Livro do céu 2-82 – A Esperança e a Justiça. Necessidade de punições. Esperança é Paz; portanto, ficar preocupado ou desanimado é o maior desvario. A esperança personifica-se: Jesus! Ao mesmo tempo, é Maria, Mãe terníssima! A esperança é dada nos Sacramentos.

Jesus disse no Livro do céu
Livro do céu 2-82 – A Esperança e a Justiça. Necessidade de punições. Esperança é Paz; portanto, ficar preocupado ou desanimado é o maior desvario. A esperança personifica-se: Jesus! Ao mesmo tempo, é Maria, Mãe terníssima! A esperança é dada nos Sacramentos.
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14 de Outubro de 1899

82 – A Esperança e a Justiça. Necessidade de punições. Esperança é Paz; portanto, ficar preocupado ou desanimado é o maior desvario. A esperança personifica-se: Jesus! Ao mesmo tempo, é Maria, Mãe terníssima! A esperança é dada nos Sacramentos.

Esta manhã sentia-me um pouco perturbada e toda aniquilada em mim mesma. Via-me como se o Senhor me quisesse afastar de Si mesmo. Meu Deus, que dor excruciante é esta! Quando me encontrava em tal estado, o bendito Jesus veio com uma cordinha na mão e golpeando meu coração três vezes, disse-me:

“Paz, paz, paz, não sabes tu que o reino da esperança é reino de paz, e o direito desta esperança é a justiça? Tu, quando vires que a minha justiça se arma contra as nações, entra no reino da esperança, e investindo-te das mais poderosas qualidades que ela possui, ascende ao meu trono e faze o que puderes para desarmar o meu braço armado; e isto o farás com as vozes mais eloquentes, mais ternas, mais compassivas, com as razões mais poderosas, com as orações mais ardentes, que a própria esperança te ditará. Mas quando tu vires que até a esperança está prestes a defender certos direitos de justiça que são absolutamente necessários, e que querê-los ceder seria uma afronta a si mesma, o que não pode jamais ser, então conforma-te a Mim e entrega-te à justiça”.

E eu, mais aterrorizada do que nunca, porque devia ceder à justiça, disse-lhe: “Ah Senhor, como posso fazer isto? Parece-me impossível. O simples pensamento de que deves castigar as pessoas, sendo tuas imagens, não posso tolerá-lo; se ao menos fossem criaturas que não te pertencem! No entanto, isto é nada, o que mais me entristece é que devo ver-te, estou prestes a dizer, golpeado por Ti mesmo, esbofeteado, açoitado, afligido, porque os castigos cairão sobre teus próprios membros, não sobre os outros, e por isso Tu mesmo virás a sofrer. Diz-me, meu único Bem, como poderá resistir meu coração em te ver sofrer, golpeado por Ti mesmo? Que te façam sofrer as criaturas, são sempre criaturas e é mais tolerável, mas isto é tão duro, que não posso aceitá-lo, por isso não posso
me conformar Contigo, nem ceder”.

Ele, pois, compadecendo-se e sentindo pena de tudo por causa deste meu falar, e tomando um aspecto aflito e benigno, disse-me: “Minha filha, tens razão que serei golpeado em meus próprios membros, tanto que ao te ouvir falar, sinto todas as minhas entranhas comovidas e movidas à misericórdia e o coração partir-se de ternura. Mas crê em mim que são necessários castigos, e se não quiseres me ver golpeado um pouco agora, me verás mais tarde terrivelmente atingido, porque ainda mais me ofenderão, e isto não te incomodaria mais? Por isso, conforma-te Comigo, de outra maneira me obrigarás, para não te ver desgostosa, a não te dizer nada, e com isto virás a negar-me o alívio que sinto ao conversar contigo. Ah! Sim, me reduzirás ao silêncio sem ter com quem desabafar minhas penas”.

Quem pode dizer como fiquei amarga por sua fala? E Jesus, como se quase me quisesse distrair da minha aflição, continuou a falar sobre a esperança, dizendo-me: : “Minha filha, não te perturbes; a esperança é paz, e assim como Eu, no próprio ato de fazer justiça estou na mais perfeita paz, assim tu, imergindo-te na esperança, estejas em paz. A alma que está na esperança, ao querer afligir-se, turbar, desconfiar, incorreria na desventura daquela que, enquanto possui milhões e milhões de moedas e é rainha de vários reinos, vai fantasiando e lamentando-se dizendo: ‘De que vou viver? Como eu vou me vestir? Oh, eu estou morrendo de fome! Eu sou muito infeliz! Vou me reduzir a mais estrita miséria e eu perecerei! E ao dizer isto chora, suspira e passa seus dias triste, esquálida, imersa na maior tristeza. E isto não é tudo, o que é pior é que se vê seus tesouros, se caminha por suas propriedades, em vez de alegrar-se, aflige-se mais pensando em seu fim próximo e vendo o alimento não o quer tocar para sustentar-se, e se alguém quer persuadi-la fazendo-lhe ver concretamente suas riquezas mostrando-as e dizendo-lhe que não pode ser que se reduza a mais estreita miséria, ela não se convence, fica aturdida e chora ainda mais sua triste sorte. O que as pessoas diriam dela? Que está louca, que se vê que não tem razão, que perdeu o cérebro; a razão está clara, não pode ser de outra maneira. No entanto, pode acontecer que esta possa cair na desventura na qual se imagina, mas de que modo?

Saindo de seus reinos, abandonando todas suas riquezas e indo a terras estrangeiras, no meio de gente bárbara, onde ninguém se digne dar-lhe ao menos uma migalha de pão. E eis que sua fantasia se tornou realidade; o que era falso agora é verdade. Mas quem foi a causa? A quem se culparia de uma mudança de estado tão triste? A sua pérfida e obstinada vontade. Precisamente assim é uma alma que se encontra em posse da esperança: o querer perturbar-se, desanimar, já é a maior loucura”.

E eu: “Ah! Senhor, como pode ser que a alma possa estar sempre em paz vivendo na esperança? E se a alma comete algum pecado, como pode estar em paz?”.

E Jesus: “No momento em que a alma peca, sai do reino da esperança, já que pecado e esperança não podem estar juntos. Qualquer razão aceita que cada um é obrigado a respeitar, conservar e cultivar o que é seu, quem é aquele homem que vai a seus terrenos e queima o que possui? Quem é que não tem zelosamente guardadas suas posses? Creio que nenhum. Agora, a alma que vive na esperança, com o pecado, ofende à mesma esperança e, se estivesse em seu poder, queimaria todos os bens que possui a esperança, e então se encontraria na desventura daquela tal que, abandonando seus bens vai viver em terras estrangeiras. Assim a alma, com o pecado, afastando-se desta mãe pacífica, a esperança, tão terna e piedosa que chega a
alimentá-la com a sua própria carne como é Jesus no Sacramento, objeto primário da nossa esperança, vai-se viver no meio de gente bárbara como são os demônios, que, negando-lhe até o menor consolo, não a alimentarão de outra coisa senão do veneno, que é o pecado. Não obstante, esta mãe piedosa, o que faz? Enquanto a alma se afasta dela, ficará indiferente? Ah não! Chora, reza, chama-a com as vozes mais ternas, mais comovedoras, vai em busca dela e só se contenta quando a traz de
volta ao seu reino”.

O meu doce Jesus continua a dizer-me: “A natureza da esperança é paz, e o que ela é por natureza, a alma que vive no seio desta mãe pacífica consegue-o por graça”.

E no mesmo momento em que Jesus bendito disse estas palavras, com uma luz intelectual fez-me ver esta esperança sob a semelhança de uma mãe, e aquilo que fez pelo ser humano. Oh, que cena tão comovente e terníssima, que se todos pudessem vê-la, chorariam de compaixão, até os corações mais duros, e todos se afeiçoariam, iriam amá-la tanto, que seria impossível separar por um
só momento de seu colo materno. E agora tentarei dizer o que compreendo e posso:

O homem vivia acorrentado, escravo do demônio, condenado à morte eterna, sem esperança de poder ressurgir à vida eterna; tudo estava perdido e sua sorte estava em ruínas. Esta mãe vivia no Empíreo, unida com o Pai e o Espírito Santo, bem-aventurada, feliz
com Eles; mas parecia que não estava satisfeita, queria seus filhos, suas amadas imagens em torno dela, a obra mais bela saída de suas mãos. Agora, enquanto estava no Céu, seus olhos estavam atentos ao homem que estava perdido na terra. Toda ela se ocupa da maneira de salvar a estes seus amados filhos, e vendo que estes filhos não podem absolutamente satisfazer à Divindade, mesmo à custa de qualquer sacrifício, pois são muito inferiores a Ela, o que faz esta mãe piedosa? Vê que não há outro meio para salvar a estes filhos que dar a própria vida para salvar a deles, e tomar sobre si suas penas e misérias e fazer tudo o que eles deviam fazer por eles mesmos.

Então, o que pensa fazer? Esta mãe amorosa se apresenta ante a divina justiça com lágrimas nos olhos, com as vozes mais ternas, com as razões mais potentes que seu magnânimo coração lhe dita e diz: Graça te peço para meus perdidos filhos, não me resiste o ânimo vê-los separados de Mim, a qualquer custo quero salvá-los, e se bem vejo que não há outro meio que pôr minha própria vida, quero colocá-la desde que readquiram a deles. O que queres deles?
Reparação? Reparo eu por eles. Glória, honra? Eu te honro e glorifico por eles. Agradecimentos? Eu te agradeço, tudo o que queres deles te dou Eu, desde que os possa ter junto Comigo reinando.

A Divindade fica comovida ao ver as lágrimas, o amor desta piedosa Mãe, e convencida por suas potentes razões, se sente inclinada a amar a estes filhos, e choram juntos sua desventura, e pondo-se de acordo concluem que aceitam o sacrifício da vida desta mãe, ficando por isso plenamente satisfeitos, para readquirir estes filhos. Assim que é assinado o decreto, desce em seguida do Céu e vem
à terra, e deixando suas vestes reais que tinha no Céu se veste das misérias humanas, como se fosse a mais vil escrava e vive na pobreza mais extrema, nos sofrimentos mais inauditos, nos mais insuportáveis desprezos pela natureza humana; não faz outra coisa senão chorar e interceder por seus amados filhos.

Mas o que mais o faz ficar espantado, tanto desta Mãe como destes filhos, é que enquanto ela ama tanto estes filhos, estes, em vez de receber esta Mãe com os braços abertos, já que vem salvá-los, fazem o contrário; ninguém a quer receber ou reconhecer, aliás, a obrigam a ir errante, a desprezam e começam a planejar como matar a esta Mãe tão terna e excessivamente apaixonada por eles.

O que fará esta mãe tão terna ao ver-se tão mal correspondida por seus ingratos filhos? Acaso irá parar? Ah, não, pelo contrário, acende-se mais de amor por eles e corre de um ponto a outro para reuni-los e colocá-los em seu colo. Oh, como se cansa, como se cansa até suar, não apenas água, mas também sangue! Não se dá um momento de trégua, está sempre em atitude de operar sua salvação, provê a todas as suas necessidades, remedia todos os seus males passados, presentes e futuros; em suma, não há nada que não ordene e disponha para seu bem.

Mas o que fazem esses filhos? Arrependeram-se talvez da ingratidão que tiveram ao recebê-la? Mudaram seus pensamentos em favor desta Mãe? Ah, não, olham-na com maus olhos, desonram-na com as calúnias mais obscuras, procuram-lhe opróbrios, desprezos, confusões, golpeiam-na com todo tipo de flagelos, reduzindo-a toda a uma só chaga, e acabam por fazê-la morrer com uma morte — a mais infame que se possa encontrar — em meio a cruéis espasmos e dores. Mas o que essa mãe faz no meio de tantas dores? Será que ela odiará talvez esses filhos tão rebeldes e insolentes? Ah não, nunca! Agora mais do que nunca os ama extremamente, oferece suas penas por sua própria salvação e expira com a palavra da paz e do perdão.

Oh minha bela Mãe, ó amada esperança, como você é amável em si mesma, eu te amo! Ah! Mantenha-me sempre em seu colo e serei a mais feliz do mundo.

Enquanto estou determinada a deixar de falar da esperança, uma voz ressoa em meus ouvidos dizendo: “A esperança contém todo o bem presente e futuro, e quem vive em seu ventre e cresce em seu colo obtém tudo o que deseja. O que a alma quer: glória, honra? A esperança lhe dará toda a maior honra e glória na terra, diante de todas as nações, e no Céu a glorificará eternamente. Tu talvez vais querer riqueza? Oh! Esta Mãe esperança é riquíssima, e além disso, dando seus bens a seus filhos, não diminuem suas riquezas em nada; pois estas riquezas não são fugazes e passageiras, mas eternas.

Tu vais querer prazeres, contentamentos? Ah! Sim, esta esperança contém em si todos os prazeres e gostos possíveis que se possam encontrar no Céu e na terra, que nenhum outro jamais poderá igualá-la; e quem a seu seio se nutre, saboreia-os até a saciedade, e oh! Como é feliz e contente. 

Quererá ser douta, sábia? Esta Mãe esperança contém em si as ciências mais sublimes, antes é a mestra de todos os mestres, e quem se faz ensinar por ela aprende a ciência da verdadeira santidade”. 

Em suma, a esperança nos fornece tudo, de modo que, se um é fraco, lhe dará a força; se outro está manchado, a esperança instituiu os Sacramentos e aí prepara a purificação de suas manchas; se sente fome e sede, esta Mãe piedosa nos dá o alimento mais belo, mais saboroso, que é sua delicadíssima carne e por bebida seu preciosíssimo sangue. Que outra coisa mais pode fazer esta mãe pacífica da esperança? Quem se assemelhará a ela? Ah! Só ela reconciliou o Céu e a terra, a esperança uniu com ela a fé e a caridade e formou esse anel indissolúvel entre a natureza humana e a Divina. Mas quem é esta Mãe? Quem é esta esperança? É Jesus Cristo, que operou a nossa Redenção e formou a esperança do homem extraviado.

 

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