AS VISITAS.
Estando eu, portanto, com este modo de viver retirado e em tontos padecimentos, minha querida Mãe, empregando algum tempo do dia no trabalho manual para ganhar o pão e José igualmente exercendo seu oficio, começamos a relacionar-nos com algumas pessoas que, tocadas de mera compaixão e atraídas pelas gentis maneiras de minha querida Mãe e mele ainda pela amabilidade de meu aspecto, formosura e graça de meu rosto. vinham algumas vezes procurar minha Mãe querida e conversar Por breve tempo com ela, para ouvirem-na falar. Na verdade, sua palestra arrebatava o coração de todos os que o ouviam. Quanto a mim, cativava-os por certo afeto sobrenatural e santo. Vinham às vezes os pequeninos, almas inocentes, e multo me comprazia em vê-los. Ficavam encantados atração admirável. De fato, causava grande impressão nos corações puros e Inocentes. Multo me aprazia vê-los vir a mim com aquele afeto e simplicidade pueril.
MARIA ENSINA
A Mãe dileta aproveitava a ocasião para tornar conhecido o Deus verdadeiro a alguns daquela nação, embora por natureza fossem ferozes e esquivos ao bem; tanta era a graça e o modo com que os recebia a Mãe querida que não podiam resistir e contradizer a quanto ela lhes ensinara. Minha Mãe desempenhava frequentemente esta tarefa, conforme ordenado por mim, por vontade de meu Pai. Fazia-o de tal modo que em breve tempo, tornou-se aquela casa uma escola de virtude. Quanto me aprazia ver aquelas almas inteiramente atentas, dadas a crer nas verdades eternas, e ao conhecimento do verdadeiro Deus. Oferecia esta minha consolação ao Pai e se dignasse inserir em seu peito novas inspirações, luzes, graças, para receberem a doutrina celeste.
E suplicava-lhe se dignasse insinuar ao coração de meus irmãos sentimentos semelhantes ao de minha querida mãe, para a salvação de seu próximo, a fim de que se dispusessem a fazer conhecido o verdadeiro Deus àquelas almas, ignorantes e cegas privadas de luz e de fé.
Havia algum tempo que estava ali habitando e no mesmo teor de vida referido. Só era concedido para o nosso serviço uma Pequena tábua onde eu me deitava para repousar, outra para minha Mãe e outra para José, e poucas coisas necessárias para vivermos como pobres forasteiros. À minha querida Mãe traziam muitas coisas de presente os que eram instruídos por ela; e eram-lhe muito afeiçoados! Mas a Mãe amada tudo recusava e só aceitava aquilo que julgava muito necessário para minha pessoa, ou para José seu esposo.
Embora essas visitas a minha Querida Mãe fossem muito raras, no entanto tornaram-se mais frequentes, e eram para minha mãe certa incomodidade e sujeição, porque seu desejo era estar só para atender à contemplação divina e tratar comigo, sendo eu o seu único objeto amado, onde seu coração encontrava todas as delícias imagináveis. Coisa semelhante me acontecia, alegrando-me estar a sós com ela, e ouvir os afetos amorosos de seu coração inflamado. Na verdade seus admiráveis atrativos e raras virtudes, haviam-me roubado o coração, Tamanho era o gosto de estar a só com ela, e com ela conversar que nisto encontrava todas as minas delícias.
Não obstante privávamo-nos frequentemente dessa consolação, preferindo voluntariamente sofrer, senão pela ausência, ao menos pela privação de conversarmos a sós, e principalmente em seu coração, onde eu me fazia ouvir com palavras amorosas e ela igualmente correspondia-me com grande amor e graça, de modo que cada vez ficava mais preso à sua amada convivência.
Mas, devendo ela tratar com algumas daquelas pessoas e instruí-las no conhecimento do verdadeiro Deus, privava-se do trabalho particular comigo, como também eu renunciava àquela consolação. Oferecia essa minha e sua privação ao Pai, e pedia-lhe que em, virtude dessa mortificação e privação da convivência, feitas para cumprir a sua vontade, se dignasse inspirar sentimento e desapego semelhantes a meus irmãos, mesmos nas coisas mais santas, para atender à salvação do próximo, instrui-lo e atraí-lo ao caminho reto da virtude; porque há muitos que podendo fazê-lo, não o fazem, para atenderem apenas ao que respeita à própria satisfação e ao gosto espiritual, sem cuidarem de fazer o que é de maior glória para meu Pai, a saber, a salvação das almas.
Assim como eu deixei a minha glória e o seio do Pai, para vir à terra salvar os homens, e na terra privei-me muitas vezes de tratar com minha mãe querida, para atender à conquista das almas, assim eles não devem desdenhar abandonar o que apreciam no exercício da contemplação e outros exercícios espirituais para proveito próprio, a fim de cuidarem da salvação do próximo, instruindo-o, ensinando-lhes a Lei divina, e orientando-o para a virtude. Na verdade, á grandioso alguém privar-se do próprio sossego e consolo espiritual, que se encontra na solidão e no retiro pelo trato familiar com meu Pai! Mas, o pensamento de dar-lhe maior prazer, faz com que alguém se prive voluntariamente da própria consolação o faça e se prive, não chegará jamais a privar-se tanto quanto me privei eu e minha Mãe dileta; porque ninguém pode jamais chegar a gostar tanto quanto eu gostava de tratar com ela e ela comigo. Apesar de jamais estarem os nossos corações separados um do outro, não obstante ela, mera criatura, não podia ter a satisfação de tratar atentamente comigo, quando se empregava em semelhante obra de caridade para com o próximo. Fruía, então, de outro prazer, o de atrair as almas ao conhecimento do Deus verdadeiro e retirá-las da escravidão do demónio: no entanto, era-lhe bem mais agradável estar comigo.
Tendo eu obtido do Pai a graça suplicada para a salvação de meus Irmãos, necessitados de ensinamento, ofereci-lhe depois esta privação minha e a da querida Mãe e o pronto desapego, meu e dela, de tal consolo, para suprir a omissão dos que, apegados a si próprios e aos gostos espirituais, não sabem privar-se deles por amor a meu Pai e para cumprirem a sua divina vontade. Estes, portanto, merecem ficar privados de um e de outro, em castigo da excessiva afeição a certas coisas, se bem que santas. Por isso, fazia aquela oferta a meu Pai para suprir esta relutância á vontade divina e o apego às próprias consolações, a fim de que meu Pai não os castigasse com a privação de suas graças, como de fato merecem. O Pai ficava um tanto aplacado com minhas ofertas, e prometia-me retardar o castigo e dar-lhes novas impulsos, inspirações mais poderosas e nova graça. Via que muitos disto se serviriam, e corresponderiam à vontade divina, fazendo tudo o que meu Pai deles esperava. Isto trazia-me grande consolo e agradecia ao Pai a graça conferida àquelas almas. Por elas implorava nova graça e favores, e em particular o dom da perseverança.
PALAVRAS EFICAZES DE MARIA.
Em tal exercício, segundo este modo de viver, era grande meu conforto ver que aquelas almas aprendiam as verdades eternas e ficavam iluminadas. Orava ao Pai se dignasse dar tanta virtude, graça e eficácia às palavras de minha querida Mãe que todos os que a ouvissem ficassem persuadidos da verdade por ela ensinada. Ele o fazia, porque tal era sua graça ao falar e tão poderosa a eficácia de suas palavras que ficava quem a ouvia uma vez não só instruído e persuadido de quanto lhe ensinava, mas ainda muito se lhe afeiçoava. Alcançava grande êxito naquele lugar a Mãe querida, e como Mestra divina fazia com que muitos ficassem persuadidos da verdade. E conquanto fossem breves as suas palavras, tinham tanta eficácia que se imprimiam na mente de quem a ouvia. Por isso, muitos presenteavam à querida Mãe, tanto pelo bem que lhes fazia, como ainda pelo amor que lhe dedicavam. Ela, porém, tudo recusava, e só às vezes aceitava quanto lhe era muito necessário para a manutenção de sua pessoa e de José. Fazia-o quando se achava sem trabalho, e tanto ela como José não tinham com que manter-se. Eu olhava com olhos benignos e amorosos aos que vinham, e eram tão potentes os meus olhares que lhes penetravam o coração. Apesar de serem gente bárbara e de coração duro, comoviam-se muito ao ver-me tão benigno e amoroso para com eles. A este respeito, porém, havia orado ao Pai, a fim de que aquelas almas se rendessem e se dispusessem a crer nele.
A POBREZA DE JESUS
Estando, pois, naquela pequena casinha a viver em pobreza, se bem que pudesse obter algum alivio e viver com maior comodidade, jamais quis fazê-lo, de modo que os que me viam ficassem edificados, e pela força de meu exemplo aprendessem melhor a verdade ensinada por minha Mãe e ainda por jamais ter aceitado presente, preferindo viver pobre e sofrer mesmo quanto ao necessário. Oferecia este meu sofrimento voluntário ao Pai, e a forma de vida que mantinha com minha Mãe, para dar àquela gente exemplo da prática daquilo que lhes ensinava minha querida Mãe e pedia-lhe se dignasse insinuar sentimento semelhante ao coração de todos aqueles que se empenhavam neste exercício de ensinar a vida perfeita, quer dizer, que pratiquem com toda a perfeição o que transmitem aos outros, pois do contrário, são freqüentemente vãs as suas fadigas, uma vez que exemplo é mais eficaz do que a palavra. Ainda eu via que muitos se dariam a este exercício, mas não obteriam fruto algum, por divergirem do ensinamento às obras concretas. Por isto, fazia muitas súplicas a meu Pai que lhes inspirasse agirem de acordo com o que ensinam, a fim de poderem recolher o ambicionado fruto de seus ensinamentos, a conversão das almas e o mérito próprio. Ao Pai agradavam estas minhas preces e ofertas e prometia-me fazer tudo aquilo que lhe pedia, como de fato não omite. Mas é tão grande em alguns o amor próprio e a solicitude das preocupações temporais que pouco ouvido dão ás inspirações e impulsos da graça, e atribuem importância maior a seu bem estar do que ao bem das almas. Não se preocupam por gastarem em vão com exortações e provas, porque vivem a seu modo. Que pesar sentia por esta cegueira de meus irmãos! Realmente, como apresentava ardentes súplicas a este respeito a meu Pai, para muitos adiantavam. pois, dando ouvidos às inspirações divinas, põem-se a agir verdadeiramente com toda a perfeição, e por isso seus ensinamentos alcançam o pretendido fruto, a saber, a conversão das almas e a glória de meu Pai. Mas, como são poucos os que assim agem! Em conseqüência, mínimo é o fruto que se vê de tantas doutrinas e ensinamentos. Um coração repleto do espírito de meu Pai obtém o fruto ambicionado, porque age conforme os ensinamentos divinos. Mas um coração repleto do espírito do mundo, pouco ou nenhum fruto retira de suas palavras, porque vive conforme os ditames dos sentidos e do mundo.
TRATA COM O PAI A RESPEITO DA SALVAÇÃO DOS IRMÃOS
Naquele tempo, pois, que vivi no Egito, continuei os habituais exercícios com meu Pai, isto é, a todo instante de minha vida bendizia-o, agradecia-lhe por parte de todos os meus irmãos. Pedia-lhe se dignasse iluminar aquela nação onde eu morava, a fim de que, tendo estado entre eles a verdadeira luz, não permanecessem cegos e sepultados na própria ignorância; que eles se prevalecessem da graça especial que havia empregado para com eles. ao mandar-me habitar aqui, a mim, seu Filho unigênito. O Pai não deixava de atender às súplicas, enviando àquelas almas infiéis as divinas inspirações, Muitas delas se convertiam e abraçavam a verdadeira fé, e eu dava graças ao Pai e suplicava-lhe continuasse a conceder graças àquele povo.
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