FALO COISAS SÉRIAS INÉDITAS SOBRE A VIDA NA DIVINA VONTADE
Os MAGOS DELIBERAM VOLTAR.
Tendo os Reis, portanto, feito as adorações e ofertas, e instruídos por minha dileta Mãe, começaram a tratar entre si da volta aos próprios países. Afeiçoados a mim, não teriam querido mais deixar-me e estimavam grande sorte ter podido tratar comigo. Mas, já sabiam ser vontade do Pai que retornassem a seus países, a fim de transmitirem pelo exemplo a vida espiritual a muitos, e reduzirem a gentilidade ao conhecimento do verdadeiro Deus. Sendo os primeiros chamados à fé, deviam ser as pedras fundamentais de tão grande edifício que eu já tinha determinado edificar, querendo conduzir a gentilidade ao conhecimento do verdadeiro Deus. Decidiram partir e voltar ao próprio país. Não se resolviam a partir e tendo já os seus corações ficado presos de meu amor, não podiam apartar-se de mim sem grande pesar. Tive grande pena com a partida deles, vendo-os tão afeiçoados e muito me compadecia, e ainda com gestos infantis demonstrava-lhes o desprazer que sentia. Oferecia esta pena ao Pai e pedia-lhe pelo pesar experimentado e pela resignação à sua santa vontade, se dignasse dar igual força e virtude às almas que, para cumprir a sua vontade, se houvessem separado dos amigos mais caros, a fim de poderem fazê-lo prontamente e de bom grado, tornando-se-lhe agradáveis, com perfeito desprendimento de todas as criaturas. Tudo isso prometeu-me o Pai. Estando eu já ciente da malícia de Herodes, e sabendo do morticínio de tantos inocentes, por minha causa, pois ambicionava matar-me por temor de que eu o privasse do reino, supliquei ao Pai se dignasse fazer os Reis entenderem a maligna intenção do iníquo Herodes, a fim de que não efetuasse seu perverso desígnio para comigo. O Pai o fez, e por um anjo Reis que não voltassem para junto de Herodes, mas retornassem ao próprio país, como de fato o fizeram.
PARTIDA DOLOROSA
Tendo, pois, licença, os Reis, já santos, partiram, mas com que dor no coração! Oh! Quantas vezes voltaram os olhos lacrimejando para mim! Que enorme violência fizeram a si mesmos, para saírem da gruta por eles considerada e apreciada como verdadeiro paraíso. Quantos suspiros emitiam seus corações inflamados de amor! Quanto recomendaram a mim e a minha Mãe! Como lhe ofertariam não só e reino, mas também a própria pessoa, em perpétua servidão, reconhecendo-a por sua verdadeira Rainha! Resolutos, por fim, partiram, acompanhados de minha graça e bênção celeste.
DOR DE JESUS
Tendo partido esses Reis, fiquei com minha dileta Mãe, muito consolado pela conversão deles e de toda a gentilidade que, no decurso do tempo devia seguir-se, por meio dos Reis e de meus Apóstolos. Entre tanta consolação, experimentei, esposa minha, grande amargura, que muito me afligia, a saber, por causa da crueldade de Herodes no morticínio que projetava de tantos pobres inocentes, no intuito de encontrar a minha pessoa e matar-me. Oh! Quanto me punha aflito, minha esposa, essa grande crueldade! Via que era odiado por um de meu povo e mortalmente odiado, apenas por ter nascido! Adiou o iníquo Herodes por algum tempo seu plano, esperando o retorno dos Reis; mas, vendo-se iludido, enfureceu-se. No entanto eu, esposa caríssima, sofria grande pena pela malignidade daquele coração duro. Oferecia a pena ao Pai e rogava-lhe removesse do coração de Herodes aquele cruel desígnio, mas o Pai nisto não me atendeu, e fez o mesmo que no Horto de Getsêmani. Disse-me que sua disposição era que me sujeitasse à ordem do iníquo Rei, e que com a fuga escaparia de suas péssimas ordens. Deveras, minha esposa, assim foi. Convinha-me fugir, como direi no devido lugar; no entanto, observai como o Pai atende a todos os pedidos para utilidade de meus irmãos, mas no referente a minha pessoa, muitas vezes mo negou e quis que sofresse de todos os modos perseguições e injúrias, ofensas, escárnios, ingratidões, desprezos, vilipêndios e toda espécie de ultrajes! Agradecia por isso a meu Pai e rogava-lhe fizesse meus seguidores julgarem as penas suaves e agradáveis na medida em que para mim se tornassem duras e ásperas. Fizesse-me provar toda a amargura, porque de bom grado sofria tudo para lhe obedecer e por amor de meus irmãos. Sabia muito bem que, àqueles irmãos que sem seguir-me, convir-lhes-ia sofrer muito, porque assim trata o Pai aqueles que ama, com isto o Pai consentia em tornar suave o sofrimento. O Pai atendeu-me e de fato experimentei toda a aqueles que Ele ama para merecerem e serem grandes em seu reino, e comunicar-lhes amor e graça. E de fato, esposa minha, a um coração amante tornam-se muito suaves e gratas as penas•, e tudo isto em virtude de minhas orações; no entanto eu somente quis provar a amargura, sem uma gota de consolo, e quando sentia alguma consolação na minha infância, logo ela era amargurada por alguma tribulação e sofrimento.
JESUS DORME E VIGIA.
Havendo partido os Reis Magos, como fiquei com minha querida Mãe e com rosto bem jovial a fitei, enchendo-a de consolação. Pedindo-lhe algum alívio, deu-me seu puríssimo leite. Ao tomá-lo, fiz minhas costumeiras ofertas ao Pai, conforme referi acima. Cheia de consolação a querida Mãe, pelo alimento que me dera, eu, um tanto confortado, adormeci em seus braços. Dormia a humanidade, mas o espírito tratava com o Pai, — porque jamais deixei de tratar com Ele — sem que o sono o impedisse. Neste mesmo tempo via aqueles santos Reis irem para seus países, muito tristes por se afastarem de mim. Via ainda as perturbações que sofreriam por voltarem por outro caminho, muito difícil, e quanto sofreriam por meu amor naquela viagem tão longa. Pedi ao Pai os assistisse com uma graça particular e jamais os abandonasse, corno de fato o fez; tiveram grande proteção e ainda a assistência de muitos anjos enviados por meu Pai; embora invisíveis aos Reis, estes, contudo, perceberam como os anjos foram muito benéficos. Jamais deixei de fitar os bons Reis com olhos de compaixão e amor, mas em particular naquela viagem fí-lo com maior atencão. Pedi ainda ao Pai que assim como eu tivera amor e compaixão por aqueles que sofriam por amor. Ele se compadecesse de todos aqueles que por meu amor houvessem suportado tormentos, ou houvessem sofrido contratempos, e tivessem empreendido viagens pela sua e minha glória; Ele se dignasse assistir a todos e dar a todos poderoso auxílio e graça e enviasse anjos em seu socorro. O Pai prometeu-me fazê-lo como na verdade o vai continuamente praticando em relação a todos aqueles que sofrem por seu amor e suportam fadigas e coisas semelhantes por sua glória, dando a todos a graça, ajudando-os e socorrendo-os por meio dos anjos, que em muitas ocasiões se tornam visíveis para liberar a criatura dos perigos e de muitas insídias que são tramadas pelos inimigos.
PENAS DE JESUS E DE MARIA
Despertando do sono, mostrei a minha Mãe, com rosto triste, que de fato estava pensando como estariam sujeitos a muitos sofrimentos os que tivessem querido honrar-me, seguindo-me os exemplos e achegando-se de perto. Tinha muita pena deles, e quis experimentar de antemão em mim mesmo todas as suas dores e aflições, a fim de que ninguém pudesse dizer: “Passo por uma tribulação pela qual meu Redentor não passou.” Não, esposa caríssima, quis sentir tudo primeiramente em mim mesmo e com sentimento mais intenso do que aquele experimentado por eles em si mesmos, porque eu o senti inteiramente na alma, a parte mais nobre e sensível, e depois no decurso de minha pregacão, experimentei-o ainda em minha humanidade. Afligia-se muito minha querida Mãe ao ver-me assim triste e dolente, sem conhecer a causa, enquanto o mais das vezes eu lha escondia, para fazê-la sofrer mais e porque esta era a vontade do Pai; receiava provir dela tal perturbação e muito se afligia. Era, porém, muito assistida pela graça divina em suas penas, se não morreria de dor, porque sua maior pena era o temor de ter desagradado a mim, que considerava seu Deus, pois reconhecia em mim a divindade que me estava unida . Dava-me pesar ainda vê-la tão aflita e sentida pelo supracitado temor. Oferecia ao Pai minha pena e também a da querida Mãe e suplicava-lhe que, em virtude delas, se dignasse dar luz e graça às almas, por cuja culpa Ele fosse desprezado, afim de que conhecam e compreendam como é grave dar desgosto a um Deus tão bom, e sintam a dor que devem deveras sentir por mal tão grande; e embora a ofensa for leve, não obstante pode sempre se chamar grave porque contradiz á infinita sabedoria e traz desprazer a uma bondade infinita. Oh! minha esposa, quanto me afligia, mesmo por estas coisas que os homens
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