Texto do Tema 25 Livro do Céu Volume 1 – Cap 27
27 – Interrupção da história. As várias maneiras pelas quais Jesus fala com Luísa.
Mas antes de continuar, por ordem do confessor atual devo manifestar os vários modos com os quais o Senhor me falou: Parece-me que os modos com os quais Deus me fala sejam quatro, mas estes quatro modos de falar de Jesus são muito diferentes das inspirações.
1.- O primeiro modo é quando a alma sai de si mesma. Mas antes quero explicar o melhor que possa o que seja sair de mim mesma. Isto acontece de dois modos: O primeiro é instantâneo, quase como relâmpago, e é tão repentino que me parece que o corpo se eleva um pouco da cama, para seguir a alma, mas depois fica ali e a mim me parece que o corpo fica morto. A alma em vez disso segue a Jesus caminhando por todo o universo, a Terra, o ar, os mares, os montes, o Purgatório e o Céu, onde muitas vezes me fez ver o lugar onde eu estarei depois de morta. O outro modo de deixar a alma é mais tranquilo, parece que o corpo se adormece insensivelmente e fica como petrificado ante a presença de Jesus Cristo, mas a alma permanece com o corpo, e este não sente nada das coisas externas, ainda que se transtornasse todo o universo, mesmo que me queimassem e me reduzissem em pedaços.
Estes dois modos tão diferentes de sair ao exterior de mim eu os notei sensivelmente, porque no primeiro modo, devendo obedecer ao confessor que vinha me despertar, o via desde o lugar onde me conduzia Jesus; isto é, desde os confins da Terra, ou do ar, ou dos montes, ou do mar, ou do Purgatório, ou mesmo do mesmo Paraíso. Parecia-me que não haveria tempo de voltar para que o confessor encontrasse minha alma no corpo e pudesse obedecer, mas devo confessar que sempre me encontrei a tempo, e me parecia entrar a alma no corpo antes que o confessor começasse a me dar a obediência de despertar. E mais; digo a verdade, muitas vezes eu via de longe o confessor que vinha, mas para não deixar Jesus, parecia que não pensava no confessor que vinha e então o próprio Jesus me apressava a voltar com a alma ao corpo para poder obedecer ao confessor, e então eu sentia uma grande repugnância por deixar a Jesus, mas a obediência vencia, e deixando-O, Ele mesmo, ou me beijava ou me abraçava ou fazia outra coisa para despedir-se de mim.
E eu, deixando o meu amado Jesus dizia-Lhe: “Vou com o confessor, mas Tu, meu bom Jesus, volta assim que o confessor se vá”. Estes são os dois modos pelos quais a alma parecia sair do corpo, e nestes dois modos de sair a alma, Deus me fala. Este modo de falar, Ele mesmo o chama de comunicação intelectual. Tentarei explicar: A alma que sai do corpo e se encontra diante de Jesus, não tem necessidade de palavras para entender o que o Senhor quer lhe dizer, nem a alma tem necessidade de falar para se fazer entender, senão que tudo é por meio do intelecto, Oh, como nos entendemos quando nos encontramos! De uma luz que de Jesus me vem à inteligência, sinto imprimir em mim tudo o que meu Jesus quer que eu entenda. Este modo é muito alto e sublime, tanto que a natureza dificilmente sabe explicá-lo com palavras, apenas pode dar alguma ideia; este modo pelo qual Jesus se faz entender é rapidíssimo, num simples instante se aprendem muito mais coisas sublimes que lendo livros inteiros.
Oh, que mestre engenhoso é Jesus, que num simples instante ensina muitas coisas, enquanto que qualquer outro necessitaria anos inteiros, se é que o consegue, porque o mestre terreno não tem poder para poder atrair a vontade do discípulo, nem de lhe pode infundir na mente sem esforços nem fadigas o que lhe quer ensinar; mas com Jesus não é assim, tanta é sua doçura, a amabilidade de seu trato, a suavidade de seu falar. E ademais é tão belo, que ao apenas vê-Lo, a alma se sente tão atraída, que às vezes corre numa enorme velocidade para o lado de Jesus, que quase sem perceber se encontra transformada no objeto amado, de modo que a alma não sabe discernir mais seu ser terreno, tanto fica identificada com o Ser Divino. Quem pode dizer o que a alma experimenta neste estado?
Precisaria do próprio Jesus, ou de uma alma separada perfeitamente do corpo, porque a alma encontrando-se outra vez circundada pelos muros deste corpo, e perdendo essa luz que antes a tinha abismada, muito perde e fica obscurecida, de tal modo que se quisesse dizer algo, o diria grosseiramente. Para dar uma ideia, digo que me imagino a um cego de nascimento, que nunca teve o bem de ver o que há no universo inteiro, e que por poucos minutos tivesse o bem de abrir os olhos à luz, e pudesse ver tudo o que contém o mundo: o sol, o céu, o mar, as tantas cidades, as tantas máquinas, as variedades das flores e as tantas outras coisas que há no mundo, e depois daqueles poucos minutos de luz, voltei à cegueira de antes. Poderia ele dizer claramente tudo o que viu?
Somente poderia fazer um esboço, dizer alguma coisa confusamente. Isto é uma semelhança do que acontece quando a alma se encontra separada, e depois no corpo, não sei se digo desatinos; assim como a esse pobre cego ficaria a pena da perda da vista, assim a alma, vive gemendo e quase em um estado violento, porque a alma se sente violentada sempre para com o sumo Bem, é tanta a atração que Jesus deixa na alma de Si, que a alma gostaria de estar sempre abstraída em seu Deus, mas isto não pode ser, e por isso se vive como se vivesse no purgatório. Acrescento que a alma não tem nada de próprio neste estado, tudo é realizado pelo Senhor.
2.- Agora tentarei explicar o segundo modo que Jesus tem para falar, onde a alma encontrando-se fora de si mesma vê a pessoa de Jesus Cristo, como por exemplo na figura de criança, ou do crucificado, ou em qualquer outro aspecto, e a alma vê que o Senhor com a boca pronuncia as palavras e a alma com a boca responde. Às vezes acontece que a alma se põe a conversar com Jesus como fariam dois íntimos esposos. Se bem que o falar de Jesus é pouquíssimo, apenas quatro ou cinco palavras e às vezes até mesmo uma só. Raríssimas vezes se estende mais, mas nesse pouquíssimo falar, ah, quanta luz põe na alma! À primeira vista parece-me um pequeno riacho, mas vendo bem, em vez de um riacho se vê um vasto mar; assim é uma só palavra dita por Jesus, é tanta a imensidão da luz que fica na alma, que ruminando muito bem descobre tantas coisas sublimes e proveitosas à
sua alma, que fica assombrada. Eu acredito que se juntassem todos os sábios, ficariam todos confundidos e mudos diante de uma só palavra de Jesus.
Agora, este modo é mais acessível à natureza humana, e facilmente se sabe manifestar, porque a alma entrando em si mesma leva consigo o que tem ouvido da boca de Nosso Senhor e o comunica ao corpo; não é tão fácil quando é por meio do intelecto. Eu considero que Jesus tem este modo de falar para adaptar-se à natureza humana, não que tenha
necessidade da palavra para fazer-se entender, senão porque deste modo a alma mais facilmente compreende e pode manifestá-lo ao confessor. Em suma, Jesus faz como um mestre doutíssimo, sábio, inteligente, que possui em grau eminentíssimo todas as ciências e que ninguém pode igualá-Lo, mas como se encontra entre discípulos que ainda não aprenderam as primeiras letras do alfabeto, retendo todos os outros conhecimentos em si, ensina aos discípulos apenas o a, b, c etc. Oh, como é bom Jesus! Adapta-se aos doutos e fala-lhes de modo altíssimo, de modo que para entendê-lo devem estudar muito bem o que lhes diz, adapta-se aos ignorantes e faz-se também Ele ignorante, e fala em modo baixo, de maneira que ninguém pode ficar em jejum das lições deste Divino Mestre.
3.- O terceiro modo com que Jesus me fala é quando falando à alma, participa de sua própria substância. Parece-me como quando o Senhor criou o mundo: com uma só palavra foram criadas as coisas, assim, sendo sua palavra criadora, no próprio ato em que diz a palavra, cria na alma aquela mesma coisa que diz, como por exemplo, Jesus diz à alma: “Veja como são belas as coisas, por mais que teus olhos possam percorrer a terra ou o céu, jamais encontrarão beleza semelhante a Mim”. Neste falar de Jesus, a alma sente entrar nela um algo divino e fica muito atraída para esta beleza, e ao mesmo tempo perde o atrativo de todas as outras coisas, por quão belas e preciosas fossem não lhe causariam nenhuma impressão, o que lhe fica fixo e quase transmutado em si é a beleza de Jesus, nisso pensa, dessa beleza se sente investida, e fica tão apaixonada, que se o Senhor não fizesse outro milagre se lhe partiria o coração, e de puro amor por esta beleza de Jesus expiraria a alma para voar ao Céu a gozar desta beleza de Jesus. Eu mesma não sei se digo desatinos. Para explicar melhor este falar substancial de Jesus, digo outra coisa, Jesus diz: “Olha como sou puro, também em ti quero pureza em tudo”. Nestas palavras a alma
sente entrar em si uma pureza divina, esta pureza se transforma em si mesma e chega a viver como se não tivesse mais corpo, e assim das outras virtudes. Oh, como é desejável este falar de Jesus! Eu daria tudo o que está sobre a terra, se fosse a dona de tudo, contanto que tivesse uma só destas palavras de Jesus.
4.- O quarto modo em que Jesus me fala é quando me encontro em mim mesma, isto é no estado natural, e este falar é também de dois modos. O primeiro é quando me encontrando em mim mesma, recolhida, no interior do coração, sem articulação de voz ou sons ao
ouvido do corpo, Jesus fala internamente. O segundo é como nós fazemos, e isso acontece às vezes, mesmo estando distraída ou falando com outras pessoas. Mas uma só destas palavras basta para me recolher se estou distraída, ou para dar-me a paz se estou perturbada, para me consolar se estou afligida.
Perguntas para responder sobre esse capítulo
– Explique o que entendeu sobre a 1 forma de falar de Jesus a Luisa.
– A 2 forma:
– A 3 forma:
– A 4 forma:
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade