LIVRO DO CEU VOLUME 1-33
Retrato que Luísa traça da beleza divina da Santíssima
Humanidade de Jesus, tal como Este aparece para ela.
Uma manhã — não me lembro muito bem — creio que
tinham passado cerca de três meses desde que comecei a estar
continuamente na cama; Enquanto estava no meu estado
habitual, veio meu doce Jesus com um aspecto todo amável,
como um jovem com cerca de dezoito anos. Oh como era belo!
Com a cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que
encadeava os pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte
serena e ampla, em que se olhava como dentro de um cristal,
se descobria a infinita sabedoria, a paz imperturbável. Oh!
Como me sentia tranquilizar a mente, meu coração, aliás,
minhas próprias paixões diante de Jesus caíam por terra e não
se atreviam a me dar o mínimo incômodo.
Eu acredito, não sei se estou errada, que não se pode ver a
este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda, de tal
modo que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter
uma visão tão bela. Ah, sim! Ao ver a serenidade de sua fronte
adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que
creio que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus
não se acalme. “Ó meu todo e belo Jesus, se por poucos momentos
que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que se
possa sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes
com a mais perfeita tranquilidade, (parece-me uma mistura de paz e
de dor), o que será no Paraíso?”
Oh, como são belos seus olhos puríssimos, cintilantes de luz;
não são como a luz do sol que querendo olhá-la danifica nossa
vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o
olhar, e só de olhar o interior de sua pupila, de uma cor celeste
escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus
olhos, que um só olhar basta para me fazer sair de mim mesma,
e me fazer correr atrás Dele por caminhos e por montes, pela
terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e
sentir sair em mim algo de divino.
Quem pode dizer a beleza de seu rosto adorável? Sua tez
branca semelhante à neve tingida de uma cor das rosas, das
mais belas; em suas bochechas púrpuras descobre-se a
grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo
Divino, que infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá
tanta confiança, que quanto a mim jamais encontrei pessoa
alguma que me desse ao menos uma sombra da confiança que
dá meu amado Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores,
nem nas minhas irmãs. Ah, sim, esse rosto santo, enquanto é
tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa
amabilidade atrai tanto, de modo que a alma não tem a mínima
dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se
veja. Belo é também o seu nariz afilado, proporcional ao rosto.
Graciosa é sua boca, pequena, mas extremamente bela, seus
lábios finíssimos de uma cor escarlate. Enquanto Ele fala,
contém tanta graça que é impossível poder descrevê-lo. É doce
a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto se
expressa, sai de sua boca um perfume tal, que parece que não
se encontra sobre a terra, é profundo, de modo que penetra
tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos
afetos produz, mas quem pode dizer tudo? Pois é tão agradável
que julgo que não se pode encontrar outros prazeres como os
que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de
meu Jesus é potentíssima, é operante, e no mesmo ato que fala
faz o que diz. Ah sim, é formosa sua boca, mas mostra mais sua
formosa graça no ato de falar, então se veem seus dentes tão
nítidos e bem alinhados, e exala seu sopro de amor, incendeia,
resplandece, consome o coração. Belas são suas mãos, suaves,
brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os
move com uma maestria tal, que é um encanto.
Oh, como Tu és belo, todo belo, oh meu doce Jesus! O que eu disse
sobre Tua beleza é nada, e mais, acho que disse muitos desatinos. Mas
o que queres de mim? Perdoa-me, é a obediência que assim o quer, por
mim não me teria atrevido dizer uma só palavra, conhecendo minha
incapacidade.
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade