AS VERDADES MAIS DIFICEIS DE FALAR
A MÃE COMEÇA DELICADAMENTE A DESMAMÁ-LO
Chegara também a hora em que devia privar-me de tomar o leite, devendo começar a sustentar-me com alimento comum, do que se nutrem os outros, quando desmamados. Disse-o à minha Mãe, mas com tanta graça e e tais maneiras que ela não sentiu pesar que, de fato teria devido experimentar, ao ver retirar-se-lhe tanta consolação, Havia contudo, já pedido ao Pai que a confortasse com a sua graça. E abracei-a com amor, de encontro a seu peite virginal, e com grande afeto agradeci-lhe pelo leite puríssimo que até aquela hora me havia subministrado com tamanho amor. Com os joelhos em terra, a querida Mãe adorou o Pai e agradeceu-lhe pelo leite miraculoso que lho havia dado para aleitar-me a mim, seu Filho, e pediu-lhe perdão, pelo que teria podido faltar ao subministrar-me aquele puro alimento.
Depois pediu-me perdão se acaso não havia cumprido o seu dever ao aleitar-me e agradeceu-me por me ter dignado receber aquele alimento de sua pessoa o, enquanto filho de Deus, não ter desdenhado ser aleitado por uma simples criatura, qual ela era. Humilhou-se muito na presença de meu Pai e na minha. Oh, quanto! Minha esposa, foram gratos e aceitos estes atos feitos ao meu Pai e e mim! Ficou o Pai conquistado pelo seu amor e sua humildade, e fê-la entender que, fosse o que fosse que lhe pedisse, estava pronto a conceder-lhe tudo. Ela outra coisa não pediu senão tornar-se digne de Imitar-me perfeitamente e de jamais se separar de mim. Obteve-o de meu Pai, com toda aquela perfeição que ela desejava. Eu, pois, tendo ferido o seu coração de amor, abraçando-a apertadamente e beijando-a docemente, agradeci-lhe pelo serviço que até aquela hora me havia prestado, e pedi-lhe continuasse, qual mãe amorosa, a amar-me a mim, seu Filhe único e dileto. Confortei-a muito nesta ocasião e pedi-lhe que me alimentasse no futuro com o mesmo alimento com o qual ela se nutria. Assegurei-lhe que não tomando mais seu leite, não devia por isto ter receio do que em mim diminuísse o amor para com ela. Com o meu crescimento, cresceria para com ela meu amor, e nela aumentariam a graça e o mérito, A querida Mãe ficou resignada inteiramente à vontade do Pai e à minha, e muito confortada com minhas palavras. Ofereci depois todos esses atos ao pai e todos os agradecimentos, em suplência por meus irmãos e máxime por aqueles que, havendo recebido muitas graças de meu Pai, não lhe agradecem e não se servem delas em vista do fim pelo qual meu Pai lhas concede. Roguei-lhe ainda se dignasse dar virtude, espirito e graça a todos aqueles que, por sua disposição, devem sentir falta dos alimentos espirituais, para que e es se acomodem ao que o Pai dispõe e não dêem as costas à virtude, Efetivamente, a alma, sem este sustento, fica em grande perigo de não avançar na perfeição. Pedi muito a meu Pai que, permitindo esta privação ã graça o ajuda especial, de alimentar as não deixasse de suprir com a sua graça e ajuda especial de alimentar as almas com outra comida que lhe aprouvesse, mantê-las em seu espirito e fervor e fazê-las crescer na virtude e na perfeição, O Pai prometeu fazer tudo, como de fato vai realizando.
Com todos esses meus atos e súplicas ao Pai, muito se comprazia ao ver-me continuamente pedindo graças e favores para os meus irmãos. Conhecendo eu esta sua complacência, não deixava de praticar incessantemente atos semelhantes. Suplicava ao Pai que, do mesmo modo que se comprazia em ouvir-me, sem jamais se enfastiar, e suplicava-lhe que com grande gosto ainda me dignasse ouvir de bom grado as súplicas de meus irmãos; jamais lhe causaste tédio ou fastio, por mais que eles lhe fossem pouco amorosos e gratos e se dignasse atende-los, principalmente quando lhe pedissem as graças em meu Nome e por meus méritos.
O Pai mostrou-se nisto liberal, prometeu-me e assegurou-me que tudo o que lhe pedissem em meu Nome e por meus méritos, tudo haveria de conceder-lhes, se o pedido fosse em assunto de proveito e não de detrimento para eles, porque em tal caso o Pai lhes concederia outras graças proveitosas, adequadas à salvação deles e á sua glória. Havendo eu já praticado todos esses atos, oferecido ao Pai todas aquelas minhas obras e obtido dele todas as graças que lhe pedia para a salvação de meus irmãos, punha-me a louvado, bendize-lo e agradecer-lhe. Fazia-o em nome e por parte de todos os meus irmãos. Convidava, depois, ainda minha dileta Mãe a unir-se a mim para cantar os louvores divinos, dos quais muito gostava, e que alegravam a meu Pai. Eu lhe suplicava se dignasse ensinar a todas as criaturas, por meio de dons e graças, o modo mais adequado de louvá-lo. Em realidade, de fato meu Pai e ainda o faz. Por intermédio de seu divino Espirito vai insinuando à mente e ao coração das criaturas seus louvores e suas glórias. Na verdade, muito bem o aprendem, e não só louvam e bendizem elas a seu Criador, mas são causa de que seja igualmente louvado e glorificado por outros, por meio de suas egrégias composições em louvor do Pai e em meu louvor. Agradecia por isto ao Pai, e fazia-o em nome e por parte de todos aqueles que assim eram prevenidos por sua graça.
AMOR E BENEVOLÉNCIA PARA COM SÃO JOSÉ.
Estando, pois, ali com minha dileta Mãe e José, seu esposo, não deixava de fazer-lhe também aqueles atos de gratidão, de amor e de benevolência que, de fato, merecia, tendo sido fiel e afeiçoado a minha Mãe e a mim, tratando-nos com tanto obséquio, respeito e submissão que realmente mereceu um amor muito grande da parte de meu Pai, de mim e de minha querida Mãe. Ao começar a proferir palavras, falava-lhe com amor, agradecia-lhe quanto sofria e se afadigava por meu amor: ao dirigir-lhe estas palavras enchia-lhe a alma de tal consolo que se desfazia em lágrimas de suavidade, e uma só palavra, ouvida de minha boca, convertia em alegria todas as amarguras experimentadas naquele duro exílio e em tamanha pobreza. Na verdade, afligia-se muito ao ver-se pobre e necessitado a ponto de não poder manter a sua esposa e a minha pessoa com o conforto desejado e tido por indispensável. Eu, contudo, e minha querida Mãe não deixávamos de consolá-lo, declarando ser esta a vontade do Pai e a minha. Em conseqüência. ele se consolava, liquefazia-se-lhe o coração de amor para comigo e para com minha Mãe dileta. Por sua vez, era por nós correspondido com amor igual e considerado sempre guarda fiel e provedor de nossas necessidades. Impetrava-lhe de meu Pai numerosas graças, e fazia que sua alma crescesse Sempre em virtude e insignes méritos. la freqüentemente a seus braços, acariciava-o, dava-lhe demonstrações de afeto muito intenso. Ele ficava cada vez mais consolado e confirmado na graça, e ardoroso na aquisição das virtudes e do amor divino. Oferecia depois esses mútuos afetos ao Pai, e suplicava-lhe que justamente daquele modo se dignasse consolar as almas fiéis que me seguem. imitando meus exemplos.
Ele as consolasse, confortasse e acariciasse, fazendo-as experimentar as delicias de sou amor, abrançando-as e estreitando-as ao seu divino coração, a fim de se. rem mais confirmadas na graça e no amor. O Pai tudo me prometia fazer e com muita liberalidade, como efetivamente o vai realizando. No entanto, existem poucas destas almas tão fiéis e afeiçoadas como a cirna (110 José, que verdadeiramente fora prevenida pelo Pai com a doçura de gilas bênçãos em tal medida que. depois de minha querida Mãe, não houve, nem existiu no mundo alma semelhante à sua, tão favorecida e amada por meu Pai, por mim e por minha dileta Mãe, e por isto tão favorecida e agraciada por nós.
PRECES COMUNS E AÇÕES DE GRAÇAS.
Continuando a morar ali, íamos praticando eu, a querida Mãe e José, os habituais exercícios de virtude, louvor e ações de graças ao Pai, e em benefício do próximo que qui-sesse receber a verdadeira luz, isto e. conhecer e adorar o verdadeiro Deus. Pedi muito ao dileto Pai, mas não tiveram então pleno efeito o meu desejo e o meu pedido, porque seria preciso que tivesse lhes pregado publica. mente a verdadeira fé e o verdadeiro Deus. Fiquei, não obstante, em parte satisfeito, vendo que aquelas almas iam, todavia, se dispondo, e algumas das quais haviam já abraçado a verdadeira fé: por meio destas, com o correr do tempo, e outros auxílios, haveriam de se converter e seriam iluminadas ainda outra.
MORTE DE HERODES.
Estando assim de algum modo consolado, não me faltavam, contudo. preocupações e aflições, uma das quais foi ver que o ímpio Herodes morria em sua obstinação, e depois de haver mandado matar tanto inocentes, finalmente, ia se encerrar a perseguição pelo sepultamento da alma criminosa no profundo dos abismos infernais, Oh! quanto me afligia a sorte infeliz daquela alma desgraçada! e como pela perfídia, ambição, dureza e avareza daquele coração rebelde, havia se precipitado a alma infeliz no báratro infernal. Sentia, realmente, enorme pesar quando se perdia alguma alma, depois de minha vinda ao mundo; e ao ver, en• quanto estava no mundo a sua salvação, elas se precipitarem no abismo infernal. Oh! isto, sim. era-me insuportável! Não podia deixar de chorar a sua desgraça que, efetivamente, era imensa. Morto o ímpio Herodes, roguei ao Pai não permitisse mais que no mundo surgisse tirano semelhante àquele. Via, todavia, que muitos tiranos cruéis surgiriam no mundo e afligiriam e atormentariam os meus seguidores. Por este motivo sentia grande pesar. Mas consolava-me ver que a crueldade e tirania seriam causa de que tantas almas se salvassem com grande mérito e adquirissem a palma e a coroa do martírio. Pelo breve sofrimento desta vida frágil seriam eternamente bem-aventuradas e felizes no céu. Pedia então com grande instância ao Pai lhes desse graça e virtude e as assistisse até o fim dos padecimentos e dos martírios, e depois as levasse consigo ao repouso eterno. Fazia-o com tanta instância e insistência porque sofriam por minha causa todas aquelas penas, isto é, para serem-me fiéis e devido ao amor que me dedicavam. Meu Pai se mostrava muito benigno e cortês e assegurou-me haver não só de assisti-las e consolá-Ias mas de combater ele próprio com elas, a saber, dar-lhes força e virtude para vencerem e superarem não só o tirano, mas toda espécie do sofrimento e martírio, e depois conduzi-las ao eterno repouso e felicidade.
O ANJO FALA A JOSÉ.
Neste ínterim, chegado o tempo do retorno a Nazaré, por haver cessado inteiramente a perseguição de Herodes, devido a sua morte, enviou meu Pai um anjo no sono a José, para avisá-lo de que podia voltar à pátria por ter Já morrido aquele que procurava matar-me. José, havendo despertado do sono, avisou a minha Mãe querida e ordenou a partida do Egito.
EXORTAÇÃO.
Por isso, não deixeis, esposa minha, de imitar-me o mais possível em tudo o que eu vos mostrei reste capitulo. Aproveitai meus exemplos, certa de que jamais vos faltarão minha ajuda e a graça de meu Pai.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade