57. Em Nazaré com Judas Tadeu e com outros seis discípulos.
31 de outubro de 1944.
57.1 Jesus chega com o primo e os seis discípulos nas proximidades de
Nazaré. Do alto do outeiro onde se encontram vê-se a pequena cidade,
branca entre o verde, subindo e descendo pelas encostas sobre as quais ela
está construída, um doce ondular de encostas, num ponto apenas percebido e
noutro, mais acentuado.
– Já chegamos, amigos. Eis ali a minha casa. Minha mãe lá está, porque
a fumaça se está levantando da casa. Talvez ela esteja fazendo o pão. Eu não
vos digo: “Ficai”, porque penso que deveis estar ansiosos para chegar em
vossas casas. Mas, se quiserdes partir o pão Comigo e conhecer aquela que
João já conhece, então, Eu vos digo: “Vinde.”
Os seis, que já estavam tristes pela iminente separação, voltam a ficar
alegres, e aceitam de coração.
– Então vamos.
Descem rapidamente a pequena colina e pegam a rua mestra. A tarde
vem chegando. Ainda faz calor, mas as sombras já descem sobre o campo,
onde os cereais já estão amadurecendo.
Entram na cidade. Mulheres que vão e vêm da fonte, homens às soleiras
das pequenas oficinas, ou nas hortas, saúdam a Jesus e a Judas.
Os meninos se aglomeram ao redor de Jesus.
– Já voltaste?
– Agora vais ficar aqui?
– Quebrou-se de novo a roda do meu carrinho.
– Sabes, Jesus? Nasceu minha irmã e deram a ela o nome de Maria.
– O mestre me disse que eu sei tudo e que sou um verdadeiro filho da
Lei.
– Sara não está porque está com a mãe muito doente. Chora porque tem
medo.
– Meu irmão Isaque se casou. Houve uma grande festa.
Jesus escuta, acaricia, elogia, promete ajudar.
57.2E assim chegaram à casa. E sobre a soleira já está Maria, que foi
avisada por um rapazinho atencioso.
– Meu Filho!
– Mãe!
Os dois se abraçam. Maria, muito mais baixa que Jesus, está com a
cabeça apoiada no alto do peito do Filho, fechada entre o círculo dos seus
braços. Ele a beija sobre os cabelos loiros. Entram em casa.
Os discípulos, incluindo Judas, ficam lá fora, para deixarem livres os
dois em suas primeiras expansões.
– Jesus, meu Filho!
A voz de Maria está trêmula, como a de quem está com as lágrimas na
garganta.
– Por que estás assim, mãe?
– Ó Filho! Disseram-me… No Templo estavam os galileus, os
nazarenos, naquele dia… Eles voltaram… E contaram… Ó Filho!…
– Mas tu o estás vendo, mãe! Eu estou bem. Nenhum mal veio sobre
Mim. Só veio a glória a Deus em sua Casa.
– Sim. Eu sei, Filho do meu coração. Sei que foi como o toque da
trombeta, despertando os que dormem. E, pela glória de Deus, eu me sinto
feliz… feliz que este meu povo desperta para Deus. Eu não te censuro… eu
não te ponho obstáculo… eu te compreendo… e… e fico feliz… mas eu te
gerei, eu, meu Filho!…
Maria está ainda envolvida pelo abraço de Jesus e falou, com as
mãozinhas abertas e apoiadas sobre o peito do Filho, a cabeça levantada
para Ele, os olhos mais brilhantes pelo pranto que está prestes a descer;
agora se cala, apoiando novamente a cabeça sobre o peito Dele. Parece uma
rolinha cinzenta, vestida como está com uma veste acinzentada, sob a
proteção de duas fortes asas de candor, pois Jesus ainda está com sua veste e
o manto branco.
– Mãe! Pobre mãe! Querida mãe!…
Jesus a beija outra vez. 57.3Depois, diz:
– E então, não estás vendo? Eu estou aqui e não estou sozinho .Tenho
Comigo os meus primeiros discípulos, e ainda outros que ficaram na Judéia.
Também o primo Judas está Comigo e agora me segue…
– Judas?
– Sim, Judas. Eu sei porque é que estás admirada. Certamente, entre os
que falaram do que aconteceu, estavam Alfeu com seus filhos… e não erro
se disser que eles me criticaram. Mas, não tenhas medo. Hoje é assim,
amanhã não será mais assim. O homem tem que ser cultivado como a terra e
onde hoje há espinhos, amanhã haverá rosas. Judas, que tu amas, já está
Comigo.
– Onde ele está agora?
– Ali fora, com os outros. Tens pão para todos?
– Sim, Filho. Maria de Alfeu está junto ao forno desenfornando os pães.
Muito boa é Maria para comigo; especialmente numa hora destas.
– Deus lhe dará glória!
Vai até à porta e chama:
– Judas! Tua mãe está aqui! Amigos, vinde!
Eles entram e saúdam. Judas beija Maria. Só depois corre em direção à
sua mãe.
Jesus diz os nomes dos outros cinco: Pedro, André, Tiago, Natanael e
Filipe; porque João, já conhecido de Maria, saudou-a logo depois de Judas,
inclinando-se e recebendo dela a bênção.
57.4Maria os saúda e os convida a se sentarem. Ela é a dona da casa e,
mesmo adorando com o olhar o seu Jesus, ocupa-se com os hóspedes; parece
que sua alma continua a falar, com os olhos, ao seu Filho. Ela queria ir
buscar água para matarem a sede. Mas Pedro dispara:
– Não, mulher. Não posso permitir isso. Assenta-te perto do teu Filho, ó
mãe santa. Eu irei; nós iremos refrescar-nos lá na horta.
Chega Maria de Alfeu toda corada e enfarinhada e saúda Jesus, que a
abençoa; depois leva os seis até à horta, ao tanque, e volta feliz.
– Oh! Maria! –diz à Virgem–. Judas me falou. Como estou contente! Por
Judas e por ti, minha cunhada. Eu sei que os outros vão ralhar comigo. Mas
não me importa. Serei feliz no dia em que souber que todos eles são de
Jesus. Nós, mães, sabemos… percebemos o que é bom para os filhos. E eu
percebo que o bem de meus filhos és Tu, Jesus.
Jesus lhe faz uma carícia sobre a cabeça, sorrindo.
Voltam os discípulos. Maria de Alfeu lhes serve um pão cheiroso,
azeitonas e queijo. Leva também uma pequena ânfora de vinho tinto que
Jesus serve aos seus amigos. É sempre Jesus quem oferece e depois
distribui.
57.5Um pouco embaraçados, a princípio, os discípulos depois se tornam
mais corajosos e falam de suas casas, da viagem a Jerusalém e dos milagres
acontecidos. Agora eles estão cheios de zelo, de afeto. Pedro procura fazer
de Maria uma sua aliada, para conseguir que sejam logo tomados por Jesus
sem ter que esperar até que chequem em Betsaida.
– Fazei tudo que Ele diz –exorta ela, com um suave sorriso–. Esta
espera vos será mais útil do que uma aliança imediata. O meu Jesus faz bem
tudo que faz.
A esperança de Pedro morre. Mas ele se resigna e se sai bem. Só faz
esta pergunta:
– Essa espera durará muito?
Jesus olha para ele com um sorriso, mas não diz nada.
Maria interpreta aquele sorriso como um bom sinal, e diz:
– Simão de Jonas, Ele está sorrindo… e por isso, eu te digo: rápido,
como o vôo de uma andorinha sobre o lago será o tempo da tua obediente
espera.
– Obrigado, mulher.
57.6 – Não falas nada, Judas? E tu, João?
– Estou olhando para ti, Maria.
– E eu também.
– Eu também olho para vós e… sabeis de uma coisa? Está vindo à minha
lembrança uma hora que já vai longe. Também eu, naquele tempo, tinha
sempre três pares de olhos fixados em meu rosto com amor. Lembras-te
Maria, dos meus três discípulos?
– Oh! Se me lembro! É verdade! Também agora, há três quase da mesma
idade que olham para ti com todo amor que podem ter. E este aqui, o João,
eu penso, me parece o Jesus daquele tempo: tão loiro e rosado, o mais novo
de todos.
Os outros querem saber, e as recordações e anedotas fluem em meio à
conversação, enquanto o tempo passa. Chega a tarde.
– Meus amigos, Eu não tenho cômodos. Mas ali é a oficina onde eu
trabalhava. Se quiserdes abrigar-vos nela… Mas lá só há os bancos do
ofício.
– Leito confortável é este para pescadores acostumados a dormir sobre
estreitas tábuas. Obrigado, Mestre. Dormir debaixo do teu teto é honra e
santificação.
Retiram-se com muitas saudações. Judas também se retira com sua mãe
e vão para sua casa.
Neste quarto ficam Jesus e Maria, sentados sobre o arquibanco, à luz de
uma pequena candeia, um braço ao redor das costas do outro. Jesus narra e
Maria escuta contente, trêmula e feliz…
Assim cessa a visão.
58. Cura de um cego em Cafarnaum após uma lição de pesca aplicada às almas.
7 de outubro de 1944.
58.1 Jesus diz, e logo a tranqüilidade penetra em mim; e a alegria dessa
tranqüilidade luminosa torna-me risonho o coração:
– Vê como lhe agradam os episódios dos cegos. Demos-lhe um outro
deles.
E eu vejo.
58.2Vejo um belíssimo pôr-do-sol de verão. O sol encheu de fogo todo o
poente e o lago de Genezaré tornou-se uma imensa laje incandescente sob um
céu aceso.
As ruas de Cafarnaum mal começam a se encher de gente: mulheres que
vão à fonte, homens, pescadores que preparam as redes e os barcos para a
pesca noturna, meninos que correm brincando, pequenos jumentos que vão
indo para o campo com seus cabazes, talvez para trazerem verduras.
Jesus aparece em uma porta que dá para um pequeno pátio sombreado
por uma videira e uma figueira, além do qual há uma viela pedregosa que
margeia o lago. Deve ser a casa de Pedro (ao invés, é a casa da sogra de
Pedro)[102]
, porque ele está com André à margem; estão no barco preparando
as cestas e as redes para os peixes, pondo em ordem os bancos e os rolos de
cordas. Tudo, em suma, o que é necessário para a pesca. André o está
ajudando, indo e vindo da casa ao barco.
58.3 Jesus interpela o seu apóstolo:
– Vai ser boa a pesca?
– O tempo está favorável. A água está calma, e a lua vai ser clara. Os
peixes emergirão das profundezas e a minha rede os arrastará consigo.
– Iremos sozinhos?
– Oh! Mestre! Como queres que façamos, com este sistema de redes, se
ficarmos sozinhos?
– Eu nunca pesquei e espero que tu me ensines.
Jesus vai descendo muito devagar em direção ao lago e pára à margem
da areia grossa e pedregosa, junto ao barco.
– Vê, Mestre: é assim que se faz. Eu saio ao lado do barco de Tiago,
filho de Zebedeu e vamos assim, um ao lado do outro até o ponto bom para a
pesca. Depois se desce a rede. Nós costumamos segurar uma ponta. Tu a
queres segurar, me disseste isto.
– Sim, se me disseres o que devo fazer.
– Oh! Basta tomar cuidado com a descida. Que a rede vá descendo
devagar e sem fazer nós. Devagar, porque estaremos em áreas de pesca e
qualquer movimento muito brusco pode espantar os peixes. E sem nós, para
que a rede não fique fechada, pois ela deve ir sendo aberta como uma bolsa,
ou como um véu, se te agrada assim, que vai sendo enchida pelo vento.
Depois, quando a rede já foi toda descida, iremos remando devagar, ou
iremos com a vela, conforme for necessário, fazendo um semicírculo sobre o
lago; quando o vibrar da estaca de segurança nos disser que a pesca foi boa,
dirigiremos o barco para a terra e lá perto da beira içaremos a rede; não
antes, para não nos arriscarmos a ver escapar a presa, nem depois para não
estragar os peixes nem as redes sobre as pedras. Neste ponto é preciso ter
olhos atentos porque os barcos devem estar muito próximos para que de um
se possa recolher a ponta da rede dada pelo outro, mas sem se bater para não
esmagar o saco cheio de peixes. 58.4Eu confio em Ti, Mestre, pois este é o
nosso pão. Olhos na rede, para que não se arrebente com as sacudidas. Os
peixes defendem a sua liberdade com fortes golpes de cauda e se forem
muitos… Tu entendes… São pequenos animais, mas reunidos em dez, em
cem, em mil, tornam-se fortes como o Leviatã.
– É como acontece com as culpas, Pedro. Sendo a primeira, aindanão é
irreparável. Mas, se alguém não toma cuidado, não limitando-se àquela, vai
acumulando, acumulando… acabará acontecendo que aquela pequena culpa,
talvez uma simples omissão, uma simples fraqueza, vai se tornando sempre
maior, passe a ser um hábito, e se transforme em um vício capital. Às vezes,
começa-se por um olhar concupiscente e se termina por um adultério
consumado. Às vezes, por uma falta de caridade de palavras contra um
parente, acaba-se por uma violência contra o próximo. Ai de quem começa e
deixa que as culpas aumentem de peso, por seu número! Tornam-se
perigosas e prepotentes como a própria Serpente infernal e arrastam para o
abismo da Geena.
– Falas bem, Mestre… Mas, somos tão fracos!
– Advertência e oração para ser fortes e obter ajuda e uma firme vontade
de não pecar. Depois, uma grande confiança na amorosa justiça do Pai.
– Tu dizes que Ele não será muito severo com o pobre Simão?
– Com o velho Simão, Ele até que podia ser severo. Mas com o meu
Pedro, o homem novo, o homem do seu Cristo… não, Pedro. Ele te ama e te
amará.
– E eu?
– Também tu, André; e contigo, João e Tiago, Filipe e Natanael. Vós
sois os meus primeiros eleitos.
58.5 – Virão outros? Tem o teu primo, e na Judéia…
– Oh! Muitos. O meu Reino está aberto a todo o gênero humano e em
verdade Eu te digo que mais abundante do que a mais abundante de tuas
pescas será a minha nas noites dos séculos… Porque cada século é uma
noite, na qual é guia e luz, não a pura luz do Orion ou aquela da navegante
lua, mas, a palavra de Cristo e a Graça que Dele virá; noite que conhecerá a
aurora de um dia sem fim, de uma luz na qual todos os fiéis irão viver, de um
sol que revestirá os eleitos e os fará belos, eternos, felizes como uns deuses.
Deuses menores, filhos de Deus Pai e semelhantes a Mim… Por enquanto,
não podeis compreender. Mas em verdade Eu vos digo que a vossa vida
cristã vos concederá semelhança com o vosso Mestre, e resplandecereis no
Céu pelos próprios sinais dele. Pois bem, Eu terei, não obstante a inveja de
Satanás e a vontade fraca do homem, uma pesca mais abundante do que a tua.
– Mas, só nós é que seremos teus apóstolos?
– Ciumento, Pedro? Não. Não o sejas. Outros virão, e no meu coração
haverá amor para todos. Não sejas avarento, Pedro. Tu ainda não sabes
Quem te ama. Já contaste alguma vez as estrelas? E as pedras do fundo deste
lago? Não. Não poderias. Mas, menos ainda, irias poder contar as
palpitações de amor de que é capaz o meu coração. Pudeste alguma vez
contar quantas vezes este mar beija a margem com o seu beijo de ondas no
curso de doze luas? Não. Não poderias. Mas, menos ainda poderias contar
as ondas de amor que deste coração se derramam para beijar os homens.
Esteja certo, Pedro, do meu amor.
Pedro pega a mão de Jesus e a beija. Está comovido.
André olha e não ousa fazer o mesmo. Mas Jesus lhe põe a mão por
entre os cabelos e lhe diz:
– Também te amo muito. Na hora da tua aurora, verás, refletido na
abóbada do céu, sem que precises levantar teus olhos, o teu Jesus sorridente,
que te dirá: “Eu te amo. Vem”; e a tua passagem por essa aurora te será mais
doce do que a entrada numa câmara nupcial…
58.6 – Simão! Simão! André! Estou chegando…
João chega apressado:
– Oh! Mestre! Eu te fiz esperar?
João olha para Jesus com seu olhar amoroso.
Responde Pedro:
– Verdadeiramente, eu já estava começando a pensar que não viesses
mais. Prepara logo o teu barco. E Tiago?…
– Aí está… nós ficamos atrasados por causa de um cego. Ele estava
pensando que Jesus estivesse em nossa casa e foi para lá. Então, nós lhe
dissemos: “Ele está em algum outro lugar. Talvez amanhã Ele te cure.
Espera.” Mas ele não queria esperar. Tiago lhe dizia: “Tens esperado tanto a
luz, que te custa esperar mais uma noite?” Mas ele não quer saber de
razões…
– João, se tu fosses cego, não terias pressa de rever a tua mãe?
– Ah! Sem dúvida!
– E então? Onde está o cego?
– Ele vem vindo com o Tiago. Está agarrado ao manto de Tiago e não o
solta. Mas vem vindo devagar, porque a margem é pedregosa, ele tropeça…
Mestre, me perdoas, por ter sido duro?
– Sim. Mas para compensar, vai ajudar o cego e o traz a Mim.
João vai correndo.
Pedro sacode um pouco a cabeça, mas se cala. Olha para o céu que
começa a ficar azul depois de ter estado tanto tempo cor de cobre; olha para
o lago, olha para os outros barcos que já saíram para a pesca e suspira.
– Simão?
– Mestre?
– Não tenhas medo. Terás uma pesca abundante, ainda que saias por
último.
– Desta vez também?
– Todas as vezes que tiveres caridade Deus usará para contigo da graça
de abundância.
58.7 – Eis o cego.
O pobre homem avança entre Tiago e João. Ele tem nas mãos um bastão,
mas não está servindo-se dele agora, pois acha mais seguro confiar nos
dois.
– Pronto, homem! O Mestre está na tua frente.
O cego se ajoelha:
– Meu Senhor, piedade!
– Queres ver? Levanta-te. Desde quando és cego?
Os quatro apóstolos se agrupam ao redor dos dois.
– Faz sete anos, Senhor. Antes, eu via bem e trabalhava. Eu era ferreiro
em Cesaréia Marítima e ganhava bem. O porto, os muitos negócios, sempre
precisavam de mim para trabalhos. Mas, ao bater um ferro de âncora, e
podes fazer idéia de como devia estar vermelho para se tornar macio ao
golpe, soltou-se um estilhaço incandescente e me queimou um olho. Eu já
estava com os dois doentes por causa do calor da forja. Perdi o olho que foi
atingido e o outro também se foi, três meses depois. Acabei com minhas
economias e agora vivo de caridade…
– És sozinho?
– Tenho esposa e três filhos pequenos… de um deles eu nem sei como é
o rosto… e tenho minha mãe, já idosa. Contudo, agora é ela e minha mulher
que ganham para um pouco de pão; com isto e com a esmola que eu ajunto,
não se morre de fome. Se me curasses!… Eu voltaria ao trabalho. Não
desejo senão trabalhar, como um bom israelita e dar um pão àqueles que eu
amo.
– E vieste a Mim? Quem foi que te contou?
– Um leproso que Tu curaste aos pés do monte Tabor, quando ias de
volta para o lago, depois daquele tão belo discurso.
– Que foi que ele te disse?
– Que Tu podes tudo. Que és a saúde dos corpos e das almas. Que és luz
para as almas e para os corpos porque és a Luz de Deus. Ele, o leproso,
havia ousado misturar-se com a multidão, correndo o risco de ser
apedrejado, todo envolvido num manto, porque ele te havia visto passar
dirigindo-se para o monte; o teu rosto tinha colocado em seu coração uma
esperança. Ele me disse: “Eu vi naquele rosto qualquer coisa que me disse:
‘Ali está a saúde. Vai!’ E eu fui.” E assim me repetiu o teu discurso,
dizendo-me que Tu o curaste, tocando-o com a tua mão sem repugnância. Ele
estava voltando dos sacerdotes depois da purificação. Eu o conhecia, porque
eu já tinha trabalhado para ele, quando ele tinha uma loja em Cesaréia. Eu
vim perguntando por Ti pelas cidades e povoados. Agora Te achei… Tem
piedade de mim!
58.8 – Vem. É bem viva ainda a luz para alguém que vem da escuridão.
– Vais curar-me, então?
Jesus o guia em direção à casa da sogra de Pedro, à pouca luz que ainda
há no pequeno pomar e o põe à sua frente, mas de tal modo que os olhos, ao
ficarem curados, não fossem ter como primeira visão, o lago, ainda todo
cheio de reflexos de luz. O homem parece um menino muito dócil, deixa
Jesus fazer como quer, sem lhe perguntar o porquê.
– Pai! A tua luz a este filho!
Jesus estendeu as mãos sobre a cabeça do homem que está de joelhos.
Ele fica assim por um instante. Depois Jesus molha as pontas dos dedos na
saliva e, com a direita, toca-as de leve sobre os olhos abertos, mas sem
vida.
Um instante. Em seguida, o homem move as pálpebras e as esfrega como
quem sai do sono, mas está ainda com uma névoa nos olhos.
– Que estás vendo?
– Oh! Oh!… oh, Deus eterno! Parece-me… parece-me… oh! que eu
estou vendo… estou vendo a tua veste… é vermelha, não é? E uma mão
branca… e uma cinta de lã… oh! bom Jesus… estou vendo cada vez melhor,
vou-me acostumando a ver… Ali está a erva do chão… aquilo certamente é
um poço, e ali está uma videira…
– Levanta-te, amigo.
O homem, que chora e ri ao mesmo tempo, se levanta e, depois de um
instante de luta entre o respeito e o desejo, ergue o rosto e encontra o olhar
de Jesus. Um Jesus sorridente, cheio de piedade e de amor. Deve ser muito
belo recuperar a vista e ver, como primeiro sol, aquele rosto! O homem dá
um grito e estende os braços. É um ato instintivo. Mas ele se refreia.
Mas é Jesus quem lhe abre os braços e atrai para Si o homem, que é
muito mais baixo do que Ele.
– Vai agora para tua casa, sê feliz e justo. Vai com a minha paz.
– Mestre, Mestre! Senhor! Jesus! Santo! Bendito! A luz… Eu vejo…
vejo tudo… Ali está o lago azul e o céu sereno, e os últimos raios de sol, e
lá a primeira sombra da lua… Mas o azul mais belo e sereno eu o vejo nos
teus olhos e em Ti vejo a beleza do sol mais verdadeiro, e resplandecer a
pureza da mais santa lua. Astro dos doentes, Luz dos cegos, Piedade viva e
operante!
– Luz dos espíritos, Eu sou. Sê tu um filho da Luz.
– Sempre, Jesus. A cada batida da minha pálpebra sobre a pupila
renascida, eu renovarei este juramento. Sê bendito Tu e o Altíssimo!
– Bendito seja o Altíssimo Pai! Vai!
E o homem vai feliz, andando com passos firmes, enquanto Jesus e os
pasmados apóstolos, descem em dois barcos e começam a manobra da
navegação.
E a visão termina.
[102] (ao invés, é a casa da sogra de Pedro), é a rectificação de Maria Valtorta sobre uma cópia dactilografada; da sogra, nas
primeiras linhas de 58.8, é um acréscimo de Maria Valtorta sobra a mesma cópia dactilografada. Das duas casas de Pedro (a
própria em Betsaida e a da sogra em Cafarnaum) se falará em vários pontos do capítulo 60.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade