VIDEO DA AULA
LOUVOR SETÉMPLICE.
Ciente, portanto, da vontade do modo pelo qual devíamos viver do Pai acerca naquela casa, e como devia portar-me nas obras exteriores, sentado entre minha querida Mãe e José, fiz-lhes um discurso. Em seguida, disse-lhes tudo o que deviam eles fazer por si a sós e o que haveriam de fazer comigo. Primeiro expliquei-lhes como devíamos sete vezes por dia reunir-nos para cantar os louvores do Pai. No restante do tempo, cada um devia fazê-lo por si. Estas sete vezes começavam à meia noite; depois pela manhã ao raiar do dia, em seguida à hora de terça, depois ao meio-dia, logo à hora de nona, em seguida à hora das vésperas e ao declinar do dia. Tendo ouvido isto, a querida Mãe e José, com grande júbilo de coração, renderam graças a meu Pai pelo novo modo com o qual queria ser por eles louvado. Não era novo quanto aos louvores, pois no passado os haviam exercitado; mas relativamente ao tempo e à nova ordem estabelecida, segundo a qual queria ser louvado. Unidos a mim, deram início à execução da ordem recebida, começando logo a louvar juntos a meu Pai. A querida Mãe e José ficavam absortos ao ouvirem o modo, o fervor, o espírito e a graça com os quais eu cantava os divinos louvores a meu amantíssimo e dileto Pai. Estes começavam à hora das vésperas, e embora não durassem muito, ficavam todavia a dileta Mãe e José longamente absortos e elevados em êxtase, aprazendo-se muito o seu espírito e unindo-se a Deus de modo assaz particular e perfeito. Eu, no tempo em que louvava a meu Pai, estava todo dedicado a Ele, ansiando por dar-lhe todo o prazer e agrado que Ele desejava e merecia. Estava, contudo, com o olhar sempre voltado para meus irmãos e urgia-me muito rezar por eles, e adquirir-lhes o amor e o favor de meu Pai. Por isto, não deixava passar nem um breve tempo que não orasse por eles e lhes merecesse algum favor e graça especial. Terminados os louvores divinos, enquanto minha querida Mãe e José estavam absortos, fruindo das divinas consolações, eu oferecia esses louvores a meu Pai como suplemento pelas omissões e negligências de meus irmãos em louvá-lo e bendizê-lo. E assim como meu Pai tinha muito prazer em ser louvado deste modo, eu lhe oferecia esse gosto e aprazimento que lhe dava ao louvá-lo, em suplência por todos aqueles que, por não aplicar-se a tão santo exercício, privam-se a si mesmos de grande mérito e a meu Pai daquele gosto e prazer que, na verdade, recebe de quem o louva de modo tão acabado. Oferecia-lhe ainda o modo admirável com qual eu o louvava tão perfeitamente, e com todo o amor e atenção, em suprimento por aqueles que ao louvá-lo são tão desafeiçoados e distraídos. Suplicava-lhe que se dignasse receber aqueles meus louvores em suplemento por todos os meus irmãos desafeiçoados e ingratos, que jamais se recordam de louvar a sua infinita bondade e prestar-lhe o culto devido a tão grande Majestade recebia tudo o Pai amoroso e mostrava-se contente, satisfeito e aplacado por todos, sendo-lhe tão gratos e aceitos os meus louvores e as minhas súplicas que tudo o que eu lhe pedia, em virtude destas, concedia-me com grande liberalidade e amor. Estendia-se depois mais além o meu desejo, e pedia a meu Pai se dignasse dar aos meus irmãos desejo tão grande de louvá-lo naquelas mesmas horas, nas quais unia-me para louvá-lo à querida Mãe e a José, seu esposo, e que este desejo fosse acompanhado de grande amor a fim de que superassem todas as dificuldades que, em tão santo exercício, costuma sugerir a meus irmãos o amor próprio e o excessivo cuidado com a saúde corporal. O Pai atendeu-me e concedeu-me quanto lhe pedia. Vi, naquele instante, como muitos seguiriam a inspiração divina e reunir-se-iam para fazer tão santo exercício. Recebi com isto grande consolo, tanto pelo prazer de meu Pai, como ainda por ver cumprido meu desejo, em parte. Por tudo rendi muitas graças a meu Pai. Era, todavia, assaz amargurada esta minha consolação ao ver muitos de meus irmãos tão relaxados, negligentes e distraídos em tão santo exercício; e esta pena que experimentava era causada na maior parte por ver meu dileto Pai privado do gosto habitual, ao ser louvado com toda a atenção, diligência e amor; e depois por ver meus irmãos privados de tamanho mérito. Louvam ao Pai somente com a língua, sem a devida atenção; por isto não são dignos do prêmio e em vão se afadigam, pois não dão gosto a meu Pai e não alcançam a recompensa que, ao invés, se dá a quem o louva com a devida disposição, atenção e amor. Via tudo isso, então, esposa minha, e pedia a meu Pai desse-lhes particular auxílio e graça maior para praticarem aquele santo exercício com a devida atenção. Meu Pai prometeu-me fazer quanto eu dele reclamava. De fato, não deixou, nem jamais deixa de dar a todos particular auxílio e graça especial. Muitos, na verdade, aproveitam os divinos impulsos e os seguem, dando lugar no coração à graça divina. Numerosos, todavia, dela abusam e tornam-se mais obstinados, distraídos e negligentes. Por estes, sentia grande pesar e por aqueles, muito me consolava. Não omitia, contudo, as preces por uns e outros. Por uns, a fim de que fossem cada vez mais fervorosos, atentos e diligentes; por outros, para que se emendassem enfim de suas negligências, desamor e tibieza. Fazia-o de modo que meu Pai ficava aplacado para com os negligentes e tépidos, e muito mais inclinado a favorecer os diligentes e fervorosos. Havendo obtido do Pai todas as graças que lhe pedia para meus irmãos, agradecia-lhe por parte deles e principalmente por parte daqueles que, tendo recebido um tão grande favor, isto é, haverem sido escolhidos para tão santo exercício, não agradecem nem reconhecem o favor particular que lhes fez o Pai, escolhendo-os com tanto amor e tão profunda providência para serem os anjos da hierarquia terrestre e serem-no depois da hierarquia celeste e louvá-lo eternamente, começando no tempo, para durar por toda a eternidade.
NA OFICINA.
Terminadas as minhas ofertas e petições e obtido de meu Pai tudo quanto anelava em prol de meus irmãos e tendo-lhe rendido as devidas graças, pedia a minha querida Mãe e a José que determinassem em que devia ocupar-me, enquanto eles se ocupavam no trabalho a fim de obterem a necessária subsistência para suas pessoas e para mim. Este pedido causava-lhes muita confusão, mas como sabiam ser esta a vontade de meu Pai, faziam-no com grande prontidão e amor. O mais das vezes, porém, como a querida Mãe conhecia o desejo de José, seu esposo, atendia-o e mandava-me trabalhar com ele, ajudando-o e coisa no seu mister de carpinteiro- e eu, inclinando a Cabeça, prontamente obedecia. Era tão grande a caridade da querida Mãe para com São José que mais das vezes se privava de minha Companhia dela para que ele fruisse. Ia trabalhar com José, por algum tempo; fazia algum serviço até que cheguei à idade de trabalhar. o santo homem muito apreciava ter-me em sua companhia de tal modo que se desfazia em lágrimas de Consolação e conhecendo a vontade de meu Pai, mandava-me e ordenava minhas ocupações. Fazia-as prontamente. Muitas vezes, enquanto ele se afadigava e estava cansado, eu lhe enxugava o suor com as minhas mãos e olhava-o com grande amor e compaixão. Era o suficiente para aliviar-lhe a fadiga e restaurá-lo de tal modo que caía em êxtase de alegria. Oferecia, depois, ao Pai esta humilhação. Em verdade, era grande em relação a minha pessoa, por ser o verdadeiro Filho de Deus e Senhor do universo. Achava-me naquela vil oficina diminuído e era olhado por todos como filho de um pobre carpinteiro. Alegrava-me muito a humilhação e pequenez na qual me encontrava e este prazer oferecia-o ao Pai, em desconto por aqueles soberbos que, sendo realmente de condição humilde e inferior, querem ser tidos por grandes e fazer-se estimar pelos outros. Rogava ainda a meu Pai se dignasse consolar todos os meus irmãos que se afadigam e cansam para obter a própria subsistência e o necessário. Como não podem fruir de minha presença visível conforme dela fruía José, inspirasse-lhes ao coração o modo de se consolarem, isto é, oferecerem-lhe esta fadiga e suportá-la por seu amor, pois este motivo apenas, com a ajuda da graça divina, basta para consolar uma pessoa cansada e aliviar-lhe qualquer fadiga, por grande que seja. Prometeu-me fazer isto meu Pai, e de fato não deixa de executá-lo, embora a maioria de meus irmãos abuse desta graça e não dê ouvidos às inspirações divinas, estimando mais o sofrimento e o consolo que lhes vêm das criaturas do que o enviado pelo Criador. Com mais boa vontade se afadigam e trabalham por amor à criatura e por interesse próprio do que por amor ao Criador e pelo bem de suas próprias almas. Sentia grande desprazer a este respeito, tanto mais que os via privados de tão grande bem. Trazia-me, porém, algum consolo ver alguns que, aplicados a dar gosto a meu Pai, não têm outro alvo de suas fadigas senão cumprir a vontade divina, e por amor de meu Pai fazem tudo de boa vontade. Assim sentem-se muito consolados e contentes. Com estes colabora principalmente a graça de meu divino Pai, que tudo lhes alivia. Na fadiga, ficam contentes e consolados. Por tudo isso agradecia ao Pai e impetrava-lhes maior graça. Aos outros, impetrava luzes maiores para chegarem a conhecer o bem que por descuido perdiam.
COMO SANTIFICAVA O TRABALHO.
Enquanto me entretinha a trabalhar com José, não deixava de conversar com meu Pai e pedir para os meus irmãos tudo que sabia ser-lhes necessário eterna salvação. O trabalho de minhas mãos não me impedia o trato contínuo com meu Pai. Pedia-lhe ainda se dignasse conceder também a todos os meus irmãos graça semelhante, embora não pudesse ser de modo igual ao meu, por estar a divindade unida a minha humanidade. Não obstante, desejava que cada um Conversasse sempre com meu divino Pai do modo sem lhe fosse possível e mais fácil, visto que meu Pai tudo ê e ouve, sem que a criatura faça necessidade do uso de palavras audíveis. Penetra os segredos dos corações e os pensamentos mais escondidos. Assim eu ansiava por que meus irmãos estivessem Inteiramente atentos e tivessem sempre na mente e no coração a contínua presença de meu Pai, conversassem com Ele sem cessar como eu fazia, sobre os interesses de sua eterna salvação. Meu Pai consolou-me muito, prometendo-me quanto eu dele reclamava, embora essa minha consolação fosse logo amargurada por ver em meus irmãos tão pouca correspondência a tamanha graça, e como se deixavam vencer pelas ocupações exteriores, estando tão entregues a elas e atentos que nem sequer dedicam um pensamento ao que tanto os deveria empenhar, porque disto depende, na maioria dos casos, o proveito espiritual deles. Se meu Pai os encontra ocupados em pensar nele e tratar com ele, não deixa de olhá-los com amor, e de entreter-se com eles, de comprazer-se e por isto também, está pronto a conceder-lhes quanto desejam. Ao ver eu que muitos de meus irmãos se ocupariam de contínuo em tão santo exercício, muito me alegrava e dava graças a meu Pai e em suplência por aqueles que nisto falham, oferecia-lhe meu desejo, deveras muito grande, de que todos estivessem ocupados com isto, sem interromperem jamais tão santo exercício.
JUNTO DA MÃE.
Depois de haver dado algum alívio a José, pedia-lhe licença para ir ao encontro de minha querida Mãe. Na verdade, muito me empenhava em consolá-la com minha presença, e ainda ansiava entreter-me com ela, por ser no mundo a criatura mais cara a meu Pai e a mim, e sumamente amada por mim devido a suas excelsas e raras virtudes. O grande amor que lhe dedicava, como sendo minha verdadeira Mãe, estimulava-me a ir para junto dela. Não podia permanecer muito tempo longe. la, como vos disse, freqüentemente revê-la e com finura de afeto saudava-a, Ela prostrava-se aos meus pés, logo que me via. Não deixava de abraçá-la amorosamente e soerguê-la do chão. Saudando-nos mutuamente com afeto, fruíamos da presença um do outro e por algum tempo nos entretíamos a discorrer sobre as grandezas de meu divino Pai. Apesar de estar ela a este respeito bem informada, não obstante ficava cada vez mais iluminada. As grandezas divinas são imensas e infinitas as divinas perfeições. Por mais que uma criatura consiga apreendê-las e entendê-las, sempre lhe restam coisas assaz maiores a entender e apreender. Em tais ocasiões rogava ao Pai que, ao fazer as almas de alguns de meus irmãos, por Ele amados e que o amam, sentirem a sua ausência, se dignasse logo retornar sensivelmente com a divina presença a consolá-los, não deixando por muito tempo de fazê-los experimentar a sua visita, acompanhada das consolações divinas, a fim de que as almas cresçam mais no desejo e no amor dele. Efetivamente, quanto mais a alma o experimenta, tanto mais fica faminta e desejosa. Pedia-lhe com grande instância, pois conhecia a fraqueza de meus irmãos. Sem consolação, suportam por pouco tempo, se o Pai não os assistir de modo particular, como realmente faz a tantos. O divino Pai atendia todos os meus apelos, e eu me demonstrava grato, agradecendo-lhe por parte de meus irmãos. Isto era muito agradável a meu Pai; por esta razão, achava-o sempre pronto e disposto a conceder-me quanto dele esperava.
A HORA DA REFEIÇÃO.
Estando, poís, em santos entretenimentos com minha querida Mãe, chegava a hora de tomar algum alimento, para manter a humanidade. Tendo minha querida Mãe preparado uma pequena porção, eu avisava a José que viesse também ele refazer-se. Mandavam-me abençoar a comida. Eu obedecia, e fazia tudo com muita graça e jovialidade, de tal modo que, só ao ver-me praticar aquele ato, ficavam plenamente saciados com o pouco alimento que tomavam. Caiam em êxtase bem freqüentemente também ao ver-me comer. Era o melhor condimento de sua “refeição, a qual constava na maioria dos casos só de pão. Mas, com, frequência, naquele pão percebiam a graça espargida por minha bênção. Após havermos tomado a parca refeição, dávamos juntos as devidas graças ao Pai, da maneira que já disse em outra ocasião, isto é, igualmente por parte de todos os meus irmãos e em particular por aqueles que, depois de terem se alimentado, nem ao menos elevam a mente ao Pai para agradecer-lhe.
SANTA RECREAÇÃO
Terminadas as graças que juntos dávamos ao Pai, entretíamo-nos por certo espaço de tempo em conversas alegres, isto é, acerca das magnificências da pátria celeste, dos prazeres lá existentes, dos lugares eminentes preparados para aqueles que tiverem a sorte de lá entrar, mais ou menos segundo os seus méritos, ou ainda sobre as divinas perfeições e outros assuntos aprazíveis à alma de minha Mãe e de José. Concluído o breve discurso, José ia trabalhar, e ficava minha querida Mãe ainda a fazer seus trabalhos. Neste interim, eu oferecia ao Pai aquele recreio tão santo que juntos tivéramos. Pedia-lhe se dignasse aceitá-lo em suplência por todas as faltas de meus irmãos, os quais parecem não saber recrear-se senão em mundanidades e nas baixezas desta mísera terra. E como eu bem via que muitos iam mais além, uma vez que suas recreações jamais terminam sem ofensa a meu Pai e ao próximo, sentia grande dor, e rogava ao Pai lhes perdoasse tão grande erro e recebesse minhas ofertas em desconto daquelas ofensas. Pedia-lhe ainda se dignas-se inserir-lhes nos corações e nas mentes pensamentos sobre as coisas santas, máxime sobre sua infinita bondade, poder e grandeza, e acerca da glória do paraíso, do prêmio preparado para quem o teme e ama. Via como a meu Pai muito apraziam tais ofertas e súplicas e mostrava-se pronto a conceder-me quanto lhe rogava. Com isto muito me alegrava, e agradecia-lhe. Este prazer, contudo, era bastante amargurado ao ver a pouca correspondência da maioria de meus irmãos. Não dão ouvidos às divinas inspirações, não sabem recrear-se senão com as coisas visíveis. Muitas vezes, como vos disse, todas as suas distrações são manchadas de culpas. Ofendem ao Pai e ao próximo, que devem amar e olhar com amor e caridade. Trazia-me algum conforto ver alguns que, na verdade, passam a recreação inteira a tratar do que eu desejava para a glória de meu Pai e proveito de suas almas.
RECOLHE-SE A ORAR.
Havendo estado por algum tempo em companhia da querida Mãe, afastava-me também dela e, genuflexo em terra num ato de humildade, orava ao Pai, e pedia-lhe com maior ardor pela salvação de meus irmãos. Nas orações que fazia, retirado à solidão, dava algum desafogo à dor que sentia. Então, mais do que nunca, se me representava ao vivo a multidão das ofensas feitas ao Pai. Via, um por um, todos os meus irmãos negligentes, a andarem pelo caminho da perdição. Não podendo então opor um dique a tantos males, suspirava e chorava essa dureza e obstinação. Oferecia os suspiros e as lágrimas ao querido Pai e pedia-lhe opusesse um dique qualquer a tantas ofensas. O Pai me ouvia com gosto e atendia as minhas súplicas. Oferecia-me inteiramente a Ele como remédio a tantas ofensas, expunha aos rigores de sua Justiça, desejoso de satisfazer plenamente a ela. Com isso redobrava as instâncias ao Pai: de que acelerasse o tempo de minha Paixão, a fim de que imediatamente, opusesse um dique a tantos males e se remediasse à ruína de tantas almas, a andarem para a perdição. Ainda ansiava porque a justiça divina fosse logo plenamente satisfeita devido a tantas ofensas recebidas. Sabendo que só a minha morte seria seria suficiente para aplacá-la e dar-lhe satisfação, desejava a chegada do tempo determinado, e todo momento parecia-me longo, devido ao anelo (desejo intenso) e à expectativa dela.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade