A BENÇÃO DOS CAMPOS
Prosseguindo a viagem, pedia ao Pai abençoasse todas as estradas por onde passava e, levantando a destra, ia abençoando o campo enquanto suplicava ao Pai, desse naquele ano fertilidade às terras que por mim tivessem sido abençoadas, para que todo elemento fosse fecundado pela benção de seu Criador. Voltando o pensamento a meus irmãos, pelos quais tinha vindo ao mundo, pedia ao Pai abençoasse as almas de todos aqueles, pelas mentes dos quais houvesse eu passado, isto é, daqueles que mentalmente vão meditando a minha vida para imitá-la e, discorrendo por todas as minhas obras, reproduzem-nas em si num retrato vivo. Abençoava-os e pedia ao Pai que os abençoasse, a fim de que, com a sua benção, cresçam nas virtudes e produzam aqueles frutos que meu Pai deles pretende e sejam férteis nas boas obras. Como terra abençoada não estejam sujeitos esterilidade, mas fecundados pela benção celeste, fiquem repletos de obras virtuosas, dêem o fruto desejado e se tornem dignos de novas bençãos e novas graças.
OS TRANSEUNTES OLHAM
Encontrei depois e fui visto, nesta caminhada, por muitos que me olhavam com gosto e admiração, descobriam em meu rosto rara beleza e majestade, mas ainda admirável atração, de modo que os ânimos de quantos me olhavam, sentiam-se muito fortemente inclinados ao afeto para comigo. A minha presença, no entanto produzia efeitos diferentes nas almas. As que estavam em graça, sentiam-se atraídas por amor veemente e sincero para comigo e por reverência e submissão a minha pessoa. Não entendiam, porém, donde provinham estes efeitos, e acreditavam procederem da beleza de minha fisionomia e da graça de toda a minha pessoa.
Por isso, aproximavam-se de minha querida Mae, chamando-a afortunada por possuir tal filho. Embora se sentissem muito atraídos pelo afeto e amor para comigo, nenhum teve, contudo, a ousadia de aproximar- e de mim para fazer-me aquelas demonstrações que o amor costuma causar. Porque o amor que minha pessoa inseria nos corações era um amor cordial e simultaneamente reverencial; por esta razão ficavam muito mais admirados, enquanto descobriam em mim a admirável atração e ao mesmo tempo a reverencia que para comigo sentiam em si mesmos.
Suplicava ao Pai que lhes acrescentasse na alma nova graça e luzes particulares, para desejarem com maior ardor a vinda do Messias, poderem perceber a plenitude dos tempos e que já chegara a hora de obterem o que tanto almejavam. Pai dava a graça e as luzes às almas, para se disporem à fé e ao recebimento de minha pessoa, quando a eles me manifestasse abertamente. Com isto, o espirito deles ficava muito confortado e confirmado na promessa de minha vinda ao mundo, e com estes bons efeitos inflamavam-se de amor a meu Pai e do desejo de servi-lo com toda a perfeição e do anelo de ver-me e servir-me a mim, seu dileto Filho e Messias prometido.
Alegrava-me muito com essas almas e impetrava-lhes novas graças e luzes celestes. A minha vista causava, contudo, efeito diverso nas almas daqueles que estavam no desfavor de meu Pai, por estarem maculadas de culpa grave. Estas, ao encontrar-me, não ousavam levantar os olhos para fitar-me e aterrorizadas pela majestade de meu semblante, experimentavam grandes remorsos de consciência. As trevas de suas culpas eram atingidas pelos raios de minha divindade, e eles sentiam grande confusão. Ao pedir ao Pai que lhes concedesse naquele instante luz particular para conhecerem a própria miséria e o estado infeliz em que se encontravam, suplicava lhes desse também graça e força para se penitenciarem, a saber, arrependendo-se dos próprios erros, recuperassem o estado de graça e a sua amizade. Muitos, nesta ocasião, se desembaraçaram de seus erros e prevaleceram-se da graça outorgada por meu Pai. Embora não entendessem de que modo lhes advinha tal graça, sentiam efeitos antes não existentes e pensavam ter chegado o tempo no qual Deus queria revelar as suas misericórdias infinitas. Agradecia ao Pai por todas essas graças e por se ter dignado operar por meu intermédio as misericórdias que me foram por Ele prometidas, quando foram por mim reclamadas.
CANTICOS DE LOUVOR
Continuei a jornada, desejoso de chegar ao Templo para poder manifestar as obras divinas. Quando já próximo e vendo a cidade para onde caminhávamos, cantei junto com a querida Mãe e José, novo cântico de louvor ao Pai antes de entrar na cidade.
Ao ingressar nesta, supliquei ao Pai fizesse todos as seus habitantes e todas as almas justas que lá se encontravam sentirem novo júbilo de espírito, e os pecadores terem vivo desejo da própria conversão, isto é, cada qual experimentasse em si os efeitos de minha vinda. Meu Pai fê-lo prontamente e todas as almas justas se inflamaram de vivo desejo da vinda do Messias prometido e apresentavam ardentes súplicas ao Pai. Mesmo muitos pecadores se utilizaram das luzes e graças divina e propuseram-se a emenda dos próprios erros. Assim, de fato, fizeram.
DIRIGEM-SE AO TEMPLO
Havendo agradecido ao amoroso Pai por tudo o que operava, também por parte de todos aqueles que tiravam proveito da graça divina, dirigimo-nos ao Templo, sem tomar antes qualquer alimento, apesar de termos disso grande necessidade, devido ao cansaço da viagem. Suportei o sofrimento e pedi ao Pai, desse força e graça a minha querida Mãe e a José de modo a não sentirem necessidade de reconfortante. Com as almas refeitas por sua visita, também os corpos fossem restaurados e fortificados para orarem no Templo. Meu Pai atendeu e agradecemos-lhe juntos esta graça.
Depois supliquei fizesse favor semelhante a todos aqueles que, atraídos pelo divino Espirito, dirigem-se ao Templo e afadigando-se e sofrendo bastante para irem adorá-lo nos lugares santificados por minha presença, quase nada tem com que se refazerem. Digne-se conceder às almas nova graça e aos corpos nova força e ânimo, a fim de não sentirem tanto o padecimento e a consolação espiritual Ihes sirva ainda de restauração corporal. O Pai prometeu fazê-lo, como efetivamente o realizou e vai realizando, em favor de tantos de seus servos. Agradeci-Ihe ainda por isso, por parte de todos os que haveriam de receber tal graça.
NO TEMPLO.
Tendo ingressado no Templo, prostramo-nos juntos por terra para adorar o Pai, como já costumávamos fazer todas as vezes que lá me levavam minha querida Mãe e José, seu esposo. Embora quando lá estava, meu Pai sempre operasse grandes misericórdias para com seu povo, desta vez, contudo, foram maiores e em maior abundância, por ser a primeira vez que aí demonstrei minha celestial doutrina e sabedoria divina.
Tendo adorado o Pai, disse-lhe: “Eis, meu divino Pai. Vim ao Tempo para cumprir a tua vontade. Peço-te, portanto, te dignes cumprir os desejos de meu Coração que tendem somente a tua maior glória e proveito de meus irmãos. Dá-me amor, virtude e forças para manifestar as tuas obras divinas, tornar conhecidas de todos as tuas misericórdias e revelar a minha vinda ao mundo.¨
Este meu humilde pedido agradou ao Pai, porque sendo eu a própria Sabedoria, humilhei-me diante dele como criatura vil e necessitada de sua divina ajuda, e disse-me, com grande amor: “Tu ès meu Filho amado, no qual ponho minhas complacências. Todos os tesouros de minha sabedoria e ciência estão depositados em ti. Por isso, quem te ouvir, há de te engrandecer, louvar e exaltar, todo admirado de tua sabedoria, graça e doutrina celestial.”
Agradeci ao Pai a resposta amorosa e pedi-lhe por esta complacência que tinha em mim, e por meu humilde pedido, se dignasse conceder a todos os meus irmãos sentimento humilde e modesto a respeito de si mesmos, principalmente aos dotados de sabedoria e doutrina, para reconhecerem claramente que tudo lhes é comunicado pelo Pai, e por mais que lhes pareça haverem adquirido virtude pelas próprias fadigas, sem a ajuda e a graça de meu Pai, nada teriam podido aprender.
Por isso, cada um reconheça provir a sua virtude da graça de Deus, e como tal, sirva-se dela para sua honra e glória. Ofereci ainda ao Pai aquela minha adoração, reverência e homenagem, em suplência pelas irreverências que todos os meus irmãos cometem no Templo. Vi naquele instante todas aquelas ofensas que meu Pai devia receber nos Templos sagrados, e como estes deviam ser profanados pela iniquidade das criaturas.
Foi tamanho o ressentimento e a dor que senti por esta razão, que dos olhos me correram as lágrimas, as quais ofereci ao Pai em satisfação por todas a ofensas que nos lugares sagrados lhe infligiriam, não só os maus cristãos, mas ainda aqueles mesmos dedicados ao seu culto e serviço. Como foi intensa a dor que senti por isto! Jamais o entenderá a mente humana. Se não fosse a minha divindade a me sustentar, haveria morrido de pura dor. Ofereci também tal dor ao Pai, para se aplacar em relação a meus irmãos, e pedi-lhe não lhes aplicasse os severos castigos que, infelizmente, mereceriam por tanta temeridade e imprudência, ao ousarem ofender o Criador no próprio lugar onde Ele habita de modo especial a fim de ouvir lhes as orações e dispensar-lhes as suas graças.
O Pai recebeu quanto eu lhe oferecia e mostrou-se aplacado, prometendo-me suspender o castigo que eles haviam merecido. Agradeci-lhe e exaltei sua infinita bondade e misericórdia e pedi-lhe que jamais se apartasse dos lugares sagrados por mais que lá fosse muito ofendido, oferecendo-me e apresentando-me qual vítima inocente , continuamente ofertada em satisfação de todas as ofensas que ali e em todos os lugares houvesse recebido. Dizia-lhe com grande sentimento: “Eis, Pai amantíssimo, o vosso Filho Unigênito, que se oferece a vós, em suplência pelas faltas de todo o gênero humano e em satisfação por todas as suas culpas. Aceitai esta oferta e descarregai sobre mim os rigores de vossa justiça. No intuito de vos aplacardes e ficardes satisfeito, tudo sofrerei de bom grado por vossa glória, por vossa honra e pela remissão dos pecados de todos os meus irmãos.”
Meu Pai se movia a piedade e abraçando-me com amor, mostrava-se inteiramente aplacado, dizendo-me: “Tempo virá, Filho, em que darás plena e superabundante satisfação à minha justiça. Apesar de ser superabundante a mínima de tuas obras e pagar todas as ofensas a mim infligidas pelo gênero humano, não obstante serão cumpridos os desejos de teu Coração e da minha vontade, com o derramamento de todo o teu sangue pela Redenção humana.”
Alegrava-me muito com isso e oferecia-me de novo ao Pai, pedindo-Ihe fizesse chegar logo a hora almejada, na qual pudesse tornar conhecido ao mundo todo o amor infinito que dedicava a meu Pai, ao querer satisfazer plenamente a sua justiça. Também, o amor que devotava ao gênero humano, dando por ele o sangue, a vida e quanto havia em mim. Tudo serviria para seu resgaste e para merecer-lhe a glória eterna.
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