Estudo 36 Vida Intima de Ns Jesus Cristo – Escola da Divina Vontade

Vida Intima de Ns Jesus Cristo
Estudo 36 Vida Intima de Ns Jesus Cristo – Escola da Divina Vontade
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COM MARIA SANTÍSSIMA.

Ia, em seguida, ao encontro da querida Mãe. Logo que me via, consolava-se inteiramente pelo ímpeto do amor e do respeito à Majestade da divindade que em mim discernia, prostrava-se em terra adorando em mim a divindade e em seguida adorando-me como Filho de Deus. Erguia-se depois e acolhia-me amorosamente como seu Filho. Jamais se lamentou de minha demora em ir procurá-la, por mais que o amor lhe trouxesse para isso forte motivo. Se a encontrava em oração, o que era muito freqüente, punha-me também eu a orar com ela. Se a achava a trabalhar, entretinha-me com ela em sagrados colóquios. De qualquer modo que a encontrasse, trazia-lhe suma alegria. Durante a oração unia-a a mim de modo especial e elevava muito mais a sua mente à contemplacão das coisas divinas. Se trabalhava, recreava-lhe o espírito com profundos discursos, explicando-lhe as perfeições divinas; muito se afervorava e ficava bem instruída. Freqüentemente caía em êxtase ao ouvir pois eu o fazia com muita graça. Amiúde eu omitia isso, de modo que não podia se alegrar; senão, seu espírito de repente se elevava e ficava absorta em Deus. Desejava ela que todos aqueles que me ouvissem proferir uma palavra, o que acontecia muito raramente, fossem raptados e as almas daqueles que cativos de amor, como lhe sucedia. Mas, porque as almas daqueles que às vezes me ouviam não tinham as disposições que ela possuía, não se realizava seu desejo. Produzia em numerosas pessoas bem dispostas bons efeitos, principalmente nas simples criancinhas, as quais de bom grado se aproximavam de mim. Havendo tratado por algum tempo com a querida Mãe, afastava-me para retirar-me sozinho e rezar. Oferecia ao Pai aquele tempo tão bem empregado e aqueles santos entretenimentos, agradecia-lhe pelo consolo que minha pessoa trazia à querida Mãe e também a José, quando me entretinha com Ele. Reconhecia que tudo do Pai provinha e tudo referia a Ele, qual dono, como se nada possuísse de própria, conquanto tivesse a divindade. Oferecia-lhe este ato de humilhação em suplência por aqueles que, tendo recebido tudo de Deus, referem a si mesmos aqueles dons que em verdade receberam de meu Pai, só por bondade. Com estas ofertas vinha satisfazer à justiça divina, que as criaturas muito irritavam, por usurparem e referirem a si mesmas aqueles dons que lhe são distribuídos só por divina liberalidade. Com isto, tornam-se indignas e incapazes de receber novas graças.

Aplacava-se muito o Pai com estas ofertas e mostrava-se disposto a conceder novas graças tombem a esses tais, estas ofertas por minha causa, uma vez que  ao receberem nova luz e novas graças, muitos se rendem e, verificando o próprio erro emendam-se e reconhecem provir de Deus todo o bem que neles existe.  Suplicava também que por aquele entretenimento como minha querida Mãe, tão de seu agrado, se dignasse inserir nos corações de todos os meus irmãos vivo desejo de entreterem se com discursos santos e assuntos proveitosos ao espírito, a fim de que não só eles o praticassem, mas fizessem que também o próximo o cumprisse. Realmente esposa minha, esteja certa, de que as criaturas não fazem ação alguma, não tem pensamento, nem movimento, nenhuma palavra proferem que eu em tudo e por tudo, não lhes houvesse merecido as graças necessárias, a fim de o fazerem, com toda a perfeição requerida, para que todas as suas ações, sejam agradáveis ao Pai; por Ele aceitas,  façam-se dignas daquela recompensa que o Pai declarou dar-lhes com tanta liberalidade. Por isso, eu lhe oferecia as minhas operações, todas perfeitas e santas, e assaz agradáveis ao Pai, pois via as obras de meus irmãos tão imperfeitas, não merecedoras de prêmio, não aprazíveis ao Pai. Ele só pode apreciar as coisas perfeitas e santas, por ser a Santidade mesma. Ao receber todas as obras que eu lhe oferecia, em suplência pelas faltas de todos os meus irmãos, apraziam ao Pai as minhas obras, como se houvessem sido de meus irmãos e assim ficava plenamente satisfeito, enquanto eu fazia todas as minhas obras para a glória de meu Pai e para o bem de todos os meus irmãos, sem excluir um só. Depende deles o fato de não obterem o fruto de tantas obras minhas, pois se tornam indignos delas, quando não lhes dão importância alguma, nem atenção, querendo justamente viver na própria vileza e miséria, sem jamais voltar o pensamento para o que eu fiz por seu bem, a fim de oferecê-lo de novo ao Pai, o que muito lhe agradaria, e procurar imitar-me em todas as ações. Vivi na terra para deixar-lhes vivo exemplo do modo com o qual devem agir para se tornarem gratos a meu Pai, e dignos da eterna bem-aventurança.

JESUS EM ORAÇÃO.

Afastando-me da querida Mãe, retirava-me sozinho a orar por algum tempo, enquanto eles se dedicavam ao trabalho manual para ganharem o pão necessário, embora o espírito ficasse unido a mim na oração, principalmente o da querida Mãe, que com luz superior entendia tudo o que eu estava fazendo e unia-se a mim a orar. Estava eu, como de costume, de joelhos em terra, a cabeça inclinada, em ato humilde e reverente, devido à presença do Pai, com as mãos, ora juntas, ora cruzadas no peito, ora em forma de cruz — e isto era o mais frequente para manter a memória no modo com qual estava decretada a minha morte. Punha-me na  presença do Pai , e embora sempre o estivesse, não obstante no ato de orar, colocava-me assim, de modo especial e suplicante, porque, como fazia tudo por meus irmãos, representava a pessoa deles na presença do Pai. Antes adorava-o em nome de todas invocava sua ajuda. Muitas vezes, nas oracões que fazia, encontrava o Pai muito irado, pelas ofensas que continuamente recebia recebia e mostrava para comigo seu rigor, enquanto eu representava diante dele, todo o gênero humano.
Traspassava-me o Coração ver a cólera do Pai e então prostrado em terra, com lágrimas e suspiros, pedía-lhe quisesse se aplacar, oferecendo-me a sofrer os golpes de sua ira, e repetindo amiúde: ¨Meu coração, está pronto oh Deus! Dizia-lhe : “Pai amantíssimo, justa é a vossa ira, enquanto inumeráveis são as ofensas que recebeis continuamente. Mas rogo-vos aplacar-vos. Se bem que eu represente diante de vós todo o gênero humano, recordai-vos contudo que sou vosso Unigênito portanto, COMO tal, olhai-me! E por aquela complacência que em mim pusestes, pela obediência que eu vos prestei ao fazer-me homem, por estas lágrimas e suspiros, peço-vos aplacar a ira. Volvei também o olhar para a vida que devo viver de modo difícil, para a Paixão dolorosa, para a penosa morte. Por conseguinte, se tudo isto não é suficiente para aplacar-vos, segui, pois, a vossa ira e descarregai sobre mim os mais duros flagelos. Estou pronto a sofrê-los para aplacar-vos e satisfazer pelas ofensas que vós, de modo contínuo, infelizmente, recebeis do gênero humano“.

O peito irado de meu Pai enternecia-se com estas súplicas. De fato, mostrava-se aplacado, abraçando-me com amor paterno, qual próprio e verdadeiro Filho, e declarando pôr em mim toda a sua complacência. Neste ato amoroso, revelava-se aplacado também para com o gênero humano, por haver recebido de mim a devida satisfação em nome de todos. Ao verificar eu que o Pai estava aplacado, ia adiante e suplicava-lhe que, em virtude daqueles meus atos, tão de seu agrado, se dignasse dar semelhante sentimento a todos os meus irmãos, a saber, quando percebem que está irado contra eles, devido às ofensas recebidas, humilhem-se em sua presença e façam os devidos atos para aplacar a sua ira. Oferecendo-lhe os meus méritos, mostrem-se prontos também a dar-lhe, de seu lado, a devida satisfação, e protestem sofrer todas as penas que para satisfação de suas culpas a divina justiça enviar-lhes. Com estes atos, principalmente, aplaca-se a ira de Deus. Revelava-se muito inclinado o Pai a condescender com as minhas preces, e não deixa de dar luzes e graças R cada um para praticar os mencionados atos. Embora muitos não façam conta disso e em conseqüência não alcancem os devidos efeitos, o Pai amoroso jamais deixa de fazer tudo aquilo que me havia prometido. Mas, é tão grande a miséria humana e tanto se deixa cegar pelas próprias paixões e o amor de si mesma que, na maioria dos casos, torna-se insensível não só à graça e às luzes que lhe comunica meu Pai, mas também os golpes de sua ira, e atribui ora a um acidente, ora a outro, o que na verdade lhe é enviado pela justiça divina. Se não quer arrepender-se e humilhar-se com as luzes e com as graças, humilhe-se e corrija-se com os castigos. Considerava todas essas coisas e sentia muito pesar. Suplicava ao Pai tivesse piedade de tamanha miséria, que via em meus irmãos. O Pai se demonstrava muito amante e fazia-me ver como Ele, na verdade, faz todo o necessário para que possa cada um viver santamente e dizia-me: “Amado Filho, Que mais devo fazer, que não faça, para a salvação de cada um? Que amor, que solicitude mais diligente hei de ter, que não tenha, a cada um, em geral e em particular, segundo as respectivas necessidades?” Em verdade, ao ver quanto cuidado, amor e solicitude dedica o Pai a todas as criaturas, ficava muito confundido por parte delas e agradecia-lhe em nome de todas em geral e em particular, segundo a medida em que, por ser-lhes preciso, haviam recebido de meu Pai.

CONVIDA A MÃE E A JOSÉ AO LOUVOR COMUM

Tendo estado assim por algum tempo a orar em ato humilde, confirme dito acima, chegava a hora de cantar os louvores ao Pai, e inspirava os corações da querida Mãe e de José que se preparassem a unir-se a mim, para louvarmos o divino Pai. Vinha logo a querida Mãe com José, seu esposo; deixando imediatamente o trabalho, aproximavam-se de mim. Se me encontravam às vezes muito triste e lacrimejante, compreendendo a causa disso, consolavam-me com palavras compassivas e amorosas, tanto mais que era de pouca idade. Adiantavam-se para acariciar-me com grande afeto, sem jamais perder a reverência devida à Majestade que em mim divisavam. Agradavam-me muito aqueles santos afetos, principalmente os da amorosa Mãe; com isto, tinha algum alívio. Logo o oferecia ao Pai e pedia-lhe que, pelo alívio recebido daquelas almas santas, se dignasse consolar meus irmãos aflitos por intermédio de pessoas virtuosas comunicando-lhes a virtude de consolar por palavras as almas angustiadas. O Pai tudo me concedia. Realmente, esposa minha, jamais tinha algum alívio, de qualquer parte que fosse, que logo não pensasse em meus irmãos e procurasse obtê-lo também para eles. Tão grande era o amor a eles dedicado, que todos os meus pensamentos eram aplicados em merecer-lhes sempre novas graças e procurar que fossem auxiliados e aliviados em todas as necessidades.

OS LOUVORES DIVINOS

Começando depois a cantar os louvores divinos com a querida Mãe e José, alegravam-se muito seus corações e inflamavam-se cada vez mais no amor divino. Ouvindo-me, caíam em êxtase de alegria. Alegrava-me muito, também eu, ao ver que o Pai se comprazia naqueles louvores, principalmente por lhes estarem unidos ainda os meus. Neles encontrava perfeita glória e complacência. Estavam ali multidões de anjos em homenagem, a ouví-los; também eles, jubilosos, atônitos, ao escutar-me, louvavam o Pai e o exaltavam, pela obra realizada de mandar-me ao mundo, a mim, seu Unigênito, no qual tanto se comprazia. Naquele tempo, tornava-se o lugar onde eu habitava, mais do que Paraíso pois lá me achava eu que, estando unido à divindade, não me separava do Pai. Lá se encontrava ainda a querida Mãe, já constituída Rainha dos céus, e a multidão dos anjos, que se reputavam assaz favorecidos por serem admitidos a fazer-me a corte, a mim e a sua Rainha. Como tal, sempre reconheceram minha querida Mãe e a obsequiaram. Terminados os louvores divinos, oferecia-os, como de costume, ao Pai em nome de todos os meus irmãos e pedia-lhe, pela complacência que tinha em ouvir-me, se dignasse receber os louvores que lhe tributariam todos os meus irmãos e comprazer-se neles. Se não merecessem sua complacência, por não serem efetuados com a devida atenção e reta intenção, recebesse os meus em suplência dessas faltas. Na verdade, sabia que Pai nisto se comprazia, pois gosta muito de ser louvado pelas criaturas. Se os louvores, realmente, não partem de um ânimo muito iníquo e de um coração perverso — incapaz de louvar a seu Deus como deve e por isso de lhe causar gosto — aprecia todos os demais, embora não sejam dados inteiramente com a devida atenção, porque eu satisfiz por eles. Compadecendo-se da fragilidade humana, o Pai neles se compraz, considerando os méritos de minha pessoa. E como, terminados os louvores divinos, ficava com vivo desejo de louvá-lo novamente, sem jamais me cansar, oferecia tal anelo ao Pai e pedia-lhes e dignasse dar a todos os m irmãos vivo anseio de louvá-lo continuamente. Neste louvor não tivessem tédio ou tristeza, mas consolo de espírito, ao refletirem que davam com aqueles louvores sumo prazer ao Criador. Prometeu-me fazê-lo o Pai, contanto que aqueles que se põem a louvá-lo, façam-no com as devidas disposições. Como Ele gosta de ser louvado, dará consolo e gosto também àqueles que o louvam. Mas, se estes depois pensam em tudo, menos em dar gosto a seu Criador, é certo que o Pai não lhes concederá aquele gosto que protestou dar-lhes. Se este nisso pouco se compraz, é certo que eles, em conseqüência, sentirão pouco ou nada, enquanto do prazer do Pai resulta o gosto deles, pois o Pai se mostra liberal para quem não é avaro neste ponto e faz-se muito aprazível às criaturas das quais recebe gosto e prazer. Ao ver que nisto andavam muito omissos todos os meus irmãos e muito poucos eram os que, realmente, o louvariam como deviam, sentia grande pesar, em vista do diminuto prazer de meu Pai e da pouca vantagem e consolação que eles obtinham. Terminadas as ofertas e havendo alcançado do Pai quanto desejava para meus irmãos, agradecia-lhe e oferecia-lhe estes agradecimentos em nome de todos, a fim de suprir pelas faltas de todos nesta parte. Agradecia-lhe ainda por parte de todos aqueles que o Pai escolheu para o exercício tão santo de louvá-lo por vocação e de modo particular, graça muito grande e de poucos conhecida e estimada. Por esta razão, muitos falham neste ponto, não dão ao Pai as devidas graças por havê-los escolhido e destinado a tão santo exercício que traz tamanha glória e prazer ao Pai, e é tão útil a eles, porque a cada palavra podem merecer um grau de glória, assim como dão glória ao Pai mediante cada palavra.

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