Livro do Céu Volume 1 – Luisa Piccarreta

LIVRO DO CÉU
Livro do Céu Volume 1 – Luisa Piccarreta
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I. M. I.

(1) Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
(2) Por pura obediência começo a escrever.
(3) Tu sabes, ó Senhor, o sacrifício que me custa fazer, e que me submeteria a mil mortes antes de escrever uma só linha das coisas que passaram entre Tu e eu. Oh meu Deus! Minha natureza treme, sente-se esmagada e quase desfeita só de pensar. ¡ Ah, dá-me a força, ó vida da minha
vida, a fim de que possa cumprir a santa obediência! Tu que deste a inspiração ao confessor, dá-me a graça de poder cumprir o que me é mandado.

(4) Oh Jesus, ó Esposo, ó minha fortaleza! A Ti me dirijo, a Ti venho, em teus braços me introduzo, me abandono, me repouso. Ah, consola me em minha aflição e não me deixe só e abandonada!
Sem sua ajuda estou certa que não terei força de cumprir esta obediência que tanto me custa, me vencerá o inimigo e temo ser repudiada justamente por Ti por minha desobediência. ¡ Ah! Olha para mim e olha para mim outra vez, ó Santo Esposo nestes teus braços, vê quantas trevas me rodeiam, são tão densas que não deixam entrar nem sequer um átomo de luz na minha alma. ¡ Oh! Meu místico Sol Jesus, resplandeça esta luz em minha mente, a fim de que faça fugir as trevas e possa livremente recordar as graças que fez a minha alma. ¡ Oh! Sol Eterno, manda outro raio de luz ao íntimo de meu coração e o purifique da lama em que jaz, o queime, o consuma em teu Amor, a fim de que ele, que mais que tudo provou as doçuras de teu Amor, possa claramente manifestá-las a quem está obrigado. A culpa é minha! Meu Sol Jesus, manda outro raio de luz ainda sobre meus lábios para que possa dizer a pura verdade, com a única finalidade de conhecer se é verdadeiramente Você ou bem ilusão do inimigo. Mas, oh! Jesus, quão escassa de luz vejo- me ainda nestes braços teus. Ah! Contenta-me, Tu que tanto me amas, continua a mandar-me luz.

. Oh! Meu Sol, meu belo, propriamente quero entrar no centro, a fim de ficar toda abismada nesta luz puríssima. Faz, ó Sol Divino, que esta luz me preceda diante, me continue junto, circunde-me por toda parte, se introduza nos mais íntimos esconderijos de meu interior, a fim de que,
consumindo meu ser terreno, transforme tudo em seu Ser Divino.

(5) Virgem Santíssima, Mãe amável, venha em meu auxílio, obtenha-me de você e meu doce Jesus graça e força para cumprir esta obediência.
(6) São José, meu amado protetor, Senhor nesta circunstância. Arcanjo São Miguel, defenda-me do inimigo infernal, que tantos obstáculos me põe na mente para fazer-me faltar a esta obediência.
Arcanjo São Rafael e tu meu Anjo Guardião, vinde assistir-me e acompanhar-me, a dirigir a minha mão a fim de que possa escrever só a verdade.
(7) Seja tudo para honra e glória de Deus, e para mim toda a confusão. Oh, Santo Esposo, venha em minha ajuda! Ao considerar as muitas graças que fizeste à minha alma, sinto-me toda espantada, toda cheia de confusão e vergonha ao me ver ainda tão má e sem corresponder a tuas graças. Mas meu amável e doce Jesus, perdoa-me, não te retires de mim, continua derramando em mim tua graça, a fim de que possas fazer de mim um triunfo de tua Misericórdia.

Em 28 de fevereiro de 1899, Começa sua narração aos 17 anos e só põe as primeiras duas meditações.

(8) E agora começo a Novena do Santo Natal. Aos dezessete anos, preparei-me para a festa do Santo Natal praticando diferentes atos de virtude e mortificação, honrando especialmente os nove meses que Jesus esteve no seio materno com nove horas de meditação por dia, referentes sempre
ao mistério da Encarnação.

(9) 1o. – Como por exemplo, em uma hora me punha com o pensamento no paraíso e me imaginava à Santíssima Trindade: ao Pai que mandava o Filho à terra, ao Filho que prontamente obedecia ao Querer do Pai, e ao Espírito Santo que consentia nisso. Minha mente se confundia tanto ao contemplar um mistério tão grande, um amor tão recíproco, tão igual, tão forte entre eles e para com os homens; e na ingratidão destes, especialmente a minha; que nisto teria ficado não uma hora, mas todo o dia, mas uma voz interna me dizia:

(10) “Chega, vem e vê outros maiores excessos do meu Amor”.
(11) 2o. – Então minha mente se punha no seio materno, e ficava estupefata ao considerar aquele Deus tão grande no Céu, e agora tão humilhado, diminuído, restringido, que quase não podia mover-se, nem sequer respirar. A voz interior dizia-me:

(12) “Vês quanto te amei? ” Ah! Dá-me um lugar em teu coração, tira tudo o que não é meu, porque assim me dará mais facilidade para poder me mover e respirar”.
(13) Meu coração se desfazia, lhe pedia perdão, prometia ser toda sua, me desabafava em pranto, no entanto, digo-o para minha confusão, voltava a meus habituais defeitos. ¡ Oh! Jesus, quão bom foste com esta criatura miserável.

(14) E assim passava a segunda hora do dia, e depois, pouco a pouco o resto, que dizer tudo seria aborrecer. E isto fazia-o às vezes de joelhos e quando era impedida de fazê-lo pela família, fazia-o mesmo trabalhando, porque a voz interior não me dava nem trégua nem paz se não fizesse o que queria, assim que o trabalho não me era impedimento para fazer o que devia fazer. Assim passei os dias da novena, quando chegou a véspera me sentia mais que nunca acendida por um insólito fervor. Eu estava sozinha no quarto quando o menino Jesus me foi apresentado, todo bonito, sim, mas tiritando, em atitude de querer me abraçar, eu me levantei e corri para abraçá-lo, mas no momento em que o ia estreitar desapareceu, isto se repetiu três vezes. Fiquei tão comovida e acesa de amor, que não sei explicar; mas depois de algum tempo não o levei mais em conta, e não o disse a ninguém, de vez em quando caía nas habituais faltas. A voz interior não me deixou nunca mais, em cada coisa me repreendia, me corrigia, me animava, em uma palavra, o Senhor fez comigo como um bom pai com um filho que tende a desviar-se, e ele usa todas as diligências, os cuidados para mantê-lo no reto caminho, de modo de formar dele a sua honra, a sua glória, a sua coroa. Mas, ó! Senhor, muito ingrata te tenho sido.

Ensina-lhe o desapego. Desapego do mundo exterior.

(15) Depois o Divino Mestre dá início, põe sua mão para desapegar meu coração de todas as criaturas, e com voz interior me dizia:
(16) “Eu sou o único que merece ser amado; olha, se você não tirar este pequeno mundo que o rodeia, isto é, pensamentos de criaturas, imaginações, Eu não posso entrar livremente em seu coração, este murmúrio em sua mente é impedimento para te deixar ouvir mais clara minha voz, para derramar as minhas graças e para te fazer apaixonar verdadeiramente por Mim. Prometa ser toda minha e eu mesmo porei mãos à obra. Tu tens razão em que não podes nada, não temas, Eu farei tudo, dá-me a tua vontade e isso me basta”.

(17) E isto acontecia mais freqüentemente na Comunhão; então lhe prometia ser toda sua, pedia perdão por que até aquele momento não o havia sido, lhe dizia que verdadeiramente o queria amar e lhe rogava que não me deixasse nunca mais só sem Ele. E a voz continuava:

(18) “Não, não, virei contigo para observar todas as tuas ações, movimentos e desejos”.

(19) Todo o dia o sentia sobre mim, me repreendia de tudo, como por exemplo se me entretinha demasiado falando com a família de coisas indiferentes, não necessárias, a voz interna me dizia:
(20) “Estas conversas enchem-te a mente de coisas que não me pertencem a Mim, circundam-te o coração de pó, de modo que te faz sentir débil minha Graça, não mais viva. ¡ Ah! Me imite quando estava na casa de Nazaré, minha mente não se ocupava de outra coisa que da glória do Pai e da
salvação das almas, minha boca não dizia outra coisa que discursos santos, com minhas palavras buscava reparar as ofensas ao Pai, tratava de flechar os corações e atraí-los ao meu Amor, e primariamente a minha Mãe e a São José, em uma palavra, tudo nomeava a Deus, tudo era feito por Deus e tudo a Ele se referia. Por que você não poderia fazer o mesmo?”

(21) Eu ficava muda, toda confusa, tratava por quanto mais podia de estar sozinha, confessava-lhe minha debilidade, pedia-lhe ajuda e graça para poder fazer o que Ele queria, porque por mim só não sabia fazer outra coisa que mal. Se durante o dia minha mente se ocupava em pensar em
pessoas às quais eu queria, em seguida me repreendia dizendo-me:

(22) “Isto é o bem que me queres? Quem te amou como Eu? Olhe, se você não acabar com isso Eu te deixo”.

(23) Às vezes eu me sentia dando tais e tantas reprovações amargas, que não fazia outra coisa que chorar. Especialmente uma manhã, depois da Comunhão, deu-me uma luz tão clara sobre o grande amor que Ele me dava e sobre a volubilidade e inconstância das criaturas, que o meu coração ficou tão convencido, que daí em diante já não foi capaz de amar a nenhuma pessoa.
Ensinou-me a amar as pessoas sem me separar Dele, isto é, a olhar para as criaturas como imagem de Deus, de modo que se recebia o bem das criaturas, devia pensar que só Deus era o primeiro autor daquele bem e que se tinha servido da criatura para me dar, então meu coração se unia mais a Deus. Se recebia mortificações, devia vê-las também como instrumentos nas mãos de Deus para a minha santificação, por isso meu coração não ficava ressentido com meu próximo.
Então por este modo acontecia que eu olhava as criaturas todas em Deus, por qualquer falta que visse nelas jamais lhes perdia a estima, se zombavam de mim me sentia obrigada com elas pensando que me faziam fazer novas Aquisições para minha alma, se me louvavam, recebia com desprezo estes louvores dizendo: “Hoje isto, amanhã podem me odiar, pensando em sua inconstância”. Em suma, meu coração adquiriu uma liberdade que eu mesma não sei explicar.

Purificação interior. Purificação do interior de sua alma.

Quando o Divino Mestre me libertou do mundo externo, então pôs a mão a purificar o interior, e com voz interior me dizia:
(24) “Agora estamos sozinhos, não há mais quem nos perturbe, não está agora mais contente que antes que devia contentar a tantos e tantos? Olha, é mais fácil contentar um só, deves fazer de conta que eu e tu estamos sozinhos no mundo, promete ser fiel e eu verterei em ti tais e tantas graças que tu mesma ficarás maravilhada”.
(25) Depois continuou a dizer-me: “Sobre ti fiz grandes desígnios, sempre e quando tu me corresponderes, quero fazer de ti uma perfeita imagem minha, começando desde que nasci até que morri; Eu mesmo te ensinarei um pouco cada vez o modo como o farás”.

(26) E acontecia assim: Todas as manhãs, depois da Comunhão, dizia-me o que devia fazer no dia. Direi tudo brevemente, porque depois de tanto tempo é impossível poder dizer tudo. Não me lembro bem, mas me parece que a primeira coisa que me dizia que era necessária para purificar o
interior de meu coração, era o aniquilamento de mim mesma, isto é, a humildade. E continuava dizendo-me:

27) “Olha, para fazer com que Eu derrame as minhas graças no teu coração, quero fazer-te compreender que por ti nada podes. Eu cuido muito bem daquelas almas que se atribuem a si mesmas o que fazem, querendo me fazer tantos furtos de minhas graças. Em vez disso, com aquelas que se conhecem a si mesmas, Eu sou generoso em verter a torrentes minhas graças, sabendo muito bem que nada se referem a elas mesmas, agradecem-me e têm a estima que convém, vivem com medo de que, se não me corresponderem, posso tirar-lhes o que lhes dei, sabendo que não são coisas uma delas. Pelo contrário, nos corações que fedem de soberba, nem sequer posso entrar em seu coração, porque inflado deles mesmos não há lugar onde possa me colocar; as miseráveis não levam em conta minhas graças e vão de queda em queda até à ruína.

Por isso quero que neste dia faça contínuos atos de humildade, quero que você esteja como um menino envolto em fraldas, que não pode mover nem um pé para dar um passo, nem uma mão para agir, senão que tudo o espera da mãe, assim você estará junto a Mim como um menino, me rogando sempre que te assista, que te ajude, confessando-me sempre teu nada, em suma, esperando tudo de Mim”.

(28) Então procurava fazer quanto mais podia para satisfazê-lo, me diminuía, me aniquilava, e às vezes chegava a tanto, de sentir quase desfeito meu ser, de modo que não podia obrar, nem dar um passo, nem sequer um respiro se Ele não me sustentava. Além disso, eu estava tão mal que tinha vergonha de me deixar ver pelas pessoas, sabendo que sou a mais feia, como em realidade Eu ainda sou, então quanto mais eu podia fugir e dizer entre mim: “Oh, se vocês soubessem como eu sou ruim, e se pudessem ver as graças que o Senhor está me fazendo, (porque eu não dizia nada a ninguém) e que eu sou sempre a mesma; oh, como me teriam horror!”.

(29) Depois, na manhã em que ia de novo a comungar, me parecia que ao vir Jesus a mim fazia festa pelo contente que sentia ao me ver tão aniquilada, me dizia outras coisas sobre o aniquilamento de mim mesma, mas sempre de maneira diferente da anterior, Acho que não uma,
mas centenas de vezes ele falou comigo, e se ele me tivesse falado milhares de vezes teria sempre novas maneiras de falar sobre a mesma virtude, oh! meu Divino Mestre, quão sábio és, se ao menos te tivesse correspondido.

(30) Lembro-me de uma manhã, quando ele me falava sobre a mesma virtude, ele me disse que por falta de humildade havia cometido muitos pecados, e que se eu tivesse sido humilde, eu teria ficado mais perto dele e não teria feito tanto mal; ele me fez entender como o pecado era feio, a
afronta que este miserável verme tinha feito a Jesus Cristo, a ingratidão horrenda, a impiedade enorme, o dano que tinha vindo a minha alma. Fiquei tão espantada que não sabia o que fazer para reparar, fazia algumas mortificações, pedia outras ao confessor, mas poucas me eram concedidas, assim que todas me pareciam sombras e não fazia outra coisa que pensar em meus pecados, mas sempre mais estreita a Ele. Tinha tanto medo de me afastar dele e de agir pior que antes, que eu mesma não sei explicar. Não fazia outra coisa quando me encontrava com Ele que dizer-lhe a pena que sentia por havê-lo ofendido, pedia-lhe sempre perdão, agradecia-lhe porque tinha sido tão bom comigo, e dizia-lhe de coração: “Olha, oh! Senhor o tempo que perdi, enquanto poderia ter te amado”. Então não sabia dizer outra coisa senão o grave mal que tinha feito; finalmente, um dia repreendeu-me e disse:

Esqueço-me das culpas. Esqueço-me das culpas.

(31) “Não quero que penses mais nisto, porque quando uma alma se humilhou, convencida de ter
feito mal e lavado a sua alma no sacramento da confissão e está disposta a morrer antes de me
ofender, pensar nisso é uma afronta à minha Misericórdia, é um impedimento para a estreitar ao
meu Amor, Porque ela procura sempre, com a sua mente, envolver-se na lama do passado e
impede-me de a fazer voar para o Céu, porque sempre com essas ideias se fecha em si mesma, se
é que procura pensar nelas. E além disso, olha, Eu já não me lembro de nada, eu esqueci
perfeitamente; você vê alguma sombra de rancor da minha parte?”
(32) E eu dizia-lhe: “Não, Senhor, és tão bom”. Mas sentia partir-me o coração de ternura.
(33) E Ele: “E bem, quererás manter diante destas coisas?”
(34) E eu: “Não, não, não quero”.
(35) E Ele: “Pensemos em amar-nos e em contentar-nos mutuamente”.
(36) Daí em diante não pensei mais nisso, fazia quanto mais podia por satisfazê-lo e lhe pedia que
Ele mesmo me ensinasse o modo como devia fazer para reparar o tempo passado. E Ele me dizia:
Imitação da sua Vida. Imitação da vida de Jesus.
(37) “Estou pronto a fazer o que tu queres. Olha, a primeira coisa que eu disse que queria de ti era
a imitação da minha Vida, assim que vejamos o que te falta”.
(38) “Senhor”, dizia-lhe, “me falta tudo, não tenho nada”.
(39) “E bem”, dizia-me: “Não temas, pouco a pouco faremos tudo, Eu mesmo conheço como és
fraco, mas é de Mim que deves tomar força”. (Não me lembro em ordem, mas como posso dizê-lo)
E acrescentava:

Espírito de retidão.

(40) “Quero que sejas sempre reta no teu agir, com um olho deves olhar para Mim e com o outro
deves olhar o que estás a fazer; quero que as criaturas te desapareçam completamente. Se te dão
ordens, não olhe para as pessoas, não, mas deves pensar que eu mesmo quero que faças o que te
é ordenado, então com o olho fixo em Mim não julgarás ninguém, não olharás se a coisa te é
penosa ou te agrada, se podes ou não fazê-la, fechando os olhos a tudo isto os abrirás para olhar
só a Mim, me levarás junto a ti pensando que te estou olhando fixamente e me dirás: “Senhor, só
por Ti o faço, só por Ti quero agir, não mais escrava das criaturas”. Então, se você anda, se você
trabalha, se você fala, em qualquer coisa que você faz, seu único fim deve ser de me agradar só a
Mim. Oh! Quantos defeitos evitará se fizer assim”.
(41) Outras vezes me dizia: “Também quero que se as pessoas te mortifiquem, te injuriam, te
contradizem, o olhar também fixo em Mim, pensando que com a minha própria boca te digo: “Filha,
sou propriamente Eu que quero que sofras isto, não as criaturas, afasta o olhar delas, senão só Eu
e tu sempre, todas as demais destruas. Olha, quero fazer-te bela por meio destes sofrimentos,
quero enriquecer-te com méritos, quero trabalhar a tua alma, tornar-te semelhante a Mim. Você me
fará um presente, me agradecerá afetuosamente, será agradecida com aquelas pessoas que te
dão a oportunidade de sofrer, recompensando-as com algum benefício. Fazendo assim caminharás
reta diante de Mim, nada te dará mais inquietude e gozarás sempre paz”.

Espírito de mortificação.

(42) Depois de algum tempo em que tentei exercitar-me nestas coisas, às vezes fazendo e às
vezes caindo (se bem que vejo claro que ainda me falta este espírito de retidão e sempre fico mais
confusa pensando em tanta ingratidão minha)Jesus falou comigo e me fez entender a necessidade
do espírito de mortificação, (se bem me lembro que em todas estas coisas que me dizia,
acrescentava-me sempre que tudo devia ser feito por amor seu, e que as virtudes mais belas, os
sacrifícios maiores, tornavam-se insípidos se não tinham princípio no amor. A caridade, dizia-me, é
uma virtude que dá vida e esplendor a todas as demais, de modo que sem ela todas estão mortas
e meus olhos não sentem nenhum atrativo, e não têm nenhuma força sobre meu coração; esteja,
pois, atenta e faz que tuas obras, mesmo as mínimas sejam investidas pela caridade, isto é, em
Mim, comigo e por Mim). Agora vamos direto à mortificação.

(43) “Quero”, dizia-me, “que em todas as tuas coisas, até às necessárias, sejam feitas com espírito
de sacrifício. Olhe, suas obras não podem ser reconhecidas por Mim como minhas se não têm a
marca da mortificação. Assim como a moeda não é reconhecida pelos povos se não contém em si
mesma a imagem de seu rei, é desprezada e não tomada em conta, assim é de suas obras, se não
têm o enxerto com minha cruz não podem ter nenhum valor. Olha, agora não se trata de destruir as
criaturas, mas a ti mesma, de te fazer morrer para viver somente em Mim e de minha própria Vida.
É verdade que te custará mais do que fizeste, mas tem coragem, não temas, não o farás tu, senão
Eu que operarei em ti”.
(44) Então recebia outras luzes sobre a aniquilação de mim mesma e me dizia:
(45) “Você não é outra coisa que uma sombra, que enquanto você quer tomá-la você foge, você é
nada”.
(46) Eu me sentia tão aniquilada que teria querido me esconder nos mais profundos abismos, mas
me via impossibilitada para fazê-lo, sentia tal vergonha que ficava muda. Enquanto estava neste
reconhecimento do meu nada, Ele me dizia:
(47) “Põe-te junto a Mim, apoia-te no meu braço, Eu te sustentarei com as minhas mãos e tu
receberás força. Você está cega, mas minha luz te servirá de guia. olha, eu vou estar na frente e
você não fará outra coisa que olhar para mim para me imitar”.
(48) Depois me dizia: “A primeira coisa que quero que mortifique é sua vontade, aquele “eu” deve
ser destruído em você, quero que a tenha sacrificada como vítima ante Mim, para fazer que de sua
vontade e da minha se forme uma só. Não estás contente?”

(49) Sim Senhor, mas dá-me a graça, porque vejo que por mim nada posso. E Ele continuava
dizendo-me:
(50) “Sim, Eu mesmo te contradirei em tudo, e às vezes por meio das criaturas”.
(51) E assim acontecia. Por exemplo: Se pela manhã eu acordasse e não me levantasse logo, a
voz interior me dizia: “Tu descansas, e eu não tive outro leito que a cruz, a cruz, logo, logo, sem
tanta satisfação”.
(52) Se caminhava e minha vista se ia um pouco longe, logo me repreendia: “Não quero, tua vista
não a afaste de ti além da distância de um passo a outro, para fazer que não tropeces”.
(53) Se me encontrava no campo e via flores, árvores, dizia-me: “Eu tudo criei por amor teu, tu
privas a tua vista deste contentamento por amor meu”.
(54) Mesmo nas coisas mais inocentes e santas, como por exemplo os ornamentos dos altares, as
procissões, dizia-me: “Não deves ter outro prazer senão em Mim sozinho”.
(55) Se, enquanto trabalhava, estava sentada, me dizia: “Está muito cômoda, não se lembra que
minha Vida foi um contínuo penar? E você? E você?”.
(56) Logo, para agradá-lo me sentava na metade da cadeira e a outra metade a deixava vazia, e
algumas vezes em brincadeira lhe dizia: “Olha, Senhor, a metade da cadeira está vazia, vem
sentar-te junto a mim”. Uma vez, senti-me tão feliz que nem sei dizer. Algumas vezes que estava
trabalhando com lentidão e desbotada me dizia: “Logo, depressa, que o tempo que ganhará se
apressando virá a passá-lo junto Comigo na oração.”
(57) Às vezes, Ele mesmo me dizia quanto trabalho eu deveria fazer. Pedia que ele viesse me
ajudar. “Sim, sim”, me respondia, “faremos isso juntos para que, depois que você terminar,
ficaremos mais livres”. E acontecia que em uma hora ou duas eu fazia o que tinha que fazer o dia
todo, então ia orar e me dava tantas luzes e me dizia tantas coisas que levaria muito tempo para
dizê-las. Lembro-me de que, enquanto trabalhava sozinha, via que não alcançava o fio para
concluir o trabalho e que teria que ir com a família para busca-lo, então me dirigia a Ele e dizia: “De
que serve, meu amado, ter me ajudado, porque agora vejo que preciso ir à família, e posso
encontrar pessoas e elas me impedirão de voltar novamente, e então nossa conversa terminará. ”
“O que, o que”, ele me dizia, “e você tem fé?” Sim. ” Pois não tema, eu farei você terminar tudo.” E
assim sucedia, e logo eu me punha a rezar.

(58) Se fosse a hora do almoço e eu comesse algo agradável, me repreendia internamente
dizendo: “Talvez você tenha esquecido que eu não tinha outro gosto além de sofrer por seu amor,
e que você não deveria ter outro gosto além de se mortificar por meu amor? Deixe e coma o que
não gosta ”. E eu imediatamente pegava e levava para a pessoa que ajudava no serviço, ou então
dizia que não queria mais, e muitas vezes passava quase em jejum, mas quando ia a oração,
recebia tanta força e sentia tanta saciedade que me sentia enjoada de tudo o mais.
(59) Outras vezes, para me contradizer, se eu não sentisse vontade de comer, ele me dizia:
“Quero que você coma pelo meu amor, e enquanto a comida se une ao corpo, peça-me para unir
meu amor à sua alma e todas as coisas serão santificadas”.
(60) Em uma palavra, sem ir mais longe, mesmo nas menores coisas tratava de fazer morrer
minha vontade, para me fazer viver apenas para Ele. Permitia que até o confessor me
contradissesse como por exemplo: Eu tinha um grande desejo de receber a comunhão e durante
todo o dia e noite não fiz nada além de me preparar, meus olhos não podiam fechar-se para dormir
devido aos batimentos cardíacos contínuos e eu disse a ele: “Senhor, apresse-se porque não
posso ficar sem Ti, acelere as horas, faça surgir logo o sol porque não aguento mais, meu coração
desmaia ”. Ele próprio me fazia certos convites amorosos com os quais me sentia despedaçar o
coração e me dizia; “Olha, eu estou só, não sinta pena de você não poder dormir, trata-se de fazer
companhia a seu Deus, seu Esposo, seu Tudo, que é continuamente ofendido, ah! não me negues
esse consolo, que mais tarde nas tuas aflições Eu não te deixarei ”. Enquanto eu estava com essas
disposições, de manhã ia com o confessor e sem saber por quê, a primeira coisa que ele me dizia
era:
“Não quero que você receba a Comunhão”. Digo a verdade, era tão amargo para mim que às
vezes não fazia nada além de chorar, não me atrevia a dizer nada ao confessor, porque era isso
que Jesus queria que eu fizesse, caso contrário, ele me repreendia; mas ia ter com Ele e dizia
minha tristeza: “Oh meu Bem, por isso a vigília que fizemos esta noite, que depois de tanto esperar
e desejar, devia ficar privada de Ti? Sei bem que devo obedecer, mas diga-me posso estar sem
Ti? Quem me dará a força? Ademais , qual o valor de ir a esta igreja sem levar-te comigo? Eu não
sei que fazer, mas Tu podes remediar a tudo. Enquanto assim desabafava, sentia vir um fogo junto
a mim, entrar uma chama no coração e o sentia dentro de mim, e em seguida me dizia: “Acalma-te,
acalma-te, eis me aqui, estou já em seu coração. O que temes agora? No se aflija mais, Eu mesmo
te quero enxugar as lágrimas, tens razão, tú não podia estar sem Mim, não é verdade?
(61) Então eu ficava tão aniquilada em mim mesma por isso, e eu lhe dizia se não tinha sido boa,
Ele não teria colocado dessa maneira, e lhe pedia que ele não me deixasse mais, que sem Ele eu
não queria ficar.
(62) Depois dessas coisas, um dia, após a Comunhão, sentia-o todo amor em mim, e que Ele me
amava tanto, que ficava maravilhada, porque me via tão má, e sem corresponder, e dizia dentro de
mim: “Pelo menos fora boa e lhe correspondera, tenho medo de que me deixe (esse medo de me
deixar sempre tive e ainda tenho, e às vezes é muita a dor que sinto, que acho que a pena de
morte seria menor, e se Ele próprio não vier a me acalmar, não sei como me dar paz) entretanto
Ele quer estreitar-se mais intimamente a mim ”. E enquanto assim que o sentia dentro de mim, com
uma voz interna me disse:

 

Meditação da Paixão de Nosso Senhor.

(63) “Minha amada as coisas passadas foram apenas uma preparação, agora eu quero vir a atos,
e para dispor seu coração para fazer o que eu quero de você, isto é, imitação da minha Vida, quero
que você entre no imenso mar da minha paixão, e quando tiver compreendido bem a amargura das
minhas penas, o amor com que as sofri, quem sou eu que tanto sofri, e quem és tu, s criatura vil,
ah, seu coração não se atreverá a se opor aos golpes, a cruz, que eu só preparei para o seu bem.
Em vez de apenas pensar que eu, seu mestre, ao que sofri, suas tristezas parecerão sombras
comparadas às minhas, sofrimento será doce e você não poderá ficar sem sofrer ”.
(64) Minha natureza tremia só de pensar no sofrimento, pedi a Ele para me dar força, porque sem
Ele eu teria usado seus próprios presentes para ofender o doador. Então comecei a meditar na
Paixão, e isso fez tanto bem à minha alma, que acho que tudo o bem chegou a mim dessa fonte.
Via a paixão de Jesus Cristo como um imenso mar de luz, que com seus inúmeros raios eles me
machucavam muito, isto é, raios de paciência, de humildade, de obediência e de tantas outras
virtudes; Eu me vi toda cercado por essa luz e fui aniquilada me vendo tão diferente de Ele.
Aqueles raios que me inundaram eram para mim muitas outras censuras que me disseram:
(65) “Um Deus paciente, e você? Um Deus humilde e submetido até aos seus próprios inimigos, e
você? Um Deus que sofre tanto por seu amor e seus sofrimentos por seu amor, onde estão eles?
(66) Às vezes, ele mesmo me narrava as penas sofridas por Ele, e ficava tão comovida que
chorava amargamente. Um dia, enquanto trabalhava, eu estava considerando as penas muito
amargas que meu bom Jesus sofreu, meu coração se sentiu tão oprimido pela dor, que me faltava
a respiração; temendo que algo acontecesse comigo, eu queria me distrair inclinando-me para a
varanda a rua, mas o que eu vejo? Eu vejo a rua cheia de gente, e no meio meu amante Jesus
com a cruz nas costas; um o empurrava de um lado e outro alguem pro outro, todo agitado, com o
rosto pingando sangue, que levantou os olhos em minha direção, numa atitude de me pedir ajuda.
Quem pode contar a dor que senti, a impressão que uma cena tão lamentável causou em minha
alma?
Entrei rapidamente no meu quarto, eu mesma não sabia onde estava, meu coração, o sentia rasgar
em pedaços por causa da dor, e chorando lhe dizia:: “Meu Jesus, se ao menos eu pudesse ajudar,
te pudese libertar daqueles lobos furiosos! Ai! eu gostaria ao menos de sofrer essas penas em seu
lugar, para aliviar minha dor. Ah, meu bem, me dê o sofrimento, porque não é justo que Tu sofras
tanto, e eu, pecadora, fique sem sofrer ”.

Desejo de sofrer

(67) Desde então, recordo que se encendiou em mim tanto desejo de sofrer que não se apagou até
agora. Também me lembro que, depois da Comunhão, lhe pedia ardentemente para me conceder
sofrimento, e Ele, às vezes, para me contentar, me parecia que tomava os espinhos da sua coroa
e cravava-os no meu coração; outras vezes, sentia que tomava meu coração entre suas mãos, e o
estreitava tão forte que pela dor que eu sentia perdia os sentidos. Quando avisava que as pessoas
podiam perceber algo, e Ele estava disposto a me dar essas penas, eu logo lhe dizia: “Senhor, o
que Tu está fazendo? Peço que me dê o sofrimento, mas que ninguém perceba.
Por algum tempo, ele me contentou, mas meus pecados me tornaram indigna de sofrer
secretamente, sem que ninguem soubesse.
(68) Lembro-me muitas vezes após a Comunhão, ele me dizia: “Você não poderá realmente se
assemelhar a Mim, senão através de sofrimentos. Até agora eu estive ao seu lado, agora quero
deixá-la sozinha um pouco, sem me fazer sentir. Olha, até agora eu te levei de mãos dadas,
ensinando e corrigindo você em tudo, e você não fez nada além de me seguir. Agora eu quero que
você faça isso por si mesma, mas mais atenta do que antes, pensando que eu estou te olhando
fixamente, mas sem me fazer sentir, e que quando eu me fizer sentir novamente, virei, ou
recompensá-la se você tiver sido fiel a mim ou puni-la se tiver sido ingrata ”.
(69) Fiquei tão chocada e abatida com esta notícia que lhe dizia: Senhor, meu tudo e minha vida,
como poderei sobreviver sem Ti, quem me dará força? Como, depois que me fizesse deixar tudo,
de modo que eu sinto que não existe ninguém para mim, queres me deixar só e abandonada?
Talvez tenha esquecido do quão ruim eu sou, e que sem Ti eu não posso fazer nada? ” E por essa
recriminação, assumindo um aspecto mais sério, acrescentou:
(70) “É que eu quero fazer você compreender bem quem você é. Olha, eu estou fazendo isso
para o seu próprio bem. Não se entristeça, quero preparar seu coração para receber as graças que
lhe designei. Até agora eu te ajudei sensivelmente, agora será menos sensível, te farei você tocar
com a mão seu nada, te cimentarei bem na profunda humildade para poder construir sobre ti os
muros mais altos, assim que em vez de afligir-se, deverias alegrar-se e me agradecer, porque
quanto antes se faça passar pelo mar tempestuoso, quanto mais cedo você chegara a um porto
seguro, quanto mais duras as provas que te sujeitarei, tantas graças maiores eu te darei. Então,
animo, animo, e depois, logo virei”.
(71) E quando ele me disse isso, ele pareceu me abençoar e foi embora. Quem pode dizer a dor
que eu sentia, o vazio que deixava em meu interior, as lágrimas amargas que eu derramei? Porém
eu me resignei à sua Santa Vontade, parecia que de longe lhe beijava a mão que me havia
abençoado dizia-lhe: “Adeus, ó Esposo Santo, adeus”. Vi que tudo para mim tinha acabado, desde
que eu só o tinha, e sem ele, não tinha outro consolo, mas tudo tornou-se tristezas muito amargas.
Antes, as mesmas criaturas intensificavam minha dor, de modo que todas as coisas que via me
pareciam dizer: “Olha, somos obras do seu amado, onde Ele está? Se eu olhasse para a água,
fogo, flores e até as próprias pedras, imediatamente o pensamento me dizia: “Ah, estas são as
obras do seu Esposo. Elas têm o prazer de vê-lo e você não o vê. ” Ah! obras do meu Senhor, me
dê notícias, me digam, onde ele está? Me disse que logo voltaria, mas quem sabe quando?”

(72) Às vezes alcançava uma desolação tão amarga que sentia falta de ar, me sentia gelar toda,
sentia um calafrio em toda a minha pessoa. Às vezes a família percebia isso e eles atribuíam a
alguma doença física e queriam me colocar em tratamento, chamar médicos; as vezes eles
insistiram tanto que conseguiam, mas eu, no entanto, fazia o máximo que podia para ficar sozinha,
então eles raramente notavam. Recordava tambem de todas as graças, as palavras, as correções,
repreensões, via claramente que tudo Ele fizera até ai, tudo, tudo tinha sido obra de sua graça, e
que de mim não ficava mais que o puro nada e a inclinação ao mal; tocava com a mão que sem
Ele eu não sentia mais o amor tão sensível, aquelas luzes tão claras na meditação, de modo que
permanecia por duas ou três horas, fazia o máximo que podia por fazer o que fazia quando o
sentia, porque ouvia aquelas palavras se repetirem: “Se você é fiel a mim, irei premiar-te, se
ingrata, castigar-te ”.
(73) Assim passava as vezes dois dias, às vezes quatro, mais ou menos como a Ele agradava,
meu único consolo era recebê-lo no Sacramento … Ah, sim, certamente, lá o encontrava, não podia
duvidar, e lembro-me de que Ele raramente não se fazia ouvir, porque eu tanto lhe pedia e
importunava, que me contentava, mas não amoroso e amavel, senão severo.
(74) Passados esses dias no estado descrito acima, especialmente se eu tinha sido fiel a Ele,
sentia-o voltar para dentro de mim, falava comigo mais claramente, e como em dias passados eu
não tinha conseguido conceber nem uma palavra dentro de mim, nem ouvir qualquer coisa, então
entendia que não era minha fantasia, como muitas vezes eu costumava pensar antes, Até esse
momento, não dizia nada ao confessor ou a nenhuma outra alma vivente, entretanto fazia quanto
podia para corresponder-lhe, porque senão ele me fazia tanta guerra que não teria paz. Ah,
Senhor, tens sido tão bom comigo, e eu sou tão ruim ainda!

Modo de triunfar nas provas

(75) Continuando com o que havia começado, o sentia dentro de mim, o abraçava, o estreitava e
lhe dizia: “Amado Bem, veja como nossa separação tem sido amarga”.
E Ele me dizia:
(76) “É nada o que você passou, prepare-se para provas mais duras; por isso que eu vim, para
dispor seu coração e fortalece-lo. Agora você vai me contar tudo o que passou, suas dúvidas e
medos, todas as suas dificuldades para poder ensinar-lhe como se comportar na minha ausência ”.

(77) Então eu narrei minhas tristezas dizendo: “Senhor, olha, sem ti eu não tenho conseguido fazer
nada de bom, fiz a meditação toda distraída, feia, tanto que não tinha espírito para oferecer a você.
Na comunhão, não pude passar horas inteiras como quando te sentia, me via sozinha, não tinha
ninguém para me entender, me sentia vazia de tudo, a dor da sua ausência me fazia provar
agonias mortais, minha natureza queria ser despachada em breve para fugir daquela dor, muito
mais do que me pareceu que eu não estava fazendo nada além de perder tempo, e o medo que ao
voltar Tu me castigarias por não ter sido fiel, então eu não sabia o que fazer. Além disso, a dor que
Tu está sendo continuamente ofendido e que eu sem saber quando, como antes, me ensinava,
fazer esses atos de reparação, essas visitas ao Santíssimo Sacramento pelas ofensas que Tu
recebes. Então me diga, como devo fazer? ” E Ele, me instruindo benignamente, me dizia:
(78) 1o.- “Você tem feito mal por estar tão perturbada, não sabe que eu sou o Espírito de paz? E a
primeira coisa que te recomendo é não perturbar a paz do coração; quando em oração não pode
se recolher, não quero que você pense sobre isso ou aquilo, como é ou como não é, fazendo em ti
mesma chamas de distração. Pelo contrário, quando você está nesse estado, a primeira coisa é
que se humilhes, confessando-se merecedora dessas penas, pondo-se como humilde cordeiro nas
mãos do carrasco, que enquanto o mata lhe lambe as mãos; então você, enquanto se ve
espancada, abatida, sozinha, você se resignará às minhas santas disposições, me agradecerá de
todo coração, beijarás a mão que te bate, reconhecendo-se indigna dessas dores, então você me
oferecerá aquelas amarguras, angústias e tédio, pedindo que eu aceite isso como sacrifício de
louvor, de satisfação por sua culpa, de reparação pelas ofensas que Me fazem. Ao fazer isso, sua
oração se elevará diante do meu trono como incenso perfumado, ferirá meu coração e atrairá
novas graças e novos carismas para você; o demônio vendo-te humilde e resignada, toda
abismada em seu nada, não terá forças para se aproximar. Eis que onde você pensou que estava
perdendo, farás grandes aquisições.

(79) 2o.- Em relação à Comunhão, não quero que você se aflija com o que não sabe, deves saber
que é uma sombra das dores que sofri no Getsêmani, como será quando eu te fizer participante
dos flagelos, dos espinhos e dos cravos? O pensamento dos sofrimentos maiores te fará sofrer
com mais animo as penalidades menores, portanto, quando na Comunhão você se encontrar
sozinha, agonizante, pense que eu te quero um pouco em minha companhia na agonia do horto.
Portanto, fique junto a Mim, e faça uma comparação entre suas dores e as minhas. Olha voce
sozinha, privada de Mim, e Eu tambem só, abandonado pelos meus amigos mais fiéis que estão
sonolentos, deixado sozinho até pelo meu Divino Pai, e também no meio de uma dor
amarguissima, cercado por cobras, víboras e cães raivosos, que eram os pecados dos homens, e
onde estavam tambem os seus, que fizeram parte deles, o que me parecia que eles queriam me
devorar vivo, meu coração sentiu tanta opressão como se estivesse sob uma prensa, tanto que
suei sangue vivo. Diga-me, quando você chegou a sofrer tanto? Então quando se encontre privada
de Mim, aflita, vazia de todo consolo, cheio de tristeza, de labuta, de tristezas, vem junto a Mim,
limpa-me esse sangue, oferece-me essas tristezas como alívio para minha agonia amargissima. Ao
fazer isso, você encontrará uma maneira de se distrair Comigo depois da Comunhão; não que você
não sofra, porque a dor mais amarga que posso dar às minhas queridas almas é privando-as de
Mim, mas você, pensando que com o seu sofrimento você me dá conforto, ficará satisfeita.

(80) 3o.- Em relação às visitas e atos de reparação, você deve saber que tudo o que fiz no decorrer
de trinta e três anos, desde o nascimento até a morte, o continuo no sacramento do altar, por isso
quero que me visite trinta e três vezes por dia, honrando todos meus anos e unindo-se Comigo ao
Sacramento, com minhas mesmas intenções, isto é, de reparação,de adoração. Isso você fará em
todos os momentos do dia: o primeiro pensamento de manhã imediatamente, volta diante do
tabernáculo onde estou por seu amor e visite-me, o último pensamento da tarde, enquanto você
dorme à noite, antes e depois de comer, ao começo de toda ação sua, andando, trabalhando ”.
(81) Enquanto assim me dizia, me sentia toda confusa, e sem saber se poderia alcançar faze-lo
Eu disse a ele: “Senhor, peço que fique comigo até que eu tenha o hábito de fazê-lo, porque sei
que contigo posso fazer tudo, mas sem ti o que posso fazer eu, miserável? E ele benignamente
adicionava:

(82) “Sim, sim, eu vou te contentar, quando te faltei? Quero sua boa vontade e darei a você
qualquer ajuda que desejar. ”
(83) E assim fazia. Depois de algum tempo, às vezes com Ele, às vezes privado dele, um dia após
a comunhão me senti mais intimamente unida a Ele, me fez várias perguntas, como: Se eu queria,
se estava disposta a fazer o que Ele queria, até o sacrifício da vida por seu amor; e ele me dizia:
(84) “E você me diz o que quer, estas pronta para fazer o que Eu quero, também Eu farei o que
que você quer “.

Ele quer purificá-la de todo minimo defeito. Como a purifica de tudo

(85) Me sentia confusa, não entendia sua maneira de agir, mas com o tempo eu entendi que ele
usa essa maneira de agir quando quer dispor a alma para novas e mais pesadas cruzes, e sabe
como atrair tanto à Ele com esses estratagemas, que a alma não ousa opor-se ao que Ele quer.
Então eu dizia: “Sim, te amo, mas me diga Tu mesmo, posso encontrar um objeto mais belo, mais
santo e mais amável que Tu? Também por que me pergunta se estou disposta a fazer o que
queres, se há tanto tempo te entreguei a minha vontade e te pedi que não evitasses nem mesmo
me despedaçar de tal maneira que te pudesse agradar? Eu me abandono em Ti. Ó Esposo Santo,
obra livremente, faze de mim o que quiseres, dá-me a tua Graça, pois por mim nada sou e nada
posso”. E Ele me dizia:

(86) “Você está verdadeiramente disposta a tudo o que eu quero?”
(87) Então me senti mais confusa e atordoada e dizia: “Sim, estou disposta”. Mas quase tremendo,
e Ele compassivamente continuou me dizendo: “Não temas, eu serei sua força, você não sofrerá,
mas serei Eu quem sofrerá e lutará em você. Olha, eu quero purificar sua alma de tudo, do mínimo
defeito que poderia impedir meu amor em você, quero provar sua fidelidade, mas como posso ver
se isso é verdade, senão colocando-te no meio da batalha? Você deve saber que eu quero
colocá-la no meio de demônios, lhes darei liberdade para atormentar-te e tentar-te para que
quando você tiver combatido os vícios com as virtudes opostas, já se encontrará de posse de
essas mesmas virtudes que você pensou que perderia e, mais tarde, sua alma purificada e
embelezada, enriquecida, será como um rei que volta vitorioso de uma guerra feroz, que enquanto
acreditava perder o que tinha, se torna mais glorioso e cheio de imensas riquezas. Então eu virei,
formarei minha morada em você, e sempre estaremos juntos. É verdade que será seu estado
doloroso, os demônios não lhe darão paz, nem de dia ou noite, eles sempre estarão em ato de
fazer te guerra feroz, mas sempre tenha em mente o que eu quero fazer de você, isso é, tornar-se
semelhante a Mim, e você não será capaz de alcançá-lo, exceto através de muitos e grandes
tribulações, e assim terás mais animo para suportar as penas.

(88) Quem pode dizer como fiquei assustada com esse anúncio? Senti meu sangue gelar
arrepiando meu cabelo e minha imaginação estava cheia de espectros negros que me parecia que
eles queriam me devorar viva. Pareceu-me que o Senhor, antes de me colocar nesse estado
doloroso, deu liberdade para tudo que eu tinha que sofrer, e eu estava cercada por tudo isso, então
fui até Ele e disse: “Senhor, tem piedade de mim! Ah, não me deixe sozinha e abandonada, eu vejo
que é tanta a raiva dos demônios, que não deixarão de mim, nem o pó, como posso resistir a
eles? Para Ti minha miséria é bem conhecida e quão ruim eu sou, então me dê uma nova graça
para não ofendê-lo. Senhor meu, a dor que mais dilacera minha alma, é ver que Tu também deve
me deixar. Ah, a quem poderei dizer uma palavra, quem deve me ensinar? Mas que sua Vontade
sempre seja feita, e bendito teu Santo Querer ”. E ele gentilmente continuou a me dizer:
(89) “Não te afliges tanto, você deve saber que eu nunca vou permitir que você seja tentada além
de suas forças, se isso eu permito é para seu bem, eu nunca coloco almas em batalha para fazê-
las perecer, primeiro meço sua força, dou-lhes minha graça e depois as introduzo, e se alguma
alma se precipita, é porque não fica unida a Mim com a oração, não sentindo mais a sensibilidade
do Meu Amor vão implorando amor das criaturas, enquanto somente eu posso satisfazer o coração
humano, elas não se deixam guiar pelo caminho seguro da obediência, acreditando mais no
julgamento próprio que em quem as guia em meu lugar, então que maravilha se se precipitam.

Então o que Eu te recomendo é a oração, embora você deva sofrer penas de morte, jamais deves
negligenciar o que costuma fazer, e mais, quanto mais você se veja no precipício, tanto mais
invocará a ajuda de quem pode libertar te. Além disso, quero que você se coloque cegamente em
mãos do confessor, sem examinar o que lhe é dito, você estará cercada pela escuridão e você será
como alguém que não tem olhos e que precisa de uma mão para guiá-la, o olho para ti será a voz
do confessor que como a luz iluminará as trevas, a mão será a obediência que será guia e suporte
para levá-la a um porto seguro. A última coisa que te recomendo é o valor, quero que você
corajosamente entre na batalha, a coisa que mais faz temer um exército inimigo é ver a coragem, a
força, a maneira como desafiam as batalhas mais perigosas, sem temer nada. Assim são os
demônios, eles não temem nada além de uma alma corajosa, toda apoiada em Mim, que com um
espírito forte, vai no meio deles não para ser ferida, mas com a resolução de machucá-los e
exterminá-los; os demônios ficam assustados, apavorados e gostariam de fugir, mas não podem,
porque, vinculados à minha Vontade, são obrigados a permanecer para seu maior tormento. Assim
que não tema a eles, que nada podem fazer-te sem meu Querer. E também, quando eu vir que
você não pode resistir mais e está prestes a desfalecer, se for fiel a mim imediatamente, virei e
colocarei todos em fuga e te darei graça e fortaleza. Anime-se, anime-se!

Peleja com o demônio

(90) Agora, quem pode dizer a mudança que aconteceu dentro de mim? Tudo foi horror para mim,
aquele amor que eu sentia antes em mim, agora o via se transformar em um ódio atroz, que pena
não poder amá-lo mais. Me rasgava a alma ao pensar naquele Senhor que tinha sido tão bom
comigo, e agora ver me forçada a odiá-lo, a blasfemar como se ele fosse o mais cruel inimigo, não
podendo vê-lo nem em suas imagens, porque ao olhá-los, ter rosários entre minhas mãos, ao beija-
los, me vinha tal ímpeto de ódio, e tanta força em contra, que fazê-lo ou cortá-los em pedaços era
a mesma coisa, e às vezes eu fazia tanta resistência, que minha natureza tremia da cabeça aos
pés. Oh Deus, que pena amarga! Eu acredito que se no inferno, não houvesse outras penas, a
mera pena de não poder amar a Deus tornaria o inferno mais horrível. Muitas vezes o diabo
colocou diante de mim as graças que o Senhor me havia dado, agora como obra de minha fantasia
e, por esse motivo, ser capaz de levar uma vida mais livre e confortável; e agora como verdadeiras,
e eles me diziam: “Este e o bem que te queria? Esta é a recompensa, te deixou em nossas mãos,
você é nossa, você é nossa, pois tudo acabou, não há mais que esperar”. E por dentro me sentia
colocando tanto ímpeto de aversão contra o Senhor e de desespero, que às vezes com alguma
imagem nas mãos, era tão forte o desprezo que as quebrava, mas enquanto isso fazia, chorava e
as beijava, mas não sei como dizer como forçada a fazer. Quem pode dizer a dor da minha alma?

Os demônios faziam festa e riam, uns fizeram barulho de um lugar, outros o faziam de outro,
alguns fizeram barulhos, outros me ensurdeciam com gritos dizendo: “Olha como você é nossa,
não temos outra coisa mais que levá-la ao inferno, alma e corpo, verá que faremos isso ”. As
vezes me sentia puxar, ora os vestidos, ora a cadeira onde estava ajoelhada e tanto as moviam e
faziam barulho que eu não podia orar, às vezes o medo era tão grande que, acreditando estar livre,
eu me deitava no cama (porque esses escândalos aconteceram a maior parte a noite), mas
estavam lá também puxando o travesseiro, os cobertores. Mas quem pode dizer o terror, o medo
que eu sentia? Eu mesmo não sabia onde estava, si na terra ou no inferno; havia tanto medo de
que eles realmente tinham me levado, que meus olhos não podiam ser fechados para dormir;
estava como alguém que tem um inimigo cruel que jurou que vai tirar- lhe a vida a qualquer custo,
e acreditava que Isso aconteceria comigo assim que eu fechasse os olhos; então parecia que
alguém estava colocando algo em mim dentro dos olhos, então era forçada a tê-los abertos para
ver quando me levariam, talvez eu pudesse me opor ao que eles queriam fazer, então sentia meu
cabelo arrepiar sobre minha cabeça, um por um, um suor frio por todo o meu corpo que me
penetrava até o ossos e sentia separar meus nervos e ossos e eles se agitavam juntos de medo.
Outras vezes me sentia incitar a tais tentações de desespero e suicídio, que alguma vez tendo me
encontrado perto de um poço, ou uma faca, senti-me puxando para me conduzir dentro ou pegar a
faca e me matar, e era tanta a força que eu tinha que fazer para fugir, que sentia penas de morte e,
enquanto fugia, sentia que eles estavam comigo e ouvia sugerir-me que era inútil para mim viver
depois de ter cometido tantos pecados, que Deus tinha me abandonado por não ter sido fiel; além
do mais, via que havia feito tantas infâmias, que não havia qualquer alma no mundo que tinha
cometido, que para mim não havia como esperar piedade. Nas profundezas da minha alma, ouvi-
os repetir: “Como você pode viver sendo inimiga de Deus? Voce sabe quem é este Deus a quem
você tanto insultou, blasfemou, odiou? Ah, é esse Deus imenso que estava ao seu redor e você
diante de seus olhos se atreveu a ofendê-lo.

Ah perdido o Deus da sua alma, quem lhe dará paz?
Quem te livrará de tantos inimigos?” Era tamanha a pena que não fazia nada além de chorar; às
vezes eu começava a orar e os demônios para aumentar meu tormento, os sentia vindo encima de
mim, e um me espancava, outro me picava e mais outro me apertava garganta. Lembro-me que
uma vez, enquanto orava, me senti puxar meus pés de abaixo, a terra se abrir e as chamas saírem,
e que eu caia dentro; tal foi o horror e a dor que eu fiquei meio morta, tanto que, para me recuperar
daquele estado, Jesus teve que vir e me reanimar, me fez entender que não era verdade que eu
tinha vontade de ofendê-lo, e que eu podia saber por mim mesma pela pena amarguíssima que
sentia, que o diabo era um mentiroso e que eu não deveria fazer-lhe caso, que por enquanto eu
deveria ter paciência e sofrer esses sofrimentos, e que depois a paz viria. Isso acontecia de tempos
em tempos, quando chegava a extremos, e às vezes para me colocar em tormentos mais difíceis.
No momento desse consolo, a minha alma se convencia, porque nessa luz é impossível que a
alma não aprenda a verdade, mas depois quando eu estava na luta eu estava no mesmo estado de
antes.

(91) Me tentava tambem a não receber a Comunhão, convencendo-me de que depois de eu ter
cometido tantos pecados, era atrevimento me aproximar, e que se eu me atrevesse, não Jesus
Cristo teria vindo, se não o demônio, e tantos tormentos ele me daria, que me daria a morte, mas a
obediência a vencia (a tentação), é verdade que às vezes sofria penas mortais, assim que eu podia
trabalhosamente recuperar me após a Comunhão, mas como o confessor queria absolutamente
que eu a recebesse, não poderia fazer de outro modo. Eu lembro que várias vezes não a recebi.
(92) Também me lembro que às vezes, enquanto orava à noite, eles apagavam minha lâmpada;
às vezes faziam tais rugidos de dar medo; outras vezes vozes débeis, como se fossem
moribundos, mas quem poderia dizer tudo o que eles faziam?

(93) Agora, essa dura batalha, embora não me lembre muito bem, durou três anos, embora dias
ou semanas separados, não que parassem por completo, mas começassem a diminuir.
(94) Lembro-me de que, depois de uma Comunhão, o Senhor me ensinou como eu deveria fazer
para os pôr em fuga, que era desprezá-los e não lhes prestar nenhuma atenção, e que eu deveria
fingir que eram tantas formigas. Senti-me infundir tanta força que não sentia mais o medo de antes,
e fazia assim: Quando faziam um barulho, rumores, eu dizia lhes: “se ve que não têm nada que
fazer, e que para passar o tempo estão fazendo tantas tonteiras; façam, façam, que depois quando
se cansarem, terminarão”. Às vezes paravam, outras vezes ficavam tão zangados que faziam
ruídos mais altos. Eu os sentia ao meu lado, fazendo-se mais fortes e faziam violência para me
levar, cheirava a horrível peste, sentia o calor do fogo. É verdade que no meu íntimo sentia um
estremecimento, mas me forçava e lhes dizia: “Mentirosos que sois, se isto fosse verdade desde o
primeiro dia o havíeis feito, mas como é falso e que não tendes nenhum poder sobre mim, senão
só aquele que vos vem dado do alto, por isso digam, digam, e depois quando vos cansardes,
estourareis forçava e lhes dizia: Se emitiam lamentos e gritos, dizia-lhes: “O que, não saíram bem
as coisas hoje?” Ou seja, “lamentais-vos porque vos foi tirada alguma alma?
Pobrezinhos, não se sentem bem, porém quero também eu fazê-los lamentar outro pouco”. E
começava a rezar pelos pecadores, ou a fazer reparações. Às vezes ria-me quando começavam a
fazer as habituais coisas e lhes dizia: “Como posso temê-los, raça vil? Se fossem seres sérios não
teriam feito tantas tolices, vocês mesmos, não se envergonham? não façam o que os tornam
ridículos”. Depois, se me punham tentações de blasfemar ou de ódio contra Deus, oferecia aquela
pena amarguíssima, aquela violência que me faziam, porque enquanto via que o Senhor merecia
todo o amor, todos os louvores, eu era forçada a fazer o contrário, em reparação de tantos que
livremente o blasfemam e que nem sequer se lembram que existe um Deus, que estão obrigados a
amá-lo. Se me incitavam ao desespero, em meu interior dizia: “Não presto atenção nem do paraíso
nem do inferno, a única coisa que me apressa é amar a meu Deus, este não é tempo de pensar em
outra coisa, senão que é tempo de amar quanto mais possa a meu bom Deus, o paraíso e o inferno
os deixo em suas mãos ,e Ele, que é tão bom me dará o que mais me convém, e me dará um lugar
onde possa glorificá-lo mais”.

95) Jesus Cristo me ensinou que o meio mais eficaz para fazer com que a alma fique livre de toda
vã apreensão, de toda dúvida, de todo temor, era declarar diante do Céu, da terra e diante dos
próprios demônios, não querer ofender a Deus, mesmo à custa da própria vida, não querer
consentir a qualquer tentação do demônio, e isto enquanto a alma adverte que vem a tentação, se
pode, no momento da batalha, e apenas se começa a sentir livre, e também durante o curso do dia.
Fazendo assim, a alma não perderá tempo em pensar se consentiu ou não, porque só recordar a
promessa lhe restituirá a calma, e se o demônio busca inquietá-la, poderá responder-lhe que se
tivesse tido intenção de ofender a Deus, não teria declarado o contrário, e assim ficará livre de todo
temor.

(96) Agora, quem pode dizer a raiva do demônio, pois agindo assim todas as suas astúcias
resultavam para sua confusão, e onde acreditava ganhar perdia, já que de suas mesmas tentações
e artifícios a alma se servia para poder fazer atos de reparação e amor ao seu Deus?
(97) O outro modo que me ensinou para afastar as tentações foi o seguinte: Se me tentavam a
suicídio eu devia responder: “Não tendes nenhuma permissão de Deus, é mais, para vosso
despeito quero viver para poder amar mais a meu Deus”. Se eu fosse espancada, eu deveria me
humilhar, ajoelhar e agradecer ao meu Deus porque isso acontecia como penitência pelos meus
pecados, e não só isso, mas oferecer tudo como atos de reparação por todas as ofensas feitas a
Deus no mundo.
(98) Finalmente, uma tentação feia que durou pouco, Por cerca de um ano e meio com os
demônios tão feios, eu devia ficar grávida e depois parir um pequeno demônio com chifres. Minha
fantasia crescia tanto, que eu me via diante de uma confusão horrível, pelo que se teria dito de mim
por tão espantoso acontecimento.
(99) Depois de cerca de ano e meio desta luta, finalmente terminaram as crueldades dos
demônios e começou uma vida toda nova, mas os demônios não deixaram de me incomodar de
vez em quando, mas não eram tão freqüentes, não tão feroz a batalha, e eu me acostumei a
desprezá-los.
(100) A vida nova que começou foi na casa de campo chamada “Torre Disperata”. Um dia, em
que mais do que nunca tinha sido atormentada pelo demônio, tanto que senti perder as forças e
desmaiar, pela tarde, enquanto estava assim senti vir-me uma coisa mortal e perdi os sentidos,
neste estado vi a Jesus Cristo rodeado de muitos inimigos, quem lhe golpeava, quem lhe

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esbofeteava, quem lhe cravava os espinhos na cabeça, quem lhe partia as pernas, quem os
braços. Depois que o reduziram quase em pedaços o puseram nos braços da Virgem, e isto
acontecia um pouco longe de mim. Depois que a Virgem Santíssima o tomou em seus braços,
aproximou-se de mim e chorando me disse:
(101) “Filha, olha como é tratado meu Filho pelos homens, as horríveis ofensas que cometem
jamais lhe dão trégua, olhe como sofre”.
(102) Eu tentava vê-lo e via-o todo sangue, todo chagas, e quase despedaçado, reduzido a um
estado mortal, sentia tais penas que tivesse querido morrer mil vezes em vez de ver meu Senhor
sofrer tanto, me envergonhava de meus pequenos sofrimentos. A Santíssima Virgem acrescentou,
mas sempre chorando:

Luisa é escolhida como vítima. Confessores
(103) “Aproxima-te a beijar as chagas de meu Filho, Ele te escolhe como vítima, e se tantos o
ofendem, tu oferecendo-te a sofrer o que Ele sofre lhe darás um alívio em tanto sofrer, não o
aceitas?”
(104) Eu me sentia tão aniquilada, tão má (como ainda sou) e indigna, que não ousava dizer
“sim”. Minha natureza tremia, me sentia tão fraca pelas penas passadas, que mal me restava um
fio de vida. Além disso, não sei como, de longe via os demônios que tanto alvoroçavam, faziam
muito ruído, e via que tudo o que tinha visto que tinham feito ao Senhor deviam faze-lo a mim se
aceitasse. Em mim mesma sentia tais penas, dores, estiramentos de nervos, que acreditei que
deixaria a vida. Finalmente me aproximei e lhe beijei as chagas, parecia que ao fazê-lo aqueles
membros tão lacerados se curavam, e o Senhor que antes parecia quase morto começava a
reanimar-se a nova vida. Internamente recebia tais luzes sobre as ofensas que se cometem,
atrações para aceitar ser vítima ainda que devesse sofrer mil mortes, porque o Senhor tudo
merecia, e que eu não poderia opor-me ao que Ele queria. Isto acontecia enquanto estávamos em
silêncio, mas aqueles olhares que reciprocamente nos dávamos eram tantos convites, tantas
flechas ardentes que me trespassavam o coração. Especialmente a Santíssima Virgem me incitava
a aceitar, mas quem pode dizer tudo o que passei? Finalmente o Senhor, olhando-me com
benignidade, disse-me:
(105) “Tu viste o quanto me ofendem e quantos caminham pelos caminhos da iniqüidade, e sem o
perceberem precipitam-se no abismo. Vem oferecer-te ante a Divina Justiça como vítima de
reparação pelas ofensas que se fazem e pela conversão dos pecadores, que a olhos fechados
bebem na fonte envenenada do pecado. Um imenso campo se abre diante de ti, de sofrimentos,
sim, mas também de graças; Eu não te deixarei mais, virei em ti a sofrer tudo o que me fazem os
homens, fazendo-te participar das minhas penas. Como ajuda e consolo te dou a minha Mãe”.

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(106) E parecia que me entregava a Ela, e Ela me aceitava. Eu também me ofereci toda a Ele e à
Virgem, disposta a fazer o que Ele queria, e assim terminou a primeira vez.
(107) Depois de me recuperar daquele estado, sentia tais penas, tal aniquilamento de mim
mesma, que me via como um miserável verme que não sabia fazer mais que arrastar-se por terra,
e dizia ao Senhor: “Ajuda, tua Onipotência me aterroriza, vejo que se Tu não me levantas, meu
nada se desfaz e vai dispersar-se. Dá-me o sofrimento, mas te rogo me dê a força, porque me sinto
morrer”. E assim começou um alternar-se de visitas de Nosso Senhor e de tormentos por parte dos
demônios; quanto mais me resignava, tanto mais aumentava sua raiva.
(108) Poucos dias depois do dito anteriormente, senti de novo perder os sentidos (Lembro-me que
no início, sempre que isso me acontecia, eu achava que devia deixar a vida). Quando perdi os
sentidos, Nosso Senhor voltou a fez ver-se com a coroa de espinhos na cabeça, tudo jorrando
sangue, e dirigindo-se a mim disse:
(109) “Filha, olha o que me fazem os homens; nestes tristes tempos é tanta sua soberba que
infestaram todo o ar, e é tanta a peste que por toda parte se espalha, tanto, que chegou até meu
trono no empírico. Fazem de tal modo que eles mesmos se fecham o Céu; os miseráveis, não têm
olhos para ver a verdade porque estão ofuscados pelo pecado da soberba, com o cortejo dos
demais vícios que levam consigo. Ah, dá-me um alívio a tão acerbos dores e uma reparação a
tantas ofensas que me fazem”.
(110) Dizendo isto ele tirou a coroa, que não parecia coroa mais um novelo inteiro, assim, nem
sequer uma pequena parte da cabeça ficava livre, mas toda era atravessada por aqueles espinhos.
Quando ele tirou a coroa, veio ter comigo e perguntou-me se eu a aceitava. Eu me sentia tão
aniquilada, sentia tais penas pelas ofensas que lhe são feitas, que me sentia destroçar o coração e
lhe disse: “Senhor, faz de mim o que queiras”. E assim o fez e a empurrou sobre minha cabeça e
desapareceu.
(111) Quem pode dizer a dor que senti ao voltar a mim mesma? A cada movimento da cabeça
acreditava expirar, tantos eram as dores, as picadas que sentia na cabeça, nos olhos, nas orelhas,
atrás na nuca, aqueles espinhos me sentia penetrar até na boca, e esta se apertava de tal modo
que não podia abri-la para tomar o alimento, e estava às vezes duas e às vezes três dias sem
poder tomar nada. Quando de algum modo se atenuavam, sentia sensivelmente uma mão que me
oprimia a cabeça e renovava as penas, e às vezes eram tantas as dores que perdia os sentidos.
No início isto acontecia alguns dias sim e outros não, de vez em quando se repetia três ou quatro
vezes ao dia, às vezes durava um quarto de hora, outras vezes meia hora e outras uma hora, e
depois ficava livre só, que me sentia muito débil e sofrida, na medida em que naquele estado de
dormência me tinham sido comunicadas as penas, assim ficava mais ou menos dolorida.
(112) Lembro-me também como algumas vezes pelos sofrimentos da cabeça, como disse acima,

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não podia abrir a boca para tomar o alimento, e como a família sabia que não tinha vontades de
estar no campo, quando viam que não comia atribuíam-no a um capricho meu, e naturalmente se
zangavam, se inquietavam e me repreendiam. Minha natureza queria ressentir-se disto, porque via
que não era verdade o que eles diziam, mas o Senhor não queria este ressentimento, e eis como
aconteceu:
(113) Uma noite, enquanto estávamos à mesa e eu neste estado de não poder abrir a boca, a
família começou a inquietar-se, eu o sentia tanto que comecei a chorar, e para não ser vista me
levantei e fui a outro quarto para seguir chorando, e pedia a Jesus Cristo e à Virgem Santíssima
que me dessem ajuda e força para suportar essa prova, Mas enquanto fazia isto senti que
começava a perder os sentidos. Meu Deus, que pena só de pensar que a família me veria, sendo
que até então não o tinha advertido! Enquanto eu estava nisso, eu dizia: “Senhor, não deixe que
me vejam”. E eu tinha tanta vergonha de que me vissem, embora não sei dizer por que, e tratava
por quanto mais podia me esconder em lugares onde não podia ser vista; quando era surpreendida
inesperadamente por esse estado, de modo que não tinha tempo de me esconder ou ao menos de
me ajoelhar, porque na posição em que me encontrava assim ficava, e poderiam dizer que estava
rezando, então me descobriam. Enquanto perdia os sentidos, Nosso Senhor se fez ver no meio de

muitos inimigos que lhe lançavam toda classe de insultos, especialmente o agarravam e pisavam-
no sob os pés, blasfemavam-no, lhe puxavam os cabelos; Parecia-me que o meu bom Jesus

queria fugir debaixo daqueles pés fétidos e ia à procura de uma mão amiga que o libertasse, mas
não encontrava ninguém. Enquanto via isto, eu não fazia outra coisa senão chorar sobre as penas
de meu Senhor, teria querido ir no meio desses inimigos, talvez poderia libertá-lo, mas não me

atrevia e lhe dizia: “Senhor, faz-me participar em tuas penas. ¡¡ Ah, se pudesse aliviar-te e libertar-
te!” Enquanto isto dizia, aqueles inimigos, como se como se tivessem entendido, vinham contra

mim, mas tão enfurecidos que começaram a me golpear, a puxar-me os cabelos, a pisotear-me, eu
tinha grande temor, sofria, sim, mas dentro de mim estava contente porque via que dava ao Senhor
um pouco de trégua. Depois aqueles inimigos desapareciam e eu ficava sozinha com o meu Jesus.
Tentei compadecer me mas não me atrevia a dizer-lhe nada, e Ele rompendo o silêncio me disse:
(114) “Tudo o que tu viste é nada em comparação com as ofensas que continuamente me fazem,
é tanta a sua cegueira, o entregar-se às coisas terrenas, que chegam a tornar-se não só cruéis
inimigos meus, mas também deles mesmos, e como seus olhos estão fixos na lama, por isso
chegam a desprezar o eterno. Quem me reparará por tanta ingratidão? Quem terá compaixão de
tanta gente que me custa sangue e que vive quase sepultada na imundície das coisas terrenas?
Ah, vem e reza, chora junto Comigo por tantos cegos que são todos olhos para tudo o que sabe a
terra, e desprezam e espezinham minhas graças debaixo de seus imundos pés, como se estas
fossem lama. Ah, eleva-se sobre tudo o que é terra, aborrece e despreza tudo o que a Mim não

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pertence, não te importem as zombarias que recebes da família depois de me teres visto sofrer
tanto, só te importas com a minha honra, as ofensas que continuamente me fazem e a perda de
tantas almas. Ah, não me deixe sozinho no meio de tantas penas que me destroçam o coração,
tudo o que você sofre agora é pouco em comparação com as penas que sofrerá, não te disse
sempre que o que quero de você é a imitação de minha Vida? Olhe como você é de Mim, por isso
coragem e não tenha medo”.
(115) Depois disso voltei a mim mesma e percebi que estava rodeada pela família, todos
choravam e estavam alarmados e tinham tal temor de que se repetisse esse estado, pensando que
morreria, que decidiram voltar a Corato O mais rápido possível para me fazer observar pelos
médicos. Não sei dizer por que sentia tanta pena ao pensar que devia ser examinada pelos
médicos, muitas vezes chorava e me lamentava com o Senhor dizendo: “Quantas vezes, ó Senhor,
te roguei que me faça sofrer em segredo, isto era meu único contentamento, e agora também disto
estou privada. ¡ Ah! me diga, como farei? Só você pode me ajudar e me consolar em minha aflição,

não vê tantas coisas que dizem? Uns pensam de um modo e outros de outro, quem quer aplicar-
me um remédio e quem outro, são todos olhos sobre mim, de modo que não tenho mais paz. Ah,

socorre-me em tantas penas, porque me sinto faltar a vida”. E o Senhor benignamente
acrescentou:
(116) “Não queiras afligir-te por isto, o que quero de ti é que te abandones como morta entre
meus braços. Até que você mantenha os olhos abertos para ver o que Eu faço e o que fazem e
dizem as criaturas, Eu não posso livremente agir sobre você. Não queres confiar em mim? Não
sabes o quanto te amo e que tudo o que permito, ou através das criaturas ou através dos
demónios, ou através de mim diretamente, é para o teu verdadeiro bem e não serve para outra
coisa senão para conduzir a tua alma ao estado para o qual a escolhi? Por isso quero que de olhos
fechados esteja em meus braços, sem olhar nem investigar isto ou aquilo, confiando inteiramente
em Mim e deixando-me operar livremente. Se em troca queres fazer o contrário, perderás tempo e
chegarás ao oposto do que quero fazer de ti. Quanto às criaturas, use um profundo silêncio, seja
benigna e dócil com todos, faça que sua vida, seu respiro, seus pensamentos e afetos, sejam
contínuos atos de reparação que aplaquem minha Justiça, oferecendo-me também as moléstias
que te dão as criaturas, que não serão poucas”.
(117) Depois disto fiz quanto mais pude para resignar-me à Vontade de Deus, ainda que muitas
vezes era posta em tais problemas por parte das criaturas, que às vezes não fazia outra coisa
senão chorar. Chegou o momento de receber a visita do médico, e julgou que meu estado não era
outra coisa que um problema nervoso, pelo que receitou medicamentos, distrações, passeios,
banhos frios, recomendou à família que me cuidassem bem quando era surpreendida por aquele
estado de ficar petrificada.

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(118) Então começou uma guerra por parte da família, impediam-me de ir à igreja, não me davam
já a liberdade de ficar só, era observada continuamente, pelo que freqüentemente percebiam que
caía nesse estado. Muitas vezes me lamentava com o Senhor dizendo lhe:
119) “Meu bom Jesus, quanto aumentaram as minhas penas, até das coisas mais amadas estou
privada, como são os Sacramentos. Nunca pensei que chegaria a isso, quem sabe onde irei
terminar. Ah! Dê-me ajuda e força, porque minha natureza desfalece”. Muitas vezes dignava-se
bondosamente dizer-me algumas palavras, por exemplo:
(120) “Eu sou a tua ajuda, de que temes? Não te lembras que também sofri da parte de todo o tipo
de pessoas? Uns pensavam de Mim de um modo, e outros de outro, as coisas mais santas que Eu
fazia eram julgadas por eles como defeituosas, más, até me disseram que era um Endemoninhado,
tanto que me viam com olhos sinistros, tinham-me entre eles mas de má vontade, e maquinavam
entre eles tirar-me a vida o mais depressa possível, porque a minha presença se tinha tornado
intolerável para eles. Então, não queres que te faça semelhante a Mim fazendo-te sofrer por parte
das criaturas?”.
(121) E assim passei alguns anos sofrendo por parte das criaturas, dos demônios e diretamente
de Deus, às vezes chegava a tanta amargura por parte das criaturas, e pelo modo como
pensavam, que tinha vergonha de que qualquer pessoa me visse, tanto, que o meu maior sacrifício
era aparecer no meio das pessoas; tanta era a vergonha e a confusão que me sentia atordoada.
Houve outras visitas de outros médicos, mas não serviram para nada, às vezes derramando
amargas lágrimas dizia-lhe com todo o coração: “Senhor, como se tornaram públicos os meus
sofrimentos, agora não só a família o sabe mas também os estranhos me vejo toda coberta de
confusão, parece-me que todos me apontam com o dedo, como se estes sofrimentos fossem as
mais más ações, eu mesma não sei dizer o que me acontece. Ah! Só Tu podes libertar-me de tal
publicidade e fazer-me sofrer ocultamente. Peço-te, suplico-te, escuta-me favoravelmente”.
(122) Às vezes também o Senhor mostrava não me escutar e aumentavam minhas penas, outras
Vezes se compadecia de mim dizendo-me:
(123) “Pobre filha, vem a Mim que te quero consolar, tu tens razão em que sofres, mas é que não
te lembras, que também Eu, oh, quanto mais sofri. Até certo momento minhas penas foram ocultas,
mas quando chegou a Vontade do Pai de sofrer em público, rapidamente saí a encontrar
confusões, opróbrios, desprezos, até ser despojado de minhas vestes, estar nu no meio de um
povo numerosíssimo, Poderia imaginar confusão maior que esta? Minha natureza sentia muito este
tipo de sofrimento, mas tinha os olhos fixos à Vontade do Pai, e oferecia essas penas em
reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente, diante dos olhos de
muitos, vangloriando-se sem a mínima vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as minhas confusões e a
meus opróbios em reparação de tantos que cometem as mais nefastas ações publicamente,

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perante os olhos de muitos, vangloriando-se sem a menor vergonha, e lhe dizia: “Pai, aceita as
minhas confusões e a minha desonra em reparação de tantos que têm a audácia de te ofender tão
livremente sem o mínimo desgosto; perdoa-lhes, dá-lhes luz a fim de que vejam a fealdade do
pecado e se convertam”. Também a ti quero tornar-te partícipe deste tipo de sofrimentos. Você não
sabe que os mais belos presentes que posso dar às almas que amo são as cruzes e as penas?
Você é uma criança ainda no caminho da cruz, por isso se sente muito fraca, quando tiver crescido
e tiver conhecido como é precioso sofrer, então se sentirá mais forte. Por isso apóie-se em Mim,
repouse porque assim adquirirá força”.
(124) Depois de que passei algum tempo neste estado descrito acima, cerca de seis ou sete
meses, os sofrimentos aumentaram mais, tanto que me vi obrigada a estar na cama,
freqüentemente se multiplicava aquele estado de perder os sentidos, e quase não tinha nem uma
hora livre, me reduzi a um estado de extrema debilidade, a boca se apertava de tal modo que não a
podia abrir e em algum momento livre que tinha apenas algumas gotas de algum líquido podia
tomar, se é que o conseguia, E depois era obrigada a devolvê-lo pelos vómitos que sempre tive.
Depois de que estive dezoito dias neste estado contínuo, mandou-se chamar o confessor para me
confessar. Quando o confessor veio me encontrou nesse estado de letargia. Quando me recuperei
me perguntou o que tinha, somente lhe disse, calando todo o resto, e como continuavam as
moléstias dos demônios e as visitas de Nosso Senhor, então lhe disse: “Padre, é o demônio”. Ele
me disse para não ter medo, porque se for ele, o padre liberta-te. Assim dando-me a obediência e
perseguindo-me com a cruz e ajudando-me a mover os braços, porque sentia todo o corpo
petrificado como se tudo se tivesse tornado numa só peça, conseguiu que os braços retomassem o
movimento, Conseguiu fazer com que a boca se abrisse depois de estar imóvel para tudo. Atribuí
isto à santidade do meu confessor, que na verdade era um santo sacerdote, considerei-o quase um
milagre, tanto que dizia entre mim: “Olha, estavas prestes a morrer”. Porque na verdade me sentia
mal, e se tivesse durado esse estado, eu acho que teria deixado a vida. Se bem me lembro que
estava resignada e quando me vi libertada senti um certo pesar porque não tinha morrido.
(125) Depois que o confessor se foi, e eu fiquei livre voltei ao mesmo estado de antes, e assim
acontecia, às vezes semanas, às vezes quinze dias e até meses em que era surpreendida de vez
em quando por aquele estado durante o dia, mas por mim mesma consegui libertar-me; depois
quando era surpreendida com mais frequência, como disse mais acima, então os familiares
mandavam chamar o confessor, pois tinham visto que a primeira vez tinha ficado libertada por ele,
quando todos acreditavam que não me haveria de recuperar mais daquele estado, E, em vez disso,
até pude ir à igreja, por causa disto chamavam o confessor e então ficava livre. Nunca me passou
pela mente que para tal estado se necessitasse o sacerdote para libertar-me, nem que meu mal
fosse uma coisa extraordinária; é certo que quando perdia os sentidos via Jesus Cristo, mas isto

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atribuía-o à bondade de Nosso Senhor e dizia para mim mesma: “Olha como o Senhor é bom para
mim, que neste estado de sofrimentos vem a dar-me a força, de outra maneira como poderia
sustentar-me, quem me daria a força?” Também é verdade que quando devia cair nesse estado, na
manhã da Comunhão Jesus me dizia isso, e caindo nesse estado de Ele mesmo me vinham os
sofrimentos, mas não dava importância a nada. Só de pensar alguma vez em dizê-lo ao confessor
eu acreditava ser a alma mais soberba que existisse no mundo se me atrevia a falar destas coisas
de ver a Jesus Cristo; e sentia tal vergonha que foi impossível dizer algo a esse confessor apesar
do bom e santo que era. Tanto é verdade, que não acreditava que se necessitasse do sacerdote
para me libertar e que isto acontecia pela santidade do confessor, que quando chegou o tempo, ele
foi ao campo, então uma manhã, depois da Comunhão o Senhor me fez entender que devia ser
surpreendida por esse estado, Convidou-me a fazer-lhe companhia com a participação nas suas
dores, mas eu subitamente lhe disse: “Senhor, como farei? O confessor não está, quem deve me
libertar? Quer acaso me fazer morrer?” E o Senhor me disse somente:
(126) “Sua confiança deve estar somente em Mim, esteja resignada, pois a resignação faz a alma
luminosa, faz estar em seu lugar às paixões, de modo que Eu, atraído por esses raios de luz, vou à
alma e a uniformo toda em Mim, e a faço viver de minha mesma Vida”.
(127) Eu resignei-me à sua Santa Vontade, ofereci aquela Comunhão como a última da minha
vida, dei o último adeus a Jesus no Sacramento, e embora estivesse resignada, mas a minha
natureza sentia-o tanto, que todo aquele dia não fiz outra coisa senão chorar e pedir ao Senhor que
me desse força. Na verdade me pareceu muito amargo todo esse fato, e sem pensar nem sabê-lo
encontrei uma nova e pesada cruz que creio ter sido a mais pesada que tive em minha vida.
Enquanto estava naquele estado de sofrimentos, eu não pensava em outra mais do que morrer e
fazer a vontade de Deus. Os familiares, que também sofriam ao me ver naquele estado, tentaram
chamar algum sacerdote, mas ninguém quis vir, um por um e outro por outro; depois de dez dias
veio o sacerdote que me confessava quando era pequena, e aconteceu que também ele me fez
sair desse estado, e então me dei conta da rede na qual o Senhor me havia envolvido.
(128) Daqui veio-me uma guerra por parte dos sacerdotes, quem dizia que era fingimento, quem
precisava dos tacos, outros que queria passar por santa, quem acrescentava que estava
endemoninhada e muitas outras coisas, que dizê-las todas seria fazer muito longa a história. Com
estas idéias em suas mentes, quando sucediam os sofrimentos e a família mandava chamar
alguém, não queriam vir, dizendo todas aquelas coisas, e a pobre família sofreu muito,
especialmente a minha pobre mãe, quantas lágrimas derramou por mim. Ah! Senhor, protege-a
Tu. Oh meu bom Senhor, quanto sofri desde então, só Você sabe tudo!
(129) Quem pode dizer quão amargo me foi este fato, que para me libertar desse estado de
sofrimentos necessitava-se do sacerdote Quantas vezes pedi derramando lágrimas

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amarguíssimas, que me libertasse disto! Muitas vezes fiz positivas resistências ao Senhor quando
Ele queria que me oferecesse como vítima, e aceitasse as penas, e lhe dizia: “Senhor, promete-me
que Tu mesmo me libertarás, e então aceito tudo, de outra maneira não, não quero aceitar”. E
resistia o primeiro dia, o segundo, o terceiro, mas quem pode resistir a Deus? Insistia tanto comigo
que finalmente me via obrigada a submeter-me à cruz. Outras vezes lhe dizia de coração e com
confiança: “Senhor, como é que fazes isto? Como é que entre você e eu, você quis colocar um
terceiro? E este terceiro não quer se emprestar. Olhe, poderíamos estar muito contentes Você e eu
sozinhos. Quando você me queria para sofrer, eu imediatamente aceitava, porque eu sabia que
Você mesmo deveria me libertar, mas agora não, outra mão é necessária, Eu imploro, liberte-me,
porque assim estaremos ambos mais felizes”.
(130) Às vezes fingia não me escutar e não me dizia nada, outras vezes me dizia:
(131) “Não temas, Eu sou quem dá as trevas e a luz, virá o tempo da luz é meu costume que
minhas obras as manifesto por meio dos sacerdotes”.
(132) Assim passei três ou quatro anos destas contradições por parte dos sacerdotes, muitas
vezes me sujeitavam a provas duríssimas, chegavam a me deixar nesse estado de sofrimentos,
isto é petrificada, incapaz de qualquer mínimo movimento, nem sequer de poder tomar uma gota
de água, até 18 dias quando o queriam. Só o Senhor sabe o que eu passava nesse estado, e logo
quando vinham não tinha sequer o bem de ouvir: “Tem paciência, faz a Vontade de Deus”. Mas foi
repreendido como um caprichoso e desobediente. Oh Deus, que pena! , quantas lágrimas
derramei; quantas vezes pensei que era desobediente e dizia para mim “Como essa virtude da
obediência que para o Senhor é a mais agradável está tão longe de mim, o que pode fazer e
esperar de bem uma alma desobediente?” Muitas vezes me lamentava com Nosso Senhor e às
vezes chegava até ressentir-me, e quando Ele queria que aceitasse os sofrimentos, eu resistia
quanto mais podia. Mas o Senhor, quando via que começava a resistir, fazia ver que não me dava
atenção e não me dizia mais nada, e logo de repente vinha me surpreender. O que depois dizia o
confessor é porque não queria que caísse naquele estado, mas isto não estava em meu poder, é
verdade que fui desobediente, e que jamais fui boa para nada. Mas recordo também que a pena
mais dolorosa para mim era o não poder obedecer.
(133) Neste período de tempo, recordo que houve uma epidemia de cólera, e que um dia que
pedia ao meu bom Jesus que fizesse cessar esse flagelo, Ele me disse:
(134) “Contentar-te-ei contanto que aceites oferecer-te a sofrer o que Eu quiser”.
(135) Eu disse: “Senhor, não, não posso, Você sabe como eles pensam, a menos que tudo
aconteça apenas entre Você e eu, só assim eu estaria disposta a aceitar tudo”.
(136) E Ele me disse: “Minha filha, se Eu tivesse pensado no que os homens pensavam e no que
queriam fazer de Mim, não teria feito a Redenção do gênero humano, mas eu tinha meu olhar fixo

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em sua salvação, e o grande amor que me devorava me fazia fazer que quando via pessoas que
pensavam mal de Mim e que davam ocasião de me fazer sofrer mais, Eu oferecia essas mesmas
penas que eles me davam por sua própria salvação. Você esqueceu o que eu quero de ti é a
imitação da minha Vida, e que quero que participes em tudo o que sofri? Não sabes tu que o ato
mais belo, mais heróico, e mais agradável a Mim e que deves oferecer-me, é o de te oferecer por
aqueles mesmos que te são contrários?”.
(137) Eu fiquei muda, não sabia o que lhe responder, aceitei tudo o que o Senhor queria, e assim
até a tarde fui surpreendida por esse estado de sofrimentos no que estive três dias contínuos, e
depois que voltei em mim não ouvi mais que houvesse cólera.
(138) Depois disso me veio outra mortificação, e foi a de ter que mudar confessor, porque sendo
ele religioso foi chamado ao convento. Eu estava contente com ele, e a maior parte das coisas
ditas acima aconteciam quando ele estava no campo, especialmente no último ano que foi meu
confessor, pois pela cólera que havia na cidade permaneceu seis meses no campo; por isso não
participou tanto nessas coisas, Ele me fazia ficar um dia nesse estado de sofrimento e vinha.
Depois de ter voltado do campo, não passou um mês em que soube que devia partir; isto foi
doloroso para mim, não porque estivesse apegada a ele, mas pela necessidade que tinha. Então
disse ao Senhor minha pena, e Ele me disse:
(139) “Não te aflijas por isso, Eu sou o dono dos corações, e posso Movê-los como me parece e
me agrada. Se ele te fez o bem não foi mais que um instrumento que recebia de Mim e te dava a ti,
assim farei com os demais, do que teme então? Amada minha, enquanto você tiver seu olhar,
agora à direita, agora à esquerda, e a deixe que se pose agora em uma coisa, agora em outra, e
não a mantenha fixa em Mim, não poderá caminhar livremente o caminho do Céu, mas irás sempre
tropeçando e não poderás seguir o influxo da graça. Por isso quero que com santa indiferença olhe
todas as coisas que acontecem ao seu redor, estando toda atenta somente a Mim”.
(140) Depois destas palavras meu coração adquiriu tanta força, que pouco ou nada sofri pela
perda desse confessor que tanto bem tinha feito a minha alma. Foi assim que mudei confessor e
voltei ao que me confessava quando era pequena. Seja sempre bendito o Senhor, que se serve
desses mesmos caminhos que a nós parecem contrários e que quase como que deveriam levar um

dano a nossa alma, para nosso maior bem e para sua glória. Assim aconteceu que comecei a abrir-
lhe a minha alma, porque até esse momento não tinha dito nada a nenhum, por quanto me

dissessem não o conseguia, mas bem mais impotente me via para dizer as coisas de meu interior,
era tanta a vergonha que sentia ao só pensar em dizer estas coisas, que me era mais fácil dizer os
mais feios pecados. De onde veio isto, não sei dizer, por parte do confessor acho que não, porque
ele era muito bom, me inspirava confiança, era doce e paciente para escutar, tomava cuidado
detalhado de minha alma, tinha o olhar em tudo para que se pudesse caminhar direito. Por parte

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minha tampouco, porque sentia um obstáculo em minha alma e tinha toda a vontade de vencê-lo e
de saber ao menos como pensava o confessor, mas me sentia impossibilitada de fazê-lo. Eu
acredito que foi uma permissão do Senhor.
(141) Então, encontrando-me com o novo confessor, comecei, pouco a pouco a abrir meu interior,
o Senhor muitas vezes me ordenava que manifestasse ao confessor o que Ele me dizia, e quando
eu não o fazia, o Senhor me repreendia severamente e às vezes chegava a me dizer que se não o
fizesse, Ele não viria mais; isto é para mim a pena mais amarga, diante da qual todas as outras
penas não me parecem mais do que fios de palha; por isso, tanto era o temor de que não voltasse
mais, que fazia quanto mais podia manifestar meu interior. É verdade que às vezes me custava
muito, mas o medo de perder o meu amado Jesus fazia-me superar tudo. Por parte do confessor
também me via empurrada a lhe dizer de onde provinha tal estado meu, o que me acontecia
quando estava naquele adormecimento e qual era a causa; agora me ordenava manifestar, agora
me obrigava com preceito de obediência, e logo me punha diante o temor de que pudesse viver na
ilusão e no engano, vivendo para mim mesma, enquanto que se o manifestasse ao sacerdote
poderia estar mais segura e tranqüila, e que o Senhor jamais permite que o sacerdote se engane
quando a alma é obediente. Assim, Jesus Cristo me empurrava por um lado e o confessor por
outro; às vezes me parecia que se punham de acordo entre eles. Assim pude chegar a manifestar
meu interior. Isto não o fazia o confessor anterior, não me fazia nenhuma pergunta, não tratava de
saber que coisas me aconteciam naquele estado de dormência, pelo que eu mesma não sabia
como começar a falar destas coisas. O único cuidado que tomava era que estivesse resignada,
uniformizada ao Querer de Deus, que suportasse a cruz que o Senhor me tinha dado, tanto que se
às vezes me via um pouco perturbada, experimentava grande desgosto
(142) Depois aconteceu que passei cerca de outro ano com este confessor, no mesmo estado dito
acima, mas como sabia de onde provinha esse estado de sofrimento, me dizia que quando Jesus
Cristo quisesse que me viessem os sofrimentos, fosse pedir a ele a obediência para sofrer.
Recordo que uma manhã depois da comunhão o Senhor me disse:
(143) “Filha, são tantas as iniqüidades que se comete , que a balança de minha Justiça está por
transbordar. Deve saber que pesados flagelos farei cair sobre os homens, especialmente uma
feroz guerra na qual farei massacre da carne humana”. “Ah sim”, continuou quase chorando, “Eu
dei os corpos aos homens a fim de que fossem tantos santuários onde Devia ir me deleitar, mas os
transformaram em esgotos de imundícies, e é tanta a peste que me obrigam a estar longe deles.
Vê a recompensa que recebo diante de tanto amor e tanta dor que sofri por eles. Quem foi tratado
como Eu? Ah, nenhum, mas quem é a causa? É o tanto amor que tenho. Por isso vou tentar com
os castigos”
. (144) Eu me sentia partir o coração pela dor, me parecia que eram tantas as ofensas que lhe

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faziam, que para fugir queria esconder-se em mim, para encontrar refúgio. Sentia também tanta
pena porque os homens deviam ser castigados, que me parecia que não eles, mas me parecia que
se eu tivesse podido, teria sido mais suportável eu sofrer todos aqueles castigos, antes de ver os
outros sofrer.
(145) Tratei de sensibiliza-lo o máximo que pude e com todo o coração lhe disse: “Ó Esposo
Santo, evita os flagelos que a tua Justiça tem preparados, se a multiplicidade das iniqüidades dos
homens é grande, está o mar imenso do teu sangue onde, podes enterrá-las, e assim a tua Justiça
ficará satisfeita. Se não tens onde ir para deleitar-te, vem em mim, te dou todo meu coração, para
que repouses, e te deleites com ele, é verdade que também eu sou um lugar imundo de vícios,
mas Tu podes purificar-me e fazer-me como Tu me queres. Mas aplata-te, se for necessário o
sacrifício da minha vida de bom grado o farei contanto que veja tuas imagens libertadas”. E o
Senhor interrompendo o meu falar continuou a dizer-me:
(146) “Precisamente isto é o que eu quero, se tu te ofereceres para sofrer, não como até agora, de
vez em quando, mas continuamente, todos os dias e por um curto período de tempo, Eu libertarei
os homens. Vê, pois, que te porei entre a minha justiça e as iniqüidades das criaturas, e quando a
minha justiça estiver cheia de iniqüidades, de modo que não as possa conter e se veja obrigada a
mandar os flagelos para punir as criaturas, encontrando-se você no meio, em vez de golpeá-los a
eles ficará golpeada você. Só assim poderei te contentar em livrar os homens, de outro modo,
não”.
(147) Eu fiquei toda confusa, e não sabia o que dizer, minha natureza fazia sua parte, se
assustava e tremia, mas via meu bom Jesus que esperava uma resposta, se aceitava ou não,
então vendo-me quase obrigada a falar lhe disse: “Ó Diviníssimo Esposo meu, por parte minha
estaria pronta a aceitar, mas como se arrumará por parte do confessor, se não quiser vir de vez em
quando, como será possível que queira vir todos os dias; liberte-me desta cruz de Precisamos do
confessor para me libertar, e então tudo ficará resolvido entre você e eu”. Então o Senhor me
disse:
(148) “Vai com o confessor e pede-lhe obediência, se ele quiser dizer-lhe tudo o que te tenho dito
e farás o que ele disser. Olhe, não será somente para bem das criaturas pelo que quero estes
sofrimentos contínuos, senão também para teu bem, neste estado de sofrimentos purificarei muito
bem tua alma, de modo de te dispor a formar Comigo um místico matrimonio , e depois disto farei a
última transformação, de modo que os dois seremos como duas velas que postas no fogo, uma se
transforma na outra e se forma uma só, assim transformarei a Mim em ti, e tu ficarás crucificada
Comigo. Ah, não ficaria contente se pudesse dizer: “O Esposo crucificado, mas também a esposa
está crucificada? Ah sim, não há nada que me faça diferente dele”.
(149) Então, quando pude falar com o confessor disse-lhe tudo o que o Senhor me tinha dito, e

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como aquela palavra que o Senhor me disse: “Por um certo tempo”, sem me dizer o tempo preciso
que devia estar continuamente sofrendo, eu a tomei como por quarenta dias, mais ou menos, mas
já passaram cerca de doze anos que continuo assim, mas sempre seja bendito Deus, sejam
adorados sempre seus inescrutáveis julgamentos, eu creio que se o Senhor bendito me tivesse
feito entender com clareza o tempo que devia estar na cama, minha natureza teria se espantado
muito, e dificilmente se teria submetido, recordo que estive sempre resignada, mas então não
conhecia a preciosidade da cruz como o Senhor me fez conhecê-la no decorrer destes doze anos,
nem o confessor tivesse concordado em dar-me a obediência. Então assim disse ao confessor, que
por quarenta dias o Senhor queria que me desse a obediência de estar continuamente sofrendo, e
também lhe disse isso e também lhe disse o resto. Com grande surpresa minha, porque eu achava
impossível, o confessor me disse que se fosse verdadeiramente Vontade de Deus, ele me dava a
obediência, que na realidade não era que ele não pudesse vir, mas sim um pouco de respeito
humano. A minha alma alegrou-se muito porque podia contentar ao Senhor, e também livrar as
criaturas, mas a minha natureza se entristeceu muito ao receber esta obediência, tanto que por
alguns dias estive muito afligida, também a alma a sentia pensativa porque devia estar tanto tempo
sem poder receber a Jesus no Sacramento, minha única consolação; às vezes sentia uma guerra
tão feroz em mim, que eu mesma não sabia o que me havia acontecido, muitas coisas
acrescentava-as o demônio, mas o meu bom Jesus curou tudo, e eis como aconteceu.

Diferentes modos de falar de Jesus.
(150) Mas antes de continuar, por ordem do confessor atual devo manifestar os vários modos com
os quais o Senhor me falou: Parece-me que os modos com os quais Deus me fala sejam quatro,
mas estes quatro modos de falar de Jesus são muito diferentes das inspirações.
(151) 1.- O primeiro modo é quando a alma sai fora de si. Mas antes quero explicar o melhor que
possa, sair de mim mesma. Isto acontece de dois modos: O primeiro é instantâneo, quase como
relâmpago, e é tão repentino que me parece que o corpo se eleva um pouco da cama, para seguir
a alma, mas depois fica na cama e a mim parece que o corpo fica morto, e a alma em vez disso
segue a Jesus caminhando por todo o universo, a terra, o ar, os mares, os montes, o purgatório e o
Céu, onde muitas vezes me fez ver o lugar onde eu estarei depois de morta
(152) O outro modo de sair a alma é mais tranqüilo, parece que o corpo se adormece
insensivelmente e fica como petrificado ante a presença de Jesus Cristo, mas a alma permanece
com o corpo, e este não sente nada das coisas externas, ainda que se transtornasse todo o
universo, mesmo que me queimassem e me reduzissem em pedaços.
(153) Estes dois modos tão diferentes de sair fora de mim mesma, eu os notei sensivelmente,
porque no primeiro modo, devendo eu obedecer ao confessor que vinha a me despertar, o vi desde

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o lugar onde me conduzia Jesus; isto é, desde os confins da terra, ou do ar, ou dos montes, ou do
mar, ou do purgatório, ou mesmo do mesmo Paraíso, parecia-me que não tinha tempo de voltar
para que o confessor encontrasse minha alma no corpo, e poder obedecer, e como me encontrava
com a alma tão longe, Eu me agia toda, me angustiava e me afligia pensando que não teria tempo
de voltar ao corpo para que o confessor me encontrasse, e portanto não ter tempo de obedecer,
mas devo confessar que sempre me encontrei a tempo, e me parecia que a alma entrasse no
corpo antes que o confessor começasse a me dar a obediência de despertar.
(154) E mais, digo a verdade, muitas vezes eu via de longe o confessor que vinha, mas para não
deixar Jesus, parecia que não pensava em confessor que vinha e então o próprio Jesus me
apressava a voltar com a alma ao corpo para poder obedecer ao confessor, e então eu sentia uma
grande repugnância, por deixar a Jesus, mas a obediência vencia, e deixando a Jesus, Ele mesmo,
ou me beijava ou me abraçava ou fazia outra coisa para despedir-se de mim. E eu deixando ao
meu amado Jesus dizia: “Vou com o confessor, mas Tu, meu bom Jesus, volta logo que o
confessor se vá”.
(155) Estes são os dois modos pelos quais a alma parecia sair do corpo, e nestes dois modos de
sair a alma, Deus me fala. Este modo de falar, Ele mesmo o chama falar intelectual. Tentarei
explicar: A alma que sai do corpo e se encontra diante de Jesus, não tem necessidade de palavras
para entender o que o Senhor lhe quer dizer, nem a alma tem necessidade de falar para se fazer
entender, senão que tudo é por meio do intelecto, Que bem nos entendemos quando nos
encontramos juntos! De uma luz que de Jesus me vem à inteligência, sinto imprimir em mim tudo o
que meu Jesus quer que eu entenda. Este modo é muito alto e sublime, tanto que a natureza
dificilmente sabe explicá-lo com palavras, apenas pode dizer alguma idéia, este modo em que
Jesus se faz entender é rapidíssimo, num simples instante se aprendem muitas mais coisas
sublimes que lendo livros inteiros. ¡ Oh, que mestre engenhoso é Jesus, que num simples instante
ensina muitas coisas, enquanto que qualquer outro necessitaria anos inteiros, se é que o
consegue, porque o mestre terreno não tem poder para poder atrair a vontade do discípulo, nem de
lhe poder infundir na mente sem esforços nem fadigas o que lhe quer ensinar, mas com Jesus não
é assim, tanta é sua doçura, a amabilidade de seu trato, a suavidade de seu falar, e ademais é tão
belo, que a alma apenas o vê se sente tão atraída, que às vezes é tanta a velocidade com que
corre ao lado de Jesus, que quase sem adverti-lo se encontra transformada no objeto amado, de
modo que a alma não sabe discernir mais seu ser terreno, tanto fica identificada com o Ser Divino.
Quem pode dizer o que a alma experimenta neste estado? Precisaria do próprio Jesus, ou de uma
alma separada perfeitamente do corpo, porque a alma encontrando-se outra vez circundada pelos
muros deste corpo, e perdendo essa luz que antes a tinha abismada, muito perde e fica
obscurecida, de tal modo que se quisesse dizer algo, o diria grosseiramente. Para dar uma idéia

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digo que me imagino a um cego de nascimento, que nunca teve o bem de ver o que há no universo
inteiro, e que por poucos minutos tivesse o bem de abrir os olhos à luz, e pudesse ver tudo o que
contém o mundo: o sol, o céu, o mar, As tantas cidades, as tantas máquinas, as variedades das
flores e as tantas outras coisas que há no mundo, e depois daqueles poucos minutos de luz, voltei
à cegueira de antes. Poderia ele dizer claramente tudo o que viu? Somente poderia fazer um
esboço, dizer alguma coisa confusamente. Isto é uma semelhança do que acontece quando a alma
se encontra separada, e depois no corpo, não sei se digo desatinos; assim como a esse pobre
cego ficaria a pena da perda da vista, assim a alma, vive gemendo e quase em um estado violento,
porque a alma se sente violentada sempre para com o sumo Bem, é tanta a atração que Jesus
deixa na alma de Si, que a alma gostaria de estar sempre abstraída em seu Deus, mas isto não
pode ser, e por isso se vive como se vivesse no purgatório. Acrescento que a alma não tem nada
do seu neste estado, tudo é operação feita pelo Senhor.
(156) Agora tentarei explicar o segundo modo que Jesus tem para falar, e é que a alma
encontrando-se fora de si mesma vê a pessoa de Jesus Cristo, como por exemplo de criança, ou
crucificado, ou em qualquer outro aspecto, e a alma vê que o Senhor com sua boca pronuncia as
palavras e a alma com sua boca responde, às vezes acontece que a alma se põe a conversar com
Jesus como fariam dois íntimos esposos. Se bem que o falar de Jesus é pouquíssimo, apenas
quatro ou cinco palavras e às vezes até mesmo uma só, raríssimas vezes se estende mais, mas
nesse ́pouquíssimo falar, ah, quanta luz põe na alma! Parece-me ver à primeira vista um pequeno
riacho, mas vendo bem, em vez de um riacho se vê um vasto mar, assim é uma só palavra dita por
Jesus, é tanta a imensidão da luz que fica na alma, que ruminando muito bem descobre tantas
coisas sublimes e proveitosas a sua alma, que fica assombrada.
(157) Eu acredito que se se juntassem todos os sábios, ficariam todos confundidos e mudos Diante
de uma só palavra de Jesus. Agora, este modo é mais acessível à natureza humana, e facilmente
se sabe manifestar, porque a alma entrando em si mesma leva consigo o que tem ouvido da boca
de Nosso Senhor e o comunica ao corpo; não é tão fácil quando é por meio do intelecto. Eu
considero que Jesus tem este modo de falar para adaptar-se à natureza humana, não que tenha
necessidade da palavra para fazer-se entender, senão porque deste modo a alma mais facilmente
compreende e pode manifestá-lo ao confessor. Em suma, Jesus faz como um mestre doutíssimo,

sábio, inteligente, que possui em grau eminentíssimo todas as ciências e que ninguém pode igualá-
lo, mas como se encontra entre discípulos que ainda não aprenderam as primeiras letras do

alfabeto, retendo todos os outros conhecimentos em si, ensina aos discípulos apenas o a, b, c, etc.
Oh, como é bom Jesus! , se adapta aos doutos e fala-lhes de modo altíssimo, de modo que para
entendê-lo devem estudar muito bem o que lhes diz, adapta-se aos ignorantes e finge-se também
Ele ignorante, e fala em modo baixo, de maneira que ninguém pode ficar em jejum das lições deste

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Divino Mestre.
(158) O terceiro modo com que Jesus me fala é quando falando à alma participa de sua própria
substância. Parece-me como quando o Senhor criou o mundo, com uma só palavra foram criadas
as coisas, assim, sendo sua palavra criadora, no ato mesmo em que diz a palavra, cria na alma
aquela mesma coisa que diz, como por exemplo, Jesus diz à alma:
Veja como são belas as coisas, enquanto seus olhos possam percorrer a terra ou o céu, jamais
encontrarão beleza similar a Mim”. Neste falar de Jesus, a alma sente entrar nela um algo divino e
fica muito atraída para esta beleza, e ao mesmo tempo perde o atrativo de todas as outras coisas,
por quão belas e preciosas fossem não lhe causam nenhuma impressão, o que lhe fica fixo e
quase transmutado em si é a beleza de Jesus, nisso pensa, dessa beleza se sente investida, e fica
tão apaixonada, que se o Senhor não fizesse outro milagre se lhe partiria o coração, e de puro
amor por esta beleza de Jesus expiraria a alma para voar ao Céu a gozar desta beleza de Jesus.
Eu mesma não sei se digo desatinos.
(159) Para explicar melhor este falar substancial de Jesus digo outra coisa, Jesus diz: “Olha como
sou puro, também em ti quero pureza em tudo”. Nestas palavras a alma sente entrar em si uma
pureza divina, esta pureza se transforma nela mesma e chega a viver como se não tivesse mais
corpo, e assim das outras virtudes. ¡ Oh, como é desejável falar de Jesus! Eu daria tudo o que está
sobre a terra, se fosse a dona de tudo, contanto que tivesse uma só destas palavras de Jesus.
(160) O quarto modo em que Jesus me fala é quando me encontro em mim mesma, isto é no
estado natural, e este falar é também de dois modos: O primeiro é quando me encontrando em
mim mesma, recolhida, no interior do coração, sem articulação de voz ou sons ao ouvido do corpo,
Jesus internamente fala. O segundo é como nós fazemos, e isso acontece às vezes, mesmo
estando distraída ou falando com outras pessoas. Mas uma só destas palavras basta para me
recolher se estou distraída, ou para dar-me a paz se estou perturbada, para me consolar se estou
afligida.

Novas regras de vida. Jesus lhe indica o novo sistema de vida.

(161) Agora eu continuo narrando de onde eu fiquei, e eis que ele colocou um remédio:
(162) Pela manhã eu fui para comungar, e assim que eu recebi a Jesus, súbito eu lhe disse:
“Senhor meu, olha em que tempestade me encontro, deveria te agradecer porque lhe deste luz ao
confessor para me dar a obediência de sofrer, em troca minha natureza o lamenta tanto, que eu
mesma fiquei confusa ao me ver tão má. Mas tudo isto é nada, porque Tu que queres o sacrifício
me darás também a força. Mas a razão de maior peso em mim é ter que estar tanto tempo sem
poder receber no Sacramento, quem poderá resistir sem Ti? Quem me dará força? Onde posso

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encontrar consolo nas minhas aflições?” E enquanto dizia isto, sentia tais penas no coração por
esta separação de Jesus Sacramentado, que chorava copiosamente. Então o Senhor
compadeceu-se da minha fraqueza e disse-me:
(163) “Não temas, eu mesmo sustentarei a tua fraqueza, tu não sabes que graças te preparei, por
isso temes tanto. Eu não sou Onipotente? Não posso suprir a privação de me receber no
Sacramento? Por isso ri-te, põe-te como morta em meus braços, faze-te vítima voluntária para me
reparar as ofensas, pelos pecadores e para evitar aos homens os merecidos flagelos. E eu dou-te
em penhor a minha palavra de não deixar nem um só dia sem vir visitar-te. Até agora tu vieste a
Mim, de agora em diante virei Eu a ti. Não estás contente?”
(164) Então eu me resignei à Santa Vontade de Deus, e fui surpreendida por este estado de
sofrimentos. Quem pode dizer as graças que o Senhor começou a me dar? É impossível poder
dizer tudo detalhadamente, poderei dizer alguma coisa confusamente, mas por quanto possa e
para cumprir a santa obediência que assim o quer, esforçar-me-ei em dizer por quanto me seja
possível.
(165) Lembro-me que desde o início deste estar continuamente na cama, o meu amado Jesus
fazia-se ver muito frequentemente, o que não tinha feito no passado. Desde o início me disse que
queria que levasse um novo sistema de vida para dispor-me àquele místico matrimonio que me
havia prometido, me dizia:
(166) “Amada de meu coração, te coloquei neste estado a fim de poder vir mais livremente e
conversar contigo, olha, te liberei de todas as ocupações externas a fim de que não só a alma, mas
também o corpo esteja a minha disposição, E assim podes estar em contínuo holocausto diante de
Mim. Se não te tivesse posto nesta cama, a dever-te a ti os deveres de família e sujeitar-te a outros
sacrifícios, não poderia Eu vir tão freqüentemente e te fazer partícipe das ofensas conforme as
recebo, no máximo deveria esperar que cumprisse seus deveres, mas agora não, agora ficamos
livres, já não há ninguém que nos incomode e que interrompa a nossa conversa, de agora em
diante as minhas aflições serão tuas, e as tuas, minhas, os meus sofrimentos teus, e os meus, as
minhas consolações tuas, e as tuas; uniremos todas as coisas juntas e tu tomarás interesse das
minhas coisas como se fossem tuas, e assim não haverá mais entre nós dois, isto é meu e isto é
teu, senão que tudo será comum por ambas as partes.
(167) Sabes como fiz contigo? Como um rei quando quer falar com sua esposa rainha, e esta se
encontra com suas damas em outras ocupações. O rei, o que faz? A toma e a leva dentro de seu
quarto, fecha as portas para que ninguém possa entrar a interromper sua conversação e ouvir seus
segredos, e assim estando sós se comunicam reciprocamente suas aflições e seus consolos.
Agora, se algum imprudente fosse bater à porta, a gritar atrás dela e não os deixasse gozar em paz
sua conversa, o rei não o tomaria a mal? Foi o que eu fiz contigo, e se alguém te quiser distrair

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deste estado, também me desagradaria”.
(168) E ele continuou a dizer-me: “Quero de ti perfeita conformidade com minha Vontade, de tal
modo de desfazer tua vontade na minha, desapego absoluto de toda coisa, tanto que tudo o que é
terra quero que seja tido por ti como esterco e podridão que dá horror ao só olhá-lo, e isto porque
as coisas terrenas, Ainda que não se tivesse apego a elas, só tê-las em torno e olhá-las
obscurecem as coisas celestiais e impedem realizar esse matrimonio místico que te prometi. Além
disso quero que assim como Eu fui pobre, também me imites na pobreza, deves considerar-te
nesta cama como uma pobrezinha, os pobres se contentam com o que têm, e agradecem-me
primeiro a Mim, e logo a seus benfeitores. Assim você aceita-te com o que te é dado, sem pedir
nem isto nem aquilo, porque poderia ser um estorvo em tua mente e com santa indiferença, sem
pensar se isso te faria bem ou mal te submeta à vontade dos demais”.
(169) Isso me custou muito no princípio, especialmente pelas obediência que me dava o
Confessor, não sei por que, mas queria que tomasse quinina, e tinha imposta a obediência de que
cada vez que voltasse o estômago outras tantas devia voltar a tomar alimento. Agora, o quinino me
estimulava o apetite e às vezes sentia muita fome, tomava o alimento e quando o tomava, e às
vezes no mesmo momento de tomá-lo, pelos contínuos conatos de vômito estava obrigada a
devolvê-lo, e permanecia com a mesma fome de antes. A palavra “pobre” que Jesus me havia dito
não me deixava ousar pedir nada, e eu mesma tinha vergonha de pedir; pensava entre mim: “O
que dirá a família, voltou o estômago e quer comer? Se me derem alguma coisa a tomo, se não, o
Senhor se ocupará”. Assim me passava contente de poder oferecer alguma coisa a meu amado
Jesus. Isto não durou muito tempo, mas aproximadamente quatro meses. Um dia o Senhor me
disse:
(170) “Pede ao confessor que te dê a obediência de não tomar quinina e de não te fazer tomar o
alimento tantas vezes, que Eu lhe darei luz”.
(171) Depois veio o confessor e disse-lhe, e ele disse-me: “Para não mostrar singularidades, de
agora em diante quero que tomes o alimento uma só vez por dia, e suspendeu também a quinina”.
Assim fiquei mais tranqüila e me passou a fome, mas o vômito não cessou, essa única vez que
tomava o alimento era obrigada a devolvê-lo, o Senhor às vezes me dizia que pedisse a obediência
de não comer, mas o confessor nunca me deu esta obediência, me dizia: “Não importa que
vomites, é outra mortificação”.
(172) Eu então o dizia ao Senhor e Ele me dizia: “Quero que faça a petição, mas com santa
indiferença, quero que esteja ao que te diz a obediência”.
(173) E assim continuei a fazê-lo. Quando passaram cerca de quarenta dias, que eu considerava
pelas palavras que me tinha dito o Senhor (por um certo tempo) e que eu assim tinha dito ao
confessor, os sofrimentos continuavam a surpreender-me diariamente e ele se via obrigado a vir

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todos os dias, Então o confessor começou a me dar a obediência de não estar mais naquele
estado, e acrescentava que se caísse nos sofrimentos, ele não viria. Por minha parte me sentia
disposta a obedecer, especialmente minha natureza queria libertar-se daquele estar continuamente
na cama, que por quão belo fosse, era sempre cama, aquele ter que sujeitar-se a todos, mesmo
nas coisas mais repugnantes e necessárias à natureza, e estar obrigada a dizer aos outros é um
verdadeiro sacrifício. Por isso a natureza fez seu ofício, toda se consolou ao sentir-se dar esta
obediência, minha alma estava disposta a obedecer ou a permanecer em cama se o Senhor assim
o queria, porque tinha começado a experimentar quão bom tinha sido o Senhor comigo e que a
verdadeira resignação sabe mudar a natureza às coisas e o amargo o converte em doce.
(174) Quando me deu a obediência de não ter que estar mais na cama, eu comecei a resistir e
dizia ao Senhor: “O que queres de mim? Não posso mais, porque a obediência não quer, mas se
queres dar luz ao confessor então eu estou disposta a fazer o que queres”. E passei toda uma
noite discutindo com o Senhor; quando vinha lhe dizia: “Meu amado Jesus, tem paciência, não
venhas, porque a obediência não permite que me faças participar em teus sofrimentos”. Até pela
manhã eu venci, me sentia em mim mesma e livre de sofrimentos, quando em um instante veio o
Senhor e me atraiu de tal maneira a Ele que não pude resistir-lhe, perdi os sentidos, e me encontrei
junto com Ele, mas tão estreitada que por quanta oposição fazia, não pude me separar de Jesus.
Estando com Jesus eu me sentia toda aniquilada, e tinha uma certa vergonha pelas tantas
oposições que lhe havia feito durante a noite, e lhe disse: “Esposo Santo perdoa-me, é o confessor
que assim o quer”. E Ele me disse:
(175) “Não temas, quando é a obediência Eu não me ofendo”. E continuou “Vem, vem a Mim, hoje
é ano novo, quero dar-te teu presente”.
(176) (Justo aquela manhã era o primeiro dia do ano). Então aproximou seus lábios puríssimos
aos meus e derramou um leite dulcíssimo, beijou-me, e tomou um anel de dentro de seu lado, e me
disse:
(177) “Hoje quero te fazer ver o anel que te preparei para quando te despose”. Depois me disse:
“Diga ao confessor que é Minha vontade que continue estando na cama, e como sinal de que sou
Eu diga-lhe que há guerra entre a Itália e a África, e que se ele te dá a obediência de te fazer
continuar sofrendo não deixarei fazer nada a ambas as partes, se porão em paz”.
(178) No mesmo instante de dizer estas palavras, senti-me circundada por sofrimentos como por
um vestido, e por mim mesma não pude libertar-me, pensava : “O que dirá o confessor?” Mas não
estava mais em meu poder. Aquele leite que Jesus derramou em mim me produzia tal amor a Ele,
que me sentia definhar, e sentia tanta saciedade e doçura, que depois de que veio o confessor e
me fez voltar daquele estado, e a família me levou alimento, sentia-me tão satisfeita que o alimento
não baixava, mas para cumprir a obediência que assim queria, tomei um pouco, mas logo fui

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obrigada a devolvê-lo, misturado com aquele leite doce que me havia Jesus dado. e Ele como
brincando me disse:
(179) “Não te bastou o que te dei? Não está contente ainda?” Eu fiquei toda corada, mas
rapidamente lhe disse: “O que queres de mim? É a obediência”. Quando o confessor veio,
começou a ficar inquieto e a dizer-me que era desobediente, ou então dizia-me: “É uma doença. Se
fosse coisa de Deus te teria feito obedecer, por isso em vez de chamar ao confessor deve chamar
aos médicos”. Quando ele terminou de falar, eu lhe disse tudo o que me tinha dito o Senhor, como
disse acima, e ele me disse que era verdade que havia guerra entre a África e a Itália, e disse:
Veremos se nada acontecer”. E assim ficou persuadido de me fazer continuar sofrendo.
(180) Depois de cerca de quatro meses, um dia o confessor veio e me disse que haviam chegado
notícias de que a guerra que havia entre a África e a Itália, sem fazer nenhum dano entre elas,
havia terminado, assinando a paz. Assim o confessor ficou mais persuadido e me deixou ficar em
paz .
(181) Então meu doce Jesus não fazia outra coisa que me dispor daquele matrimonio místico o
que me havia prometido, se fazia ver estando eu nesse estado, às vezes três ou quatro vezes ao
dia, como lhe agradava, e às vezes era um contínuo ir e vir, me parecia um apaixonado que não
sabe estar sem sua esposa, assim fazia Jesus comigo, e às vezes chegava a me dizer:
(182) “Olhe, te amo tanto que não sei estar se não venho, sinto-me quase inquieto pensando que
você está sofrendo por Mim e que está sozinha, por isso vim para ver se tem necessidade de
alguma coisa”.
(183) E enquanto assim dizia, Ele mesmo me levantava a cabeça, colocava seu braço atrás de
meu pescoço e me abraçava, e enquanto assim me tinha, me beijava, e se era tempo de verão e
fazia calor, de sua boca mandava um alento refrescante, ou bem tomava alguma coisa em sua
mão e me abanava e depois me perguntava:
(184) “Como te sentes? Não se sente melhor?”
(185) Eu lhe dizia: “Em qualquer modo que se está Contigo se está sempre bem”. Outras vezes
vinha, e se me via muito fraca pelo contínuo estar naqueles sofrimentos, especialmente se o
confessor vinha na noite, meu amante Jesus vinha, e me vendo naquele estado de extrema
debilidade, tanto que às vezes me sentia morrer, se aproximava a mim e de sua boca vertia na
minha aquele leite, ou bem me fazia pôr-me a seu lado e eu chupava torrentes de doçuras, de
delícias e de fortaleza, e Ele me dizia:
(186) “Quero ser propriamente Eu teu tudo, e também teu alimento da alma e do corpo”.
(187) Quem pode dizer o que eu experimentava, tanto na alma como no corpo, por estas graças
que Jesus me fazia? Se fosse eu a dizê-lo, espalhava-me demasiado. Recordo que às vezes
quando não vinha logo, me lamentava com Ele dizendo: “Ah, Esposo Santo, como me fez esperar,

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tanto que não podia resistir mais, me sentia morrer sem Ti”. E enquanto assim dizia, era tanta a
pena que sentia que chorava, e Ele compadecia-me toda, me enxugava as lágrimas, me beijava,
me abraçava e dizia:
(188) “Não quero que chore. Olhe, agora estou contigo, me diga o que quer”.
(189) Eu dizia-lhe: “Não quero outra coisa senão a Ti, e só deixarei de chorar quando me
prometeres que não me farás esperar tanto”.
(190) E Ele me dizia: “Sim, sim, te contentarei”.
(191) Um dia, enquanto estávamos nisto e era tanta a pena que eu sentia que não podia deixar de
chorar, meu bom Jesus me disse:
(192) “Quero te contentar em tudo, sinto-me tão atraído por você que não posso fazer menos que
fazer o que você quer. Se até agora te tirei a vida exterior e me manifestei a ti, agora quero atrair
tua alma para Mim, a fim de que onde quer que eu vá possas vir junto Comigo, assim poderás
desfrutar mais e te estreitar mais intimamente a Mim, o que não fizeste no passado.
(193) Uma manhã, não me lembro muito bem, creio que tinham passado cerca de três meses
desde que comecei a estar continuamente na cama, enquanto estava no meu estado habitual, veio
meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um jovem, como de dezoito anos. ¡ Oh como
era belo! , com sua cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que encadeava os
pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte serena e ampla, onde se olhava como dentro de um
cristal o interior de sua mente, e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. ¡ Oh
como me sentia tranquilizar minha mente, meu coração, aliás, minhas mesmas paixões diante de
Jesus caíam por terra e não se atreviam a me dar o mínimo incômodo. Eu acredito, não sei se
estou errada, que não se pode ver a este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda
que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter uma vista tão bela. Ah sim! Ao ver a
serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que creio
que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus não se acalme. Ó meu todo e belo
Jesus, se por poucos momentos que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que
se podem sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita
tranquilidade, me parece uma mistura de paz e de dor, o que será no Paraíso? Oh, como são belos
seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do sol que querendo olhá-la danifica
nossa vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o olhar, e só de olhar o interior
de sua pupila, de uma cor celeste escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus
olhos, que um só olhar seu basta para me fazer sair de mim mesma, e me fazer correr atrás Dele
por caminhos e por montes, pela terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e
sentir descer em mim algo de Divino. Quem pode dizer além da beleza de seu rosto adorável? Sua
tez branca semelhante à neve tingida de uma cor de rosas, das mais belas; em suas bochechas

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rosadas descobre-se a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo Divino, que
infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá tanta confiança, que quanto a mim jamais
encontrei pessoa alguma que me dê ao menos uma sombra da confiança que dá meu amado
Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores, nem nas minhas irmãs. Ah sim, esse rosto santo,
enquanto é tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto, de modo
que a alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se veja.
Belo é também o seu nariz afilado, proporcional ao seu rosto. Graciosa é sua boca, pequena, mas
extremamente bela, seus lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça
que é impossível poder descrevê-lo. É doce a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto
fala sai de sua boca um perfume tal, que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante,
de modo que penetra tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos afetos produz,
Mas quem pode dizer tudo? Além disso, é tão agradável que acho que não se pode encontrar
outros prazeres como os que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de meu Jesus
é potentíssima, é obrante, e no mesmo ato que fala faz o que diz. Ah sim, é formosa sua boca, mas
mostra mais sua formosa graça no ato de falar, então se vêem seus dentes tão nítidos e bem
alinhados, e exala seu sopro, amor que incendea, setas são lançadas, consome o coração. Belas
são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os move com
uma maestria tal, que é um encanto. ¡¡¡¡¡¡ Oh, como você é bonito, todo bonito, oh meu doce
Jesus! O que eu disse sobre sua beleza é nada, é mais, eu acho que disse muitos desatinos. Mas
o que queres de mim? Perdoe-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido
a dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade.
(194) Agora, enquanto via Jesus com o aspecto já descrito, de sua boca me enviou um alento que
me investía toda a alma, e me parecia que Jesus me atraía com esse alento a Ele e comecei a
sentir que a alma saía do corpo, me sentia realmente sair de todas partes, da cabeça, das mãos e
até dos pés, sendo esta a primeira vez que me sucedia dentro de mim comecei a dizer: “Agora
morro, o Senhor veio para me levar”. Quando me vi fora do corpo, a alma tinha a mesma sensação
do corpo, com esta diferença, que o corpo contém carne, nervos e ossos, a alma não, é um corpo
de luz, portanto senti um temor, mas Jesus continuava a enviar-me esse alento e me disse:

(195) “Se te dá tanta pena estar privada de Mim, agora vem junto Comigo porque quero consolar-
te”.

(196) E Jesus tomou o seu vôo e eu tomei o meu junto, a Ele, giramos por toda a abóbada do céu.
Oh! Como era bonito passear junto com Jesus, agora apoiava a cabeça sobre seu ombro e com
um braço atrás de suas costas e com a outra mão em sua mão, agora se apoiava Jesus em mim,
quando chegávamos a certos lugares onde a iniquidade mais abundava, oh, quanto sofria meu
bom Jesus! Eu via com mais clareza os sofrimentos de seu coração adorável, via-o quase

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desmaiar, e lhe dizia: “Apoie se em mim e faz-me partícipe de tuas penas, pois não resiste minha
alma ver-te sofrer sozinho”. E Jesus me dizia:
(197) “Amada minha, ajuda-me que não posso mais”.
(198) E, enquanto assim dizia, aproximava os seus lábios aos meus, e via uma amargura tal, que
sentia penas mortais quando entrava em mim esse licor tão amargo; sentia entrar como tantas
facas, pontas, flechas que me trespassavam de lado a lado, em suma, em todos os meus membros
se formava uma dor atroz e voltando a alma ao corpo participava estes sofrimentos ao corpo, quem
pode dizer as penas? Só o próprio Jesus que era testemunha, porque Os outros não podiam
mitigar minhas penas estando naquele estado de perda dos sentidos, e se esperava quando estava
presente o confessor, porque também com a obediência se mitigavam. Portanto só Jesus me podia
ajudar quando via que minha natureza não podia mais e que chegava propriamente aos extremos e
não me restava mais que dar o último respiro. ¡ Oh, quantas vezes a morte zombou de mim, mas
virá um dia em que eu me rirei dela! Então Jesus vinha, me tomava em seus braços, me
aproximava de seu coração, e oh, como me sentia voltar a vida, depois, de seus lábios vertia um
licor dulcíssimo, e assim se mitigavam as penas. Outras vezes, enquanto me levava junto com Ele
girando, se eram pecados de blasfêmias, contra a caridade e outros, vertia esse amargo venenoso;
se eram pecados de desonestidade, derramava uma coisa de podridão malcheirosa, e quando
voltava em mim mesma sentia tão bem aquela peste, e era tanto o fedor que me revolvia o
estômago e me sentia desfalecer, e às vezes tomando o alimento, quando o devolvia, sentia que
saía da minha boca aquela podridão misturada com o alimento. Uma vez levava-me às igrejas, e
também ali o meu bom Jesus era ofendido. Oh, como chegavam mal a seu coração aquelas obras,
santas, sim, mas descuidadamente feitas, aquelas orações vazias de espírito interior, aquela
piedade fingida, aparente, parecia que mais bem insultavam a Jesus em vez de lhe dar honra. Ah!
Sim, aquele coração santo, puro, reto, não podia receber essas obras tão mal feitas. Oh! quantas
vezes se lamentava dizendo:
(199) “Filha, também há gente que se diz devota, olha quantas ofensas me fazem, mesmo nos
lugares mais santos, ao receber os mesmos Sacramentos, em vez de sair purificados saem mais
enlameados “.
(200) ” Ah! Sim, quanta pena dava a Jesus ver pessoas que comungavam sacrílegamente,
sacerdotes que celebravam o Santo Sacrifício da missa em pecado mortal, por costume, e alguns,
dá horror dizer, por fins de interesse. ¡¡ Oh! Quantas vezes meu Jesus me fez ver estas cenas tão
dolorosas. Quantas vezes, enquanto o sacerdote celebrava o Sacrossanto Mistério, Jesus é
obrigado a descer, porque era chamado pelo poder sacerdotal, às mãos do sacerdote, se viam
aquelas mãos que gotejavam podridão, sangue, ou então estavam sujas de lama. Ah! Como dava
compaixão o estado de Jesus, tão santo, tão puro, naquelas mãos que davam horror só de olhá-

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las, parecia que Jesus queria fugir daquelas mãos, mas era obrigado a permanecer até que se
consumissem as espécies do pão e do vinho. Às vezes, enquanto permanecia ali, com o sacerdote,
ao mesmo tempo vinha-se apressadamente a mim e lamentava-se, e antes de que eu o dissesse,
Ele mesmo me dizia:
(201) “Filha, deixa-me derramar em ti, porque não posso mais, tem compaixão do meu estado que
é demasiado doloroso, tem paciência, soframos juntos”.
(202) E enquanto dizia isto derramava da sua boca na minha, mas quem pode dizer o que
derramava? Parecia um veneno amargo, uma podridão hedionda, misturada com um alimento tão
duro, repugnante e nauseante, que às vezes eu não podia engolir, quem pode dizer os sofrimentos
que me produzia este derramar de Jesus? Se Ele mesmo não me tivesse sustentado, certamente
teria morrido vítima disso; todavia, só derramava em mim a mínima parte, o que será de Jesus que
contém tanto e tanto? Oh, como é feio o pecado! Ah! Senhor, faça-o conhecer a todos, a fim de
que todos fujam deste monstro tão horrível; mas enquanto via estas cenas tão dolorosas, outras
vezes fazia-me ver também cenas tão consoladoras e belas, que raptavam, e estas eram ver os
bons e santos sacerdotes que celebravam os Sacrossantos Mistérios. ¡ Oh Deus, como é alto,
grande, sublime seu ministério! Como era bonito ver o sacerdote que celebrava a missa e Jesus
transformado nele, parecia que não o sacerdote, mas que o próprio Jesus celebrava o Divino
Sacrifício, e às vezes fazia desaparecer completamente o sacerdote e Jesus só celebrava a missa
e eu a escutava, Oh, como era comovedor ver Jesus recitar aquelas orações, fazer todas aquelas
cerimônias e movimentos que faz o sacerdote! Quem pode dizer o quão consolador eu achava que
veria estas Missas junto com Jesus? Quantas graças recebia, quantas luzes, quantas coisas
compreendia! Mas como são coisas passadas e não as recordo claramente, por isso as passo em
silêncio.
(203) Mas enquanto dizia isto, Jesus moveu-se dentro de mim, chamou-me, e não quer que deixe
isto em silêncio. Ah, Senhor, quanta paciência é necessária Contigo! pois bem, te contentarei. Oh!
Doce amor, direi alguma pequena coisa, mas dá-me tua graça para poder manifestá-lo, porque por
mim não me atreveria a pôr nem uma palavra sobre mistérios tão profundos e sublimes.

A Santa Missa. Que coisa é a Missa.

(204) Agora, enquanto via Jesus ou o sacerdote que celebrava o Divino Sacrifício, Jesus me fazia
entender que na missa está todo o fundamento de nossa sacrossanta religião. Ah! Sim, a missa
nos diz tudo e nos fala de tudo. A Missa recorda-nos a nossa Redenção, fala-nos detalhadamente
das penas que Jesus sofreu por nós, manifesta-nos também o seu Amor imenso que não ficou
contente por morrer na cruz, mas quis continuar o estado de vítima na Santíssima Eucaristia. A

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missa também nos diz que nossos corpos desfeitos, reduzidos a cinzas pela morte, ressurgirão no
dia do juízo junto com Cristo à vida imortal e gloriosa. Jesus me fazia compreender que a coisa
mais consoladora para um cristão e os mistérios mais altos e sublimes de nossa santa religião são:
Jesus no Sacramento e a ressurreição de nossos corpos à glória. São mistérios profundos que só
os compreenderemos além das estrelas. Mas Jesus no Sacramento faz-nos quase tocar com a
mão em vários modos: em primeiro lugar a sua Ressurreição, em segundo o seu estado de
aniquilamento sob aquelas espécies, mas também é verdade que está nelas vivo e verdadeiro,
mas consumidas essas espécies, sua real presença não existe mais; depois, consagradas as
espécies de novo, Jesus adquire novamente seu estado Sacramental. Assim, Jesus no
Sacramento nos recorda a ressurreição de nossos corpos à glória, e assim como Jesus, cessando
seu estado Sacramentado reside no seio de Deus, seu Pai, assim nós, cessando nossa vida,
nossas almas vão fazer sua morada no Céu, no seio de Deus, e nossos corpos ficam consumidos,
assim que se pode dizer que não existem mais, mas depois com um prodígio da Onipotência de

Deus, nossos corpos adquirirão nova vida, e unindo-se com a alma irão juntos a gozar a bem-
aventurança eterna. Pode-se dar coisa mais consoladora para o coração humano, que não só a

alma, mas também o corpo deve agradar aos eternos contentamentos? A mim me parece que
naquele grande dia acontecerá como quando o céu está estrelado e sai o sol, o que acontece? O
sol, com sua imensa luz absorve as estrelas e as faz desaparecer, mas as estrelas existem. O sol é
Deus e todas as almas bem-aventuradas são estrelas, Deus com a sua imensa luz nos absorverá a
todos em Si, de modo que existiremos em Deus e nadaremos no mar imenso de Deus. ¡ Oh,
quantas coisas Jesus nos diz no Sacramento! Mas quem pode dizê-las todas? Certamente me
estenderia demasiado, se o Senhor o permitir reservarei para outra ocasião dizer alguma outra
coisa.

Matrimônio. O Matrimonio com Jesus

(205) Agora, nestas saídas do corpo que o Senhor me fazia fazer, às vezes renovava-me a
promessa do noivado já dito. Quem pode dizer os ardentes desejos que o Senhor infundia em mim
de que se efetuasse este místico matrimonio? Muitas vezes lhe rogava dizendo: “Esposo
dulcíssimo, faça-o logo, não atrase mais minha íntima união Contigo, ah, estreitamo-nos com
vínculos mais fortes de amor, de modo que ninguém nos possa separar nem por poucos instantes”.
E Jesus agora me corrigia de uma coisa, agora de outra. Recordo que um dia me disse:
(206) “Tudo o que é terreno, tudo, deves tirar, não só do teu coração mas também de teu corpo,
tu não podes entender quanto nocivo é e que impedimentos são a meu Amor mesmo as mínimas
sombras terrenas”.

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(207) Eu imediatamente lhe disse: “Se tiver alguma outra coisa para tirar, diga-me, porque estou
disposta a fazê-lo”. Mas enquanto dizia isto, eu mesma percebi que tinha um anel de ouro no dedo
que representava a imagem do Crucificado, e imediatamente lhe disse: “Esposo santo, Queres que
o tire?” E Ele me disse:
(208) “Te devendo dar Eu, um anel mais precioso, mais belo, e no qual ao vivo estará impressa
minha imagem, tanto que cada vez que o vir novas flechas de amor receberá seu coração, por isso
este anel não é necessário”.
(209) E eu prontamente o tirei. Finalmente chegou o suspirado dia, depois de não pouco sofrer.
Recordo que faltava pouco para completar o ano de estar continuamente na cama, era dia da
Pureza de Maria Santíssima. Na noite anterior daquele dia, o meu amado Jesus fez-se ver em
atitude festiva, aproximou-se de mim e tomou o meu coração nas suas mãos e olhou para ele e
olhou para ele, limpou-o e depois devolveu-me. Depois tomou uma vestidura de imensa beleza,
me parecia que o fundo era como com filetes de ouro de várias cores e me vestiu com ela, depois
tomou duas gemas como se fossem brincos e os pôs em minhas orelhas, logo me adornou o
pescoço e os braços e me cingiu a testa com uma coroa de imenso valor, Adornada de pedras e
pedras preciosas, toda resplandecente de luz, e me parecia que essas luzes eram tantas vozes
que ressoavam entre elas e a claras notas falavam da beleza, poder, força e de todas as outras
virtudes de meu esposo Jesus. Quem pode dizer o que eu entendi e em que mar de consolo
nadava minha alma? É impossível poder dizê-lo. Agora, enquanto Jesus me cingiu a testa me
disse:
(210) “Esposa dulcíssima, esta coroa te ponho a fim de que nada falte para te fazer digna de ser
minha esposa, masque depois que se realize nosso matrimonio a levarei ao Céu para reserva-la
para o momento da morte”.
(211) Finalmente tomou um véu e com ele cobriu-me toda, desde a cabeça até os pés e assim
deixou-me. Ah! Parecia-me que nesse véu havia um grande significado, porque os demônios ao
me ver coberta com ele ficavam tão espantados e sentiam tal medo de mim, que fugiam
aterrorizados. Os mesmos anjos estavam ao meu redor com tal veneração que eu mesma ficava
confusa e toda cheia de vergonha.
(212) Na manhã desse dia, Jesus fez-se ver de novo todo afável, doce e majestoso, juntamente
com a sua Mãe Santíssima e Santa Catarina. Primeiro os anjos cantaram um hino, Santa Catarina
me assistia, a Mãe tomou minha mão e Jesus pôs em meu dedo o anel, depois nos abraçamos e
me beijou, e assim fez também a Mãe. Depois tivemos um colóquio todo de amor, Jesus falava-me
do grande amor que me tinha, e eu dizia-lhe também do amor com que o amava. A Santíssima
Virgem fez-me compreender a grande graça que tinha recebido e a correspondência que devia dar
ao Amor de Jesus.

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(213) Meu esposo Jesus me deu novas regras para viver mais perfeitamente, mas como passou
muito tempo não as recordo muito bem, por isso não as digo, e assim terminou aquele dia.
(214) Quem pode dizer as finezas de amor que Jesus fazia a minha alma? Eram tais e tantas, que

é impossível descrevê-las, mas o pouco que recordo tratarei de dizê-lo. Às vezes, transportando-
me com Ele, levava-me ao Paraíso, e ali escutava os cânticos dos bem-aventurados, via a

Divindade, os diversos coros dos anjos, as ordens dos santos, todos imersos, absorvidos e
identificados na Divindade de Deus. Parecia-me que em torno do trono havia muitas luzes, como
se fossem mais que sóis resplandecentes e a claras notas estas luzes denotavam todas as virtudes
e atributos de Deus. Os bem-aventurados, refletindo-se em uma destas luzes, ficavam arrebatados,
mas não chegavam a penetrar toda a imensidão daquela luz, de modo que passavam a uma
segunda luz sem compreender a fundo a primeira. Assim, os bem-aventurados no Céu não podem
compreender perfeitamente a Deus, porque é tanta a Imensidão, a Grandeza, a Santidade de
Deus, que mente criada não pode compreender um Ser incriado. Agora, os bem-aventurados
refletindo-se nestas luzes, parecia-me que vinham participar nas virtudes destas luzes, assim que a
alma no Céu se assemelha a Deus, com esta diferença: que Deus é aquele Sol grandíssimo, e a
alma é um pequeno sol. Mas quem pode dizer tudo o que nessa beata morada se compreende?
Enquanto a alma se encontra nesta prisão do corpo é impossível, enquanto na mente se escuta
algo, os lábios não encontram palavras para poder explicar-se, me parece como uma criança que
começa a balbuciar, que gostaria de dizer tantas e tantas coisas, Mas afinal parece que ele não
sabe dizer uma palavra clara, por isso, vou direto ao assunto. Só direi que às vezes, enquanto me
encontrava naquela bem-aventurada pátria, passeava junto com Jesus no meio dos coros dos
anjos e dos santos, e como eu era nova esposa todos os bem-aventurados se uniam conosco para
participar das alegrias de nosso matrimonio, me parecia que esqueciam seus contentamentos para
cuidar dos nossos, e Jesus me mostrava aos santos dizendo:
(215) “Vejam esta alma, é um triunfo do meu Amor, meu Amor tudo superou nela”.
(216) Outras vezes me fazia ficar no lugar que me tocava e me dizia: “Este é seu lugar, ninguém
pode te tirar”. E às vezes eu chegava a acreditar que não devia voltar mais à terra, mas em um
simples instante me encontrava fechada no muro deste corpo. Quem pode dizer o quão amargo eu
estava de volta? A mim me parecia, pelas coisas do Céu, que as desta terra tudo era podridão,
insípido, fastidioso; as coisas que tanto deleitam aos demais, para mim eram amargas, as pessoas
mais amadas, mais respeitáveis, que os demais quem sabe o que teriam feito para entreter-se com
elas, a mim me resultavam indiferentes e até fastidiosas, só vendo-as como imagens de Deus me
parecia que podia suportá-las, mas minha alma tinha perdido toda satisfação, nada lhe dava a
menor sombra de contentamento, e era tanta a pena que eu sentia que não fazia mais do que
chorar e lamentar-me com meu amado Jesus. Ah! Meu coração vivia inquieto, entre contínuas

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ânsias e desejos, me sentia mais no Céu que na terra, sentia em meu interior uma coisa que me
roía continuamente, tanto, que me resultava amargo e doloroso ter que continuar vivendo. Mas a
obediência pôs um freio a estas penas minhas, mandando-me absolutamente que não desejasse
morrer, e que só devia morrer quando o confessor me desse a obediência. Então para cumprir esta
santa obediência fazia quanto mais podia para não pensar nisso, porque meu interior era uma
contínua jaculatória de desejo de me querer ir. Assim, em grande parte meu coração se acalmou,

mas não de todo. Confesso a verdade, muito faltou nisto, mas o que podia fazer? Não sabia deter-
me, para mim era um verdadeiro martírio. Meu benigno Jesus me dizia:

(217) “Acalma-te, qual é a coisa que tanto te faz desejar o Céu?”
(218) E eu lhe dizia: “Porque quero estar sempre unida Contigo, minha alma não resiste mais estar
separada de Ti, não só por um dia, nem sequer por um momento, por isso a qualquer custo quero
ir”.
(219) “Pois bem”. Dizia-me. “Se é por Mim te quero contentar, virei a estar contigo”.
(220) Eu lhe dizia: “Mas logo me deixa e eu te perco de vista, em troca no Céu não é assim, lá
jamais te perderei de vista”
(221) Às vezes também Jesus queria brincar, e eis como: Enquanto estava com estas ânsias,

vinha apressado e me dizia: “Queres vir?” E eu lhe dizia: “Onde?” E Ele: “Ao Céu”. E eu: “Dizes-
me de verdade?” E Ele: “Apresse-se, venha, apresse=se”. E eu: “Está bem, vamos, mas temo que

queira brincar comigo”. E Jesus: “Não, não, de verdade quero levar-te Comigo”. E enquanto assim
dizia sentia minha alma sair do corpo, e junto com Jesus tomava o vôo ao Céu. Oh! como me
sentia contente então acreditando que devia deixar a terra, a vida me parecia um sonho, o sofrer

pouquíssimo! Enquanto chegávamos a um ponto alto do Céu, eu ouvia o canto dos bem-
aventurados, eu apressava Jesus a me introduzir nessa bem-aventurada morada, mas Jesus o

tomava com calma. Em meu interior começava a suspeitar que não era verdade e dizia: “Quem

sabe se não é uma brincadeira que me fez?” De vez em quando lhe dizia: “Meu Jesus, amado, fá-
lo depressa”. E Ele me dizia: “Espera mais um pouco, desçamos outra vez à terra, olha, aí está por

perder-se um pecador, vamos, talvez se converta. Peçamos juntos ao Eterno Pai que tenha
misericórdia dele. Não queres que Ele seja salvo? Não estás disposta a sofrer qualquer pena pela
salvação de uma só alma?” E eu: “Sim, tudo o que quiseres que ela sofra, estou disposta, desde
que a salves”. Assim íamos a esse pecador, tentávamos convencê-lo, púnhamos ante sua mente
as mais poderosas razões para rende-lo, mas em vão. Então Jesus todo aflito me dizia: “Minha
esposa, volta outra vez a teu corpo, toma sobre ti as penas que lhe são merecidas, assim a Divina
Justiça, aplacada, poderá usar com ele misericórdia. Você viu, as palavras não o abalaram, nem
sequer as razões, não resta outra coisa que as penas, que são os meios mais poderosos para
satisfazer a Justiça e para render o pecador”. Assim me levava de volta ao corpo. Quem pode dizer

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os sofrimentos que me vinham? Só o Senhor sabe que deles era testemunha. Depois de alguns
dias me fazia ver aquela alma convertida e salva, oh, como estava contente Jesus e eu também.
(222) Quem pode dizer quantas vezes Jesus fez estes jogos? Quando se chegava ao ponto de
entrar no Céu, e às vezes mesmo depois de ter entrado, agora dizia que não tinha a obediência do
confessor, e por isso era conveniente voltar à terra, e eu lhe dizia: “Enquanto estive com o
confessor fui obrigada a obedecer-lhe, mas agora que estou Contigo, devo obedecer-te a Ti,
porque Tu és o primeiro de todos. E Jesus dizia-me: “Não, não, quero que obedeças ao confessor”.
Então, para não me alongar muito, agora por um pretexto, agora por outro, me fazia voltar à terra.
(223) Muito dolorosos me resultavam estes jogos, basta dizer que me tornei tão impertinente, que
o Senhor para castigar minhas impertinências não permitia tão freqüentemente estas brincadeiras.
Renovação do Matrimonio. Matrimonio diante da Santíssima Trindade.
Instrui-a sobre a Fé, a Esperança e a Caridade.

(224) Neste estado que mencionei, passei cerca de três anos, e ainda estava na cama. Quando
uma manhã Jesus me fez entender que queria renovar o noivado mas não já na terra como a
primeira vez, mas no Céu diante da presença de toda a corte Celestial, assim que estivesse
preparada para uma graça tão grande. Eu fiz quanto mais pude para dispor-me, mas que, sendo eu
tão miserável e insuficiente para fazer nenhuma sombra de bem, se necessitava a mão do Artífice
Divino para dispor-me, porque por mim jamais teria conseguido purificar minha alma.
(225) Uma manhã, era a véspera da natividade de Maria Santíssima, meu sempre benigno
Jesus veio Ele mesmo para me dispor. Não fazia mais que ir e vir continuamente, agora me falava
da fé e me deixava, eu me sentia infundir na alma uma vida de fé, minha alma, tosca como a sentia
antes, agora, depois de falar de Jesus me sentia levíssima, em modo de penetrar em Deus, e
agora olhava a Potência, Agora a Santidade, agora a Bondade e demais, e minha alma ficava
estupefata, num mar de espanto e dizia: “Poderoso Deus, que poder diante de Ti não fica desfeito?
Santidade imensa de Deus, que outra santidade por quão sublime seja, ousará comparecer ante
sua presença?” Depois sentia-me descer em mim mesma e via o meu nada, a nulidade das coisas
terrenas, como nada é diante de Deus. Eu me via como um pequeno verme todo cheio de pó que
me arrastava para dar algum passo e que para me destruir não era preciso senão que alguém me
pusesse o pé em cima, e com isso ficava desfeita. Então, vendo-me tão feia, quase não me atrevia
a ir ante Deus, mas ante minha mente se apresentava sua bondade, e me sentia atraída como por
um ímã para ir até Ele e dizia entre mim: “Se é Santo, também é Misericordioso; se é Poderoso,
contém também em Si plena e suma Bondade”. Parecia-me que a bondade o circundava por fora,
e o inundava por dentro. Quando olhava a Bondade de Deus me parecia que ultrapassava a todos

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os outros atributos, mas depois, olhando para os outros, via-os todos iguais em si mesmos,
imensos, incomensuráveis e incompreensíveis à natureza humana. Enquanto minha alma estava
neste estado, Jesus voltava e falava da Esperança.
(226) Recordo algo confusamente, porque depois de tanto tempo é impossível recordar
claramente, mas para cumprir a obediência que assim quer, direi por quanto possa.
(227) Então disse Jesus, voltando à fé: “Para obtê-la é preciso crer. Assim como à cabeça sem a
vista dos olhos tudo é trevas, tudo é confusão, tanto que se quisesse caminhar, agora cairia em um
ponto, agora em outro e terminaria com precipitar-se de todo, assim o alma sem fé, não faz outra
coisa que ir de precipício em precipício, porque a fé serve de vista à alma e como luz que a guia à
vida eterna. Agora, de que é alimentada esta luz da fé? Pela esperança. E de que substância é
esta luz da fé e este alimento da esperança? A caridade. Estas três virtudes estão enxertadas entre
elas, de modo que uma não pode estar sem a outra”.
(228) Com efeito, de que serve ao homem crer nas imensas riquezas da fé, se não as espera para
ele? As verá, sim, mas com olhar indiferente porque sabe que não são suas, mas a esperança
fornece as asas à luz da fé, e esperando nos méritos de Jesus Cristo olha-as como suas e vem
amá-las.
(229) “A esperança”. Dizia Jesus, “fornece à alma uma veste de força, quase de ferro, de modo
que todos os inimigos com suas flechas não podem feri-la, e não só feri-la, senão que nem sequer
lhe causar o mínimo incômodo. Tudo é tranquilidade nela, tudo é paz. Ah! É bom ver esta alma
investida pela esperança, toda apoiada no seu amado, toda desconfiada de si, e toda confiante em
Deus; desafia os inimigos mais ferozes, é rainha das suas paixões, regula todo o seu interior, as
suas inclinações, os desejos, os batimentos, os pensamentos, com tal maestria, que o próprio
Jesus fica apaixonado porque vê que esta alma trabalha com tal coragem e fortaleza; mas ela os
toma e o espera todo dele, tanto que Jesus vendo esta firme esperança, nada sabe negar a esta
alma”.
(230) Agora, enquanto Jesus falava da esperança, retirava-se um pouco, deixando-me uma luz na
inteligência. Quem pode dizer o que entendia sobre esperança? Se as outras virtudes, todas
servem para embelezar a alma, mas podem nos fazer vacilar e nos tornar inconstantes, em troca a
esperança torna a alma firme e estável, como aqueles montes altos que não se podem mover nem
um pouco. Parece-me que a alma investida pela esperança lhe sucede como a certos montes
altíssimos, que todas as inclemências do ar não lhes podem fazer nenhum dano, sobre estes
montes não penetra nem neve, nem ventos, nem calor, qualquer coisa se poderia pôr sobre eles, e
se pode estar seguro que ainda que passassem centenas de anos, Onde quer que ele esteja, está
lá. Assim é a alma vestida pela esperança, nada a pode prejudicar, nem a tribulação, nem a
pobreza, nem todos os acidentes da vida, no máximo a desanimam um instante, mas diz entre si:

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“Eu tudo posso fazer, tudo posso suportar, tudo sofrer esperando em Jesus que é o objeto de todas
as minhas esperanças”. A esperança torna a alma quase onipotente, invencível e lhe fornece a
perseverança final, tanto que só cessa de esperar e perseverar quando tomou posse do Reino do
Céu, então deixa a esperança e toda se lança no oceano imenso do Amor Divino. Enquanto a
minha alma se perdia no mar imenso da esperança, o meu amado Jesus regressava e falava da
caridade dizendo-me:
(231) “À fé e à esperança une-se a caridade, e esta une tudo o que há nas outras duas, de modo a
formar uma só enquanto são três. Eis, ó minha esposa, simbolizada nas três virtudes teologais à
Trindade das Divinas Pessoas”
(232) Depois prosseguiu: “Se a fé faz crer, a esperança faz esperar, a caridade faz amar. Se a fé é
luz e serve de vista à alma, a esperança que é o alimento da fé fornece à alma o valor, a paz, a
perseverança e todo o resto; a caridade que é a substância desta luz e deste alimento, É como
aquele unguento dulcíssimo e odoroso que penetrando por toda parte, aplaca, adoça as penas da
vida. A caridade torna doce o sofrer e faz chegar a alma até mesmo a desejar este sofrimento. A
alma que possui a caridade expande odor por toda parte, suas obras feitas todas por amor
despedem odor gratíssimo, e qual é este odor? É o cheiro do próprio Deus. As outras virtudes
tornam a alma solitária e quase rústica com as criaturas; a caridade, ao contrário, sendo substância
que une, une os corações, mas onde? Em Deus. A caridade sendo unguento perfumado se
expande por toda parte e por todos. A caridade faz sofrer com alegria os mais impiedosos
tormentos, e chega a não saber estar sem o sofrer, e quando se vê privada dele diz a seu esposo
Jesus: “Me sustente com os frutos, como é o sofrimento, porque definho de amor, e em que outra
maneira posso te mostrar meu amor senão no sofrer por Ti? A caridade queima, consome todas as
outras coisas, e até as mesmas virtudes, e converte tudo nela. Em suma, é como uma rainha que
quer reinar em toda parte, e que não quer ceder este reinar a nenhum”.
(233) Quem pode dizer o que me ficou depois deste falar de Jesus? Só digo que se acendeu em
mim tal desejo de sofrer, e não só desejo, senão que sinto em mim como uma infusão, como uma
coisa natural, tanto, que tenho para mim como a maior desgraça o não sofrer. Depois disso,
naquela manhã, Jesus, para dispor principalmente meu coração, falou sobre a aniquilação de mim
mesma, também me falou sobre o desejo grandíssimo que devia me excitar para me dispor a
receber a graça. Dizia-me que o desejo supre as faltas e imperfeições que possam existir na alma,
que é como um manto que cobre tudo. Mas isto não era um falar simplesmente, era um infundir em
mim o que dizia.
(234) Enquanto minha alma estava se excitando em ardentes desejos de receber a graça que o
próprio Jesus queria fazer-me, Ele voltou e transportou-me para fora de mim mesma, para o
paraíso, e ali, diante da presença da Santíssima Trindade e de toda a corte celestial renovou o

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matrimonio. Jesus tirou o anel adornado com três pedras preciosas, branca, vermelha e verde e o
entregou ao Pai que o abençoou e o devolveu ao Filho, o Espírito Santo me tomou a mão direita e
Jesus me pôs o anel no dedo anular. Depois fui admitida ao beijo da Três Divinas Pessoas e me
abençoaram.
(235) Quem pode dizer minha confusão quando me encontrei diante da Santíssima Trindade? Só
digo que assim que me encontrei ante sua presença caí rosto em terra e ali haveria permanecido
se não tivesse sido por Jesus que me animou para ir a sua presença, tanta era a luz, a Santidade
de Deus. Só digo isto, as outras coisas deixo-as porque as recordo confusamente.
(236) Depois disto, recordo que passaram poucos dias, e ao receber a Comunhão perdi os
sentidos e vi a Santíssima Trindade que tinha visto no Céu presente diante de mim, logo me
prostrei ante sua presença, a adorei, confessei meu nada. Lembro-me que me sentia tão abismada
em mim mesma que não me atrevia a dizer uma só palavra, quando uma voz saiu do meio deles e
disse:
(237) “Não temas, dá-te ânimo, viemos para te confirmar como nossa e tomar posse do teu
coração”.
(238) Enquanto esta voz assim dizia, vi que a Santíssima Trindade desceu em meu coração e se
apoderaram dele e aí formaram sua sede. Quem pode dizer a mudança que aconteceu em mim?
Sentia-me divinizada, não mais vivia eu mas eles viviam em mim. A mim me parecia que meu
corpo fosse como uma habitação, e que dentro habitasse o Deus vivente, porque eu sentia a
presença real sensivelmente em meu interior, ouvia sua voz clara que saía de dentro de meu
interior e ressoava nos ouvidos do corpo. Acontecia precisamente como quando há pessoas dentro
de uma sala, que falam e suas vozes se ouvem claras e distintas mesmo de fora.
(239) Desde então não tive mais a necessidade de ir em sua busca a outros lugares para
encontra-lo, mas estava dentro do meu coração. E quando algumas vezes se escondia e eu fui em
busca de Jesus girando pelo céu e pela terra, buscando a meu sumo e único Bem, enquanto me

encontrava na fogueira das lágrimas, na intensidade dos desejos, nas penas inenarráveis por havê-
lo perdido, Jesus saía de dentro de mim e me dizia:

(240) “Estou aqui contigo, não me procures em outro lugar”.
(241) Eu, entre o espanto e o contentamento de tê-lo encontrado, dizia-lhe: “Meu Jesus, como toda
esta manhã me fizeste girar e girar para te encontrar e estavas aqui? Podias ter-me dito, para não
me ter esforçado tanto doce Bem meu, amada Vida minha, olha como estou cansada, não tenho
mais forças, sinto-me desfalecer, ah, sustem me entre seus braços porque me sinto morrer. E
Jesus me tomava em seus braços e me fazia repousar, e enquanto repousava me sentia restituir
as forças perdidas.
(242) Outras vezes, neste encobrimento que Jesus fazia e eu que ia em busca Dele, quando se

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fazia ouvir dentro de mim e que depois saía de dentro de mim não só Jesus, mas as Três Divinas
Pessoas, encontrava-as agora em forma de três crianças graciosas e sumamente belas, agora um
só corpo e três cabeças diferentes, mas de uma mesma semelhança, as três igualmente atraentes.
Quem pode dizer meu contentamento? Especialmente quando via os três meninos e que eu os
continha aos três entre meus braços, agora beijava a um, agora ao outro, e Eles me beijavam a
mim, agora um se apoiava em um ombro meu e outro no outro e um me ficava de frente, e
enquanto me gozava neles, com grande assombro fazia por olhar, e de três encontrava a um só.
(243) Outra coisa que me maravilhava quando me encontrava com estas três crianças era que o
mesmo pesava um que os três juntos. Tanto amor sentia eu por uma destas crianças como pelos
três, e os três me atraíam do mesmo modo.
(244) Para terminar a minha intervenção sobre estes discursos, tive de deixar passar algumas
coisas para seguir o fio da meada, mas agora estou pronto para as dizer.

Matrimônio da cruz. Fala-lhe deste matrimônio e narra as crucifixões que sofreu.

(245) Regressando ao princípio, quando Jesus se dignava vir, freqüentemente me falava de sua
Paixão e punha atenção a dispor minha alma à imitação de sua Vida e de suas penas, dizendo-me
que além do matrimônio já descrito ficava outro por fazer, e este era o desponsório da cruz.
Lembro-me de me dizer:
(246) “Minha esposa, as virtudes tornam-se fracas se não forem corroboradas, fortificadas pelo
enxerto da cruz. Antes de minha vinda à terra, as penas, as confusões, os opróbrios, as calúnias,
as dores, a pobreza, as enfermidades, especialmente a cruz, eram consideradas como opróbrios,
mas desde que foram levados por Mim, todos ficaram santificados e divinizados por meu contato,
Assim que todos mudaram aspecto e se tornaram doces, gratos, e a alma que tem o bem de ter
algum deles fica honrada, e isto porque recebeu a divisa de Mim, Filho de Deus. E só experimenta
o contrário quem só vê e se detém na casca da cruz, e encontrando o amargo se desgosta, se
lamenta e parece que lhe chegou uma desgraça, mas quem penetra dentro, encontrando o
saboroso, aí forma sua felicidade. Minha filha amada, não desejo outra coisa que o crucificar na
alma e no corpo”.
(247) E enquanto dizia isto sentia-me infundir tais desejos de ser crucificada com Jesus Cristo, que
freqüentemente ia repetindo: “Meu Jesus, Meu Amor, faze-o logo, crucifica – me Contigo”. E
quando Jesus regressava, as primeiras petições que lhe fazia e que me pareciam mais importantes
eram estas: a dor dos meus pecados e a graça de que me crucificasse com Ele. Parecia-me que se
obtivesse isto teria obtido tudo.
248) Então, uma manhã, o meu amantíssimo Jesus apareceu diante de mim crucificado e disse-me

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que queria crucificar-me com Ele, e, enquanto dizia isto, vi que de suas santíssimas chagas saíram
raios de luz, e dentro destes raios os pregos que vinham a mim. Enquanto estava nisto, não sei por
que, enquanto desejava tanto que me crucificasse, tanto que me sentia consumir, fui surpreendida
por um grande temor que me fazia tremer da cabeça aos pés, sentia tal aniquilamento de mim
mesma, me via tão indigna de receber esta graça, que não me atrevia a dizer: “Senhor, faze-me
Contigo”. Parecia que Jesus estava em suspenso esperando o meu querer. Quem pode dizer como
no íntimo de minha alma o desejava ardentemente, mas ao mesmo tempo me via indigna? Minha
natureza se assustava e tremia. Enquanto eu estava nisto, meu amado Jesus intelectualmente me
pedia que aceitasse, então com todo o coração lhe disse: “Esposo Santo, crucificado por mim,
peço-te que me concedas a graça de me crucificar, e ao mesmo tempo peço-te que não faças
aparecer nenhum sinal externo. Sim, dá-me a dor, dá-me as chagas, mas que tudo fique oculto
entre nós”.
(249) E assim aqueles raios de luz, juntamente com os pregos, trespassaram-me as mãos e os
pés, e o coração foi trespassado por um raio de luz juntamente com uma lança. Quem pode dizer a
dor e a alegria? Quanto mais depressa fui surpreendida pelo temor, mais tarde a minha alma
nadava no mar da paz, da alegria e da dor. Era tanto a dor que sentia nas mãos, nos pés e no
coração, que me sentia morrer; os ossos das mãos e dos pés sentia que me faziam pequenos
pedaços, sentia como se estivesse um prego dentro, mas ao mesmo tempo me causava tal
contentamento, que não sei explicar, e me fornecia tal força, que enquanto me sentia morrer pela
dor, essas mesmas dores me sustentavam para fazer que não morresse. Mas na parte externa do
corpo nada aparecia, mas sentia as dores corporalmente, tão é verdade, que quando vinha o
confessor para me chamar à obediência e me soltava os braços e as mãos contraídas, cada vez
que me tocava nesse ponto das mãos, onde tinha trespassado o raio de luz junto com o prego,
sentia penas mortais. No entanto, quando o confessor ordenava por obediência que cessassem
essas dores, muitas se mitigavam, porque essas dores eram tão fortes que me faziam perder os
sentidos, e se não se tivessem atenuado ante a obediência, dificilmente me teria prestado a
obedecer. ¡ Oh prodígio da santa obediência, você foi tudo para mim! Quantas vezes me encontrei
em contraste com a morte, tanta era a força das dores, e a obediência me restituiu a vida. Seja
sempre bendito o Senhor, seja tudo para sua glória.
(250) Agora, enquanto me sentia em mim mesma, nada via, mas quando perdia os sentidos via as
partes marcadas pelas chagas de Jesus, parecia-me que as chagas do próprio Jesus se tinham
transferido para as minhas mãos. Esta foi a primeira vez que Jesus me crucificou, porque destas
crucifixões tem havido tantas, que é impossível numera-las todas, direi somente as coisas
principais relacionadas com isto.
(251) Agora, voltando Jesus, dizia-lhe: “Amado, meu Jesus, dá-me a dor dos meus pecados,

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assim, os meus pecados consumidos pela dor, pelo arrependimento de te ter ofendido, podem ser
apagados da minha alma e também da tua memória, sim, dá-me tanta dor por quanto ousei
ofender-te. Mais bem faça que a dor supere isto, assim poderei me estreitar mais intimamente a Ti.
(252) Lembro-me que uma vez, enquanto eu estava dizendo isso, meu sempre benigno Jesus me
disse:
(253) “Já que tu desgosta tanto de ter me ofendido, eu quero que você se disponha a fazer você
sentir a dor de seus pecados, e assim veja como o pecado é feio, e que dor acerba meu coração
sofreu. Por isso dei junto Comigo: “Se passo o mar, no mar Tu estás, embora não te veja; piso a
terra e estás debaixo dos meus pés, pequei”.
(254) Logo Jesus, em voz baixa, acrescentou quase chorando:
(255) “No entanto te amei, e ao mesmo tempo te conservei”.
(256) Enquanto Jesus dizia isto e eu o repetia junto com Ele, fui surpreendida por tal dor pelas
ofensas feitas que caí rosto a terra, e Jesus desapareceu.
(257) Poucas foram as palavras, mas eu entendi tantas coisas que é impossível dizer tudo o que
compreendi. Nas primeiras palavras compreendi a imensidão, a grandeza, a presença de Deus em
cada coisa presente, sem que pudesse escapar d’Ele nem sequer a sombra do nosso pensamento,
compreendi também o meu nada em comparação com uma Majestade tão grande e santa. Na
palavra “pequei”, compreendia a fealdade do pecado, a maldade, a ousadia que eu tinha tido ao
ofendê-lo. Agora, enquanto minha alma estava considerando isso, ao ouvir Jesus Cristo dizer: “E
ainda assim amei-te e ao mesmo tempo mantive-te”. Meu coração foi tomado por tal dor que me
sentia morrer, porque compreendia o amor imenso que o Senhor me tinha no ato mesmo em que
eu procurava ofendê-lo, e mesmo matá-lo. ¡ Ah Senhor, como você tem sido bom para mim, e eu
sempre ingrata e tão ruim ainda!
(258) Lembro que cada vez que vinha era um alternar-se, ora pedia-lhe a dor dos meus pecados,
e ora a crucificação, e também outras coisas. Como uma manhã enquanto me encontrava em
meus acostumados sofrimentos, meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me
fez ver um homem que era assassinado a balas, e que assim que expirava ia ao inferno. ¡ Oh,
quanta pena dava a Jesus a perda daquela alma! Se todo o mundo soubesse quanto Jesus sofre
pela perda das almas, não digo por elas, mas pelo menos para poupar essa pena a nosso Senhor,
usariam todos os meios possíveis para não se perder eternamente. Agora, enquanto junto com
Jesus me encontrava no meio das balas, Jesus aproximou seus lábios ao meu ouvido e me disse:
(259) “Minha filha, queres tu oferecer-te vítima pela salvação desta alma e tomar sobre ti as penas
que merece por seus grandíssimos pecados?”
(260) Eu respondi: “Senhor, estou disposta, mas com o pacto de que o salves e lhe restituas a
vida”. Quem pode dizer os sofrimentos que me chegaram? Foram tais e tantos que eu mesma não

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sei como fiquei com vida. Agora, enquanto me encontrava neste estado de sofrimentos há mais de
uma hora, veio meu confessor para me chamar à obediência, e encontrando-me muito sofredor,
com dificuldade pude obedecer, por isso me perguntou a razão de tal estado, eu disse-lhe o fato
assim como o descrevi acima, dizendo-lhe o ponto da cidade onde me pareceu que tinha
acontecido. O confessor me disse que era certo o fato e que o davam por morto, mas depois se
soube que estava gravíssimo e que pouco a pouco se restabeleceu e vive ainda. Seja sempre
bendito o Senhor.
(261) Lembro-me de que, seguindo o meu pedido de crucificação e transportando-me para fora de
mim mesma, Jesus levou-me aos lugares santos de Jerusalém, onde Nosso Senhor padeceu a sua
dolorosa Paixão, e ali encontramos muitas cruzes e o meu amado Jesus disse-me:
(262) “Se tu soubesses que bem a cruz contém em si, como torna preciosa a alma, que jóia de
inestimável valor adquire quem tem o bem de possuir os sofrimentos, basta dizer-te somente que
vindo à terra não escolhi as riquezas, os prazeres, mas tive como amadas e íntimas irmãs a cruz, a
pobreza, os sofrimentos e as ignomínias”.
263) Enquanto assim dizia, mostrava um gosto tal, uma alegria pelo sofrimento, que essas
palavras me trespassavam o coração como tantos dardos ardentes, tanto que me sentia faltar a
vida se o Senhor não me concedia o sofrer, e com toda a força e a voz que tinha não fazia outra
coisa que lhe dizer: “Esposo Santo, dá-me o sofrer, dá-me as cruzes, só com isto saberei que me
amas, se me contentares com as cruzes e com os sofrimentos”. E então tomava uma daquelas
cruzes maiores que via, punha-me sobre ela e rogava a Jesus que viesse crucificar-me, e Ele se
comprazia em tomar minha mão e começava a traspassá-la com o prego, de vez em quando o
bendito Jesus me perguntava:
(264) “Que, te dói muito? Quer que eu pare?”
(265) E eu: “Não, não, meu amado, continua, dói, sim, mas estou contente”. E temia tanto que não
acabasse de me crucificar, que não fazia outra coisa senão dizer-lhe: “Faze-o depressa, ó Jesus,
faze-o depressa, não demores tanto”. Mas o que, quando tinha que cravar a outra mão, os braços
da cruz se encontravam curtos, enquanto antes me haviam parecido suficientes para poder
crucificar-me. Quem pode dizer como ficava mortificada? Isto repetia-se em muitas ocasiões, e às
vezes se os braços da cruz eram adequados, o comprimento da haste não alcançava para poder
distender os pés, em uma palavra, faltava sempre alguma coisa para não se poder cumprir de todo
a crucificação. Quem pode dizer a amargura de minha alma e os lamentos que fazia com Nosso
Senhor porque não me concedia o verdadeiro sofrimento? Dizia-lhe: “Meu amado, tudo termina em
burla, dizias-me que querias levar-me ao Céu, e logo de novo me fazias voltar à terra, dizias-me
que querias crucificar-me, e jamais chegamos à completa crucificação”. E Jesus novamente me
prometeu que me crucificaria.

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+ + +

1-2
Setembro 14, 1899

(1) Uma manhã, era o dia da exaltação da cruz, o meu doce Jesus transportou-me aos lugares
santos, mas antes disse-me tantas coisas da virtude da cruz, não me lembro de tudo, apenas
alguma coisa:
(2) “Amada minha, queres ser bela? A cruz lhe dará os traços mais belos que se podem encontrar
tanto no Céu como na terra, tanto de apaixonar a Deus que contém em Si todas as belezas”.
(3) E continuava Jesus: “Queres tu estar cheia de imensas riquezas, não por breve tempo, mas por
toda a eternidade? Pois bem, a cruz te fornecerá todas as espécies de riquezas, desde os mais
pequenos centavos, como são as pequenas cruzes, até as sumamente maiores, que são as cruzes
mais pesadas, porém os homens que são tão ávidos por ganhar dinheiro temporário, que logo
deverão deixar, não se preocupam em adquirir um centavo eterno, e quando Eu, tendo compaixão
deles, vendo sua despreocupação por tudo o que se refere ao eterno, benignamente lhes levo a
ocasião, em vez de tomá-lo a bem se indignam e me ofendem, que loucura humana, parece que a
entendem ao contrário! Minha querida, na cruz estão todos os triunfos, todas as vitórias e as
maiores aquisições, para ti não deve haver outra mira senão a cruz, e esta te bastará por tudo.

Hoje quero te contentar, aquela cruz que até agora não bastava para poder te estender e crucificar-
te completamente, é a cruz que tens levado até agora, portanto, devendo crucificar-te

completamente, tens necessidade de que faça descer novas cruzes sobre ti, então aquela cruz que
até agora levaste a levarei ao Céu para mostrá-la a toda a corte celestial como penhor de seu
amor, e outra maior farei descer do Céu para poder satisfazer meus ardentes anseios que tenho
sobre ti”.

(4) Enquanto Jesus dizia isto, apresentou-se diante de mim aquela cruz que tinha visto as outras
vezes, eu tomei-a e estendi-me sobre ela, enquanto estava assim abriu-se o Céu e dele desceu o
evangelista João, e trazia a cruz que Jesus me tinha indicado; a Rainha Mãe e muitos anjos,
quando chegaram junto a mim, tiraram-me de cima daquela cruz e puseram-me sobre a que me
tinham trazido, muito maior, um anjo tomou aquela cruz de antes e a levou ao Céu. Depois disso,
Jesus com suas próprias mãos começou a me pregar sobre aquela cruz, a Mamãe Rainha me
assistia, os anjos e João proporcionavam os pregos. Meu doce Jesus mostrava tal alegria e alegria
ao crucificar-me, que só por dar essa alegria a Jesus não só teria sofrido a cruz, mas outras penas

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ainda. ¡ Ah, me parecia que o Céu fazia nova festa por mim ao ver o contentamento de Jesus!
Muitas almas do purgatório foram libertadas, embarcando no vôo para o Céu, e alguns pecadores
foram convertidos, porque meu Divino Esposo a todos fez partícipes do bem de meus sofrimentos.
Além disso, quem pode dizer as dores intensas que sofri ao estar bem estendida sobre a cruz e ao
serem trespassadas as mãos e os pés com os pregos? Mas especialmente nos pés era tanta A
atrocidade das penas, que não podem ser descritas. Quando terminaram de me crucificar e eu me
sentia nadando no mar das penas e das dores, a Mamãe Rainha disse a Jesus: “Meu filho, hoje é
dia de graça, quero que lhe compartilhe todas suas penas, não fica mais que lhe atravesse o
coração com a lança e lhe renove a coroa de espinhos”. Então Jesus tomou a lança e me
traspassou o coração de lado a lado, os anjos tomaram uma coroa de espinhos muito densa, a
deram na mão à Santíssima Virgem, e Ela mesma me cravou na cabeça.
(5) Que dia memorável foi para mim! de dores, sim, mas também de contentamentos, de penas
indizíveis, mas também de alegrias. Basta dizer que era tanta a força das dores, que Jesus todo
esse dia não se moveu de meu lado para sustentar minha natureza que desfalecia pela intensidade
das penas. Aquelas almas do purgatório que tinham voado para o Céu, desciam junto com os anjos
e rodeavam minha cama me recreando com seus cânticos e agradecendo afetuosamente que por
meus sofrimentos as havia liberado daquelas penas.
(6) E sucedeu que, tendo passado cinco ou seis dias daquelas penas tão intensas, com grande
aflição minha, começaram a diminuir, e então pedi ao meu amado Jesus que me renovasse a
crucificação, e Ele, às vezes cedo e às vezes não, Tinha prazer em me transportar aos lugares
santos e me participava as penas de sua dolorosa Paixão. Agora a coroa de espinhos, agora a
flagelação, agora levava a cruz ao calvário e agora a crucificação. Às vezes um mistério por dia e,
às vezes, tudo num dia, segundo Ele gostava, e isto era para a minha alma de grande dor e
contentamento. Mas me resultava amarguíssimo quando mudava a cena, e em vez de sofrer eu,
era espectadora de ver sofrer a meu amadíssimo Jesus as penas da dolorosa Paixão. Ah, quantas
vezes eu estava no meio dos judeus junto com a Mãe Rainha para ver meu amado Jesus sofrer!
Ah, sim, como é verdade que é mais fácil sofrer-se a si mesmo do que ver sofrer a pessoa amada!
Outras vezes, renovando o meu doce Jesus estas crucifixões, recordo que me disse:
(7) “Amada minha, a cruz faz distinguir os réprobos dos predestinados. Bem como no dia do juízo
os bons se alegrarão ao ver a cruz, assim desde agora se pode ver se algum se salvará ou se
perderá, se ao apresentar-se a cruz a alma a abraça, a leva com resignação, com paciência e beija
e agradece à mão que a envia, é sinal de que é salvo; se ao contrário, ao apresentar-se a cruz se
irritam, a desprezam e chegam até me ofender, pode dizer que é um sinal de que essa alma se
encaminha pela via do inferno; assim farão os réprobos no dia do juízo, que ao ver a cruz se
afligirão e blasfemarão. A cruz diz tudo, a cruz é um livro que sem engano e a claras notas te diz e

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te faz distinguir o santo do pecador, o perfeito do imperfeito, o fervoroso do morno. A cruz
comunica tal luz à alma, que desde agora não só faz distinguir o bom do réu, senão faz conhecer
quem deve ser mais ou menos glorioso no Céu, quem deve ocupar um posto superior ou um posto
menor. Todas as outras virtudes estão humildes e reverentes diante da virtude da cruz, e
enxertando-se com ela recebem maior brilho e esplendor”.
(8) Quem pode dizer que chamas de desejos ardentes punha em meu coração este falar de Jesus?
Sentia-me devorar pela fome de sofrer, e Ele para satisfazer minhas ânsias, ou bem, para dizê-lo
melhor, o que Ele mesmo me infundia, renovava-me a crucificação.
(9) Recordo que às vezes, depois de renovadas estas crucifixões me dizia:
(10) “Amada do meu coração, desejo ardentemente não só crucificar-te a alma e comunicar-te as
dores da cruz ao corpo, mas desejo selar-te também o corpo com o selo das minhas chagas, e
quero ensinar-te a oração para obter esta graça, a oração é esta: “Eu me apresento diante do trono
supremo de Deus, banhada no sangue de Jesus Cristo, pedindo-lhe que, pelo mérito de suas
preclaríssimas virtudes e de sua Divindade, me conceda a graça de crucificar-me”.
(11) E eu, apesar de que sempre tive aversão a tudo o que pode aparecer exteriormente, como
ainda a tenho, no ato em que Jesus dizia, isto me sentia infundir tal anelo de satisfazer o desejo
que Ele mesmo dizia, que também eu me atrevia a dizer a Jesus que me crucifica na alma e no
corpo, e algumas vezes lhe dizia: “Esposo Santo, coisas exteriores não gostaria, e se alguma vez
me atrevo a dizê-lo, é porque Tu mesmo me dizes, e também para dar um sinal ao confessor de
que és Tu quem obra em mim. De resto não queria outra coisa senão que aquelas dores que me
fazes sofrer quando me renovas a crucificação, fossem permanentes, não queria essa diminuição
depois de algum tempo, e só isso me basta, e que da aparência externa, quanto mais o possas
manter oculto, tanto mais me contentará”.

Confissão com Jesus. Luísa se confessa com Jesus .

(12) Lembro-me confusamente que, como lhe pedia frequentemente, quando me encontrava junto
com Nosso Senhor, a dor dos meus pecados e a graça de que me perdoasse tudo o que de mal
tinha feito, e às vezes chegava a dizer-lhe que estaria contente quando de sua própria boca me
dissesse: “Eu perdoo todos os seus pecados”. E Jesus bendito, que nada sabe negar quando é
para nosso bem, uma manhã fez-se ver e me disse:
(13) “Desta vez quero fazer eu mesmo o ofício de confessor, e tu me confessarás a Mim todas as
tuas culpas, e no momento em que fizeres isto te farei compreender uma por uma as dores que
deste ao meu coração ao me ofender, a fim de que compreendendo tu, por quanto pode uma
criatura, o que é o pecado, tome a resolução de preferir morrer que me ofender. Enquanto tu entra

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no teu nada e recita o eu pecador”.
(14) Eu, entrando em mim mesma, advertia toda a minha miséria e maldades, e diante de sua
presença tremia toda, e me faltava a força de pronunciar as palavras do eu pecador, e se o Senhor
não tivesse infundido em mim nova força, dizendo-me: “Não temas, ainda que seja juiz, sou
também teu pai, coragem, sigamos em frente”. Teria ficado lá sem dizer uma palavra. Então disse
o eu pecador toda cheia de confusão e humilhação, e como me via toda coberta por minhas culpas,
dando um olhar descobri que a culpa que mais tinha ofendido a Nosso Senhor era a soberba e por
isso disse: “Senhor, me acuso ante tua presença de que tenho pecado de soberba”. E Ele:
(15) “Aproxima-te do meu coração, ouve-me, e ouve o rasgo cruel que fizeste ao meu coração
com este pecado”.
(16) Toda tremendo pus meu ouvido sobre seu coração adorável, mas quem pode dizer o que ouvi
e compreendi naquele instante? Mas depois de tanto tempo direi só alguma coisa confusamente.
Lembro-me que o seu coração batia tão forte que parecia que queria partir-lhe o peito, logo me
parecia que se despedaçava e pela dor ficava quase destruído. ¡ Ah, se Poderia ter destruído o Ser
Divino com a soberba! Ponho uma semelhança para fazer-me entender, de outra maneira não
tenho palavras para expressar-me: Imaginai um rei e a seus pés um verme, que elevando-se e
inflando se começa a crer alguma coisa e que chega a tal atrevimento, que elevando-se pouco a
pouco, chega à cabeça do rei e quer tirar-lhe a coroa para colocá-la sobre sua cabeça, logo o
despoja de suas vestes reais, o lança do trono e finalmente trata de matá-lo. Mas o pior deste
verme é que ele mesmo não conhece seu próprio ser, engana-se a si mesmo, pois para se
desfazer dele só se necessita que o rei o ponha debaixo dos pés e o esmague, e assim
terminariam seus dias. Isso causa raiva e compaixão, e ao mesmo tempo ridiculariza o orgulho
deste verme se isto pudesse ser dado. Assim me via eu diante de Deus, o que me encheu de tal
confusão e dor que me senti renovar em meu coração o rasgo que sofria o bendito Jesus.
(17) Depois disso me deixou, e eu sentia tanta pena e compreendia como é feio este pecado de
soberba, que é impossível descrevê-lo. Quando pensei muito bem em tudo isso em mim mesma,
meu bom Jesus voltou e me disse para continuar a confissão de minhas culpas, e eu, tremendo,
continuei me acusando dos pensamentos, palavras, obras, causas e omissões, e quando via que
eu não podia seguir fazendo a confissão pela pena que sentia de havê-lo tanto ofendido, porque
tinha uma claridade tão viva diante daquele Sol divino, especialmente porque n’Ele descobria a
pequenez, a nulidade do meu ser e ficava assombrada de como eu tinha tido tanta ousadia, de
onde tinha tomado eu essa coragem de ofender a um Deus tão bom que no ato mesmo em que o
ofendia, Ele me assistia, me conservava, me alimentava, e se tinha algum rancor comigo, era para
o pecado que eu fazia, e que odiava sumamente, em troca a mim me amava imensamente, me
desculpava ante a Divina Justiça, e se ocupava tudo para remover aquele muro de divisão que

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tinha produzido o pecado entre a alma e Deus. ¡ Oh, se todos pudessem ver quem é Deus, e quem
é a alma no momento em que peca, todos morreriam de dor e eu acredito que o pecado seria
exilado da terra!
(18) Então, quando Jesus bendito via que pela pena não podia mais, retirava-se e me deixava para
que compreendesse muito bem o mal que tinha feito, e depois voltava de novo e eu continuava
acusando minhas culpas.
(19) Mas quem pode dizer tudo o que compreendi, e explicar, uma por uma, as diversas afrontas e
as dores especiais que com as minhas culpas tinha causado a Nosso Senhor? Sinto-me quase
impossibilitada de me explicar e também porque não me lembro muito bem. Quando terminei minha
acusação, que durou cerca de sete horas, o amável Jesus tomou o aspecto de pai amorosíssimo, e
como eu me encontrava esgotada de forças pela dor, e muito mais porque via que não era uma dor
suficiente para me doer como convinha a minhas culpas Ele para me animar disse-me:
(20) “Eu quero suprir-te, e aplico à tua alma o mérito da dor que tive no jardim do Getsêmani. Só
isto pode satisfazer à Divina Justiça”.
(21) Depois de ter aplicado a minha alma a sua dor, então pareceu-me disposta a receber a
absolvição. Toda humilhada e confusa como estava, e prostrada aos pés do bom Pai Jesus, com
os raios que enviava à minha mente tratava de me excitar principalmente à dor dizendo, se bem
não recordo tudo: “Grande, sumo foi o mal que fiz a Ti. Estas potências minhas e estes sentidos do
corpo deviam ter sido tantas línguas para te louvar, ah, em troca foram como tantas víboras
venenosas que te mordiam e procuravam até mesmo te matar. Mas, Santo Padre, perdoe-me, não
queira me jogar de Ti pelo grande mal que te fiz pecando”
(22) E Jesus: “E tu, prometes não pecar mais e afastar do teu coração qualquer sombra de mal
que possa ofender o teu Criador?”
(23) E eu: “Ah sim, com todo o coração te prometo. mas bem quero mil vezes morrer que voltar a
pecar, nunca mais, nunca mais”.
(24) E Jesus: “E Eu te perdoo e aplico à tua alma os méritos de minha Paixão e quero lavá-la em
meu sangue”.
(25) E, enquanto dizia isto, levantou a sua mão direita abençoada e pronunciou as palavras da
absolvição, exatas às palavras que o sacerdote diz quando dá a absolvição, e no ato em que isto
fazia, de sua mão corria um rio de sangue, e minha alma ficava toda inundada por ele.
(26) Depois disso me disse: “Vem, ó filha, vem fazer penitência por teus pecados beijando minhas
feridas”.
(27) Toda tremula me levantei e lhe beijei suas sacratíssimas chagas e depois me disse:
(28) “Minha filha, sê mais atenta e vigilante, porque hoje te dou a graça de não cair mais no
pecado venial voluntário”.

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(29) Depois me fez outras exortações que não recordo bem e desapareceu. Quem pode dizer os
efeitos desta confissão feita a Nosso Senhor? Sentia-me toda encharcada na graça, e ficou-me tão
gravada que não posso esquecê-la, e cada vez que me lembro, sinto correr um arrepio nos ossos,
e ao mesmo tempo sinto horror ao pensar qual é a minha correspondência a tantas graças que o
Senhor me fez.
(30) Outras vezes o Senhor se dignou a dar-me Ele mesmo a absolvição, às vezes tomando o
aspecto de sacerdote, e eu me confessava como se fosse sacerdote, se bem sentia diversos
efeitos, e depois de terminada se fazia conhecer que era Jesus; e às vezes abertamente vinha
fazendo-se conhecer que era Jesus; também algumas vezes tomava o aspecto do confessor, tanto
que eu acreditava que falava com o confessor e lhe dizia todos meus temores, minhas dúvidas;
mas pelo modo de responder-me, pela suavidade da voz, entrelaçada agora como a voz do
confessor e agora como a de Jesus, por seu trato amável e pelos efeitos internos, descobria eu
quem era. Ah, se eu quisesse dizer tudo sobre estas coisas me estenderia muito! Por isso termino
e ponho ponto.
(31) Recordo que houve uma segunda guerra entre a África e a Itália, e o bendito Jesus, um dia,
cerca de nove meses antes, me transportou para fora de mim mesma e me fez ver um caminho
muito longo, cheio de cadáveres imersos no sangue que a rios inundava esse caminho. Dava
horror ver esses cadáveres expostos ao ar livre, sem nem sequer ter quem os sepultasse. Eu toda
assustada disse a Nosso Senhor: “O que é isto?”
(32) E Ele: “No próximo ano haverá guerra. Servem-se da carne para me ofender, e Eu sobre sua
carne eu quero fazer a minha justa vingança”.
(33) Ele disse outras coisas, mas já passou tanto tempo que eu não me lembro.
(34) Agora, aconteceu que passado esse período de tempo começou a se ouvir que entre a Itália e
a África havia guerra. Eu rogava ao bom Jesus que livrasse muitas vítimas e que tivesse piedade
de tantas almas que iam ao inferno.
(35) Uma manhã, como o habitual me transportou fora de mim mesma e via que quase todas as
pessoas estavam convencidas de que devia vencer a Itália, me pareceu encontrar-me em Roma e
via os deputados que tinham conselhos sobre o modo como deviam conduzir a guerra para
estarem seguros de fazer vencer a Itália. Estavam tão inchados de si mesmos que davam piedade,
mas o que mais me impressionou foi ver que estes tais, quase todos eram masons, almas vendidas
ao demônio. Que tristes tempos! parecia que propriamente reinava o reino satânico, e sua
confiança em vez de colocá-la em Deus a punham no demônio. Agora, enquanto estavam
deliberando, meu bendito Jesus me disse:
(36) “Vamos ouvir que se dizem”.
(37) Então me pareceu entrar em seu círculo junto com Jesus. Jesus passeava-se no meio e

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derramava lágrimas sobre o seu miserável estado. Quando terminaram de deliberar sobre o modo
de como deviam fazer, vangloriando-se de estar seguros da vitória, Jesus se dirigiu a eles e lhes
disse, ameaçando-os:
(38) “Confiais em vós mesmos e por isso vos humilharei, desta vez perderá a Itália”.

Termino da novena de Natal. As 7 meditações restantes da novena de Natal.

(39) Agora, para obedecer retorno para dizer o que eu deixei na página 6 deste primeiro volume,
isto é, a novena de Natal, em que da segunda meditação passou para a terceira e uma voz interior
me dizia:
(40) 3o. – “Minha filha, apoia tua cabeça sobre o seio de minha Mamãe, olha dentro dele a minha
pequena Humanidade , meu Amor me devorava, os incêndios, os oceanos, os mares imensos do
Amor de minha Divindade me inundavam, me incineravam, levantavam tão alto suas chamas que
se elevavam e se estendiam por toda parte, a todas as gerações, desde o primeiro até o último
homem e minha pequena Humanidade era devorada no meio de tantas chamas, mas sabe você
que coisa queria me fazer devorar meu Eterno Amor? Ah, para as almas! E só fiquei contente
quando as devorei todas, ficando todas concebidas Comigo, era Deus, devia agir como Deus,
devia tomá-las a todas; meu Amor não me teria dado paz se tivesse excluído a alguma. Ah minha
filha, olha bem no seio da minha Mãe, fixa bem os olhos na minha Humanidade recém concebida e
nela encontrarás a tua alma concebida Comigo, e também as chamas do meu Amor que te
devoraram. ¡ Oh, quanto te amei e te amo!”.
(41) Eu me perdia no meio de tanto amor, não sabia sair dali, mas uma voz me chamava forte
dizendo-me:
(42) “Minha filha, isto é nada ainda, abraça-te mais a Mim, dá as tuas mãos à minha amada Mãe a
fim de que te tenha apertada sobre o seu seio materno, e tu dá outro olhar à minha pequena
Humanidade concebida e olha o quarto excesso do meu Amor”.
(43) 4o. – “Minha filha, do amor devorador passa a olhar meu Amor obrante. Cada alma concebida
me levou o fardo de seus pecados, de suas fraquezas e paixões, e meu Amor me ordenou tomar o
fardo de cada uma, e não só concebi as almas, mas as penas de cada uma, as satisfações que
cada uma delas devia dar a meu Celestial Pai. Assim que minha Paixão foi concebida junto
Comigo. Olhe-me bem no seio de minha Celestial Mamãe. Oh como minha pequena Humanidade
era rasgada, olhe bem como minha pequena cabeça está circundada por uma coroa de espinhos,
que cingindo-me forte as têmporas me faz derramar rios de lágrimas dos olhos, e não posso me
mover para secá-las. Ah, move-te a compaixão de Mim, seca-me os olhos de tanto pranto, tu que

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tens os braços livres para me poder fazer isso, estes espinhos são a coroa dos tantos
pensamentos maus que se amontoam nas mentes humanas, oh, como me picam mais estes
pensamentos que os espinhos que produz a terra, mas olhe que longa crucificação de nove meses,
não podia mover nem um dedo, nem uma mão, nem um pé, estava aqui sempre imóvel, não havia
lugar para poder me mover um pouquinho, que longa e dura crucificação, com o agregado de que
todas as obras más, tomando a forma de pregos, me trespassavam mãos e pés repetidamente”. E
assim continuava a me contar pena por pena todos os martírios de sua pequena Humanidade, e
que querer dize-la todas seria muito extenso. Então eu me abandonava ao pranto, e ouvia dizer em
meu interior:
(44) “Minha filha, gostaria de te abraçar mas não posso fazê-lo, não há espaço, estou imóvel, não
o posso fazer; queria ir a ti mas não posso caminhar. Por agora me abrace e venha você a Mim,
depois quando sair do seio materno irei Eu a ti”.
(45) Mas enquanto com minha fantasia o abraçava, o estreitava fortemente a meu coração, uma
voz interior me dizia:
(46) “Basta por agora minha filha, e passa a considerar o quinto excesso do meu Amor”.
(47) 5o. – Então a voz interior seguia: “Minha filha, não te afastes de Mim, não me deixes sozinho,
meu Amor quer companhia, este é outro excesso do meu Amor o não querer estar sozinho. Mas
você sabe de quem esta companhia quer? Da criatura. Olhe, no seio de minha Mãe, Comigo estão
todas as criaturas concebidas junto Comigo. Eu estou com elas todo amor, quero dizer-lhes quanto
as amo, quero falar com elas para lhes dizer as minhas alegrias e as minhas dores, para lhes dizer
que vim no meio delas para as fazer felizes, para as consolar, e que estarei no meio delas como
seu irmãozinho dando a cada uma todos os meus bens, o meu reino, à custa da minha morte.
Quero lhes dar meus beijos, minhas carícias; quero me entreter com elas, mas, ai, quantas dores
me dão, quem me foge, quem se faz surda e me reduz ao silêncio, quem despreza meus bens e
não se preocupam com meu reino e correspondem meus beijos e carícias com o descuido e o
esquecimento de Mim, e meu entretenimento o convertem em amargo pranto. ¡ Oh, como estou
sozinho, apesar de estar no meio de tantos! Oh, como me pesa minha solidão! não tenho a quem
dizer uma palavra, com quem fazer um desabafo de amor; estou sempre triste e taciturno, porque
se falo não sou escutado. Ah, minha filha, peço-te, suplico-te que não me deixes sozinho em tanta
solidão! me dê o bem de me fazer falar com ouvir-me, preste ouvidos aos meus ensinamentos, Eu
sou o mestre dos mestres. Quantas coisas quero te ensinar. Se me escutares vais fazer-me parar
de chorar e entreter-me contigo, não queres tu entreter-te Comigo?”. E enquanto me abandonava
nele, compadecendo-o na sua solidão, a voz interior continuava:
(48) “Basta, basta, passa a considerar o 6o excesso do meu Amor”.
(49) 6o. – “Minha filha, vem, roga a minha amada Mãe que te faça um lugar no seu seio materno, a

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fim de que tu mesma vejas o estado doloroso em que me encontro”.
(50) Então me parecia com o pensamento, que nossa Rainha Mãe, para contentar a Jesus me
fazia um pequeno lugar e me colocava dentro. Mas era tal e tanta a escuridão que não o via, só
ouvia o seu respiro e Ele dentro de mim continuava a dizer-me:
(51) “Minha filha, olha outro excesso do meu Amor. Eu sou a luz eterna, o sol é uma sombra de
minha luz, mas vê aonde me conduziu meu Amor, em que obscura prisão estou, não há nem um
raio de luz, sempre é noite para Mim, mas noite sem estrelas, sem repouso, sempre acordado,
¡que pena! a estreiteza da prisão, sem poder me mover minimamente, as trevas densas; até o
respiro, respiro por meio do respiro de minha Mãe, oh, como é cansado! E além disso, acrescenta
as trevas das culpas das criaturas, cada culpa era uma noite para Mim, as que unindo-se juntas
formavam um abismo de escuridão sem confins. ¡ Que pena! ¡ Oh excesso do meu Amor, fazer-me
passar de uma imensidão de luz, de amplitude, a uma profundidade de densas trevas e de tais
estreitos, até me faltar a liberdade do respiro, e isto, tudo por amor das criaturas!”
(52) E enquanto isso dizia gemia, quase com gemidos sufocados por falta de espaço, e chorava.
Eu me desfazia em pranto, lhe agradecia, o compadecia, queria lhe fazer um pouco de luz com
meu amor como Ele me dizia, mas quem pode dizer tudo? A mesma voz interior acrescentava:
(53) “Basta por agora. Passa ao sétimo excesso do meu Amor”.
(54) 7o. – A voz interior continuava: “Minha filha, não me deixe sozinho em tanta solidão e em tanta

escuridão, não saia do seio de minha Mãe para que veja o sétimo excesso de meu Amor. Escuta-
me, no seio de meu Pai Celestial Eu era plenamente feliz, não havia bem que não possuía, alegria,

felicidade, tudo estava a minha disposição; os anjos reverentes me adoravam e estavam a minhas
ordens. Ah, o excesso de meu Amor, poderia dizer que me fez trocar fortuna me restringiu nesta
tétrica prisão, me despojou de todas minhas alegrias, felicidade e bens para me vestir com todas
as infelicidades das criaturas, e tudo isto para fazer a mudança, para dar a elas minha fortuna,
minhas alegrias e minha felicidade eterna. Mas isto não teria sido nada se não tivesse encontrado
nelas só ingratidão e obstinada perfídia. Oh, como meu Amor eterno ficou surpreso ante tanta
ingratidão e chorou a obstinação e perfídia do homem. A ingratidão foi o espinho mais pungente
que me trespassou o coração desde a minha concepção até ao último instante da minha Vida, até
à minha morte. Olhe para o meu coraçãozinho, ele está ferido e está a pingar sangue. Que pena!
Que dor eu sinto! Minha filha, não sejas ingrata; a ingratidão é a pena mais dura para teu Jesus, é
fechar-me na cara as portas para me deixar de fora, aterrado de frio. Mas ante tanta ingratidão
meu Amor não se deteve e se pôs em atitude de Amor suplicante, orando, gemendo e
mendigando, e este é o oitavo excesso do meu Amor”.
(55) 8o. – “Minha filha, não me deixe sozinho, apóie sua cabeça sobre o seio de minha amada
Mamãe, porque também de fora ouvirá meus gemidos, minhas súplicas, e vendo que nem meus

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gemidos nem minhas súplicas movem a compaixão de meu Amor à criatura, Ponho-me em atitude
do mais pobre dos mendigos e estendendo minha pequena mãozinha, peço por piedade, pelo
menos a título de esmola suas almas, seus afetos e seus corações. Meu Amor queria vencer a
qualquer custo o coração do homem, e vendo que depois de sete excessos de meu Amor
permanecia relutante, se fazia surdo, não se ocupava de Mim nem se queria dar a Mim, meu Amor
quis ir mais além, deveria ter-se parado, Mas não, ele queria ir além de seus limites, e do seio da
minha mãe Eu fazia chegar a minha voz a cada coração com os modos mais insinuantes, com as
súplicas mais fervorosas, com as palavras mais penetrantes. Mas sabe o que eu dizia? “Filho meu,
dá-me o teu coração, tudo o que quiseres Eu te darei, desde que me dês o teu coração em troca;
desci do Céu para tomá-lo, ah, não me negues! Não desiludas as minhas esperanças!” E vendo-o
relutante, e que muitos me viravam as costas, passava aos gemidos, juntava as minhas mãozinhas
e chorava, com voz sufocada pelos soluços acrescentava-lhe: ” Ai, ai! sou o pequeno mendigo,
nem sequer de esmola queres dar-me o teu coração?” Não é isto um excesso maior do meu Amor,
que o Criador para se aproximar da criatura tome a forma de uma pequena criança para não lhe
infundir temor, e peça ao menos como esmola o coração da criatura, e vendo que ela não o quer
dar roga, geme e chora?”.
(56) Então me disse: “E tu não queres dar-me o teu coração? Talvez também tu queiras que eu
gema , que implore e chore, para que me dês o teu coração? Quer me negar a esmola que te
peço?
(57) E, enquanto dizia isto, ouvia como se chorasse, e eu lhe disse: “Meu Jesus, não chores, eu te
dou o meu coração e todo eu mesma”. Então a voz interna continuava: “Segue mais adiante, e
passa ao nono excesso do meu Amor”.
(58) 9o. – “Minha filha, meu estado é sempre mais doloroso, se me ama, seu olhar tenha-a fixo em
Mim, para que veja se pode dar ao seu pequeno Jesus algum consolo, uma palavrinha de amor,
uma carícia, um beijo, que dê trégua a meu pranto e a minhas aflições. Escuta minha filha, depois
de ter dado oito excessos de meu Amor, e que o homem tão mal me correspondeu, meu Amor não
se deu por vencido, e ao oitavo excesso quis acrescentar o nono, e este foram as ânsias, os
suspiros de fogo, as chamas dos desejos de que queria sair do seio materno para abraçar o
homem, e isto reduzia a minha pequena Humanidade ainda não nascida a uma agonia tal que
estava a ponto de dar meu último respiro. E enquanto eu estava prestes a dá-lo, minha Divindade,
que era inseparável de mim, me dava goles de vida, e assim retomava de novo a vida para
continuar minha agonia e voltar a morrer novamente. Este foi o nono excesso do meu Amor,
agonizar e morrer continuamente de amor pela criatura. Oh, que longa agonia de nove meses!
Oh, como o amor me sufocava e me fazia morrer! E se não tivesse tido a Divindade Comigo, que
me dava continuamente a vida cada vez que estava por morrer, o amor ter-me-ia consumado antes

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de sair à luz do dia.” Depois acrescentava:
(59) “Olha para mim, escuta-me como agonia, como meu pequeno coração bate, se afana, arde;
olha para mim, agora morro”.
(60) E fazia um profundo silêncio. Eu me sentia morrer, me gelava o sangue nas veias e tremia lhe
dizia: “Meu amor, minha vida, não morra, não me deixe sozinha, Você quer amor e eu te amarei,
não te deixarei mais, me dê suas chamas para poder te amar mais e me consumar toda por Ti.

+ + + +

Nihil obstat Canonico
Annibale M. Di Francia
Eccl.

Imprimatur
Arcebispo Giuseppe M. Leo
Outubro de 1926

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