Livro do Céu Volume 1-28
Agora eu continuo narrando de onde eu parei, e foi assim que se seguiu. Pela manhã eu fui para comungar, e assim que eu recebi a Jesus, de súbito lhe disse: “Meu Senhor, vê em que tempestade me encontro, deveria te agradecer porque deste luz ao confessor para me dar a obediência de sofrer; em troca minha natureza lamenta tanto, que eu mesma fiquei confusa ao me ver tão má. Mas tudo isto é nada, porque Tu que queres o sacrifício me darás também a força. Mas a razão de maior peso em mim é ter que estar tanto tempo sem poder receber-Te no Sacramento, quem poderá resistir sem Ti? Quem me dará força? Onde poderei encontrar consolo nas minhas aflições?” E enquanto dizia isto, sentia tais penas no coração por esta separação de Jesus Sacramentado, que chorava copiosamente. Então
o Senhor compadeceu-se da minha fraqueza e disse-me: “Não temas; Eu mesmo sustentarei a tua fraqueza, tu não sabes que graças te preparei, por isso temes tanto. Eu não sou Onipotente? Não posso suprir a privação de receber-me no Sacramento? Por isso ria, põe-te como morta em meus braços, faze-te vítima voluntária para me reparar as ofensas pelos pecadores e para evitar aos homens os merecidos
flagelos. E eu dou-te em penhor a minha palavra de não deixar nem um só dia sem vir visitar-te. Até agora tu vieste a Mim, de agora em diante virei Eu a ti. Não estás contente?”
Então eu me resignei à Santa Vontade de Deus, e fui surpreendida por este estado de sofrimentos. Quem pode dizer as graças que o Senhor começou a me dar? É impossível poder dizer tudo detalhadamente, poderei dizer alguma coisa confusamente, mas por quanto possa e para cumprir a santa obediência que assim o quer, esforçar-me-ei em dizer por quanto me seja possível.
Lembro-me que desde o início deste estar continuamente na cama, o meu amado Jesus fazia-se ver muito frequentemente, o que não tinha feito no passado.
Desde o início me disse que queria que levasse um novo modo de vida para dispor-me àquele casamento místico que me havia prometido, me dizia: “Amada de meu coração, te coloquei neste estado a fim de poder vir mais livremente e conversar contigo; vê, te liberei de todas as ocupações externas a fim de que não só a alma, mas também o corpo esteja à minha disposição, E assim podes estar em contínuo holocausto diante de Mim. Se não te tivesse posto nesta cama, uma vez que deverias cumprir os teus deveres familiares e sujeitar-te a outros sacrifícios, não poderia Eu vir tão frequentemente e te fazer partícipe das ofensas conforme as recebo; no máximo deverias esperar que cumprisse teus deveres. Mas agora não, agora ficamos livres, já não há ninguém que nos incomode e que interrompa a nossa conversa; de agora em diante as minhas aflições serão tuas, e as tuas minhas; os meus sofrimentos teus, e os teus meus; as minhas consolações tuas, e as tuas minhas; uniremos todas as coisas e tu tomarás interesse das minhas coisas como se fossem tuas, e eu também me interessarei pelas tuas. Não haverá mais entre nós dois, “isto é meu e isto é teu”, mas tudo será comum a ambas as partes.
Sabes como fiz contigo? Como um rei quando quer falar com sua esposa rainha, e esta se encontra com suas damas em outras ocupações. O rei, o que faz? Ele a toma e leva para dentro de seu quarto, fecha as portas para que ninguém possa entrar e interromper sua conversação nem ouvir seus segredos, e assim, estando a sós, comuniquem reciprocamente suas consolações e aflições. Agora, se algum imprudente fosse bater ou gritar atrás da porta e não os deixassem desfrutar de suas conversas, o rei não o tomaria a mal? Foi o que eu fiz contigo, e se alguém te quiser distrair deste estado, também me desagradaria”.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade