atrairá novas graças e novos carismas para ti; o demônio, vendo-te humilde e resignada, toda abismada em teu nada, não terá forças para se aproximar. Eis que onde pensou que estava perdendo, farás grandes aquisições. Quanto à Comunhão, não quero que te aflijas por não saber como vais ficar, deves saber que é uma sombra das dores que sofri no Getsêmani. Como será quando eu te fizer participante dos flagelos, dos espinhos e dos cravos?
O pensamento dos sofrimentos maiores te fará sofrer com mais ânimo as penalidades menores, portanto, quando na Comunhão te encontrares sozinha, agonizante, pensas que eu te quero um pouco em minha companhia na agonia do horto. Portanto, permanece junto a Mim, e faz uma comparação entre tuas dores e as minhas. Vê-te sozinha, privada de Mim, e Eu também só, abandonado pelos meus amigos mais fiéis que estão sonolentos, deixado sozinho até pelo meu Divino Pai; e também no meio de uma dor amarguíssima, cercado por cobras, víboras e cães raivosos, que eram os pecados dos homens, e onde estavam também os teus, que fizeram parte deles, de modo que me parecia que queriam me devorar vivo. Meu coração sentiu tanta opressão como se estivesse sob uma prensa, tanto que suei sangue vivo. Dize-me, quando chegaste a sofrer tanto? Então quando te encontrares privada de Mim, aflita, vazia de todo consolo, cheia de tristeza, de angústia e dores, aproxima-te de Mim, limpa-me esse sangue, oferece-me essas tristezas como alívio para minha agonia amarguíssima.
Ao fazer isso, encontrarás uma maneira de permanecer Comigo após a Comunhão; não que não sofras, porque a dor mais amarga que posso dar às minhas queridas almas é privando-as de Mim, mas tu, pensando que com o teu sofrimento, me dás conforto, ficarás satisfeita. Em relação às visitas e atos de reparação, tu deves saber que tudo o que fiz no decorrer de trinta e três anos, desde o nascimento até a morte, o continuo no sacramento do altar, por isso quero que me visites trinta e três vezes por dia, honrando todos meus anos e unindo-te Comigo no Sacramento, com minhas mesmas intenções, isto é, de reparação, de adoração. Isso tu farás em todos os momentos do dia: volta imediatamente o primeiro pensamento da manhã diante do tabernáculo onde estou por teu amor e visita-me; o último pensamento da tarde, enquanto tu dormes à noite, antes e depois de comer, ao começo de toda ação tua, caminhando, trabalhando”.
Enquanto assim me dizia, sentia-me toda confusa, e sem saber se poderia fazê-lo, disse-lhe: “Senhor, peço que fiques comigo até que eu tenha o hábito de fazê-lo, porque sei que contigo posso fazer tudo, mas sem ti o que posso fazer eu, miserável?” E ele benignamente adicionava: “Sim, sim, eu vou te contentar, quando te faltei? Quero tua boa vontade e dar-te-ei qualquer ajuda que desejares.” E assim fazia.
NOTAS:
15 Que vê-se como propriamente sentiu Jesus, vê-lo não dependia propriamente de Luísa, como conclui mais tarde.
Perguntas para responder sobre esse capítulo
– O que Luisa percebeu de sua própria conduta diante de tudo o que Jesus lhe pedia?
– Jesus voltou a falar com ela interiormente, e qual fruto gerou disso, na mente dela?
– O que ela disse para Jesus?
– No estado que Luisa ficou ela consegue obedecer a Jesus ficando em paz?
– Se você estivesse hoje vivendo isso que Luisa viveu conseguiria obedecer a Jesus?
– Quais as principais lições de Jesus nesse diálogo com Luisa?
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