Livro do Céu Volume 1-52
Lembro-me que, seguindo o meu pedido de crucificação e transportando-me para fora de mim mesma, Jesus levou-me aos lugares santos de Jerusalém, onde Nosso Senhor padeceu a sua dolorosa Paixão, e ali encontramos muitas cruzes e o meu amado Jesus disse-me: “Se tu soubesses que bem a cruz contém em si, como torna preciosa a alma, que joia de inestimável valor adquire quem tem o bem de possuir os sofrimentos, basta dizer-te somente que vindo à Terra não escolhi as riquezas, os prazeres, mas tive, como amadas e íntimas irmãs, a cruz, a pobreza, os sofrimentos e as ignomínias”.
Enquanto assim dizia, mostrava um gosto tal, uma alegria pelo sofrimento, que essas palavras me trespassavam o coração como tantos dardos ardentes, tanto que me sentia faltar a vida se o Senhor não me concedia o sofrer, e com toda a força e a voz que tinha não fazia outra coisa que lhe dizer: “Esposo Santo, dá-me o sofrer, dá-me as cruzes, só com isto saberei que me amas, se me contentares com as cruzes e com os sofrimentos”.
E então tomava uma daquelas cruzes maiores que via, punha-me sobre ela e rogava a Jesus que viesse crucificar-me, e Ele se comprazia em tomar minha mão e começava a traspassá-la com o prego, de vez em quando o bendito Jesus me perguntava: “O que, isso te dói muito? Queres que Eu pare?”
E eu: “Não, não, meu amado, continue, dói, sim, mas estou contente”. E temia tanto que não acabasse de me crucificar, que não fazia outra coisa senão dizer-lhe: “Faze-o depressa, ó Jesus, faze-o depressa, não demores tanto”.
Mas quando tinha que cravar a outra mão, os braços da cruz se encontravam curtos, enquanto antes me haviam parecido suficientes para poder crucificar-me. Quem pode dizer como ficava mortificada?
Isto repetia-se em muitas ocasiões, e às vezes se os braços da cruz eram adequados, o comprimento da haste não alcançava para poder estender os pés, em uma palavra, faltava sempre alguma coisa para não se poder cumprir de todo a crucificação. Quem pode dizer a amargura da minha alma e os lamentos que fazia com Nosso Senhor porque não me concedia o verdadeiro sofrimento? Dizia-lhe: “Meu amado, tudo termina em burla; dizia-me que querias levar-me ao Céu, e logo de novo me fazias voltar à terra, dizia-me que querias crucificar-me, e jamais chegamos à completa crucificação”. E Jesus novamente me prometeu que me crucificaria.
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