Livro do céu volume 1 – 18 – Luísa contempla novamente Jesus Cristo como na Paixão e aceita a condição de vítima.

Jesus disse no Livro do céu
Livro do céu volume 1 – 18 – Luísa contempla novamente Jesus Cristo como na Paixão e aceita a condição de vítima.
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Livro do céu volume 1 – 18
Depois de cerca de um ano e meio desta luta, finalmente
terminaram as crueldades dos demônios e começou uma vida
toda nova, mas os demônios não deixaram de me incomodar
de vez em quando, porém não eram tão frequentes, nem tão
feroz a batalha, e eu me acostumei a desprezá-los. A vida nova
que começou foi na casa de campo chamada “Torre Disperata”21.
Um dia, onde mais do que nunca tinha sido atormentada
pelo demônio, tanto que senti perder as forças e desmaiar, pela
tarde, enquanto estava assim, senti vir-me uma coisa mortal e
perdi os sentidos, neste estado vi a Jesus Cristo rodeado de
muitos inimigos, quem lhe golpeava, quem lhe esbofeteava,
quem lhe cravava os espinhos na cabeça, quem lhe destroçava
as pernas, quem os braços. Depois que o reduziram quase em
pedaços, o puseram nos braços da Virgem, e isto acontecia um
pouco longe de mim. Depois que a Virgem Santíssima o tomou
em seus braços, aproximou-se de mim e chorando me disse:
“Filha, vê como é tratado meu Filho pelos homens, as horríveis
ofensas que cometem jamais lhe dão trégua, olha como Ele
sofre!”
Eu tentava vê-lo e avistava-o todo ensanguentado, todo
ferido, e quase despedaçado, reduzido a um estado mortal;
sentia tais penas que tivesse querido morrer mil vezes em vez
de ver meu Senhor sofrer tanto; me envergonhava de meus
pequenos sofrimentos.
A Santíssima Virgem acrescentou, mas sempre chorando:
“Aproxima-te a beijar as chagas de meu Filho, Ele te escolhe
como vítima, e se tantos o ofendem, tu oferecendo-te a sofrer o
que Ele sofre, lhe darás um alívio em tanto padecer, não o
aceitas?”
Eu me sentia tão aniquilada, tão má (como ainda sou) e
indigna, que não ousava dizer “sim”. Minha natureza tremia,
me sentia tão fraca pelas penas passadas, que mal me restava
um fio de vida. Além disso, não sei como, de longe via os
demônios que tanto perturbavam, faziam muito ruído, e via
que tudo o que tinha visto que tinham feito ao Senhor deviam
fazê-lo a mim se aceitasse. Em mim mesma sentia tais penas,
dores, estiramentos de nervos, que acreditei que deixaria a
vida. Finalmente me aproximei e Lhe beijei as chagas, parecia
que ao fazê-lo aqueles membros tão lacerados se curavam, e o
Senhor, que antes parecia quase morto, começava a reanimar-se à
nova vida. Internamente recebia tais luzes sobre as ofensas
que se cometem, atrações para aceitar ser vítima ainda que
devesse sofrer mil mortes, porque o Senhor tudo merecia, e que
eu não poderia opor-me ao que Ele queria. Isto acontecia
enquanto estávamos em silêncio, mas aqueles olhares que
reciprocamente nos dávamos eram tantos convites, tantas
flechas ardentes que me trespassavam o coração.
Especialmente a Santíssima Virgem me incitava a aceitar, mas
quem pode dizer tudo o que passei?
Finalmente o Senhor, olhando-me com benignidade, disse-me:
“Tu viste o quanto me ofendem e quantos caminham
pelos caminhos da iniquidade, e sem o perceberem
precipitam-se no abismo. Vem oferecer-te ante a Divina
Justiça como vítima de reparação pelas ofensas que se fazem
e pela conversão dos pecadores, que a olhos fechados bebem
na fonte envenenada do pecado. Um imenso campo se abre
diante de ti, de sofrimentos, sim, mas também de graças; Eu
não te deixarei mais, virei em ti a sofrer tudo o que me fazem
os homens, fazendo-te participar das minhas penas. Como
ajuda e consolo te dou a minha Mãe”.
E parecia que entregava-me a Ela, e Ela me aceitava. Eu
também ofereci-me toda a Ele e à Virgem, disposta a fazer o que
Ele queria, e assim terminou a primeira vez23.
Depois de recuperar-me daquele estado, sentia tais penas,
tal aniquilamento de mim mesma, que via-me como um
miserável verme que não sabia fazer mais que arrastar-se por
terra, e dizia ao Senhor: “Ajuda! Tua Onipotência me aterroriza,
vejo que se Tu não me levantas, meu nada se desfaz e vai dispersar-se.
Dá-me o sofrimento, mas rogo-te: dá-me a força, porque me sinto
morrer”. E assim começou um alternar-se de visitas de Nosso
Senhor e de tormentos por parte dos demônios; quanto mais
me resignava, tanto mais aumentavam sua raiva.

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