Estudo 7 – O Evangelho como me foi revelado – Cap7 – Escola da Divina Vontade

Estudo 7 – O Evangelho como me foi revelado – Cap7 – Escola da Divina Vontade
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7. A pequena Maria com Ana e Joaquim.
Em seus lábios já está a Sabedoria do Filho.

29 de agosto de 1944.

Ainda vejo Ana. Desde ontem à tarde, que a estou vendo assim: ela está sentada no começo da sombra da parreira, atenta a um trabalho de costura. Está toda vestida de uma cor cinzento-areia, com um vestido muito simples e solto, talvez por causa do grande calor que deve estar fazendo.
No fim da parreira, podem ver-se os ceifadores, que estão cortando o feno. Mas ainda não deve ser o feno de maio, porque a uva já está para colorir-se de ouro e uma macieira grande já vem mostrando os seus frutos, entre as folhas escuras, que vão se tornando da cor de uma cera lustrosa, amarela e vermelha. Além disso, o campo de cereais é agora um restolho sobre o qual,
ondulam leves as chamazinhas das papoulas e se levantam, rígidas e serenas, as flores-de-lis, raiadas como uma estrela, e azuis como o céu do Oriente.

Da parreira sombria vem vindo, à frente, uma Maria pequenina, mas já andando ligeira e independente. Seu passo é curto, mas seguro, e suas sandalinhas já não tropeçam nas pequenas pedras. Tem já um esboço do seu doce passo, levemente ondulante, de pomba, e ela está parecendo mesmo uma pombinha em seu vestidinho de linho, que desce até os tornozelos, um vestidinho bem cômodo, franzido no pescoço por um cordãozinho azul celeste, e com manguinhas curtas, que deixam ver os antebraços rosados e gorduchos. Com os seus cabelinhos, que parecem de seda e de um loiro-mel, não muito encaracolados, mas formando ondas suaves, que terminam em um gracioso cacho; com seus olhinhos cor do céu, e o doce rostinho levemente rosado e sorridente, ela parece um pequeno anjo. Até o ventinho leve que lhe vai entrando pelas mangas largas, e enchendo seu vestido de linho e fazendo-o ficar mais saliente nas costas, tudo contribui para dar à menina o aspecto de um pequeno anjo, com as asas já entreabertas, e prontas para voar.

Nas mãozinhas ela leva papoulas, flores-de-lis e outras florzinhas, que crescem por entre os cereais, mas das quais eu não sei o nome. Ela vai indo e, ao chegar perto da mãe, dá uma corridinha, solta uma vozinha festiva, e como uma pequena rolinha, para o seu vôo contra os joelhos da mãe, que se abrem um pouco para recebê-la, enquanto que o trabalho, que estava sendo feito, é posto de lado, para acolhê-la sem que ela se machuque, e os braços estão estendidos para abraçá-la. Até aqui ontem à tarde, e hoje de manhã reapresenta-se e continua assim.

“Mamãe! Mamãe!”. A pequena rolinha branca está agora no ninho dos joelhos maternos, com seus pezinhos sobre a erva curta, o rostinho curvado sobre o colo materno, e não se vê nada mais, além do ouro pálido dos cabelinhos sobre a nuca delicada, que Ana se curva para beijar com amor.

Depois a pequena rola levanta a cabeça, e oferece as suas florzinhas.  Todas são entregues à mamãe e, para a oferta de cada flor, ela conta uma história que ela mesma inventou.
– Esta aqui, tão azul e grande, é uma estrela que desceu do céu para trazer o beijo do Senhor para a mamãe.

Aqui está: esta florzinha celeste, beija-a bem aí no coração, e perceberás que ela tem o sabor de Deus.
Agora, esta outra, que é de um azul mais pálido, como são os olhos do papai, tem gravado nas folhas que o Senhor quer muito bem ao papai, porque ele é bom.
E esta aqui, tão pequenina, a única pequena que eu achei (é um miosótis), é a que o Senhor fez para dizer a Maria que lhe quer bem.
Estas vermelhas, sabe a mamãe o que são? São os pedaços da veste do rei Davi, molhadas no sangue dos inimigos de Israel, e semeadas nos campos de luta e de vitória. Nasceram das fímbrias da heróica veste real, rasgada na luta pelo Senhor.
Mas esta aqui, tão branca e graciosa, que parece formada com sete taças de seda que olham para o céu, cheias de perfume, nasceu lá perto da fonte (foi papai que a apanhou entre os espinhos) -Foi feita com a veste de Salomão, quando, no mês em que sua netinha tinha nascido, há tantos anos (Oh! quantos, quantos anos antes) na pompa da alvura de suas vestes, Salomão caminhou pelo meio da *multidão de Israel, diante da Arca e do Tabernáculo, alegrando-se pela nuvem que voltou a circundar a glória do Senhor, cantando o cântico e a oração de sua alegria.

Eu quero ser sempre como esta flor, e, como o sábio rei, eu quero cantar, por toda a vida, cânticos e orações diante do Tabernáculo – e aí cessa de falar a pequena boca de Maria.
– Meu bem, como sabes estas coisas santas? Quem é que as diz a ti? O teu pai? – Não. Não sei quem é. Parece que eu as soube desde sempre. Mas talvez seja alguém que eu não vejo, e que as diz a mim, talvez um dos Anjos que Deus manda vir falar aos homens que são bons. Mamãe, me contas outras coisas?…

– Oh! Minha filha! Sobre que fato queres saber?
Maria fica pensando; séria e recolhida como estava, que bom teria sido que se tivesse feito o seu retrato naquela posição, para perpetuar aquela sua expressão. Sobre o rostinho infantil se refletem as sombras de seus pensamentos. Sorrisos e suspiros, raios de sol e sombras de nuvens, pensando na história de Israel. Depois ela escolhe:
– Conta-me aquela passagem de Gabriel falando a Daniel, na qual o Cristo foi prometido.

E ela fica escutando, de olhos fechados, repetindo devagar as palavras que a mãe vai dizendo, como para se lembrar melhor delas. Quando Ana termina, Maria lhe pergunta:
– Quanto falta ainda para o Emanuel chegar?
– Cerca de trinta anos, querida.
– Mas, quanto tempo ainda falta! Nesse tempo, eu estarei no Templo… Diz-me, se eu rezasse muito, muito, muito, dia e noite, noite e dia, e quisesse ser só de Deus durante toda a vida, só para este fim, o Eterno não me faria a graça de dar o Messias ao seu povo antes disso?
– Não sei, querida. O Profeta diz “setenta semanas”. Creio que a profecia não erra. Mas o Senhor é tão bom – Ana se apressou em acrescentar estas palavras, ao ver que se marejavam de lágrimas os cílios de ouro da sua menina – que eu creio que, se rezares muito, muito, muito, Ele te atenderá.
O sorriso volta ao rostinho, que está levemente erguido para a mãe, e um raiozinho de sol está passando por entre duas folhas da videira, fazendo brilhar as lágrimas do pranto, que já cessou, como se tivessem sido apenas gotinhas de orvalho pendentes de finos caules do musgo dos Alpes.
– Então, eu rezarei e me farei virgem para isso.
– Mas, sabes o que significa o que estás dizendo?
– Quer dizer não conhecer o amor de homem, mas só o de Deus. Quer dizer não ter outro pensamento, senão no Senhor. Quer dizer permanecer menina na carne, e anjo no coração. Quer dizer não ter olhos para outra coisa, mas só para olhar a Deus, ouvidos só para ouvi-lo, boca para louvá-lo, mãos para oferecer-lhe hóstias, pés velozes para segui-lo, coração e vida para doar a Ele.
– Bendita és tu! Mas, então, não terás filhos, tu, que gostas tanto das crianças, dos cordeirinhos e das pombinhas… Sabes de uma coisa? Um filho para uma mulher é como um cordeirinho branco e todo encaracolado, é como uma pequena pomba, com penas sedosas, boca cor-de-coral, que pode ser amado, beijado, e ouvi-lo dizer: “Mamãe! “

– Não importa. Eu serei de Deus. No Templo rezarei. E talvez um dia eu verei o Emanuel. A virgem, que vai ser a mãe dele, como diz o grande Profeta, já deve ter nascido, e já deve estar no Templo… Eu vou ser companheira dela… e sua serva… Oh! Sim! Se, por meio da luz de Deus, eu a puder conhecer, eu quereria ser serva dela, daquela Virgem bem-aventurada! E, depois, ela traria o Filho a mim, e me levaria ao seu Filho, e eu serviria a Ele também. Pensa nisto mamãe!… Eu, servindo ao Messias!!… – Maria está dominada por este pensamento, que a sublima e a aniquila, ao mesmo tempo. Com suas mãozinhas cruzadas sobre o pequeno peito, com a cabecinha um pouco inclinada para a frente, e tomada pela emoção, ela parece já uma reprodução infantil da “Anunciação” que eu vi. Ela * retoma o assunto:

– Mas será que o Rei de Israel, o Ungido de Deus, me permitirá que eu o sirva?
– Disso não tenhas dúvidas! Pois, não diz o rei Salomão: “Sessenta são as rainhas, oitenta as outras mulheres, e as pequeninas serão sem número”? Vê como no Palácio do Rei serão sem número as meninas virgens que servirão ao seu Senhor.

– Oh! Estás vendo agora como devo ser virgem? Eu devo. Se Ele por mãe quer uma virgem, isso é sinal de que ele ama a virgindade, sobre todas as coisas. Eu quero que me ame, como sua serva, pela minha virgindade, que me vai tornar um pouco semelhante à sua mãe querida… Isto eu quero… Queria também ser pecadora, muito pecadora, se eu não temesse ofender ao Senhor…Diz-me, mamãe: pode-se ser pecadora por amor de Deus?

– Mas, que é isso que estás dizendo, meu tesouro? Eu não te estou compreendendo.
– Eu quero dizer: pecar, para poder ser amada por Deus, que se torna nosso Salvador. Salva-se quem se perdeu. Não é verdade? Eu quereria ser salva pelo Salvador, para ter o seu olhar de amor. Por isso, queria pecar, mas não fazer pecado que desgoste a ele. Como é que ele pode salvar-me, se eu não me perco?

Ana fica atordoada. Não sabe mais o que dizer.
Mas o socorro vem de Joaquim, que acabou de chegar, caminhando sobre a grama. Por trás da sebe de arbustos baixos, ele tinha se aproximado, sem fazer barulho.
– Ele te salvou antes, porque sabe que tu o amas, e queres amar somente a Ele. Por isso tu já estás redimida, e podes ser virgem como quiseres – diz Joaquim.
– É verdade, meu pai? – Maria se abraça aos joelhos do pai e olha para ele com as claras estrelas, que são os seus olhos, semelhantes aos do pai, e tão felizes por esta esperança que ele lhe está dando.

– É verdade, pequeno amor. Olha. Eu vinha te trazendo este passarinho, que tinha acabado de dar o seu primeiro vôo perto da fonte. Eu teria podido abandoná-lo, mas suas asas e suas perninhas, ainda fracas, não tinham forças para levantá-lo e sustentá-lo em um novo vôo, nem para conservá-lo firme sobre as pedras cobertas de musgo escorregadio. Ele teria caído n’água. Mas eu não fiquei esperando que isso acontecesse. Peguei-o, e o trouxe para ti. Com ele farás o que quiseres.
O fato é que ele foi salvo, antes de cair no perigo. Pois foi isso mesmo que Deus fez contigo.

Agora, diz-me, Maria: achas que eu amei mais ao pássaro, salvando-o, antes dele cair no perigo, ou eu o teria amado mais, se o salvasse depois?
– Assim é que o amaste mais, pois não deixaste que ele se machucasse, caindo na água gelada.
– Deus te amou mais, porque te salvou, antes que tivesses pecado.
– Então, eu também o amarei inteiramente. De todo o coração. Passarinho lindo, eu sou como tu. O Senhor nos amou de modo igual, dando-nos a salvação. Agora eu vou te criar, e depois te deixarei ir embora. E tu cantarás no bosque, e eu no Templo os louvores de Deus, e nós diremos: “Envia, envia o teu Prometido aos que o estão esperando”. Oh! Meu papai! Quando me levarás ao Templo?
– Dentro em breve, minha pérola. Mas, não ficarás triste por ter que deixar o teu pai?
– Muito. Mas tu irás lá… e, além disso, se não se ficasse um pouco triste, que sacrifício haveria?
– E tu te lembrarás de nós?
– Sempre. Depois da oração para que venha o Emanuel, rezarei por vós. Que Deus vos dê alegria e uma longa vida… até o dia no qual Ele será Salvador. Depois, eu direi a Ele que vos tome consigo, e vos leve para a Jerusalém Celeste.
A visão termina para mim com Maria estreitada nos lagos do abraço paterno.

Jesus diz: 
“Já estou ouvindo os comentários dos doutores, em suas ironias maliciosas, dizendo: “Como é que pode uma menina, que não tem ainda nem três anos, falar coisas assim? Isso é um exagero”. E não refletem que me tornam monstruoso, alterando a minha infância, atribuindo-me atos de adulto.
A inteligência não se manifesta em todos do mesmo modo e na mesma idade. A Igreja marcou a idade de seis anos como a idade em que começa a responsabilidade das ações, porque essa é a idade na qual até um retardado é capaz de distinguir o bem do mal, pelo menos de modo rudimentar.

Mas há crianças que muito antes são capazes de discernir, entender e querer, usando de uma razão já suficientemente desenvolvida. A pequena Imelde Lambertini, Rosa de Viterbo, Nellie Organ, Nennolina, vos sirvam de base, ó doutores difíceis, para crerdes que minha mãe podia pensar e falar assim. Não citei mais do que quatro nomes por acaso, no meio de milhares de santas crianças que povoam o meu Paraíso, depois de terem raciocinado como adultos sobre a terra, umas com mais, outras com menos idade.

Qual é a razão? Um dom de Deus. Portanto, Deus o pode dar na medida que quiser, a quem
quiser e quando quiser. A razão é uma das coisas que mais vos tornam semelhantes a Deus, Espírito inteligente e raciocinante. A razão e a inteligência foram graças dadas por Deus ao homem no Paraíso terrestre. Quanto elas eram vivas, junto com a graça ainda intacta, operando no espírito de nossos dois Primeiros Pais!
*No livro de Jesus Bar Sirac está escrito: “Toda sabedoria vem do Senhor Deus, e sempre esteve com Ele, mesmo antes dos séculos”. Quanta sabedoria teriam, então, os homens, se tivessem permanecido filhos de Deus?

As lacunas em vossas inteligências são o fruto natural do vosso decaimento da graça e da honestidade. Perdendo a Graça, vós vos afastastes, por séculos, da Sabedoria. Como os meteoros, que se escondem atrás de uma nebulosidade de muitos quilômetros, a Sabedoria não chegou mais até vós com os seus nítidos fulgores, mas somente através de um nevoeiro, que as vossas prevaricações foram tornando cada vez mais graves.

Depois veio o Cristo, e vos deu a Graça, dom supremo do amor de Deus. Mas, vós sabeis guardar esta gema tão límpida e pura? Não. Quando não a destruis com a vossa vontade individual de pecado, a sujais com contínuas culpas menores, as vossas fraquezas, as vossas simpatias para com o vício, e também aquelas simpatias que não chegam ainda a ser verdadeiros casamentos com o vício septiforme, mas, são um enfraquecimento da luz da Graça e de sua atividade.

Depois, tivestes séculos e séculos de corrupções, para enfraquecer ainda mais a magnífica luz da inteligência que Deus havia dado aos Primeiros, corrupções que se repercutem como nocivas sobre o físico e sobre a mente.
Maria porém era não somente a Pura, a nova Eva, criada de novo para a alegria de Deus: era a super-Eva, a Obra-Prima do Altíssimo, a cheia de graça, a mãe do Verbo na mente de Deus.

“O Verbo é a Fonte da Sabedoria”, diz Jesus Ben Sirac no livro do Eclesiástico. O Filho, então, não terá posto a sua sabedoria sobre os lábios da própria mãe?
Se a um profeta foi-lhe purificada a boca com carvões ardentes, porque devia dizer aos homens as palavras que o Verbo, a Sabedoria, lhe confiava, não terá o Amor à sua esposa ainda menina, mas que um dia iria trazer em si a Palavra, a linguagem limpa e exaltada, não terá este Amor feito com que ela não falasse mais como menina, nem mais tarde, como mulher, mas somente e sempre como uma criatura celeste, unida à grande luz e sabedoria de Deus?

O milagre não está em uma inteligência superior, demonstrada por Maria em sua idade infantil, como depois aconteceu Comigo. Mas o milagre está em poder conter em si a Inteligência infinita, que nela habitava, dentro dos diques preparados para não assombrar as multidões e não despertar a atenção satânica.
Ainda voltarei a falar sobre este assunto, que reaparece sempre naquele “lembrar-se” de Deus, que é próprio dos Santos”.

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