O REINO DA DIVINA VONTADE ENTRE AS CRIATURAS
LIVRO
DO u
CÉU
O chamado às criaturas à ordem, a seu posto e à finalidade para a qual foram criadas por Deus.
Volume 02
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Volume 02
NIHIL OBSTAT
Beato Annibale M. Di Francia.
12 Outubro de 1926
IMPRIMATUR Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo, Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie Italia 16 Outubro 1926 Imprima-se
Arcebispado Guadalajara Jal.,
23 de Novembro de 2010
Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez
Vigário Geral
Este livro foi traduzidos pelo site www.divinavontadadenobrasil.com
Volume 02
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Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar da sua leitura,
à nossa Mãe Santíssima,
A Rainha do Reino da Divina Vontade
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I.M.I.
2-1
Fevereiro 28, 1899
Por ordem do confessor começo a escrever o que acontece entre Nosso Senhor e eu dia por dia. Ano 1899, mês de fevereiro, dia 28.
(1) Confesso a verdade, sinto uma grande repugnância, é tanto o esforço que devo fazer para vencer-me, que só o Senhor pode saber o rasgo da minha alma. Mas, ó santa obediência, que atadura tão poderosa és! Só tu me podias vencer e superar todas as minhas repugnâncias, que são como montes insuperáveis, e me atas à Vontade de Deus e do confessor. Mas, oh! Esposo santo, por quão grande é o sacrifício, outro tanto tenho necessidade de ajuda, não quero outra coisa senão que me introduzas em teus braços e me segures. Assim, assistida por Ti poderei dizer só a verdade, só por tua glória e para confusão minha.
(2) Esta manhã, tendo celebrado a missa com o confessor, recebi também a comunhão. Minha mente se encontrava num mar de confusão por causa desta obediência que me vem dada pelo confessor de escrever tudo o que passa em meu interior. Mal recebi a Jesus comecei a dizer lhe as minhas dores, especialmente a minha insuficiência e muitas outras coisas, mas parecia que Jesus não dava importância a mim e não respondia a nada. Uma luz veio-me à mente e eu disse: “Talvez eu seja eu mesma a causa de Jesus não se mostrar segundo o seu costume”. Então de todo o coração lhe disse: “Ah! Meu Bem e meu tudo, não se mostre comigo tão indiferente, me despedaça o coração pela dor, se é pelo escrito, venha, que venha, embora me custe o sacrifício da vida te prometo fazê-lo”. Então Jesus mudou aspecto e todo benigno me disse:
(3) “De que temes? Não te assisti Eu as outras vezes? Minha luz te circundará por todas as partes e assim tu poderás manifestá-lo”.
(4) Enquanto assim dizia, não sei como vi o confessor junto a Jesus e o Senhor lhe disse: “Olha, tudo o que fazes passa para o Céu, por isso vê a pureza com a qual deves agir, pensando que todos os teus passos, palavras e obras vêm à minha presença, e se são puros, isto é, feitos por Mim, Eu sinto por isso uma alegria grandíssima e sinto-os em Meu redor, como tantos mensageiros que me lembram continuamente de ti; mas se eles são feitos por fins baixos e terrenos, sinto aborrecimento”. E enquanto assim dizia, parecia que lhe pegava as
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mãos e levantava-as para o Céu, lhe dizia: “Os olhos sempre em alto; és do Céu, obra para o Céu”.
(5) Enquanto via o confessor e Jesus que assim lhe dizia, em minha mente me parecia que se fizesse assim, aconteceria como quando uma pessoa deve desalojar uma casa para mudar-se a outra, o que faz? Primeiro manda todas as coisas e tudo o que ela tem e depois vai-se ela. Assim nós, primeiro mandamos nossas obras para tomar o lugar para nós no Céu, e depois, quando chegar nosso tempo, iremos nós. Oh, que formoso cortejo nos farão!
(6) Agora, enquanto via o confessor, lembrei-me que ele me tinha dito que devia escrever sobre a fé, o modo como Jesus me tinha falado sobre esta virtude. Enquanto pensava nisto, num instante o Senhor atraiu-me de tal forma para Si, que me senti fora de mim mesma no Céu, juntamente com Jesus, e disse-me estas palavras precisas:
(7) “A fé é Deus”.
(8) Mas estas duas palavras continham uma luz imensa, que é impossível explicá-las, mas como posso dizê-lo: Na palavra “fé” compreendia que a fé é o próprio Deus. Assim como o alimento material dá vida ao corpo para que não morra, assim a fé dá a vida à alma; sem a fé a alma está morta. A fé vivifica, a fé santifica, a fé espiritualiza o homem e o faz ter fixos os olhos num Ser Supremo, de modo que nada aprende das coisas aqui embaixo, e se as aprende, as aprende em Deus. Oh! A felicidade de uma alma que vive de fé, seu vôo é sempre para o Céu, em tudo o que lhe acontece se olha sempre em Deus e eis como na tribulação a fé a eleva em Deus e não se aflige, nem sequer um lamento, sabendo que não deve formar aqui a sua alegria, senão no Céu. Assim, se a alegria, a riqueza, os prazeres, a circundam, a fé a eleva em Deus e diz entre si: “Quanto mais feliz e mais rica serei no Céu!” Então, esses bens terrenos, ele se irrita, os despreza, e os coloca debaixo dos pés. Parece-me que a uma alma que vive de fé, acontece como a uma pessoa que possui milhões e milhões de moedas e até reinos inteiros, e outra pessoa quer oferecer-lhe um centavo. Agora, o que diria aquela? Não se indignaria, não o jogaria na cara? E acrescento: E se esse centavo estivesse todo enlameado, como são as coisas terrenas, e além disso, se lhe fosse dado só em empréstimo? Então ela diria: “Imensas riquezas gozo e possuo, e você se atreve a me oferecer este vil centavo tão enlouquecido e por pouco tempo?” Eu creio que viraria em seguida o olhar e não aceitaria o dom. Assim faz a alma que vive de fé a respeito das coisas terrenas.
(9) Agora vamos outra vez à idéia do alimento: O corpo, tomando o alimento, não só se sustenta, mas participa da substância do alimento que se transforma no mesmo corpo. Agora
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assim a alma que vive de fé; como a fé é o próprio Deus, a alma vem a viver do mesmo Deus, e alimentando-se do mesmo Deus vem a participar da substância de Deus, e participando vem a assemelhar-se a Ele e a transformar-se com o mesmo Deus, Portanto, à alma que vive de fé acontece que santo é Deus, santa é a alma; potente Deus, potente a alma; sábio, forte, justo Deus, sábio, forte, justa a alma, e assim de todos os demais atributos de Deus. Em suma, a alma torna-se um pequeno deus. Oh, a bem-aventurança desta alma na terra, para depois ser mais bem-aventurada no Céu!!
(10) Compreendi também que o que significam aquelas palavras que o Senhor diz às suas almas prediletas: “Eu te desposarei na fé”. Que o Senhor neste místico matrimonio vem dotar as almas de suas mesmas virtudes. Parece-me como dois esposos que unindo suas propriedades, não se discernem mais as coisas de um e as do outro e ambos se fazem donos de tudo. Mas no nosso caso, a alma é pobre, todo o bem é por parte do Senhor que a torna partícipe das suas substâncias.
(11) Vida da alma é Deus, a fé é Deus e a alma possuindo a fé, vem a enxertar em si todas as outras virtudes, de maneira que a fé está como rei no coração e as demais virtudes estão ao seu redor, como súditas servindo à fé, assim que as mesmas virtudes, sem a fé, são virtudes que não têm vida.
(12) Parece-me que Deus em dois modos comunica a fé ao homem: a primeira é no santo batismo; a segunda é quando Deus bendito, depositando uma parte de sua substância na alma, lhe comunica a virtude de fazer milagres, como a de poder ressuscitar os mortos, curar os doentes, parar o sol e assim por diante. Oh, se o mundo tivesse fé, mudaria para um paraíso terrestre!.
(13) Oh! Quão alto e sublime é o vôo da alma que se exercita na fé. A mim parece-me que a alma, exercitando-se na fé, faz como aqueles tímidos passarinhos que temendo ser tomados presos pelos caçadores ou bem por qualquer outra insidia, fazem sua morada no topo das árvores, ou bem nas alturas, quando depois são obrigados a tomar o alimento descem, tomam o alimento e rapidamente voam a sua morada; e alguém, mais prudente, toma o alimento e nem sequer o come na terra, para estar mais seguro o leva ao topo das árvores e lá o
come. Assim a alma que vive de fé é tão tímida das coisas terrenas, que por temor de ser assediada, nem sequer lhes dirige um olhar, sua morada está no alto, acima de todas as coisas da terra e especialmente nas chagas de Jesus Cristo, e desde dentro daquelas beatas moradas geme, chora, reza e sofre junto com seu Esposo Jesus sobre a condição e miséria em que se encontra o gênero humano. Enquanto ela vive naquelas moradas das chagas de Jesus,
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o Senhor dá-lhe uma parte das suas virtudes, e a alma sente em si aquelas virtudes como se fossem suas, mas contudo adverte que se bem as vê suas, o possuí-las é-lhe dado, que foram comunicadas pelo Senhor. Acontece como a uma pessoa que recebeu um dom que ela não possuía, agora o que faz? Toma-o e se faz dona dele, mas cada vez que o olha diz entre si: “Isto é meu, mas me foi dado por essa pessoa”. Assim faz a alma à qual o Senhor desprendendo de Si uma parte do seu Ser Divino, a muda em Si mesmo.
(14) Agora, esta alma, como abomina o pecado, mas ao mesmo tempo compadece dos demais, roga por aquele que vê que caminha no caminho do precipício, se une com Jesus Cristo e se oferece vítima para sofrer e assim aplacar a divina justiça e para livrar as criaturas dos merecidos castigos, e se for necessário o sacrifício de sua vida oh! de bom grado o faria para a salvação de uma só alma.
(15) Havendo-me dito o confessor que lhe explicasse como vejo a Divindade de Nosso Senhor, respondi-lhe que era impossível saber-lhe dizer algo, mas na noite apareceu-me o bendito Jesus e quase me repreendeu por esta minha negação e então me fez relampejar como dois raios luminosíssimos; com o primeiro compreendi em minha inteligência que a fé é Deus e Deus é a fé. Já tentei dizer alguma coisa sobre a fé, agora tratarei de dizer como vejo a Deus, e este foi o segundo raio.
(16) Agora, enquanto me encontro fora de mim mesma e encontrando-me no alto dos céus pareceu-me ver Deus dentro de uma luz e Ele mesmo parecia também luz e nesta luz encontrava-se beleza, força, sabedoria, imensidão, altura, profundidade sem limites nem confins, Assim, também no ar que respiramos é o próprio Deus que se respira, assim que cada um pode fazê-lo como vida própria, como de fato é. Então, nada lhe escapa e nenhuma lhe pode escapar. Esta luz parece ser toda voz sem que fale, toda obrante enquanto sempre repousa; encontra-se por toda parte sem estorvar em nada, e enquanto se encontra em toda parte, tem também seu centro. ¡ Oh Deus, como Sois incompreensível! Vejo-te, sinto-te, és a minha Vida, restringes-te em mim, enquanto ficas sempre imenso e nada perdes de Ti, no entanto sinto-me balbuciante e me parece não saber nem dizer nada.
(17) Para me poder explicar melhor segundo a nossa linguagem humana, direi que vejo uma sombra de Deus em tudo o que foi criado, porque em tudo o que foi criado, onde lançou a sombra da sua beleza, onde os seus perfumes, onde a sua luz, como no sol, onde vejo uma sombra especial de Deus, Vejo-o como delineado neste astro, que é como o rei dos planetas. O que é o sol? Não é outra coisa que um globo de fogo, um é o globo, mas muitos são os raios, de modo que então podemos compreender facilmente:
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(18) 1° O globo é Deus, os raios os imensos atributos de Deus.
(19) 2°. O sol é fogo, mas ao mesmo tempo é luz e é calor, assim que a Santíssima Trindade está representada no sol: O fogo é o Pai, a luz é o Filho, o calor é o Espírito Santo, mas um é o sol, e assim como não se pode dividir o fogo da luz e do calor, assim uma é a potência do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que entre eles não se podem realmente separar. E assim como o fogo produz luz e calor ao mesmo tempo, assim não se pode conceber o fogo sem se conceber também a luz e o calor, assim não se pode conceber o Pai antes do Filho e do Espírito Santo e assim reciprocamente, têm os Três o mesmo princípio eterno.
(20) Acrescento que a luz do sol se expande por toda parte; assim Deus, com sua imensidão onde quer penetra, porém recordemos que não é mais que uma sombra, porque o sol não chegaria onde não pode penetrar com sua luz, mas Deus penetra onde quer que fosse. Deus é Espírito puríssimo e nós o podemos simbolizar no sol que faz penetrar seus raios em qualquer lugar, sem que ninguém os possa tomar entre as mãos, Deus olha tudo, as iniquidades, as infâmias dos homens e Ele fica sempre o que é, puro, santo, imaculado. Sombra de Deus é o sol que manda sua luz sobre as imundícias e fica imaculado, expande sua luz no fogo e não se queima, no mar, nos rios e não se afoga, dá luz a todos, fecunda tudo, dá vida a tudo com seu calor e não empobrece de luz, nem perde nada de seu calor e muito mais, enquanto faz tanto bem a todos, ele de nenhum tem necessidade e fica sempre o que é, majestoso, resplandecente, sem jamais mudar-se. ¡Oh! Como se representam bem no sol as qualidades divinas, Deus, com sua imensidão se encontra no fogo e não arde, no mar e não se afoga, sob nossos passos e não o pisamos, dá a todos e não empobrece e de ninguém tem necessidade, vê tudo, mas é todo olhos e não há coisa que não sinta, está ao dia de cada fibra de nosso coração, de cada pensamento de nossa mente, e sendo Espírito puríssimo não tem nem ouvidos, nem olhos, e aconteça o que acontecer não muda jamais. O sol, investindo o mundo com a sua luz, não se cansa, assim Deus, dando vida a todos, ajudando e regendo o mundo, não se cansa. Para não gozar mais a luz do sol e seus benéficos efeitos, o homem pode esconder-se, pode pôr obstáculos, mas ao sol nada lhe faz, permanece como é, o mal cairá todo sobre o homem. Assim o pecador, com o pecado pode afastar-se de Deus e não gozar mais de suas benéficas influências, mas a Deus nada lhe faz, todo o mal é seu.
(21) Também o arredondamento do sol me simboliza a eternidade de Deus, que não tem nem princípio nem fim. A mesma luz penetrante do sol, que ninguém pode conter em seu olho, e que se alguém quisesse olhá-lo fixamente em pleno meio-dia ficaria ofuscado, e se o sol se quisesse aproximar do homem, este ficaria reduzido a cinzas. Assim do Sol Divino, nenhuma
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mente criada pode restringi-lo em sua pequena mente para compreendê-lo em tudo o que é, e se quisesse esforçar-se ficaria deslumbrada e confusa, e se este Sol Divino quisesse fazer ostentação de todo seu amor, fazendo-o sentir ao homem enquanto ainda está em carne mortal, o homem ficaria incinerado. Portanto, Deus tem posto uma sombra de Si e de suas perfeições em tudo o que criou, assim parece que o vemos e o tocamos e por Ele ficamos tocados continuamente.
(22) Além disso, depois de o Senhor ter dito aquelas palavras: “A fé é Deus”. Eu disse-lhe: “Jesus, tu amas-me?”
(23) E Ele acrescentou: “E tu, queres-Me?”
(24) Eu imediatamente disse: “Sim, Jesus, e Tu sabes disso, que sem Ti sinto que me falta a vida”.
(25) “Pois bem”. Jesus acrescentou. “Tu me queres, Eu também, portanto, amemo-nos e estejamos sempre juntos”.
(26) Assim terminou por esta manhã. Agora, quem pode dizer o quanto minha mente entendeu este Sol Divino? Parece-me vê-lo e tocá-lo por toda parte, aliás, sinto-me revestida por Ele dentro e fora de mim mesma, mas minha capacidade é pequena, pequena, que enquanto parece que compreende alguma coisa de Deus, ao vê-lo parece que não entendi nada, Espero que Jesus me perdoe.
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2-2
Março 10, 1899
O Senhor o faz ver muitos castigos.
(1) Estando em meu habitual estado, fez-se ver meu sempre amável Jesus, todo amargo e aflito e me disse:
(2) “Minha filha, minha justiça se tornou muito pesada, e são tantas as ofensas que me fazem os homens que não posso mais sustentá-las. Portanto a foice da morte está a ponto de matar a muitos, de improviso e de enfermidades, e além disso são tantos os castigos que verterei sobre o mundo, que serão uma espécie de juízo”.
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(3) Quem pode dizer os tantos castigos que me fez ver, e o modo como eu fiquei aterrorizada e espantada? É tanta a dor que sente minha alma, que acho que é melhor passá-la em silêncio. (4) Continuo dizendo porque a obediência o quer; então me parecia ver as ruas cheias de carne humana e o sangue que inundava a terra, cidades sitiadas por inimigos que não perdoavam nem sequer as crianças; me pareciam como tantos animais saídos do inferno, não respeitaram nem igrejas nem sacerdotes. Parecia que o Senhor mandava um castigo do Céu, qualquer que seja não sei dizer, só me parecia que todos receberemos um golpe mortal, e quem ficará vítima da morte e quem se recuperará. E pareceu-me também ver as plantas secas e muitos outros males que devem vir em cima das colheitas. ¡ Ó Deus, que pena ver estas coisas e estar obrigada a manifestá-las! ¡ Ah Senhor, se apresse, eu espero que seu sangue e suas chagas sejam nosso remédio, ou então os jogue sobre esta pecadora, pois os mereço, de outra maneira leve-me e então estará livre de fazer o que quiser, mas enquanto viva farei o possível para me opor!
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2-3
Março 13, 1899
A caridade não é outra coisa que o desabafo do Ser Divino. Todo o criado fala do amor de Deus pelo homem, e ensina-lhe o modo como deve amar a Deus.
(1) Esta manhã o amado Jesus não se fazia ver conforme o habitual, toda amabilidade e doçura, senão severo, minha mente me sentia em um mar de confusão e minha alma tão afligida e aniquilada, especialmente pelos castigos vistos nos dias passados; Vendo-o naquele aspecto não me atrevia a dizer-lhe nada, nos olhávamos mas em silêncio. ¡ Ó Deus, que pena! Quando de repente vi também o confessor e Jesus mandando um raio de luz intelectual disse estas palavras:
(2) “Caridade, a caridade não é outra coisa que um desabafo do Ser Divino, e este desabafo o difunde sobre todo o criado, de modo que todo o criado fala do amor que tenho ao homem, e lhe ensina o modo como deve me amar; começando desde o ser maior até a mais pequena flor do campo diz ao homem: “Com o meu suave perfume e com estar-me sempre dirigida para o céu, tento enviar uma homenagem ao meu Criador; também tu, faz com que todas as tuas ações sejam perfumadas, santas, puras, Não faças com que o mau cheiro dos teus atos ofenda o meu Criador”.
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¡Ah, homem! Repete a florzinha, “não sejas tão insensato de ter os olhos fixos à terra, mas eleva-os ao Céu, olha, lá em cima está o teu destino, a tua pátria, lá em cima está o Criador meu e teu que te espera”. A água que continuamente corre sob nossos olhos nos diz também: “Olha, das trevas saí e tanto devo correr e correr até que chegue a sepultar-me no lugar de onde saí, também tu, ó homem! corre, mas corre ao seio de Deus de onde saíste; ah! Peço-te, não corras os caminhos tortos, os caminhos que conduzem ao precipício, de outra maneira, ai de ti!”
Também as bestas mais selvagens nos repetem: “Olha, oh! homem como deves ser selvático para tudo o que não é Deus; olha, quando nós vemos que alguém se aproxima de nós, com os nossos rugidos colocamos tanto espanto, que ninguém se atreve a aproximar-se mais a perturbar a nossa solidão, também tu, quando o fedor das coisas terrenas, seja as tuas paixões violentas, estejam para te enlamear e te fazer cair no precipício das culpas, com os rugidos da tua oração e com retirar-te das ocasiões em que te encontras, estarás a salvo de qualquer perigo”. Assim todos os outros seres, que dizê-los todos seria muito longo, com voz unânime ressoam entre eles e repetem-nos: “Olha, ó! homem, por amor teu nos criou nosso Criador e todos estamos a teu serviço, tu não sejas tão ingrato, ama, rogamos-te, te repetimos, ama a nosso Criador!”.
(3) Depois disto, o meu amável Jesus disse-me: “Isto é tudo o que quero: “Amar a Deus e ao próximo por amor meu”. Vê quanto amei ao homem, e ele é tão ingrato; como queres tu que não o castigue?”.
(4) No mesmo instante parecia-me ver uma granizada terrível e um terremoto que deve fazer notável dano, até destruir as plantas e os homens. Então, com toda a amargura de minha alma lhe disse: “Meu sempre amável Jesus, por que está tão indignado? Se o homem é ingrato, não é tanto por malícia mas por debilidade. Oh! Se te conhecessem um pouco, como seriam humildes e amorosos, por isso, acalma-te, pelo menos te confio Corato e àqueles que me pertencem”.
(5) No momento de dizer isto, parecia-me que também em Corato devia acontecer algo, mas em comparação com o que acontecerá nos outros lugares não será nada.
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2-4
Março 14, 1899
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Jesus refugia-se no coração e chora a sorte das criaturas.
A alma faz de tudo para consolá-lo e chora junto com Jesus.
(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus, transportando-me juntamente com Ele, fazia-me ver a multiplicidade dos pecados que se cometem, e eram tais e tantos, que é impossível descrevê los; via também no ar uma estrela de tamanho desmesurado, e em sua circunferência continha fogo negro e sangue; infundia tal temor e espanto ao olhá-la, que parecia que fosse menor mal a morte do que viver em tempos tão tristes. Em outros lugares se viam os vulcões, que abrindo outros tantos crateras deviam inundar até os povos vizinhos; viam-se também gentes sectárias que irão favorecendo os incêndios, etc. Enquanto isso via, meu amável mas aflito Jesus me disse:
(2) “Viu o quanto me ofendem e o que tenho preparado? Eu me retiro do homem”. (3) E enquanto isto dizia, nos retiramos os dois na cama, e via que neste retirar-se de Jesus, os homens se punham a fazer ações mais feias, mais homicídios, em uma palavra, me parecia ver gente contra gente. Quando nos retiramos, parecia que Jesus se metia em meu coração e começou a chorar e a soluçar dizendo:
(4) “Ó homem, quanto te amei! Se você soubesse o quanto me dói ter que te punir! Mas a isto me obriga minha justiça. Oh homem, oh homem, quanto choro e me dói sua sorte!” (5) Depois dava desabafo ao pranto e de novo repetia as palavras. Quem pode dizer a dor, o temor, o rasgo que se fazia em minha alma, especialmente ao ver Jesus tão aflito e chorando? Quanto mais podia esconder a minha dor, e para o consolar, dizia-lhe: “Ó Senhor, para que nunca castigues os homens! Esposo Santo, não chores, tal como fizestes outras vezes assim farás agora, derramarás em mim, far-me-ás sofrer a mim, e assim vossa justiça não vos obrigará a castigar as nações”. E Jesus continuava chorando e eu repetia: “Mas escuta-me um pouco, não me pusestes nesta cama para que seja vítima pelos demais? Por acaso não estive disposta a sofrer as outras vezes para evitar os castigos às criaturas? Por que agora não querem me fazer caso?” Mas com todas as minhas pobres palavras Jesus não se acalmava de chorar, então não podendo resistir mais, também eu rompi em pranto dizendo: “Senhor, se vossa intenção é punir aos homens, não me dá o ânimo ver sofrer tanto as criaturas, por isso, se verdadeiramente quereis mandar os flagelos e meus pecados não me fazem merecer mais o sofrer eu em lugar dos demais, quero ir ao Céu, Não quero estar mais sobre esta terra”. (6) Depois veio o confessor e tendo-me chamado à obediência, Jesus retirou-se e assim terminou.
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(7) Na manhã seguinte continuava a ver Jesus retirado em meu coração, e via que as pessoas vinham até dentro de meu coração e o pisavam, o colocavam sob os pés. Eu fazia quanto mais podia para libertá-lo e Jesus dirigindo-se a mim me disse:
(8) “Vês até onde vai a ingratidão dos homens? Eles mesmos me obrigam a castigá-los, sem que possa fazer de outra maneira. E tu, minha querida, depois de me teres visto sofrer tanto, te sejam mais amadas as cruzes e sinta como deleites as penas”.
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2-5
Março 18, 1899
Continua a ver Jesus retirado no seu coração. Ele diz-lhe como lhe é querida a caridade. (1) Esta manhã meu querido Jesus continuava a fazer-se ver de dentro do meu coração, e vendo-o um pouco mais amável, armei-me de coragem e comecei a pedir-lhe que não mandasse tantos castigos, e Jesus me disse:
(2) “O que te move, ó minha filha, a pedir-me que não castigue as criaturas?” (3) Eu imediatamente respondi: “Porque são tuas imagens e, devendo as criaturas sofrer, virias tu mesmo a sofrer”. Então Jesus dando um suspiro me disse:
(4) “Me é tão querida a caridade, que você não pode compreendê-lo. A caridade é simples, como meu Ser, que embora seja imenso, é também simplíssimo, tanto que não há parte na qual não penetre. Assim a caridade, sendo simples, se difunde por toda parte, não tem deferência por nenhum, amigo ou inimigo, vizinho ou forasteiro, a todos ama”.
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2-6
Março 19, 1899
Temores. Jesus a tranquiliza. O demônio pode falar de virtude, mas não pode infundi-la na alma.
(1) Esta manhã, enquanto Jesus se fazia ver, eu temia que não fosse verdadeiramente Jesus, mas o demônio que me quisesse enganar; depois que fiz os habituais protestos Jesus me disse:
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(2) “Filha, não temas, não sou o demônio, e além disso, esse, se fala das virtudes é uma virtude pintada, não verdadeira virtude, nem tem poder para infundi-la na alma, senão somente de falar dela, e se alguma vez mostrar que quer fazer praticar um pouco de bem, não é perseverante e no mesmo ato em que a alma faz esse pouco bem, a alma está desganada e agitada, só Eu tenho a potência de infundir-me no coração e de fazer praticar as virtudes e fazer sofrer com ânimo e tranqüilidade e com perseverança. Além disso, quando o demônio foi em busca de virtude? Sua busca são os vícios. Por isso não tema, fique tranquila”.
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2-7
Março 20, 1899
Jesus derrama suas amarguras e lhe diz a causa dos males do mundo.
(1) Esta manhã Jesus transportou-me para fora de mim mesma e fez-me ver muitas pessoas, todas em discórdia. Oh, quanta dor dava a Jesus! Eu, vendo-o sofrer muito, pedi-lhe que derramasse em mim suas amarguras, mas como continuava querendo castigar o mundo, Jesus não queria derramá-las em mim, mas depois de havê-lo pedido e voltado a pedir, para contentar-me derramou um pouco. Então, tendo-se aliviado um pouco, disse-me:
(2) “A causa pela qual o mundo se reduziu a este triste estado, é por ter perdido a subordinação às cabeças, e como a primeira cabeça é Deus, ao Qual se rebelaram, como conseqüência aconteceu que perderam toda sujeição e dependência à Igreja, às leis, e a todos os outros que se dizem cabeças. ¡ Ah! Minha filha, o que será de tantos membros infectados por este mau exemplo dado por aqueles mesmos que se dizem cabeças, isto é, por superiores, por pais e por tantos outros? ¡ Ah, chegarão a tanto, que não se reconhecerão mais nem pais, nem irmãos, nem reis, nem príncipes, estes membros serão como tantas víboras que reciprocamente se envenenarão, por isso vê como são necessários os castigos nestes tempos, e que a morte quase destrua esta gente, para que os poucos que restam aprendam às custas dos outros a serem humildes e obedientes! Por isso me deixe fazer, não queira se opor a que castigue as pessoas”.
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2-8
Março 31, 1899
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Jesus fala da virtude da cruz.
(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fez-se ver crucificado, e depois de me ter comunicado as suas dores disse-me: “Muitas são as chagas que me fizeram sofrer em minha paixão, mas uma foi a cruz; isto significa que muitos são os caminhos pelos quais atraio as almas à perfeição, mas um é o Céu no qual estas almas devem unir-se, assim que equivocado aquele Céu, não há outro que possa torná-las bem-aventuradas para sempre”.
(2) Depois acrescentou: “Olha um pouco, uma é a cruz, mas de vários troncos foi formada essa cruz; isto significa que um é o Céu, mas vários lugares que este Céu contém, mais ou menos gloriosos, e à medida dos sofrimentos sofridos aqui embaixo, mais ou menos pesados, estes lugares serão distribuídos. ¡ Oh! , se todos conhecessem a preciosidade do sofrer, fariam concorrência a ver quem quisesse sofrer mais, mas esta ciência não é conhecida pelo mundo, por isso aborrecem tudo o que pode torná-los mais ricos in eterno”.
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2-9
Mês de Abril, 1899
Como a humildade é a pequena planta. A humildade sem confiança é virtude falsa.
(1) Depois de ter passado alguns dias de privação e de lágrimas, eu me encontrava toda confusa e aniquilada em mim mesma, em meu interior ia dizendo continuamente: “Diz-me, ó meu Bem, por que te afastaste de mim, em que te ofendi que não te deixas ver mais, e se te mostras é quase ofuscado e em silêncio? Ah, não mais me faça esperar e esperar, que meu coração não pode mais!”.
(2) Finalmente Jesus se mostrou um pouco mais claro, e vendo-me tão aniquilada me disse: (3) “Se tu soubesses quanto me agrada a humildade! A humildade é a planta mais pequena que se pode encontrar, mas seus ramos são tão altos que chegam até o Céu, estão em torno de meu trono e penetram até dentro de meu coração. A pequena planta é a humildade, os ramos que produz esta planta é a confiança, assim que não se pode dar verdadeira humildade sem confiança. A humildade sem confiança é falsa virtude”.
(4) Pelas palavras de meu Jesus se vê que meu coração não só estava aniquilado, mas também um pouco desanimado.
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2-10
Abril 5, 1899
Como Jesus a tem coberta em seu amor.
(1) Minha alma continuava em seu aniquilamento e com temor de perder o doce Jesus, quando num instante, de repente, fez-se ver e me disse:
(2) “Te tenho sob a sombra de minha caridade. Então, assim como a luz penetra por toda parte, assim meu amor te tem coberta por toda parte e em tudo. Do que teme então? E como posso Eu te deixar enquanto te tenho tão abismada em meu amor?”
(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu queria lhe perguntar por que não se fazia ver segundo seu costume, mas Jesus logo desapareceu e não me deu tempo de lhe dizer nem sequer uma palavra. ¡ Oh Deus, que pena!
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2-11
Abril 7, 1899
Luisa consola Jesus. Ele diz: Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências.
(1) Continua o mesmo estado, mas especialmente esta manhã passei-a amargamente, quase tinha perdido a esperança de que Jesus viesse. Oh, quantas lágrimas eu tive que derramar! Foi exatamente a última hora e Jesus não veio ainda. Oh, Deus! o que fazer? Meu coração estava com uma dor tão forte e em um contínuo palpitar, tão forte, que sentia uma agonia mortal. Em meu íntimo, dizia-lhe: “Meu bom Jesus, não vês Tu mesmo que me sinto falta da vida? Ao menos diz-me como se pode fazer para estar sem Ti? Como se pode viver? Se bem que sou ingrata ante tantas graças, sem embargo te amo e te ofereço esta pena amarguíssima de sua ausência para te reparar por minha ingratidão; mas vem, Jesus tenha paciência, é tão bom, não me faça esperar, vem. ¡ Ah! Talvez você não saiba o quão cruel tirano é o amor, e por isso não tem compaixão de mim?” Enquanto estava neste estado tão doloroso, Jesus veio e toda compaixão me disse:
(2) “Eis que eu vim, não chores mais, vem a Mim”.
(3) Em um instante me encontrei fora de mim mesma junto com Ele, e eu o olhava, mas com tal temor que de novo pudesse perdê-lo, que a rios me escorriam as lágrimas dos olhos. Jesus continuou a dizer-me:
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(4) “Não, não chores mais, olha para o quanto estou a sofrer, olha para a minha cabeça, os espinhos penetraram tão profundamente, que não há nada lá fora. Vês quantos cortes e sangue cobrem o meu corpo? Aproxima-te, dá-me um alívio”.
(5) Ao ocupar-me das penas de Jesus esqueci um pouco as minhas, e assim comecei por sua cabeça, oh! como era dilacerante ver aqueles espinhos tão metidos dentro, que mal se podiam puxar. Enquanto isso fazia, Jesus se lamentava, tanto era a dor que sofria. Depois que tirei aquela coroa de espinhos, toda despedaçada, a uni de novo, e sabendo que o maior prazer que se possa dar a Jesus é o sofrer por Ele, tomei-a e a afundei sobre minha cabeça.
(6) Depois, uma por uma fez-se beijar as chagas e em algumas delas queria que chupasse o sangue. Eu tentei fazer tudo o que Ele queria, mas em silêncio silêncio, quando a Virgem Santíssima se apresentou e me disse:
(7) “Pergunte a Jesus o que ele quer fazer de você”.
(8) Eu não me atrevia, mas a Mãe me incitava a fazê-lo; para satisfazê-la, aproximei os lábios ao ouvido de Jesus, e disse: “Que queres fazer de mim?” E Ele respondeu: (9) “Quero fazer de ti um objeto das minhas complacências”.
(10) E no ato mesmo de dizer estas palavras desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.
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2-12
Abril 9, 1899
Jesus leva a Luisa para fora de si mesma, unida a Ele, não quer deixá-la e Jesus tem-na consigo na custódia.
(1) Esta manhã Jesus fez-se ver e transportou-me dentro de uma igreja, ali ouvi a Santa Missa e recebi a comunhão das mãos de Jesus. Depois disto me abracei aos pés Dele, tão fortemente que não podia me separar. O pensamento das penas dos dias passados, isto é, da privação de Jesus, fazia-me temer tanto o perdê-lo de novo, que estando a seus pés chorava e lhe dizia: “Desta vez, ó Jesus, não te deixarei mais, porque Tu quando te vais de mim me fazes sofrer e esperar muito”.
(2) Então Jesus me disse: “Vem nos meus braços que quero aliviar-te das penas passadas nestes dias”.
(3) Eu quase não me atrevia a fazê-lo, mas Jesus estendeu as mãos e me levantou de seus pés, me abraçou e disse:
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(4) “Não temas, que não te deixo, esta manhã quero te contentar, vem estar Comigo na custódia”.
(5) E ambos nos retiramos sob custódia. Quem pode dizer o que fizemos? Agora me beijava e eu a Ele, agora eu repousava nele e Jesus em mim, agora via as ofensas que recebia, e eu fazia atos de reparação pelas diferentes ofensas. Quem pode dizer a paciência de Jesus no Sacramento? É tal e tanta que dá terror só de pensar. Mas enquanto estava fazendo isso, Jesus me fez ver o confessor que vinha me chamar em mim mesma e me disse:
(6) “Basta por agora, vê, que a obediência te chama”.
(7) E assim me parecia que minha alma retornava ao corpo, e em efeito o confessor me chamava à obediência.
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2-13
Abril 12, 1899
Jesus disse a Luísa: Tu és o meu tabernáculo, aliás, sinto-me mais feliz em ti, porque te compartilho as minhas dores.
(1) Hoje, sem me fazer esperar tanto, Jesus veio logo e me disse:
(2) “Tu és o meu tabernáculo; para mim é o mesmo estar no sacramento que em teu coração, aliás, em ti se encontra outra coisa de mais, que é o poder participar minhas penas e te ter junto Comigo como vítima vivente ante a divina justiça, o que não encontro no Sacramento”. (3) E enquanto dizia estas palavras se fechou dentro de mim. Estando em mim, Jesus fazia-me sentir agora as picadas dos espinhos, agora as dores da cruz, os esforços e os sofrimentos do coração. Em torno de seu coração via um trançado de pontas de ferro que fazia sofrer muito a Jesus. Ah! Quanta dor me dava vê-lo sofrer tanto, teria querido sofrer tudo eu antes de fazer sofrer a meu doce Jesus, e de coração lhe pedia que a mim me desse as penas, a mim o sofrer. Então Jesus me disse:
(4) “Filha, as ofensas que mais trespassam meu coração são as Missas ditas sacrílegamente, e as hipocrisias”.
(5) Quem pode dizer o que compreendi nestas duas palavras? Parece-me que externamente se faz ver que se ama, se louva ao Senhor, mas internamente se tem o veneno pronto para matá-lo; externamente se faz ver que se quer a glória, a honra de Deus, mas internamente se busca a honra, a estima própria. Todas as obras feitas com hipocrisia, mesmo as mais santas, são obras todas envenenadas que amarguram o coração de Jesus.
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2-14
Abril 16, 1899
Jesus quer girar com a Luisa e fá-lo ver como é tratado pelas almas.
(1) Estando no meu estado habitual, Jesus convidou-me a virar para ver o que faziam as criaturas. Eu disse-lhe: “Meu adorável Jesus, esta manhã não tenho vontades de girar e ver as ofensas que te fazem, vamos aqui os dois juntos”. Mas Jesus insistia em que queria girar, então para agradá-lo lhe disse: “Se queres sair, vamos, mas vamos dentro de alguma igreja, pois aí são poucas as ofensas que te fazem”.
(2) E assim fomos dentro de uma igreja, mas também ali foi ofendido, e mais que em outros lugares, não porque nas igrejas se façam mais pecados que no mundo, senão porque são ofensas feitas por seus mais amados, por aqueles que deveriam colocar alma e corpo para defender a honra e a glória de Deus, por isso resultam mais dolorosas a seu coração adorável.
Então via almas devotas, que por bagatelas de nada não se preparavam bem à comunhão; sua mente em vez de pensar em Jesus pensava em suas pequenas perturbações, em tantas coisas de nada, e esta era sua preparação. Quanta pena davam estas almas a Jesus e quanta compaixão davam elas, porque davam importância a tantas palhinhas, a tantas ociosidades e em troca não se dignavam dirigir um olhar a Jesus. Então ele me disse:
(3) “Minha filha, quanto impedem estas almas que minha Graça se derrame nelas, Eu não me fixo nas minúcias, senão no amor com o qual se aproximam, e elas ao contrário, mais se fixam nas palhas que no amor, é mais, o amor destrói as palhas, mas com muitas palhas não se aumenta nem um pouco o amor, mas bem o diminui. Mas o que é pior destas almas é que se perturbam muito, perdem muito tempo, quiseram estar com os confessores horas inteiras para dizer todas estas minúcias, mas jamais põem mãos à obra com uma boa e corajosa resolução para extirpar estas palhas.
(4) O que te dizer além disso, oh! minha filha, de certos sacerdotes destes tempos? Pode-se dizer que atuam quase satanicamente, chegando a fazer-se ídolos das almas. [ Ah! Sim, o meu coração é mais trespassado pelos meus filhos, porque se os outros me ofendem mais, ofendem as partes do meu corpo, mas os meus ofendem-me as partes mais sensíveis e ternas, até no mais íntimo do meu coração”.
(5) Quem pode dizer a amargura de Jesus? Ao dizer estas palavras chorava amargamente. Eu fazia quanto mais podia compadecer-lhe e repará-lo, mas enquanto isso fazia nos retiramos juntos no leito.
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2-15
Abril 21, 1899
Vê Jesus como uma criança quando está sozinho. Medo de que ele fosse alguém para fazer-lhe mal. Pergunta quem é, e diz-lhe que é o pobre dos pobres e que queria estar com ela.
(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, num momento me encontrei em mim mesma, mas sem poder me mover, quando de repente senti que alguém entrava em meu quarto, depois fechou de novo a porta e ouvi que se aproximava da minha cama. Em minha mente pensava que alguém tinha entrado furtivamente, sem que ninguém da família o tivesse visto e tinha penetrado até meu quarto. Quem sabe o que eu poderia fazer? Era tanto o medo que eu senti o sangue gelar nas veias e tremia toda. Oh, Deus! O que fazer? Dizia entre mim: “A família não o viu, eu sinto-me toda imóvel e não posso defender-me nem pedir ajuda; Jesus, Maria, Mãe minha, ajudai-me, São José, dizei-me deste perigo”. Quando senti que subia à cama e se aninhava junto a mim, foi tanto o temor, que abri os olhos e lhe disse: “Dize-me, quem és tu?”
(2) Ele respondeu: “Eu sou o pobre dos pobres, não tenho onde estar; vim a ti para ver se me queres ter contigo em teu quarto, olha, sou tão pobre que nem sequer tenho vestidos, mas tu pensará em tudo”.
(3) Eu o olhei bem, era um menino de cinco ou seis anos, sem vestidos, sem sapatos, mas sumamente belo e gracioso, em seguida lhe respondi: “Por mim com gosto te teria, mas o que dirá meu papai? Não sou uma pessoa livre que pode fazer o que quiser, tenho meus pais que o impedem. Vestir-te se posso fazê-lo com meus pobres trabalhos, farei qualquer sacrifício, mas ter-te comigo é impossível. Além disso, não tens pai, não tens mãe, não tens onde ficar?”
(4) Mas a criança amargamente respondeu: “Não tenho ninguém, ah, não me faças vaguear mais, deixa-me estar contigo!”
(5) Eu mesma não sabia o que fazer, como tê-lo. Um pensamento me passou pela mente: “Quem sabe, talvez seja Jesus, ou será algum demônio para me perturbar?” Então disse-lhe de novo: “Mas dize-me a verdade, quem és tu?” E ele repetiu:
(6) “Eu sou o pobre dos pobres”.
(7) Eu respondi: “Aprendeste a santificar-te?”
(8) “Sim”. Respondeu.
(9) Pois então fá-lo, quero ver como o fazes.
(10) Ele perseguiu-se com o sinal da cruz.
(11) Eu acrescentei: “E a Ave Maria sabes dizer?”
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(12) “Sim, mas se queres que a diga, vamos dizê-la juntos”.
(13) Eu comecei a Ave Maria e Ele a dizia junto comigo, nesse momento uma luz puríssima se desprendeu de sua fronte adorável e conheci que o pobre dos pobres era Jesus. Num instante, com aquela luz que Jesus me enviava, fez-me perder de novo os sentidos e tirou-me de mim mesma. Eu estava toda confusa diante de Jesus, especialmente por tantas rejeições e rapidamente lhe disse:
(14) “Meu querido, perdoa-me, se te tivesse conhecido não te teria proibido a entrada. Além disso, porque não me disseste que eras tu? Tenho tantas coisas para te dizer, eu ter-te-ia dito, não teria perdido o meu tempo com tantas inutilidades e medos. Para te ter a Ti não tenho necessidade dos meus, posso ter-te livremente porque Tu não te deixas ver por nenhum”. Mas enquanto dizia isto, Jesus desapareceu e assim acabou tudo, deixando-me uma pena por não lhe ter dito nada do que queria dizer-lhe.
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Abril 23, 1899
Os louvores e desprezos dos outros
(1) Hoje meditei sobre o mal que pode vir às nossas almas pelos louvores que as criaturas não nos dão. Enquanto o aplicava a mim mesma para ver se havia em mim a complacência pelos louvores humanos, Jesus aproximou-se de mim e disse-me:
(2) “Quando o coração está cheio do conhecimento de si mesmo, os louvores dos homens são como aquelas ondas do mar, que se elevam e transbordam mas jamais saem de seus limites, assim os louvores humanos fazem estrondo, alvoroçam, aproximam-se até o coração, mas encontrando-o cheio e bem circundado pelos fortes muros do conhecimento de si mesmo, não tendo portanto onde ficar, voltam-se atrás sem fazer nenhum mal à alma, por isso deves estar atenta a isto, que os louvores e os desprezos das criaturas não devem ser levados em conta”.
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Abril 26, 1899
Jesus a alegra com respeito ao confessor. Fala-lhe das almas desapegadas, que enquanto não têm nada, tudo possuem.
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(1) Quando hoje meu amado Jesus se fazia ver, parecia-me que me enviava tantos raios de luz, que toda me penetravam, quando em um instante nos encontramos fora de mim mesma e junto se encontrava o confessor. Eu imediatamente pedi ao meu querido Jesus que lhe desse um beijo ao confessor e que estivesse um pouco em seus braços, (Jesus era menino). Para me contentar logo beijou o confessor no rosto, mas sem querer separar-se de mim, eu fiquei toda aflita e lhe disse: “Meu Teseu, não era esta a minha intenção, de te fazer beijar o seu rosto, mas a boca, a fim de que tocada pelos teus lábios puríssimos fosse santificada e fortificada daquela debilidade, assim poderá anunciar mais livremente a santa palavra e santificar os demais. ¡ Ah, te rogo que me contentes!” Assim, Jesus deu outro beijo, mas agora na boca dele, e depois me disse:
(2) “Me são tão agradáveis as almas desapegadas de tudo, não só no afeto, mas também em efeito, que à medida que vão despojando-se, assim minha luz as vai investindo e chegam a ser como cristais, nos quais a luz do sol não encontra impedimento para penetrar dentro deles, como o encontra nas construções e nas demais coisas materiais”.
(3) Ah! disse depois: “Crêem despojar-se, mas em troca vêm a vestir-se não só das coisas espirituais, mas também das corporais, porque minha providência tem um cuidado todo especial e particular por estas almas desapegadas, minha providência as cobre por toda parte; acontece que nada têm, mas todos possuem”.
(4) Depois disso nos retiramos do confessor e encontramos muitas pessoas religiosas que pareciam ter toda a intenção de trabalhar por fins de interesses, Jesus passando no meio delas disse:
(5) “Ai daquele que trabalha pela finalidade de adquirir dinheiro, já receberam em vida seu pagamento!”
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Maio 2, 1899
Como na Igreja está refletido todo o Céu.
(1) Esta manhã Jesus dava muita compaixão, estava tão aflito e sofredor que eu não me atrevia a lhe fazer nenhuma pergunta, nos olhávamos em silêncio, de vez em quando me dava um beijo e eu a Ele, e assim continuou a fazer-se ver algumas vezes. A última vez me fez ver a Igreja dizendo-me estas palavras:
(2) “Na minha Igreja está representado todo o Céu: Assim como no Céu uma é a cabeça, que é Deus, e muitos são os santos, de diferentes condições, ordens e méritos, assim na minha
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Igreja, uma é a cabeça, que é o Papa, e até na tiara que rodeia sua cabeça está representada a Trindade Sacrossanta, e muitos são os membros que desta cabeça dependem, ou seja, diferentes dignidades, diferentes ordens, superiores e inferiores, desde o menor até o maior, todos servem para embelezar a minha Igreja, e cada um, segundo o seu grau, tem um ofício que lhe foi dado, e com o exato cumprimento das virtudes vem dar de si na minha Igreja um esplendor odoroso, de modo que a terra e o Céu ficam perfumados e iluminados, e as pessoas ficam tão atraídas por esta luz e por este perfume, que é quase impossível não se render à verdade. Deixo-te a ti considerar aqueles membros infectados, que em vez de produzir luz dão trevas, quantos destroços fazem na minha Igreja!”
(3) Enquanto Jesus assim me dizia, vi o confessor junto a Ele, Jesus com o seu olhar penetrante olhava-o fixamente; depois, dirigindo-se a mim, disse-me:
(4) “Quero que tenha plena confiança com o confessor, mesmo nas mínimas coisas, tanto que entre Eu e ele não deve haver diferença alguma, porque na medida de sua confiança e da fé que der a suas palavras, assim Eu entrarei em contato”.
(5) No momento em que Jesus dizia estas palavras lembrei-me de certas tentações do demônio que haviam produzido em mim um pouco de desconfiança, mas Jesus com seu olho vigilante, de imediato me tomou novamente junto a Si, e nesse mesmo instante senti-me a tirar de dentro de mim essa desconfiança. Seja sempre bendito o Senhor, que tem tanto cuidado desta alma tão miserável e pecadora.
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2-19
Maio 6, 1899
Luisa procura Jesus entre os anjos.
(1) Esta manhã quase não se fez ver Jesus, minha mente a sentia tão confusa que quase não compreendia a perda de Jesus, naquele momento me senti circundada de muitos espíritos, talvez fossem anjos, mas não sei dizê-lo com segurança. Enquanto me encontrava no meio deles, de vez em quando me punha a indagar, pois, quem sabe? Talvez pudesse ouvir o hálito do meu amado, mas por mais que fizesse não advertia nada que indicasse que ali estava meu amante Bem. Quando de repente, de trás das costas, senti vir um sopro doce, súbito gritei: “Jesus, meu Senhor!”
(2) Ele respondeu: “Luisa, o que queres?”
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(3) “Jesus, meu lindo, venha, não fique atrás de minhas costas porque não posso te ver, estive toda esta manhã te esperando e indagando, pois talvez tivesse podido te ver no meio destes espíritos angélicos que rodeavam a cama, mas não tive êxito, por isso me sinto muito cansada, porque sem Ti não posso encontrar repouso, vem para repousar juntos”. Assim Jesus se pôs junto a mim e me sustentava a cabeça. Aqueles espíritos disseram: “Senhor, quão rapidamente te conheceu, não pela voz, mas com o sopro logo te chamou”.
(4) Jesus respondeu-lhes: “Ela conhece-me a Mim e Eu conheço-a a ela. Ela é-me tão querida, como me é querida a pupila dos meus olhos”.
(5) E enquanto assim dizia, encontrei-me nos olhos de Jesus. Quem pode dizer o que senti estando naqueles olhos puríssimos? É impossível expressá-lo com palavras, os próprios anjos ficaram surpreendidos.
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2-20
Maio 7, 1899
Da pureza da intenção e da verdadeira caridade.
(1) Enquanto no dia fiz a meditação, Jesus continuava a fazer-se ver junto a mim e disse-me: (2) “Minha pessoa está circundada por todas as obras que fazem as almas como por um vestido, e à medida da pureza de intenção e da intensidade do amor com o qual se fazem, assim me dão mais esplendor, e eu lhes darei mais glória, tanto que no dia do juízo as mostrarei a todo o mundo para fazer conhecer o modo como me honraram meus filhos e o modo como Eu os honro a eles”.
(3) Então, tomando um ar mais aflito acrescentou:
(4) “Minha filha, o que será de tantas obras, mesmo boas, feitas sem reta intenção, por costume e com fins de interesse? Qual não será sua vergonha no dia do juízo, ao ver tantas boas obras em si mesmas, mas murchas por sua intenção, que em vez de dar-lhes honra como a tantos outros, as mesmas ações produzirão vergonha? Porque não são as grandes obras que olho, mas a intenção com a qual se fazem, aqui está toda a minha atenção”.
(5) Por um momento Jesus fez silêncio e eu pensava nas palavras que tinha dito, e enquanto as estava ruminando em minha mente, especialmente sobre a pureza de intenção e como fazendo o bem às criaturas, as mesmas criaturas devem desaparecer, fazendo uma criatura com o mesmo Senhor, e fazendo como se as criaturas não existissem, Jesus voltou a falar dizendo-me:
(6) “No entanto, é esse o caso. Olhe, meu coração é grandíssimo, mas a porta é estreitíssima, ninguém pode preencher o vazio deste coração, senão só as almas desapegadas, nuas e
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simples, porque como você vê, sendo a porta pequena, qualquer impedimento, ainda mínimo, isto é, uma sombra de apego, de intenção errônea, uma obra sem o fim de me agradar, impede que entrem a deleitar-se em meu coração. O amor do próximo muito agrada ao meu coração, mas deve estar tão unido ao meu, que deve formar um só, sem poder distinguir-se um do outro; mas aquele outro amor ao próximo que não está transformado em meu amor, Eu não o olho como coisa que me pertença”.
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2-21
Maio 9, 1899
Lamentos, petições, colóquio com Jesus.
(1) Esta manhã encontrava-me num mar de aflição pela perda de Jesus. Depois de muito espe rar veio, e se apertava tanto a mim, que não podia nem sequer vê-lo, chegava a pôr sua testa sobre a minha, apoiava seu rosto sobre o meu e assim todos os demais membros. Agora, en quanto Jesus estava nesta posição, eu lhe disse: “Meu adorável Jesus, você não me ama mais?”
(2) E Ele: “Se não te amasse não estaria tão perto de ti”.
(3) E eu voltei a dizer-lhe: “Como me dizes que me amas se não me fazes mais sofrer como antes? Temo que não me queira mais neste estado, ao menos me liberte então do incômodo do confessor”.
(4) Enquanto dizia isto, parecia que Jesus ignorava as minhas palavras e me fazia ver uma multidão de gente que cometia toda classe de infâmias, e Jesus indignado com eles, fazia cair entre eles diferentes tipos de enfermidades contagiosas, e muitos morriam negros como car vão, parecia que Jesus exterminava da face da terra aquela multidão de pessoas. Enquanto via isto, pedi a Jesus que pusesse em mim as suas amarguras, a fim de que eu pudesse livrar o povo, mas nem sequer nisto me dava ouvidos; e respondendo-me às palavras que antes lhe tinha dito acrescentou:
(5) “O maior castigo que posso dar a ti, ao sacerdote e ao povo, é se eu te libertar deste estado de sofrimento. A minha justiça desabafaria com toda a sua ira, porque não encontraria mais oposição. Tanto é verdade, que o pior mal para alguém é ser posto em um ofício e depois ser deposto, melhor para ele se não lhe tivesse sido encarregado aquele ofício, porque abusando e não aproveitando se torna indigno”.
(6) Depois Jesus continuou a vir várias vezes no dia de hoje, mas tão aflito que dava piedade e até fazia chorar, talvez até as mesmas pedras. Por quanto pude procurei consolá-lo, agora o
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abraçava, agora lhe segurava a cabeça tão sofredora, agora lhe dizia: “Coração do meu cora ção, Jesus, nunca foi teu costume aparecer-te a mim tão aflito, se outras vezes te fizeste ver afligido, com verter em mim tuas amarguras logo mudaste aspecto, mas agora me é negado dar-te este alívio. Quem diria, que depois de tanto tempo que te dignaste derramar tuas amar guras em mim e fazer-me partícipe de teus sofrimentos, e que Tu mesmo tem feito tanto para dispor-me, agora deva ficar privada? Sofrer por seu amor era meu único alívio, era o sofrer o que me fazia suportar o exílio do Céu, mas agora, faltando-me isto sinto que não tenho mais onde me apoiar e a vida me dá incômodo. ¡ Ah! Esposo santo, amado Bem, amada Vida minha, faz que voltem a mim as penas, dá-me o sofrer, não olhes minha indignidade e meus graves pecados, senão tua grande Misericórdia que não está esgotada”.
(7) Enquanto desabafava com Jesus, Ele, aproximando-se mais a mim, disse-me: (8) “Minha filha, é minha Justiça que quer desafogar-se sobre as criaturas; o número de pecados dos homens está quase completo, e a Justiça quer sair fora para fazer gala de sua ira e reparar-se das injustiças dos homens. Bom, para te fazer ver como estou amargurado e para te contentar um pouco, quero verter em ti só meu alento”.
(9) E assim, aproximando seus lábios aos meus me enviava seu respiro, que era tão amargo que me sentia amargar a boca, o coração e toda minha pessoa. Se seu único fôlego era tão amargo, o que será do resto de Jesus? Deixou-me tanta pena, que me senti trespassar o coração.
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2-22
Maio 12, 1899
Jesus a alegra, derrama de seu lado doçuras e amarguras. Passa a jornada junto com Jesus.
(1) Esta manhã, meu adorável Jesus continuava a fazer-Se ver afligido, transportou-me para fora de mim mesma e me fazia ver as ofensas que recebia, e eu comecei a pedir de novo que derramasse em mim suas amarguras. Jesus no princípio não me ouvia e só me disse: (2) “Minha filha, a caridade só é perfeita quando é feita com o único fim de me agradar, e então é verdadeira e é reconhecida por Mim quando está despojada de tudo”.
(3) Eu, tomando ocasião de suas mesmas palavras, lhe disse: “Amado Jesus meu, é precisamente por isso que quero que Tu derrames em mim tuas amarguras, para poder aliviar te em tantas penas, e se te peço que libertes também as criaturas, é porque recordo bem que Tu em outras ocasiões, depois de as haver castigado, ao vê-las sofrer tanto a pobreza e outras coisas, muito sofreu também Tu. Mas quando eu estive atenta e te pedi e importunado até te
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cansar que derramasses em mim tuas amarguras, tanto que te agradavas em derramar em mim, livrando-as a elas, depois Tu ficaste muito contente, não te lembras? Além disso, não são as tuas imagens?”
(4) Jesus, vendo-se convencido, disse-me: “Por ti é necessário contentar-te, aproxima-te e bebe do meu lado”.
(5) Assim fiz, aproximei-me para beber de seu lado, mas em vez de sair a amargura chupava um sangue dulcíssimo, que toda me embriagava de amor e de doçura; sim, por isso estava contente, mas não era esta minha intenção, por isso dirigindo-me a Ele lhe disse: “Querido Bem meu, o que faz? Não é amargo o que me dás mas doce. Ah, rogo-te, derrama Tu em mim tuas amarguras!” E Jesus olhando-me benignamente disse-me:
(6) “Continua a beber, que depois virá o amargo”.
(7) Assim, pondo-me de novo ao seu lado, depois de ter continuado a sair o doce, saiu também o amargo. Mas quem pode dizer a intensidade da amargura? Depois que me fartei de beber, me retirei e vendo sua cabeça que tinha a coroa de espinhos, a tirei e a afundei em minha cabeça, e Jesus parecia todo condescendente, enquanto em outras ocasiões não havia permitido isto. ¡ Como era bonito ver Jesus depois que derramou suas amarguras! Parecia quase desarmado, sem força, tudo sossegado, como um humilde cordeirinho, todo condescendente. Eu adverti que a hora era muito tardia, e como o confessor tinha vindo cedo esta manhã para me chamar à obediência, não é que eu soubesse que devia ser chamada pela obediência, porque ante a obediência Jesus me deixa livre, por isso volta para Ele lhe disse: “Jesus dulcíssimo, não permitas que eu sirva de incômodo à família e de incômodo ao confessor com fazê-lo vir de novo, ah, te peço, faz-me Tu mesmo retornar em mim!” E Jesus me disse:
(8) “Minha filha, não te quero deixar neste dia”.
(9) E eu: “Nem eu tenho coração para te deixar, mas só por um pouquinho, para fazer ver a família que estou em mim mesma e depois voltaremos a estar juntos”. Assim, depois de um longo debate, dando-nos um adeus recíproco me deixou um pouco. Era exatamente a hora da comida e a família vinha me chamar, e se bem me sentia em mim mesma, mas me sentia toda cheia de sofrimento, a cabeça não a agüentava, o amargo e o doce bebido do lado de Jesus me dava tal saciedade e sofrimento ao mesmo tempo, que me era impossível poder tomar alguma outra coisa. A palavra dada a Jesus fazia-me sentir entre espinhos; assim, com o pretexto de que me doía a cabeça, disse à família: “Deixai-me só, que não quero nada”. E assim fiquei livre de novo e em seguida comecei a chamar o doce Jesus, e Ele sempre benigno voltou; mas quem pode dizer o que passei hoje, quantas graças Jesus fez à minha alma,
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quantas coisas me fez entender? É impossível poder expressá-lo com palavras. Assim, depois de um longo tempo, Jesus para acalmar meus sofrimentos, de sua boca derramou um leite doce e depois para a noite me deixou dando-me sua palavra de que logo voltaria, e assim encontrei-me de novo em mim mesma, mas um pouco mais livre de sofrimentos.
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2-23
Maio 16, 1899
Jesus fala da cruz e lamenta-se das almas devotas.
(1) Jesus continuou por outros dias manifestando-se do mesmo modo, não querendo separar se de mim. Parecia que aquele pouco de sofrimento que tinha derramado em mim o atraía tanto, que não sabia estar sem mim. Esta manhã derramou outro pouco de amargura da sua boca na minha e depois disse-me:
(2) “A cruz dispõe a alma à paciência. A Cruz abre o Céu e une o Céu e a Terra, isto é, Deus e a alma. A virtude da cruz é potente e quando entra em uma alma tem a virtude de remover a ferrugem de todas as coisas terrenas, não só isso, senão que dá o tédio, o fastio, o desprezo das coisas da terra, e em troca lhe dá o sabor, o agrado das coisas celestiais, mas por poucos é reconhecida a virtude da cruz, por isso a desprezam”.
(3) Quem pode dizer quantas coisas compreendi da cruz enquanto Jesus falava? O falar de Jesus não é como o nosso, que tanto se entende por quanto se diz, mas uma só palavra deixa uma luz imensa, que ruminando bem poderia fazer estar ocupado todo o dia em profundíssima meditação. É por isso que, se eu quisesse dizer tudo, me prolongaria demasiado e faltaria o tempo para o fazer. Depois de um pouco Jesus voltou de novo, mas um pouco mais aflito. Eu rapidamente lhe perguntei a causa, e Jesus me fez ver muitas almas devotas e me disse:
(4) “Minha filha, o que olho em uma alma é quando se despoja da própria vontade, então minha Vontade a investe, a diviniza e a faz toda minha. Olha um pouco para estas almas, dizem-se devotas enquanto as coisas vão à sua maneira, depois uma pequena coisa, se não forem longas as suas confissões, se o confessor não as satisfaz, perdem a paz e algumas chegam a não querer fazer mais nada. Isto diz que não é minha Vontade que predomina, mas a delas. Então acredite em mim, minha filha, você errou o caminho, porque quando eu vejo que você realmente quer me amar, eu tenho tantas maneiras de dar a minha Graça”.
(5) Quão triste era ver Jesus sofrer por este tipo de gente. Procurei compadecer-Lhe por quanto pude e assim terminou.
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2-24
Maio 19, 1899
A humildade dá a certeza dos favores celestiais.
(1) Esta manhã tive receio de que não fosse Jesus, mas o demónio que me queria enganar. Então Jesus veio e, vendo-me com este temor, disse-me:
(2) “A humildade é a certeza dos favores celestiais. A humildade veste a alma de tal segurança, que as astúcias do inimigo não penetram dentro. A humildade põe a salvo todas as graças celestiais, tanto, que onde vejo a humildade faço correr abundantemente qualquer tipo de favores celestiais. Por isso não queira preocupar-se por isto, senão com olho simples olhe sempre em seu interior se está investida pela bela humildade, e de todo o resto não se preocupe”.
(3) Depois fez-me ver muitas pessoas religiosas, e entre elas, sacerdotes, também de santa vida, mas por quanto bons fossem, não havia neles esse espírito de simplicidade para crer nas tantas graças e nos tantos diversos modos que o Senhor tem com as almas. E Jesus me disse: (4) “Eu me comunico aos humildes e aos simples porque logo crêem em minhas graças e as têm em grande estima, ainda que sejam ignorantes e pobres; mas com estes outros que você vê Eu sou muito relutante, porque o primeiro passo que aproxima a alma a Mim é o crer; então acontece que estes, com toda a sua ciência, doutrina e até santidade, nunca provam um raio de luz celestial, isto é, caminham pelo caminho natural e jamais chegam a tocar nem sequer por um momento o que é sobrenatural. Esta é também a causa de por que no curso de minha vida mortal não houve nem sequer um douto, um sacerdote, um poderoso em meu seguimento, senão todos ignorantes e de baixa condição, porque quanto mais humildes e simples, são também mais fáceis a fazer grandes sacrifícios por Mim”.
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2-25
Maio 23, 1899
Jesus brinca e fala do verdadeiro desapego.
(1) Desta vez meu adorável Jesus queria brincar um pouco; vinha, fazia ver que me queria escutar, mas enquanto me punha a falar, como um raio desaparecia. ¡¡ Oh Deus, que pena! Enquanto meu coração nadava nesta tristeza amarguíssima da distância de Jesus e estava quase um pouco inquieto, Jesus voltou de novo dizendo-me:
(2) “O que há, o que há? Mais calma, mais calma! Diga, diga, o que você quer?”
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(3) Mas no momento da resposta ele desapareceu. Eu fazia o possível para me acalmar, mas o que, depois de algum tempo meu coração voltou a não saber dar-se paz sem seu único e só consolo e talvez mais que antes. Jesus voltando de novo me disse:
(4) “Minha filha, a doçura tem a virtude de fazer mudar a natureza às coisas, sabe converter o amargo em doce, por isso, mais doce, mais doce”.
(5) Mas não me deu tempo de dizer uma só palavra. Assim passei esta manhã. (6) Depois disto, senti-me fora de mim mesma juntamente com Jesus. Havia muitas pessoas, que cobiçavam as riquezas, quem a honra, quem a glória e quem até a santidade, e tantas outras coisas, mas não por Deus, mas para serem consideradas como algo grande pelas outras criaturas. Jesus dirigindo-se a elas, movendo a cabeça lhes disse: (7) “Que tolos sois, estais formando a rede para enredar-vos”.
(8) Depois, dirigindo-se a mim, disse-me:
(9) “Minha filha, por isso a primeira coisa que tanto recomendo é o desapego de todas as coisas e até de si mesmo, e quando a alma se despegou de tudo, não tem necessidade de se fazer força para estar longe de todas as coisas da terra, que por elas mesmas se põem a seu redor, mas visto que não são levadas em conta, mas bastante desprezadas, dando-lhe um adeus se despedem para não lhe dar mais incômodo”.
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2-26
Maio 26, 1899
Luisa vê seu próprio nada. Jesus lhe ensina
sobre o desprezo de si mesmo.
(1) Esta manhã encontrava-me num tal aniquilamento de mim mesma, até me sentir odiosa e arruinada, me parecia ser a mais abominável que se pudesse encontrar; me via como um pequeno verme que se movia e se movia mas sempre ficava ali, na lama, sem poder dar um passo. ¡ Oh Deus, que miséria humana! No entanto, depois de tantas graças que você me deu, eu sou tão ruim ainda. E meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora, veio e me disse:
(2) “O desprezo de si mesma só é louvável quando está bem investido pelo espírito de fé, mas quando não está investido pelo espírito de fé, em vez de te fazer bem poderá te prejudicar, porque vendo-te tal como tu és, que não podes fazer nada de bem, desconfiarás, permanecerás abatida, sem te encorajar a dar um passo no caminho do bem, mas apoiando-te
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em Mim, isto é, investindo-te do espírito de fé, virás a conhecer e a desprezar-te a ti, e ao mesmo tempo a conhecer-me a Mim, confiando totalmente em poder operar tudo com a minha ajuda, e eis que fazendo desta maneira caminharás segundo a verdade”. (3) Quanto bem fez a minha alma este falar de Jesus, compreendi que devo entrar em meu nada e conhecer quem sou eu, mas não devo deter-me ali, senão que em seguida, depois de ter-me conhecido a mim mesma, devo voar ao mar imenso de Deus e aí deter-me a tomar todas as graças que se necessitam para minha alma, de outra maneira a natureza fica debilitada e o demônio buscará meios para lança-la na desconfiança.
(4) Seja sempre bendito o Senhor e sempre seja tudo para sua glória.
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Maio 31, 1899
Jesus lamenta-se do confessor.
(1) Esta manhã, estando no meu estado habitual, o meu adorável Jesus veio e ao mesmo tempo vi o confessor. Jesus mostrava-se um pouco desgostoso com ele, porque parecia que o confessor queria que todos aprovassem que o meu era obra de Deus, e quase queria convencer a outros sacerdotes a manifestar-lhes algumas coisas do meu interior. Jesus voltou
se para o confessor e disse-lhe:
(2) “Isto é impossível, até Eu tive adversários, e isto em pessoas das mais notáveis e também sacerdotes e outras dignidades, tiveram que dizer sobre minhas santas obras, até me tachar de endemoninhado. Estas oposições, mesmo por pessoas religiosas, Eu as permito para fazer com que a seu tempo possa brilhar mais a verdade. Que queiras ser aconselhado por dois ou três sacerdotes dos mais bons e santos e até doutos, para ter luz e até para fazer o que eu quero nas coisas que se devem fazer, como é o conselho dos bons e a oração, isto eu permito, mas o resto não, não, seria querer fazer um desperdício de minhas obras e pô-las em zombaria, o que muito me desgosta”.
(3) Depois me disse a mim: “O que quero de ti é um obrar recto e simples, que do pro e do contra das criaturas não te preocupes, deixa-as pensar como queiram, sem tomar-te o mais mínimo incômodo, pois o querer que todos sejam favoráveis é um querer desviar-se da imitação de minha Vida”.
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Junho 2, 1899
Acerca do conhecimento de nós mesmos.
(1) Esta manhã o meu dulcíssimo Jesus quis fazer-me tocar com as minhas próprias mãos o meu nada. No momento em que se fez ver, as primeiras palavras que me dirigiu foram: (2) “Quem sou eu, e quem és tu?”
(3) Nestas duas palavras vi duas luzes imensas: Numa compreendia a Deus, na outra via a minha miséria, o meu nada. Via-me não ser outra coisa que uma sombra, como aquele reflexo que faz o sol ao iluminar a terra, que depende do sol, e que passando a outros pontos o reflexo termina de existir. Assim minha sombra, isto é, meu ser, depende do místico Sol Deus, e que em um simples instante pode desfazer esta sombra. O que dizer além de como deformei esta sombra que o Senhor me deu, não sendo sequer minha? Dá horror pensar, malcheiroso, putrefacta, toda aguçada, e no entanto neste estado tão horrendo estava obrigada a estar diante de um Deus tão santo, oh, como teria estado contente se me fora dado esconder-me nos mais obscuros abismos!
(4) Depois disto Jesus me disse: “O maior favor que posso fazer a uma alma é fazer-se conhecer a si mesma. O conhecimento de si e o conhecimento de Deus andam de mãos dadas, pois quanto te conheceres a ti mesma outro tanto conhecerás a Deus. A alma que se conheceu a si mesma, vendo que por si mesma não pode fazer nada de bem, esta sombra do seu ser transforma-a em Deus e disto acontece que em Deus faz todas as suas operações. Acontece que a alma está em Deus e caminha junto a Ele, sem olhar, sem investigar, sem falar, em uma palavra, como morta, porque conhecendo a fundo seu nada não se atreve a fazer nada por si mesma, senão que cegamente segue as operações do Verbo”.
(5) Parece-me que a alma que se conhece a si mesma lhe acontece como a essas pessoas que vão em um transporte, que enquanto passam de um lugar a outro sem dar um passo por elas mesmas, fazem longas viagens, mas tudo isso em virtude do transporte que as leva. Assim a alma, entrando em Deus, como as pessoas no transporte, faz sublimes vôos no caminho da perfeição, mas conhecendo plenamente que não ela, senão em virtude daquele Deus bendito que a leva em Si mesmo. ¡ Oh! Como o Senhor favorece, enriquece, concede as maiores graças à alma que sabendo que não a si mesma, mas tudo a Ele atribui. ¡ Oh, alma que se conhece a si mesma, como é afortunada!
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Junho 3, 1899
Jesus derrama suas amarguras em Luisa.
(1) Esta manhã me encontrava num mar de aflição porque Jesus ainda não tinha vindo, sentia tanta pena, que me sentia arrancar o coração. Quando o confessor veio para chamar-me à obediência porque devia celebrar a santa missa, e Jesus sem fazer-se ver, nem sequer uma sombra como é seu costume, que quando não vem se faz ver uma mão ou um braço, especialmente quando é dia de receber a comunhão, Como esta manhã, Ele mesmo vem, purifica-me, prepara-me para o receber a Ele mesmo sacramentalmente. E dizia entre mim: “Esposo santo, Jesus amável, por que não vens tu mesmo preparar-me? Como poderei receber-te?” Enquanto isso, o tempo chegou, o confessor veio, e Jesus sem vir. Que pena dilacerante, quantas lágrimas amargas!
(2) O confessor disse-me: “Vê-lo-ás na comunhão e perguntar-lhe-ás por obediência o porque não vem e o que quer de ti”.
(3) Depois da comunhão vi o meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora. Transportou-me para fora de mim mesma e eu tinha-o nos braços, era como uma criança, todo aflito. Eu, rapidamente comecei a dizer-lhe: “Meu menino, único e só Bem meu, como é que não vens? Em que te ofendi? O que queres de mim que me faça chorar tanto?” Mas no ato de dizer isto, era tanta a pena, que com tudo e que o tinha entre meus braços continuava chorando. Mas mesmo antes de terminar de dizer a última palavra, Jesus, aproximando a sua boca da minha, derramou as suas amarguras, sem me responder uma só palavra. Quando acabava de verter eu começava de novo a dizer, mas Jesus, sem me prestar atenção, voltava a verter em mim. Depois disto, sem me responder nada do que eu queria me disse:
(4) “Faze-me derramar em ti, de outra maneira, assim como destruí com o granizo outros lugares, assim destruirei os vossos; por isso me faz verter e não pense em outra coisa”. (5) Assim, sem me dizer mais nada, acabou.
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Junho 5, 1899
Luisa reza com Jesus.
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(1) Continua ainda o estado de aniquilação, mas a tal ponto que não ousava dizer uma palavra ao meu amado Jesus. Mas esta manhã, Jesus, tendo compaixão do meu miserável estado, Ele mesmo quis aliviar-me, e eis que: Enquanto me fez ver e eu me sentia toda aniquilada e envergonhada diante dele, Jesus aproximou-se de mim, mas tão intimamente, que me parecia que Ele estava em mim e eu nele, e me disse:
(2) “Minha filha amada, que tens que estás tão aflita? Diz-me tudo, que te contentarei e remediarei tudo”.
(3) Mas como continuava a ver-me a mim mesma, como disse no dia anterior, então vendo-me tão mal, nem sequer ousei dizer-lhe nada, mas Jesus replicou: “Logo, logo, diga-me o que quer, não demore”.
(4) Vendo-me quase forçada e rompendo em abundante pranto lhe disse: “Jesus santo, como queres que não esteja afligida, depois de tantas graças não devia ser tão má, às vezes até as obras boas que busco fazer, nas mesmas orações, misturo tantos defeitos e imperfeições que eu mesma sinto horror. O que será de você que é tão perfeito e santo? E além disso, o escassíssimo sofrer em comparação com o de antes, sua grande demora em vir, tudo me diz claramente que meus pecados, minhas grandes ingratidões são a causa, e que Você, zangado comigo, me nega também o pão cotidiano que Você concede a todos geralmente, como é a cruz; assim que depois terminará com me abandonar de todo. Pode dar-se talvez maior aflição que esta?” Jesus, compadecendo-me toda, me apertou a seu coração e me disse:
(5) “Não temas, esta manhã faremos as coisas juntos, assim Eu suprirei as tuas”. (6) Então me pareceu que Jesus continha uma fonte de água e outra de sangue em seu peito, e nessas duas fontes tem submergido minha alma, primeiro na água e depois no sangue. Quem pode dizer como minha alma ficou purificada e embelezada? Depois nos pusemos a rezar juntos recitando três “Gloria Patri” e isto me disse que o fazia para suplir a minhas orações e adorações à Majestade de Deus. ¡ Oh, como era belo e comovedor rezar junto com Jesus! Depois disto Jesus me disse:
(7) “Não te aflija não sofrer, queres tu antecipar a hora designada por Mim? Meu agir não é apressado, mas tudo a seu tempo, cumpriremos cada coisa, mas a seu devido tempo”. (8) Depois, por um fato todo providencial, inesperadamente, tendo saído o viático da igreja para ir a outros enfermos, recebi também eu a comunhão. Quem pode dizer tudo o que aconteceu entre Jesus e eu, os beijos, as carícias que Jesus me fazia? É impossível poder dizer tudo. Parecia-me que depois da comunhão via a sagrada partícula, e agora via na partícula a boca de Jesus, agora os olhos, agora uma mão e depois fez-se ver todo Ele. Transportou-me para fora de mim mesma e agora encontrava-me na abóbada dos céus e agora encontrava-me
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sobre a terra, no meio dos homens, mas sempre junto com Jesus. Ele de vez em quando ia repetindo:
(9) “Oh, como és bela minha amada, se tu soubesses quanto te amo! E tu, quanto me amas?” (10) Ao ouvir-me dizer estas palavras, senti tal confusão que me sentia a morrer, mas com tudo isto tive a coragem de lhe dizer: “Meu Jesus, belo, sim, amo-te muito, e Tu, se verdadeiramente me amas tanto, diz-me também: Tu perdoas-me por todo o mal que fiz? E também concede-me o sofrer”.
(11) E Jesus: “Sim, perdoo-te e quero-te contentar com derramar em abundância as minhas amarguras em ti”.
(12) Assim Jesus derramou suas amarguras. Parecia-me que tinha uma fonte de amargura em seu coração, recebidas pelas ofensas dos homens, e a maior parte a derramava em mim. Depois Jesus me disse:
(13) “Diz-me que mais queres?”
(14) E eu: “Jesus santo, confio-te ao meu confessor, santifica-me e dá-lhe também a saúde do corpo, e além disso, é vontade tua que venha este sacerdote?”
(15) E Jesus: “Sim”.
(16) E eu: “Se fosse a tua vontade, fá-lo-ias bem”.
(17) E Ele: “Fique quieta, não queira investigar muito meus julgamentos”. (18) E nesse mesmo instante me fazia ver a melhora da saúde do corpo e a santidade da alma do confessor, e acrescentou:
(19) “Tu queres ser apressada, mas eu faço tudo a seu tempo”.
(20) Depois confiei-lhe as pessoas que me pertencem e pedi pelos pecadores dizendo a Jesus: “Oh, quanto desejo que o meu corpo se reduzisse em pequeníssimos pedaços, desde que os pecadores se convertessem!” E beijei a testa, os olhos, o rosto, a boca de Jesus, fazendo várias adorações e reparos pelas ofensas que lhe faziam os pecadores. ¡ Oh, como estava contente Jesus e eu também! Depois, fazendo-me prometer por Jesus que não voltaria a me deixar, voltei em mim mesma e assim terminou.
* * * * * *
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Junho 8, 1899
Jesus chupa-a e ela chupa o peito de Jesus.
(1) Meu adorável Jesus continua a fazer-se ver toda benignidade e doçura. Esta manhã, quando eu estava com Ele, ele me disse novamente: “Diga-me, o que você quer?” E eu
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imediatamente lhe disse: “Querido Jesus meu, o que na verdade gostaria é que todo mundo se convertesse”. (Que pedido tão disparatado) Mas ainda assim meu amante Jesus me disse: (2) “Te contentaria com tal que todos tivessem a boa vontade de salvar-se, porém para te fazer ver que de boa vontade consentiria a tudo o que disseste, vamos juntos em metade do mundo, e todos aqueles que encontrarmos com a boa vontade de salvar-se, por quanto maus sejam, Eu os darei”.
(3) Assim saímos no meio das pessoas para ver quem tinha a boa vontade de salvar-se, e com grande desgosto nosso encontramos um número tão escasso, que dá pena só pensar. E entre este escassíssimo número estava o meu confessor e a maior parte dos sacerdotes e parte das almas devotas, mas nem todos de Corato. Depois me fez ver as várias ofensas que recebia, eu lhe pedi que me fizesse partícipe de seus sofrimentos, e Jesus derramou de sua boca na minha as suas amarguras. Depois disto me disse:
(4) “Minha filha, sinto a boca muito amarga, anda, ah! te peço que a adoce”. (5) Eu lhe disse: “Com prazer te daria tudo, mas não tenho nada, me diga você mesmo que coisa poderia te dar”. E Ele me disse:
(6) “Faz-me chupar o leite dos teus seios, e assim poderás adoçar-me”.
(7) E no mesmo instante em que disse isso, ela enrolou-se nos meus braços e começou a chupar. Enquanto isso me veio um temor, que não fosse o menino Jesus, mas o demônio, por isso pus minha mão sobre sua testa e lhe fiz o sinal da cruz: “Per Signum Crucis”. E Jesus olhou para mim todo festivo, e no próprio ato de chupar sorria, e com aqueles olhos vivazes parecia que me dizia: “Não sou demônio, não sou demônio”.
(8) Depois quando parecia que se tinha saciado, pôs-se de pé em meus braços e me beijava toda. Agora, sentindo-me eu também a boca amarga pelas amarguras que tinha derramado em mim, sentia vir as vontades de chupar os seios de Jesus, mas não me atrevia, então Jesus me convidou a fazê-lo e assim tomei coragem e me pus a chupar, Oh, que doçura de paraíso vinha daquele peito santo! Mas quem pode dizê-la? Então me encontrei em mim mesma toda inundada de doçuras e de contentes.
(9) Agora explico que quando Jesus chupa de meus seios, o corpo não participa para nada, pois é quando me encontro fora de mim mesma, parece que a coisa acontece só entre a alma e Jesus, e Ele quando quer fazer isto, é sempre como criança. É tão certo que é só a alma e não o corpo, que quando acontece isto eu me encontro sempre, ou na abóbada do céu, ou bem girando por outros pontos da terra. Agora, como em algumas ocasiões disse que voltando em mim mesma sentia uma dor naquela parte em que o menino Jesus havia chupado, é porque ao chupar, às vezes parecia que o fazia um pouco forte, tanto que parecia que com aquelas
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chupadas queria puxar o coração de dentro do peito. Por isso sentia sensivelmente uma dor e a alma retornando em mim mesma o participava ao corpo.
(10) Isto acontece também nas outras coisas, como por exemplo quando o Senhor me transporta para fora de mim mesma e me torna partícipe da crucificação.Jesus mesmo me estende sobre a cruz, me atravessa as mãos e os pés com os cravos e sinto uma dor tal, que me sinto morrer, depois, encontrando-me em mim mesma, os sinto muito bem no corpo, tão é verdade que não posso mover os dedos, os braços, e assim dos demais sofrimentos dos quais o Senhor me faz partícipe, se tivesse que dizer tudo, me alongaria demasiado.
(11) Recordo também que enquanto Jesus fazia isto de chupar meus seios, neles punha a boca, mas do coração era de onde me sentia sair aquela coisa que chupava, tanto, que enquanto isso fazia, Às vezes sentia-me a arrancar o coração do peito e às vezes sentia vividamente dor, dizia-lhe: “Meu querido, és muito impertinente, fá-lo mais ficar, pois dói-me muito”. E Ele estava rindo.
(12) Assim também quando me encontro eu chupando a Jesus, é de seu coração que tiro esse leite, ou bem sangue, tanto que para mim, é o mesmo chupar de seu peito que se bebo de seu lado. Acrescento ainda outra coisa, que o Senhor de vez em quando se digna verter da boca um leite dulcíssimo, ou bem me faz beber de seu lado seu preciosíssimo sangue, e quando faz isto de querer chupar de mim, não chupa outra coisa que aquilo mesmo que Ele me deu, Porque eu não tenho nada para adoçar, senão muito para amargá-lo. Tão é verdade, que às vezes no mesmo momento que Ele chupava de mim, eu chupava dele e advertia claramente que o que saía de mim não era outra coisa senão o mesmo que Ele me dava, parece que me expliquei suficientemente por quanto pude.
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Junho 9, 1899
Jesus lhe faz ver as ofensas que recebe.
(1) Esta manhã passei-a muito angustiada pela vista das tantas ofensas que faziam os homens, especialmente por certas desonestidades horrendas. Quanta pena dava a Jesus a perda das almas, muito mais a de um menino recém-nascido que queriam matar sem administrar-lhe o santo batismo. Parece-me que este pecado pesa tanto na balança da justiça divina, que é dos que mais clamam vingança diante de Deus, porém muito freqüentemente se renovam estas
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cenas dolorosas. Meu dulcíssimo Jesus estava tão aflito que dava piedade. Vendo-o em tal estado não me atrevi a lhe dizer nada e Jesus só me disse:
(2) “Minha filha, une teus sofrimentos com os meus, tuas orações às minhas, assim, diante da majestade de Deus são mais aceitáveis e aparecem não como coisas tuas, senão como obras minhas”.
(3) Depois continuou a fazer-se ver outras vezes, mas sempre em silêncio. Seja sempre bendito o Senhor.
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Junho 11, 1899
Efeitos que receberão aqueles que se aproximarem de Luisa.
(1) Meu doce Jesus continua a fazer-se ver pouquíssimas vezes e quase sempre em silêncio. Minha mente me sentia toda confusa e cheia de medo de perder a mim só e único Bem e por tantas outras coisas que não é necessário dizer aqui. ¡ Oh Deus, que pena! Enquanto estava neste estado, assim que se fez ver, parecia que trazia uma luz, e desta luz saíam muitos balões de luz e Jesus me disse:
(2) “Tira todo temor de teu coração. Olha, eu trouxe este globo de luz para colocar entre você e eu e aqueles que se aproximam de você. Aos que se aproximarem de ti com coração reto e para fazer-te o bem, estes globitos de luz que saem penetrarão em suas mentes, descerão em seus corações e os encherão de alegria e de graças celestiais e compreenderão com clareza o que faço em ti; aqueles que vierem com outras intenções experimentarão o contrário, e por estes globitos de luz ficarão deslumbrados e confundidos.” Assim fiquei mais tranqüila. Seja tudo para glória de Deus.
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Junho 12, 1899
O próprio Jesus prepara-a para a comunhão.
(1) Esta manhã, tendo de receber a comunhão, estava a pedir ao bom Jesus que viesse ele mesmo preparar-me, antes que viesse o confessor para celebrar a Santa Missa. De outra forma como poderei recebê-la, sendo tão má e estando indisposta? Enquanto fazia isto, o meu doce Jesus agradou-se em vir, no mesmo momento em que o vi, parecia-me que não fazia outra
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coisa senão tirar-me com os seus olhares puríssimos e resplandecentes de luz. Quem pode dizer o que faziam em mim aqueles olhares penetrantes que não deixavam escapar nem sequer a sombra de um pequeno defeito? É impossível poder dizê-lo; aliás, teria querido deixar tudo isto em silêncio, porque as operações internas da graça dificilmente se sabem expor tal como são com a boca, parece antes que se desfiguram. Mas a senhora obediência não quer e quando é por ela, é preciso fechar os olhos e ceder sem dizer nada mais, de outra maneira, ai! por toda parte, porque sendo senhora, por si mesma se faz respeitar.
(2) Então continuo a dizer: “No primeiro olhar, pedi a Jesus que me purificasse, e assim me parecia que da minha alma se sacudisse tudo o que a ensombrava. No segundo olhar, pedi-lhe que me iluminasse, porque em que aproveita a uma pedra preciosa ser pura se não está resplandecente para atrair os olhares daqueles que a olham? Vão olhar para ela, sim, mas com olhos indiferentes.Tanto mais eu, que não só devia ser olhado, mas identificada com meu doce Jesus, tinha necessidade daquela luz, que não só me tornava a alma resplandecente, mas que me fazia entender a grande ação que estava por realizar, por isso não me bastava ser purificada, mas também iluminada. Então Jesus naquele olhar parecia que me penetrava, como a luz do sol penetra o cristal. Depois disto, vendo que Jesus continuava olhando para mim, lhe disse: “Amantíssimo Jesus, já que te deleitaste primeiro em purificar-me e depois em iluminar me, dígnate agora santificar-me, muito mais, que devendo receber-te a Ti, que és o Santo dos santos, não é justo que eu seja tão diversa de Ti”.
(3) Então Jesus, sempre benigno a esta miserável, inclinou-se para mim, tomou minha alma entre seus braços e parecia que com suas próprias mãos toda a retocada, quem pode dizer o que operavam em mim aqueles toques dessas mãos criadoras? Como minhas paixões ante aqueles toques se punham em seu posto, meus desejos, inclinações, afetos, batimentos e demais sentidos, santificados por aqueles toques divinos se mudavam em algo totalmente diferente e unidos entre eles, não mais discordantes como antes, formavam uma doce harmonia ao ouvido de meu amado Jesus; me parecia que fossem tantos raios de luz que feriam seu coração adorável, oh! como Jesus se recriava e que momentos felizes têm sido para mim. [ Ah! eu experimentava a paz dos santos, para mim era um paraíso de contentes e d
(4) Depois disto parecia que Jesus vestia a minha alma com a veste da fé, da esperança e da caridade, e no ato mesmo que me vestia, Jesus me sugeria o modo como me devia exercitar nestas três virtudes. Agora, enquanto eu estava fazendo isso, Jesus, enviando outro raio de luz me fez entender o meu nada, ah! parecia-me que fosse como um grão de areia no meio de um vasto mar, qual é Deus, e este pequeno grão ia-se perder naquele mar imenso, mas se perdia em Deus. Depois me transportou para fora de mim mesma, levando-me em seus braços e
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sugerindo vários atos de contrição de meus pecados; recordo somente que fui um abismo de iniqüidade. ¡ Senhor, quantas negras ingratidões tive para Ti!
(5) Enquanto fazia isto olhei para Jesus e tinha a coroa de espinhos na cabeça, estendi-lhe a mão e tirei-lha, dizendo: “Dá-me os espinhos, ó! Jesus, eu sou pecadora, a mim me convêm os espinhos, não a Ti que és o Justo, o Santo”. Assim Jesus mesmo a cravou sobre minha cabeça. Depois, não sei como, de longe, vi o confessor, em seguida pedi a Jesus que fosse preparar o confessor para poder recebê-lo na comunhão; então parecia que Jesus ia com ele. Depois de um pouco ele voltou e me disse:
(6) “Quero que seja o modo de tratar entre Eu e você e o confessor, e assim também quero dele, que te olhe e trate contigo como se fosse outro Eu, porque sendo sua vítima como fui Eu, não quero diferença alguma, e isto para fazer que tudo seja purificado e que em tudo resplandeça só meu amor”.
(7) Eu disse-lhe: “Senhor, isto parece impossível, que possa tratar com o confessor como faço Contigo, especialmente quando vejo a instabilidade”. E Jesus:
(8) “No entanto é assim, a verdadeira virtude, o verdadeiro amor, tudo faz desaparecer, tudo destrói e com uma maestria que encanta, em todo o seu agir não faz resplandecer outra coisa que só Deus e tudo olha em Deus”.
(9) Depois disto veio o confessor para chamar-me à obediência e assim celebrar a Santa Missa, e por isso terminou. Então ouvi a Santa Missa e recebi a comunhão. Quem pode dizer a intimidade que houve entre Jesus e eu? É impossível poder expressá-la, não tenho palavras para me fazer entender, por isso o deixo em silêncio.
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Junho 14, 1899
Expectação. Jesus quer castigar.
(1) Esta manhã o amantíssimo Jesus não vinha, e em meu íntimo ia pensando: Como é que não vem? O que há de novo? ” Ontem veio freqüentemente, e hoje já é tarde e não se faz ver ainda, que dor, quanta paciência se necessita com Jesus! Todo meu interior me parecia que se levantasse em armas, porque queriam a Jesus e me faziam uma guerra que me dava penas de morte. A vontade, como superior a tudo, buscava pôr paz com persuadir a meus sentidos, inclinações, desejos, afetos e a todo o resto de aquietar-se, porque Jesus devia vir. Assim, depois de um longo penar, Jesus veio trazendo uma taça na mão, cheia de sangue coagulado, putrefato e pestilento e me disse:
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(2) “Olha esta taça de sangue, derramarei-a sobre o mundo”.
(3) Enquanto assim dizia, veio a Mãe, a Virgem Santíssima, e junto com Ela meu confessor e pediam a Jesus que não o derramasse sobre o mundo, senão que me fizesse beber a mim, o confessor lhe disse: “Senhor, de que adianta tê-la como vítima se não quiser derramá-la sobre ela? Absolutamente quero que a faça sofrer e perdoe as pessoas”.
(4) A Mãe chorava e insistia diante de Jesus e do confessor para que não desistisse de rogar até que Jesus não se contentasse em aceitar a mudança. Jesus insistia em que a queria derramar sobre todo o mundo e parecia que se zangava. Eu me via toda confusa, não sabia dizer nada porque era tanto o horror que se sentia ao ver aquela taxa cheia de sangue tão espantosa, que dava estremecimento em toda a natureza; que seria o bebê-la? Mas eu estava resignada, porque se o Senhor me tivesse dado, tê-la-ia aceitado. Quem pode dizer, além disso, os castigos que se continham naquele sangue se o Senhor a derramara no mundo? A partir deste dia, parece que está a preparar uma tempestade de granizo que vai causar muitos danos, e parece que deve continuar nos próximos dias.
(5) Depois, Jesus parecia um pouco mais calmo, tanto que parecia que abraçava o confessor porque lhe tinha rogado naquele modo, mas sem chegar a nenhuma determinação se a deve derramar sobre as pessoas ou não. Assim terminou, deixando-me uma pena indescritível pelo que poderá acontecer.
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Junho 16, 1899
Obtém que Jesus perdoe em parte a sua cidade.
(1) Jesus continua fazendo-se ver que quer castigar. Eu lhe roguei que derramasse em mim suas amarguras para livrar a todos, e se isto não fosse possível, ao menos aqueles que me pertencem e a minha cidade. A esta intenção parecia que se unia também a intenção do confessor, assim parecia que Jesus, vencido pelas orações, derramou um pouco de sua boca, mas não aquela taça descrita antes. Este pouco que derramou, parecia que o fazia para livrar em algum modo a minha cidade, mas não de todo, e aqueles que me pertencem.
(2) Todavia esta manhã eu fui causa de fazer afligir a Jesus, pois como depois de haver derramado o tenho visto mais tranqüilo, sem pensar lhe disse: “Meu bom Jesus, peço-Te que me libertes do incômodo que dou ao confessor, de o fazer vir todos os dias, que te custa a Ti libertar-me, que Tu mesmo me ponhas nos sofrimentos e Tu mesmo me libertes? Certamente que não te custa nada e se queres tudo podes”. Enquanto lhe dizia isto, Jesus punha um rosto
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tão aflito, que essa aflição me sentia penetrar até o íntimo de meu coração e sem me dizer palavra desapareceu. como fiquei mortificada ao pensar especialmente que não viria mais, sabe-o só o Senhor, mas pouco depois voltou, mas com maior aflição, trazendo um rosto todo inchado e cheio de sangue, porque naquele momento lhe tinham feito aquelas ofensas, Jesus todo triste disse:
(3) . “Vês o que me fizeram, como dizes que não queres que castigue as criaturas? Os castigos são necessários para humilhá-las e não deixá-las orgulhar-se mais”.
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2-37
Junho 17, 1899
Contende com Jesus e convence-o a não dormir.
(1) Continua sempre o mesmo, mas especialmente esta manhã estive contendendo com meu amado Jesus; Ele que queria continuar mandando a saraiva como tem feito em dias passados, e eu que não queria; quando no melhor desta contenda, parecia que se preparava um temporal e dava ordens aos demônios que destruíssem com o flagelo do granizo vários lugares. Nesse momento via que de longe me chamava o confessor, dando-me a obediência de que fosse pôr em fuga os demônios para não deixá-los fazer nada. Enquanto saí para ir, Jesus veio ao meu encontro fazendo-me voltar atrás e eu lhe disse: “Senhor bendito, não posso, porque é a obediência que me ordenou e Tu sabes que eu e Tu devemos ceder ante esta virtude, sem poder nos opor”.
(2) Então Jesus: “Bem, eu o farei por ti”.
(3) E assim ordenou aos demônios que se fossem a lugares mais distantes e que por agora não tocassem as terras pertencentes a nossa cidade.
(4) Depois disse-me: “Vamos voltar”.
(5) Assim voltamos, eu para a cama e Jesus junto a mim. Assim que chegamos, Jesus queria descansar, dizendo que estava muito cansado, eu o parei, dizendo: “Quem sabe o que é este sonho que queres fazer? E além disso, que bonita obediência me fez fazer, porque quer dormir. Isto é o quanto me ama e que quer me contentar em tudo? Quer dormir? durma pois, basta que me dê sua palavra que não fará nada”. Então, desagradando-se por meu descontentamento me disse:
(6) “Minha filha, no entanto, gostaria de te contentar, façamos assim: Vamos sair juntos de novo entre o povo, e aqueles que vemos que é necessário punir por suas tantas ações infames, e
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que possivelmente ao menos sob o flagelo se arrependerão, O que você quiser deles e aqueles que são menos necessários para punir e que você não quer que os castigue, Eu os libertarei”. (7) E eu: “Senhor, agradeço-te pela tua bondade ao querer contentar-me, mas com tudo e isto não posso fazer o que me dizes, não sinto a força de pôr a minha vontade para castigar a nenhuma das tuas criaturas, e além disso, que tormento será para o meu pobre coração quando ouvir que tal pessoa ou aquela outra foi castigada e que eu pus a minha vontade Jamais seja, jamais seja, ó Senhor!”
(8) Depois veio o confessor para me chamar em mim mesma e assim terminou.
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2-38
Junho 19, 1899
Quem se faz desaparecer a si mesmo, jamais comete pecados.
(1) Tendo passado ontem uma jornada de purgatório pela privação quase total de meu sumo Bem, e pelas tantas tentações que me punha o demônio, me parecia que cometia muitos pecados. ¡ Oh Deus, que pena ofender a Deus!
(2) Esta manhã, assim que vi Jesus, rapidamente lhe disse: “Jesus bom, perdoa-me os tantos pecados que fiz ontem”. E queria dizer-lhe o mal que sentia que tinha feito. Ele, interrompendo me, disse-me:
(3) “Se te fizeres desaparecer a ti mesma, não cometerás pecados jamais”. (4) Eu queria continuar falando, mas Jesus me fazendo ver muitas almas devotas e mostrando que não queria ouvir o que queria dizer, continuou dizendo:
(5) “O que mais me desagrada nestas almas é a instabilidade em fazer o bem, basta uma pequena coisa, um desgosto, mesmo um defeito, enquanto é então o tempo mais necessário para estreitar-se a Mim, estas em troca, irritam-se, incomodam-se e deixam a metade o bem começado. Quantas vezes eu preparei obrigado para dar-lhes, mas vendo-os tão instáveis, fui obrigado a retê-los”.
(6) Depois, sabendo que não queria saber nada do que queria lhe dizer e vendo que meu confessor estava um pouco mal no corpo, orei longamente por ele, e fazia a Jesus várias perguntas que não é necessário dizer aqui. E Jesus, benignamente, respondeu-me a tudo e assim terminou.
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Junho 20, 1899
Como tudo está no amor.
(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, parece que Jesus quis aliviar-me um pouco, depois de que por algum tempo fui em busca Dele. De longe vi um menino, e como um raio que cai do céu vim, assim que cheguei o tomei em meus braços e me veio uma dúvida de que não fora Jesus lhe disse:
(2) “Meu querido Teseu, me diga, quem é você?”
(3) E Ele: “Eu sou teu querido e amado Jesus”.
(4) E eu a Ele: “Meu menino formoso, peço-te que tomes meu coração e o leves Contigo ao Paraíso, pois junto com o coração irá minha alma”.
(5) Parecia que Jesus tomou meu coração e o uniu de tal maneira ao seu, que se tornavam um só. Depois abriu-se o Céu, parecendo que se preparava para uma festa grandíssima, no mesmo momento desceu do Céu um jovem de formoso aspecto, todo cintilante de fogo e chamas. Jesus disse para mim:
(6) “Amanhã é a festa do meu querido Luís, devo assistir”.
(7) E eu: “Então deixa-me sozinha, como farei?”
(8) E Ele: “Também tu virás, olha como é belo Luís, mas o que foi mais nele, que o distinguiu na terra, era o amor com que operava, tudo era amor nele, o amor ocupava-lhe o interior, o amor circundava-o no exterior, assim que também o respiro se podia dizer que era amor, por isso dele se diz que não sofreu jamais distração, porque o amor o inundava por todas as partes e por este amor será inundado eternamente, como tu vês”.
(9) E assim parecia que era tão grande o amor de São Luís, que podia incinerar todo o mundo. Depois Jesus acrescentou:
(10) “Eu passeio sobre os montes mais altos e neles formo minha delícia”. (11) Eu não entendi o significado, e ele continuou dizendo:
(12) “Os montes mais altos são os santos que mais me amaram, e Eu faço deles minha delícia quando estão sobre a terra e quando passam ao Céu, assim que o tudo está no amor”. (13) Depois disto pedi a Jesus que me abençoasse e àqueles que naquele momento via, e Ele dando a bênção desapareceu.
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Junho 21, 1899
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Medos. Jesus promete nunca deixá-la.
(1) Como Jesus não vinha, estava pensando entre mim: “Quem sabe, talvez Jesus não venha mais e me deixe abandonada”. E não dizia outra coisa que: “Vem meu amado, vem!” De improviso veio e me disse:
(2) “Não te deixarei, jamais te abandonarei, também tu, vem, vem a Mim”. (3) Eu logo corri para me colocar em seus braços, e enquanto estava assim Jesus voltou a dizer:
(4) “Não só não te deixarei a ti, senão que por amor teu não deixarei Corato”. (5) Depois, quase sem me dar conta, num instante desapareceu e eu fiquei desejando-o mais que antes e ia dizendo: “O que me fizeste? Quando é que te foste embora sem sequer me dizeres adeus?”
(6) Enquanto desafogava minha dor, a imagem do Menino Jesus que tenho perto de mim, parecia que se fazia viva e de vez em quando tirava a cabeça da coberta de cristal para ver que coisa fazia eu, quando via que me dava conta, logo se metia. Eu disse-lhe: “Vê-se que és demasiado impertinente e que queres portar-te como menino, eu sinto-me enlouquecer pela pena de que não vens e Tu te pões a jogar, bom pois, joga e brinca também, que eu terei paciência”.
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Junho 22, 1899
Jesus brinca e brinca com ele.
(1) Esta manhã meu doce Jesus queria continuar se divertindo e querendo brincar, vinha, punha suas mãos na minha cara como se quisesse me fazer uma carícia, mas no momento de fazê-la desaparecia, de novo vinha, estendia seus braços para meu pescoço em ato de querer me abraçar, mas enquanto estendia os meus para abraçá-lo, fugia como um relâmpago, sem poder encontrá-lo, quem pode dizer as penas de meu coração? Enquanto meu pobre coração nadava neste mar de dor imenso, até me sentir desfalecer, veio a Mamãe Rainha trazendo-o como menino entre seus braços e assim nos abraçamos os três juntos, a Mãe, o Filho e eu, então tive tempo de dizer-lhe: “Meu Senhor Jesus, parece-me que retiraste de mim a tua graça”.
(2) E Ele: “Tola, tola que és! Como dizes que te retirei a minha graça enquanto estou em ti? E que coisa é a minha graça senão Eu mesmo?”.
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(3) Fiquei mais confusa do que antes, vendo que não sabia falar e que naquelas duas palavras que tinha dito, não tinha dito outra coisa que não fosse disparates. Depois a Rainha Mãe desapareceu e Jesus parecia que se fechava dentro de mim e ali ficava.
(4) Hoje, depois da meditação, se fazia ver que dormia dentro de mim, eu o estava olhando, deleitando-me em seu belo rosto, mas sem despertá-lo, contente de vê-lo ao menos, quando em um instante veio de novo a bela Mamãe Rainha, o tomou de dentro de meu coração, movendo tudo rapidamente para despertá-lo; depois de despertá-lo colocou-o de novo em meus braços dizendo-me:
(5) “Minha filha, não o deixe dormir, porque se dorme vais ver o que acontecerá”. (6) Era um temporal que se preparava. Assim o menino, meio dormindo, pôs suas mãozinhas em meu pescoço e apertando-me disse:
(7) “Mamãe minha, mamãe minha, deixa-me dormir”.
(8) E eu: Menino, meu menino bonito, não sou eu quem não quer deixar-te dormir, é nossa Senhora Mãe que não quer, e eu te peço que a contentes, certamente que nada se nega à Mãe, e sobretudo a essa Mãe.
(9) Depois de tê-lo mantido acordado por alguns momentos desapareceu e assim terminou.
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Junho 23, 1899
Vá ao confessor com Jesus e peça por ele.
(1) Tendo ouvido a Santa Missa e recebido a comunhão, o meu amado Jesus fazia-se ver de dentro do meu coração, depois senti-me a sair de mim mesma, mas sem Jesus. Vi o meu confessor, e como ele me tinha dito que depois da comunhão viria Nosso Senhor, e que lhe pedisse por ele, então assim que o vi disse-lhe: “Pai, o senhor disse-me que Jesus devia vir e não veio”. E Ele me disse:
(2) “Porque não o sabes encontrar, por isso dizes que não veio, olha bem, pois está em teu interior”.
(3) Olhei em mim e vi os pés de Jesus que saíam de meu interior, logo os tomei com a mão e tirei a Jesus, abracei-o e vendo-o com a coroa de espinhos na cabeça a tirei e a dei na mão ao confessor dizendo-lhe que a cravasse em minha cabeça e assim o fez, mas o que, por quanto força fazia não conseguia fazer penetrar nem uma só coluna; eu lhe disse: “Mais forte, não tema que eu vá sofrer muito, porque como você vê está Jesus que me dá a força”. Mas por
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mais que eu tentasse, tudo era inútil, então me disse: “Não está em minhas forças o poder fazer isto, porque sendo osso o que devem penetrar estes espinhos, eu não os tenho”. (4) Então dirigi-me ao meu doce Jesus dizendo: “Tu vês que o pai não sabe pô-la, introduz-a um pouco Tu mesmo”. E Jesus estendeu as suas mãos e, num instante, fez penetrar na minha cabeça todos aqueles espinhos, com indizível dor e contentamento.
(5) Depois disto, juntamente com o confessor, pedimos a Jesus que derramasse em mim a sua amargura, para livrar as nações de tantos flagelos que lhes estão ordenados, como hoje, que estava preparada uma saraivada um pouco longe de nós, então o Senhor, para condescender com as nossas orações, derramou um pouco.
(6) Além disso, como eu continuava a ver o confessor, comecei a implorar a Jesus por ele, dizendo: “Meu bom e amado Jesus, peço-te que concedas a graça ao meu confessor, de fazer tudo teu, segundo o teu coração, e ao mesmo tempo dá-lhe a saúde corporal. Tu viste como ele cooperou comigo para te aliviar, tanto a cabeça dos espinhos, como para te fazer derramar as tuas amarguras, e se não conseguiu cravar-me os espinhos na cabeça, não foi para não te aliviar, nem por sua vontade, mas porque não tinha força; por isso, também por isto deves me escutar; assim que me diz, ó meu só e único Bem, o farás bem tanto na alma como no corpo?”
(7) Mas Jesus me ouvia e não me respondia, e eu mais me esforçava em rogar-lhe dizendo: “Esta manhã não te deixarei nem deixarei de rogar se não me der sua palavra de que me ouvirá favoravelmente no que te peço para ele”.
(8) Mas Jesus não dizia uma palavra. De repente nos encontramos rodeados de pessoas, estas pareciam que se sentavam ao redor de uma mesa, comendo, e nela também estava minha porção, e Jesus me disse:
(9) “Minha filha, tenho fome”.
(10) E eu: “Dou-te a minha parte, não estás contente?”
(11) E Jesus: “Sim, mas não quero que vejam que estou aqui”.
(12) E eu: “Está bem, farei ver que a tomo para mim, e sem que se dêem conta te o darei”. E assim o fizemos.
(13) Logo depois, Jesus, levantando-se e pondo os seus lábios à minha frente, começou a fazer um ruído com a sua boca, como um som de trombeta, todas aquelas nações empalideciam e tremiam, dizendo entre elas: “O que acontece, o que acontece? Ah Agora nós vamos morrer!”
(14) Eu disse-lhe: “Meu Senhor Jesus, que fazes? Como, até agora não queria ser visto e logo se põe a fazer ruído, fique quieto, fique quieto, não faça que as pessoas tenham medo, não vê como todos se assustam?”
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(15) E Jesus: “Agora é nada, o que será quando de repente fizer soar mais forte? Será tal o temor do que serão presas, que muitos e muitos deixarão a vida”.
(16) E eu: “Meu Jesus adorável, que dizes? Sempre nisso, que queres fazer justiça, mas não, misericórdia, misericórdia, peço-te para o teu povo”.
(17) Depois, tomando seu aspecto doce e benigno, e voltando a ver o confessor, comecei de novo a importuná-lo e Jesus me disse:
(18) “Farei com seu confessor como com aquela árvore enxertada, que não se reconhece mais a árvore velha, tanto na alma como no corpo, e em penhor disto te dei em suas mãos como vítima, para que se sirva disso”.
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Junho 25, 1899
Continua no mesmo e Jesus fala da Fé.
(1) Esta manhã Jesus continua a fazer-se ver de vez em quando, participando-me um pouco de seus sofrimentos e às vezes via o confessor com Ele, e como ele me havia dito que rezasse por certas necessidades suas, Vendo-o juntamente com Nosso Senhor, comecei a rezar a Jesus para que lhe concedesse o que Ele queria. Enquanto eu lhe rogava, Jesus, toda bondade se dirigiu ao confessor e lhe disse:
(2) “Quero que a fé te inunde por toda parte, como aquelas barcas que são inundadas pelas águas do mar, e como a fé sou Eu mesmo, sendo inundado por Mim, que tudo possuo, posso e dou livremente a quem em Mim confia, sem que tu penses no que virá, e ao quando e o como e o que farás, Eu mesmo, segundo as tuas necessidades me prestarei a socorrer-te”.
(3) Depois ele adicionou: “Se te exercitares nesta fé, quase nadando nela, em recompensa te infundirei no coração três alegrias espirituais: O primeiro, que penetrarás as coisas de Deus com clareza e ao fazer coisas santas te sentirás inundado por uma alegria, por um gozo tal, que te sentirás como empapado, e esta é a unção da minha graça.
(4) O segundo é um aborrecimento das coisas terrenas e sentirás em teu coração alegria pelas coisas celestiais.
(5) O terceiro é um desapego total de tudo, e onde antes sentia inclinação, sentirá um incômodo, como há tempos o estou infundindo em seu coração, e você já o está experimentando. E por isso teu coração será inundado pela alegria que gozam as almas totalmente desapegadas, que têm seu coração tão inundado de meu amor, que das coisas que as rodeiam externamente não recebem nenhuma impressão”.
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Julho 4, 1899
Jesus fala da Mãe Celestial. As perturbações.
(1) Esta manhã, tendo-me renovado Jesus as penas da crucificação, encontrava-se também nossa Mãe Rainha, e Jesus falando dela disse:
(2) “Meu próprio reino esteve no coração de minha Mãe, e isto porque seu coração não foi jamais nem minimamente perturbado, tanto, que no mar imenso da Paixão sofreu penas imensas, seu coração foi traspassado de lado a lado pela espada da dor, Mas não recebeu nem um sopro de perturbação. Por isso, sendo meu reino um reino de paz, pude estender nela meu reino, e sem encontrar nenhum obstáculo pude livremente reinar”.
(3) Tendo vindo Jesus mais vezes e vendo-me toda cheia de pecados, disse-lhe: “Senhor meu Jesus, sinto-me toda coberta de chagas e pecados graves; ah, peço-te, tem piedade desta miserável”.
(4) E Jesus: “Não temas, que não há culpas graves, e além disso, deve-se ter horror da culpa, mas não se perturbar, porque a agitação, de onde quer que venha, jamais faz bem à alma”. (5) Depois acrescentou: “Minha filha, tu és vítima como eu, faz que todas as tuas obras resplandeçam com as minhas mesmas intenções, puras e santas, a fim de que encontrando em ti a minha imagem possa livremente derramar o influxo das minhas graças, e adornada assim poderei oferecer-te como vítima perfumada ante a divina justiça”.
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Julho 9, 1899
Jesus participa a Luisa suas penas.
(1) Esta manhã Jesus quis renovar-me as penas da crucificação, primeiro me transportou para fora de mim mesma, sobre um monte e me perguntou se queria ser crucificada, eu lhe disse: “Sim, meu Jesus, não desejo outra coisa que a cruz”. Enquanto dizia isto, surgiu uma cruz grandíssima, que me estendeu sobre ela e me cravou com as próprias mãos. Que penas atrozes sofria ao me sentir trespassar as mãos e os pés por aqueles pregos, que por acréscimo estavam despovoados, e para fazê-los penetrar custava trabalho e sofria muito, mas com Jesus tudo era tolerável. Depois de acabar de me crucificar, disse-me:
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(2) “Minha filha, sirvo-me de ti para poder continuar a minha Paixão. Como meu corpo glorificado não é capaz de sofrer mais, vindo a ti me sirvo de teu corpo como me servi do meu no curso de minha Vida mortal, para poder continuar sofrendo minha Paixão e assim poder te oferecer ante a divina justiça como vítima vivente de reparação e propiciação”.
(3) Depois disto parecia que se abrisse o Céu e descia uma multidão de santos, todos armados com espadas, uma voz como de trovão saiu daquela multidão, e dizia: “Viemos defender a justiça de Deus e punir os homens que tanto abusaram de sua misericórdia”. Quem pode dizer o que acontecia sobre a terra nesta descida dos santos? Só sei dizer, que quem guerreava em um ponto e quem em outro, quem fugia, quem se escondia, parecia que todos estavam consternados.
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Julho 14, 1899
Jesus não pode deixar quem o ama.
(1) Meu adorável Jesus continua estes dias fazendo-se ver pouquíssimas vezes, sua visita é como um raio, que enquanto se quer seguir vendo-o foge, e se alguma vez se detém um pouco é quase sempre em silêncio, outras vezes diz alguma coisa, mas assim que se vai me parece que se leva essa palavra junto com a luz que me vem de sua palavra, tanto que depois não recordo nada do que disse, e minha mente fica na mesma confusão de antes. ¡ Que estado miserável! Meu amado Jesus, tenha piedade desta miserável, continue fazendo uso de sua misericórdia. Agora, para não me alongar e dizer dia por dia o que passei, direi aqui tudo junto, algumas palavras que me disse nestes últimos dias.
(2) Lembro-me que depois de ter derramado lágrimas amargíssimas, Jesus, fazendo-se ver e eu me lamentando com Ele porque me tinha deixado, chamou muitos anjos e santos e dirigindo-se a eles disse: “Ouçam o que diz, que eu a deixei, digam-lhe, posso eu deixar aqueles que me amam? Ela me amou, como posso deixá-la?” E os santos concordaram com o Senhor e eu fiquei mais humilhada e confusa do que antes.
(3) Noutra ocasião, dizendo-lhe que: “No final acabarás por me deixar de todo”. Jesus disse me:
(4) “Filha, não posso deixar-te, e como penhor disto pus em ti os meus sofrimentos”. (5) Depois, encontrando-me ocupada com o pensamento: “Como permitiste Senhor que viesse o sacerdote, tudo poderia ter acontecido entre Tu e eu”. Em um instante me encontrei fora de
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mim mesma, estendida sobre uma cruz, mas não havia ninguém que pudesse me pregar, eu comecei a pedir ao Senhor que viesse a crucificar-me e Jesus veio e me disse: (6) “Veja como é necessário que o sacerdote esteja no meio de minhas obras, e isto é ajuda também para cumprir a crucificação; é certo que se não há ninguém, por ti só não podes crucificar-te, sempre se necessita da ajuda dos demais”.
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Julho 18, 1899
(1) Continua quase sempre o mesmo. Desta vez me parecia que em meu coração estivesse Jesus Sacramentado, e desde a hóstia santa espargia tantos raios de luz em meu interior, e a meu coração saíam tantos fios de luz, que se entrelaçavam todos esses raios de luz, parecia me que Jesus com seu amor atraía todo meu coração, e meu coração com aqueles fios atraía e amarrava Jesus a estar comigo.
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Julho 22, 1899
Como a cruz torna a alma transparente.
(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver com uma cruz de ouro pendurada ao pescoço, toda resplandecente, e que ao olhá-la se comprazia imensamente. De repente, encontrou-se presente o confessor e Jesus disse-lhe: “Os sofrimentos dos dias passados aumentaram tanto o resplendor da cruz que, olhando para ela, sinto-me muito feliz”.
(2) Depois se dirigiu a mim e me disse: “A cruz comunica tal resplendor à alma, de torná-la transparente e assim como quando um objeto é transparente lhe podem dar todas as cores que se queira, assim a cruz, com sua luz dá todas as linhas e formas mais belas que jamais se possam imaginar, não só pelos outros, mas também pela própria alma que os experimenta. Além disso, em um objeto transparente logo se descobre o pó, as pequenas manchas e até qualquer escurecimento; assim é a cruz, como faz transparecer à alma, logo descobre os pequenos defeitos, as mínimas imperfeições, tanto que não há mão mestra mais hábil que a cruz, para ter a alma preparada para torná-la digna habitação do Deus do Céu”.
(3) Quem pode dizer o que compreendi da cruz e quão invejável é a alma que a possui?
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(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei sobre uma escada altíssima, sob a qual havia um precipício e por acréscimo os degraus desta escada eram móveis e tão estreitos que mal se podia apoiar a ponta dos pés; o que mais dava terror era o precipício e o não poder encontrar apoio de nenhum tipo, e querendo agarrar-se dos degraus, estes se caíam junto; ver que quase todas as outras pessoas caíam infundia calafrio nos ossos; Mas não se podia evitar passar por aquela escada. Então o tentei, mas assim que subi dois ou três degraus, vendo o grande perigo que corria de cair no abismo, comecei a chamar a Jesus para que viesse em minha ajuda, então, sem saber como, encontrei a Jesus junto a mim e me disse:
(5) “Minha filha, isto que tu viste é o caminho que percorrem todos os homens nesta terra; os degraus móveis, sobre os quais não podem apoiar-se para ter um sustento, são os apoios humanos, as coisas terrenas, que se querem apoiar sobre elas, em vez de lhes dar uma ajuda dão-lhes um empurrão para precipitarem-se mais cedo no inferno. O meio mais seguro é o caminhar quase voando, sem se apoiar sobre a terra, à força dos próprios braços, com os olhos em si mesmos, sem olhar aos demais e também tendo-os todos atentos a Mim para ter ajuda e força, assim se poderá facilmente evitar o precipício”.
* * * * * *
2-49
Julho 28, 1899
A vida humana é um jogo. Jesus também joga.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio com um aspecto admirável e misterioso, trazia no pescoço uma corrente que pendia sobre todo o peito, por um lado se via como um arco, por outro lado da cadeia como uma aljava cheia de pedras preciosas e de gemas, que era um dos mais belos adornos ao peito de meu doce Jesus e com uma lança na mão. Enquanto eu estava neste aspecto disse-me:
(2) “A vida humana é um jogo: quem joga o prazer, quem o dinheiro e quem a própria vida, e tantos outros jogos que fazem. Também Eu me deleito de jogar com as almas, mas quais são estes jogos que faço? São as cruzes que envio, se as recebem com resignação e me agradecem, Eu me recreio e jogo com elas, agradando-me imensamente, recebendo por isso grande honra e glória e a elas faço grandes aquisições”.
(3) No ato de dizer isto começou a me tocar com a lança, com o arco, e com a aljava, e todas aquelas pedras preciosas que continha a aljava saíam e se trocavam em tantas cruzes e flechas que feriam as criaturas. Algumas, mas em número muito escasso, alegravam-se,
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beijavam-nas e agradeciam-lhe, e vinham fazer um jogo com Jesus; outras tomavam-nas e atiravam-nas na cara de Jesus, ó como ficava aflito e que grande perda tinham essas almas! Depois Jesus adicionou:
(4) “Esta é a sede que gritei na cruz, porque não podendo satisfazê-la completamente então, me alegro em apagá-la nas almas de meus amados que sofrem. Portanto, sofrendo, vens dar um alívio à minha sede”.
(5) Voltando outras vezes a rogar-lhe que liberasse o confessor porque sofria, disse-me: (6) “Minha filha, não sabes tu que a marca mais nobre que posso imprimir nos meus amados filhos é a cruz?”
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Julho 30, 1899
Sobre a caridade e sobre a estima da palavra de Jesus.
(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, transportando-me Jesus segundo seu costume fora de mim mesma, passamos no meio de muitas pessoas, e a maior parte delas estavam atentas a julgar as ações dos demais, sem olhar as próprias, e meu amado Jesus me disse:
(2) “O meio mais seguro para ser reto com o próximo é não olhar em absoluto o que fazem, porque olhar, pensar e julgar é o mesmo, além disso, olhando ao próximo vem defraudar a própria alma, pelo que acontece que não se é reto nem consigo mesmo, nem com o próximo, nem com Deus”.
(3) Depois disto lhe disse: “Meu único Bem, já faz tempo que não me dá nem sequer um beijo”. E assim nos beijamos. E querendo me corrigir quase adicionou:
(4) “Minha filha, o que te recomendo é conservar e estimar minhas palavras, porque minha palavra é eterna e santa como Eu mesmo, e conservá-la em teu coração e aproveitá-la, terás tua santificação e por isso receberás em recompensa um esplendor eterno, produzido por minha palavra; fazendo de outra maneira a tua alma receberá um vazio e ficarás devedora de Mim”.
* * * * * *
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Julho 31, 1899
(sem título)
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(1) Jesus veio esta manhã, mas sempre em silêncio, eu estava contentíssima por ter a meu tesouro Jesus, porque tendo-o a Ele tinha todos meus contentes, ao vê-lo compreendia muitas coisas de sua beleza, de sua bondade e demais, mas como era tudo por meio da inteligência e por via de comunicação intelectual, por isso a boca não sabe expressar nada, por isso melhor faço silêncio.
* * * * * *
2-52
Agosto 1, 1899
Silêncio e pranto de Jesus pelas criaturas. Fala sobre a pureza.
(1) Esta manhã, meu gentil Jesus, transportando-me para fora de mim mesma, fazia-me ver a corrupção na qual caiu o gênero humano. ¡ Dá horror pensar! Enquanto me encontrava no meio destas pessoas, Jesus dizia quase chorando:
(2) “Ó homem, como te desfiguraste, deformado, desnobrecido! Fiz-te para seres o meu templo vivo, e tu, por outro lado, tornaste-te o quarto do demônio! ; até as plantas, estando cobertas de folhas, de flores e de frutos, te ensinam a honestidade, o pudor que deves ter do teu corpo, e tu, tendo perdido todo o pudor e também a vergonha natural que deverias ter, te tornaste pior do que os animais, Tanto que não tenho mais ninguém para te comparar. Tu eras a minha imagem, mas agora já não te reconheces mais, antes me dás tanto horror por tuas impurezas, que me dá náuseas ver-te, e tu mesmo me obrigas a fugir de ti”.
(3) Enquanto Jesus assim dizia, eu me sentia dilacerado pela dor ao ver tão amargado meu amado Jesus, por isso lhe disse: “Senhor, tem razão de que não encontra mais nada de bem no homem e que chegou a tal cegueira, que não sabe nem sequer respeitar as leis da natureza, então se quiser ver o homem, não fará outra coisa que mandar castigos, por isso te peço que vejas tua misericórdia e assim será remediado tudo”. Enquanto assim dizia, Jesus me disse:
(4) “Filha, dá-me tu um alívio às minhas dores”.
(5) Ao dizer isto, tirou-se a coroa de espinhos que parecia encarnada em sua adorável cabeça e a cravou na minha, eu sentia uma dor fortíssima, mas estava contente de que Jesus se reconfortasse. Depois disto me disse:
(6) “Filha, Eu amo grandemente as almas puras, e assim como das impuras sou obrigado a fugir, das puras em troca como por um ímã sou atraído a fazer morada nelas. Às almas puras com prazer lhes empresto minha boca para fazê-las falar com minha mesma língua, assim que não se cansam para converter às almas; em ditas almas Eu me agrado não só de continuar
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nelas minha Paixão, e assim continuar ainda a Redenção, mas o que é mais, me alegro sumamente de glorificar nelas minhas mesmas virtudes”.
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2-53
Agosto 2, 1899
Ameaças de castigos. Fala sobre a correspondência.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus se fazia ver todo aflito e quase zangado com os homens, ameaçando com os habituais castigos e de fazer morrer gente de improviso sob raios, granizadas e fogo, eu lhe pedi muito que se acalmasse e Jesus me disse: (2) “São tantas as iniqüidades que se elevam da terra ao Céu, que se faltasse por um quarto de hora a oração e almas que fossem vítimas diante de Mim, Eu faria sair fogo da terra e com ele inundaria as nações”.
(3) Depois acrescentou: “Olha quantas graças devia verter sobre as criaturas, mas como não encontro correspondência estou obrigado a retê-las em Mim, é mais, me fazem trocá-las em castigos. Preste atenção, minha filha, a me corresponder às tantas graças que estou derramando em você, porque a correspondência é a porta aberta para me deixar entrar no coração e ali formar meu quarto. A correspondência é como aquela boa acolhida, aquela estima que se dá às pessoas quando vêm fazer uma visita, de modo que atraídas por esse respeito, por essas maneiras afáveis que se usam com elas, estão obrigadas a vir outras vezes e chegam a não saber se separar. O todo está em me corresponder, e a medida que as criaturas me correspondem e me tratam na terra, assim Eu me comportarei com elas no Céu, fazendo lhes encontrar as portas abertas, convidarei a toda a corte celestial a acolhê-los e os colocarei no mais sublime trono, mas será o contrário para quem não me corresponde”.
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2-54
Agosto 7, 1899
Sobre nada de nós mesmos.
(1) Esta manhã meu amável Jesus não vinha, e depois de tanto esperar e esperar, finalmente veio; era tanta minha confusão e minha aniquilação, que não sabia lhe dizer nada e Jesus me disse:
(2) “Quanto mais te aniquiles e conheceres o teu nada, tanto mais a minha humanidade, enviando raios de luz, te comunicará as minhas virtudes”.
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(3) Eu lhe disse: “Senhor, sou tão má e feia que me horrorizo a mim mesma, o que será diante de Ti?”
(4) E Jesus: “Se tu és feia, sou Eu quem te pode tornar bela”.
(5) E no mesmo momento de dizer isto enviou uma luz Dele para a minha alma, e parecia que lhe comunicava a sua beleza, e depois, abraçando-me começou a dizer:
(6) “Como és bela, mas bela da minha beleza, por isso sou atraído a amar-te”. (7) Quem pode dizer como fiquei confusa? Mas tudo seja para sua glória.
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2-55
Agosto 8, 1899
A alma resignada está sempre em repouso.
(1) Continua a fazer-se parecer apenas e quase zangado com os homens e por mais que lhe tenha pedido que derramasse em mim suas amarguras, foi impossível e sem prestar-me atenção ao que lhe dizia, disse-me:
(2) “A resignação absorve tudo o que pode ser de dor ou de desgosto à natureza e o converte em doce; e sendo meu Ser pacífico, tranquilo, de modo que qualquer coisa que possa acontecer no Céu e na terra não pode receber nem sequer o menor alento de perturbação, então a resignação tem a virtude de enxertar na alma estas mesmas virtudes minhas. A alma resignada está sempre em repouso, não só ela, mas faz-me repousar tranquilamente também a Mim nela.”
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2-56
Agosto 10, 1899
Fala da justiça e como Jesus fica ferido pela simplicidade.
(1) Esta manhã veio o meu doce Jesus, que me transportou para fora de mim mesma, e desapareceu, e, havendo-me deixado só, vi que do céu desciam como dois candelabros de fogo e depois, dividindo-se em muitos pedaços, se formavam muitos raios e granizadas que desciam à terra e faziam uma grandíssima destruição em plantas e homens. Era tanto o horror e a fúria do temporal, que nem sequer se podia rezar e as pessoas não podiam chegar a suas casas. Quem pode dizer como fiquei assustada? Então comecei a rezar para aplacar o Senhor, e Ele retornando, vi que trazia na mão como uma vara de ferro e na ponta uma bola de fogo e me disse:
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(2) “Minha justiça foi longamente retida e com razão quer tomar vingança contra as criaturas, pois ousaram destruir nelas toda justiça. ¡ Ah, sim, nada de encontro justo no homem! ; tudo foi desfigurado, nas palavras, nas obras e nos passos, tudo é engano, tudo é fraude, tudo é injusto, assim penetrando no coração, interno e externo, não é outra coisa que uma adega de vícios. ¡ Pobre homem, como te reduziste!”.
(3) Enquanto assim dizia, a vara que tinha na mão movia-a em ato de ferir o homem. Eu lhe disse: “Senhor, o que faz?”.
(4) E Ele: “Não temas, olha, esta bola de fogo fará fogo, e não castigará mais que aos maus, os bons não receberão dano”.
(5) E eu acrescentei: “Ah Senhor! Quem é bom? Somos todos maus, peço-te que não olhes para nós senão para a tua infinita misericórdia, e assim ficarás aplacado por todos”. Depois disso ele adicionou:
(6) “A filha da justiça é a verdade. Assim como Eu sou Verdade eterna que não engano nem me podem enganar, assim a alma que possui a justiça faz resplandecer em todas suas ações a verdade; portanto, conhecendo por experiência a verdadeira luz da verdade, se alguém quer enganá-la, ao advertir a falta da luz que tem em si, logo conhece o engano, então acontece que com esta luz da verdade não se engana a si mesma, nem ao próximo, nem pode receber engano.
(7) Fruto que produz esta justiça e esta verdade, é a simplicidade, outra qualidade de meu Ser, o ser simples, tanto que penetro em todas partes, não há nada que possa opor-se a que Eu penetre dentro, penetro no Céu e nos abismos, no bem e no mal, mas meu Ser simplíssimo, penetrando mesmo no mal; não se suja, aliás, nem sequer recebe a mais mínima sombra. Assim a alma, com a justiça e com a verdade, recolhendo em si este belo fruto da simplicidade, penetra no Céu, introduz-se nos corações para conduzi-los a Mim, penetra em tudo o que é bem e encontrando-se com os pecadores para ver o mal que fazem, não fica manchada, porque sendo simples prontamente se libera, sem receber dano algum. É tão bela a simplicidade, que meu coração fica ferido a um só olhar de uma alma simples, e ela é causa de admiração aos anjos e aos homens”.
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Agosto 12, 1899
Jesus transforma-a toda em Si e ensina-lhe a caridade.
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(1) Esta manhã meu adorável Jesus, depois que me fez esperar por algum tempo, veio me dizendo:
(2) “Minha filha, esta manhã quero uniformizar-te toda a Mim: Quero que penses com a minha mesma mente, que olhes com os meus olhos, que ouças com os meus ouvidos, que fales com a minha mesma língua, que trabalhes com as minhas mãos, que caminhes com os meus pés, e que ames com o meu mesmo coração”.
(3) Depois disto, Jesus unia seus sentidos mencionados acima com os meus, e via que me dava sua mesma forma; não só isso, mas me dava a graça de usá-los como fez Ele mesmo, e depois continuou dizendo:
(4) “Graças grandes derramo em você, recomendo que as saiba conservar”. (5) E eu: “Temo muito, ó meu amado Jesus, ao conhecer-me que estou cheia de misérias e que, em vez de fazer o bem, faço mau uso das tuas graças. Mas o que mais me faz temer é a língua, que freqüentemente me faz faltar na caridade para com o próximo”. (6) E Jesus: “Não temas, eu mesmo te ensinarei o modo que deves ter ao falar com o próximo”: (7) A primeira coisa: Quando te disser algo a respeito do próximo, faz um olhar sobre ti mesma e observa se tu és culpado desse mesmo defeito, e então querer corrigir é um querer me indignar e escandalizar ao próximo.
(8) A segunda: Se tu te vês livre daquele defeito, então levanta-te e procura falar como eu teria falado, assim falarás com a minha própria língua. Fazendo assim jamais faltarás na caridade do próximo, aliás, com as tuas palavras farás bem a ti, ao próximo, e a Mim me darás honra e glória”.
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Agosto 13, 1899
Ameaça de castigos e tenta acalmá-lo.
(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver, ameaçando sempre com castigos, e enquanto eu me punha a rogar-lhe que se acalmasse, como um relâmpago desaparecia. A última vez que ele veio se fazia ver crucificado, então me aproximei para beijar suas santíssimas chagas, fazendo várias adorações, mas enquanto isso fazia, em vez de Jesus Cristo vi minha mesma imagem. Fiquei surpreendida e disse: “Senhor! O que estou a fazer? Estou a fazer as minhas próprias adorações? Isto não pode ser feito”. Nesse momento mudou-se na pessoa de Jesus Cristo e me disse:
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(2) “Não te admires de que tenha tomado tua mesma imagem; se Eu sofro continuamente em ti, que maravilha é que tenha tomado tua mesma forma? E além disso, não é para fazer-te imagem minha que te faço sofrer?”
(3) Eu fiquei toda confusa e Jesus desapareceu. Seja tudo para sua glória, seja bendito sempre seu santo nome.
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Agosto 15, 1899
Jesus ordena-lhe a caridade. Festa da Mãe
Celestial. Dá-lhe o ofício de mãe na terra.
(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus veio todo alegre, trazendo entre as mãos um ramo de belíssimas flores, e pondo-se em meu coração, com aquelas flores agora se rodeava a cabeça, agora as tinha entre suas mãos, recriando-se e agradando-se tudo. Enquanto se divertia com estas flores, como se tivesse feito uma grande aquisição, virou-se para mim e disse-me:
(2) “Amada minha, esta manhã vim para pôr em ordem no teu coração todas as virtudes. As outras virtudes podem estar separadas uma da outra, mas a caridade ata e ordena tudo. Eis o que quero fazer em ti, ordenar a caridade”.
(3) Eu disse-lhe: “Sozinho e único Bem meu, como podes fazer isto sendo eu tão má e cheia de defeitos e imperfeições? Se a caridade é ordem, estes defeitos e pecados não são desordem que têm tudo em desordem e revolta a minha alma?”
(4) E Jesus: “Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em tua alma”.
(5) Assim parecia que Jesus me purificava e ordenava tudo; depois derramava como um rio de mel de seu coração no meu e com esse mel regava todo meu interior, de modo que tudo o que estava em mim ficava ordenado, unido, e com a marca da caridade.
(6) Depois disto me senti saindo de mim mesma na abóbada dos céus, junto com meu amado Jesus; parecia que tudo estava em festa, Céu, terra e purgatório; todos estavam inundados de uma nova alegria e júbilo. Muitas almas saíam do purgatório e como raios chegavam ao Céu para assistir à festa da nossa Rainha Mãe. Também eu me punha no meio daquela imensa multidão de pessoas, isto é, anjos, santos e almas do purgatório, que ocupavam aquele novo Céu, que era tão imenso, que o nosso que vemos, comparado com aquele me parecia um pequeno buraco, muito mais do que tinha a obediência do confessor. Mas enquanto olhava,
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não via outra coisa que um Sol luminosíssimo que espargia raios que me penetravam toda, de lado a lado, e me tornavam como um cristal, tanto que se descobriam muito bem os pequenos defeitos e a infinita distância que há entre o Criador e a criatura; tanto mais que aqueles raios, cada um tinha sua marca: Um delineava a Santidade de Deus, outro a pureza, outro a potência, outro a sabedoria, e todas as outras virtudes e atributos de Deus. Assim que a alma, vendo seu nada, suas misérias e sua pobreza, se sentia aniquilada e em vez de olhar, prostrava-se com o rosto na terra ante aquele Sol Eterno, ante o Qual não há ninguém que possa estar frente a Ele.
(7) Mas o mais era que para ver a festa de nossa Mãe Rainha, se devia ver desde dentro daquele Sol, tanto parecia imersa em Deus a Virgem Santíssima, que olhando desde outros pontos não se via nada. Agora, enquanto me encontrava nestas condições de aniquilamento ante o Sol Divino e a Mamãe Reina tendo em seus braços o menino, Jesus me disse:
(8) “Nossa Mãe está no Céu, dou a você o ofício de me fazer de mãe na terra, e como minha vida está sujeita continuamente aos desprezos, à pobreza, às penas, aos abandonos dos homens, e minha Mãe estando na terra foi minha fiel companheira em todas estas penas, e não só isso, mas procurava aliviar-me em tudo, por quanto podiam suas forças, assim também tu, fazendo-me de mãe me farás fiel companhia em todas as minhas penas, sofrendo tu em vez minha por quanto possas, e onde não possas, buscarás dar-me ao menos um consolo. Saiba que quero que preste atenção em mim. Serei ciumento até do teu respiro se não o fizeres por Mim, e quando vir que não estás toda atenta para me contentar, não te darei nem paz nem repouso”.
(9) Depois disto, comecei a fazer-lhe de mãe, mas oh! quanta atenção era necessária para satisfazê-lo. Para vê-lo feliz não se podia nem olhar para outra parte. Agora queria dormir, agora queria beber, agora queria que o acariciasse e eu devia encontrar-me pronta a tudo o que queria; agora dizia: “Mamãe minha, me dói a cabeça, ah, me alivie!” E eu imediatamente lhe revistava a cabeça, e encontrando espinhos, tirava-os e, pondo-lhe o meu braço debaixo da cabeça, o fazia repousar. Enquanto fazia que repousasse, de repente se levantava e dizia: “Sinto um peso e um sofrimento no coração, tanto de sentir-me morrer; vê que há”. E olhando para o interior do coração, encontrei todos os instrumentos da Paixão, e um a um tirei-os e coloquei-os no meu coração. Depois, vendo-o aliviado, comecei a acariciá-lo e a beijá-lo e disse: “Meu único e único tesouro, nem sequer me deixaste ver a festa de nossa Rainha Mãe, nem ouvir os primeiros cânticos que lhe cantaram os anjos e os santos no ingresso que fez no Paraíso”.
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(10) E Jesus: “O primeiro canto que fizeram a minha Mãe foi a Ave Maria, porque na Ave Maria estão os louvores mais belos, as maiores honras, e renova-se-lhe a alegria que teve ao ser feita Mãe de Deus, por isso, Vamos recitá-la juntos para honrá-la e quando você vier ao Paraíso, eu a encontrarei como se a tivesse dito com os anjos aquela primeira vez no Céu”.
(11) E assim recitamos a primeira parte da Ave Maria juntos. ¡ Oh, como era terno e comovedor saudar a nossa Mãe Santíssima junto com seu amado Filho! Cada palavra que Ele dizia, levava uma luz imensa na qual se compreendiam muitas coisas sobre a Virgem Santíssima, mas quem pode dizê-las todas? Muito mais pela minha incapacidade, por isso passo-as em silêncio.
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Agosto 16, 1899
Continue fazendo de mãe a Jesus.
(1) Jesus continua querendo que lhe faça de mamãe, e fazendo-se parecer como graciosíssimo menino chorava, e para acalmá-lo o pranto, tendo-o entre meus braços comecei a cantar, e acontecia que quando eu cantava parava de chorar, e quando não, voltava a chorar. Eu teria querido deixar no silêncio o que cantava, primeiro porque não me lembro de tudo, pois estando fora de mim mesma dificilmente recordo todas as coisas que acontecem, e também porque acredito que são desatinos, mas a senhora obediência, sendo demasiado impertinente não me quer conceder; basta com que se faça como ela quer, se contente ainda que sejam desatinos. Eu não sei, diz-se que esta senhora obediência é cega, mas a mim parece-me melhor que é toda olhos, porque olha até as mínimas coisas, e quando não se faz como ela diz, torna-se tão impertinente que não te dá paz. Então para ter paz da parte desta bela senhora obediência, porque além disso é tão boa quando se faz como ela diz, que tudo o que se quer, por meio dele se obtém, por isso me disponho a dizer o que recordo que cantava:
(2) Menino, és pequeno e forte, de Ti espero todo consolo; menino gracioso e belo, Tu apaixonas até as estrelas; menino, róbam-me o coração para enchê-lo de teu amor; menino terno, faz-me a minha menina; menino, és um Paraíso, ah! me faça ir me divertir no eterno sorriso.
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Agosto 17, 1899
Jesus fala da obediência.
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(1) Esta manhã, tendo recebido a Comunhão, estava dizendo ao meu amável Jesus: “Como é que esta virtude da obediência é tão impertinente e às vezes tão forte, que chega a tornar-se caprichosa?”
(2) E Ele: “Sabe por que esta nobre senhora obediência é como você diz? Porque dá morte a todos os vícios, e naturalmente alguém que deve fazer sofrer a morte a outro deve ser forte, valente, e se não o conseguir com isto se serve das impertinências e dos caprichos. Se isto é necessário para matar o corpo que é tão frágil, muito mais para dar morte aos vícios e às próprias paixões, que é tão difícil que muitas vezes enquanto parecem mortas, começam a reviver de novo. Eis por que esta diligente senhora está sempre em movimento e continuamente vigiando, e se vê que a alma põe a mínima dificuldade ao que lhe é mandado, então temendo que algum vício possa começar a reviver em seu coração, lhe faz tanta guerra e não lhe dá paz até que a alma se prostra a seus pés e adora em silêncio o que ela quer; eis por que é tão impertinente e quase caprichosa como você diz.¡Ah! sim, não há verdadeira paz sem obediência, e se parece que se goza de paz, é paz falsa, e digo parece, porque vai de acordo com as próprias paixões, mas jamais com as virtudes e se acaba com arruinar-se, porque separando-se da obediência se separam de Mim, que fui o Rei desta nobre virtude. Além disso, a obediência mata a própria vontade e a torrentes verte a Divina, tanto, que se pode dizer que a alma obediente não vive de sua vontade, senão da Divina; e se pode dar vida mais bela, mais santa, que o viver da Vontade de Deus mesmo? Por isso, com as outras virtudes, mesmo com as mais sublimes, pode estar junto o amor próprio, mas com a obediência jamais”.
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18 de agosto de 1899
Como a palavra de Deus não só é verdade, mas também luz.
(1) Vindo esta manhã o amantíssimo Jesus lhe disse: “Meu amado Jesus, eu creio que tudo o que escrevo são muitos disparates”.
(2) E Jesus: “A minha palavra não só é verdade, mas também luz, e quando uma luz entra num quarto escuro, o que faz? Dissipa as trevas e faz descobrir os objetos que há, feios ou belos, se estão em ordem ou em desordem, e do modo como se encontra esse quarto julga-se a pessoa que ocupa aquela habitação. Agora, a vida humana é o quarto escuro, e quando a luz da verdade entra em uma alma, dissipa as trevas, isto é, faz descobrir o verdadeiro do falso, o temporal do eterno, assim que lança de si os vícios e se mete à ordem das virtudes, porque sendo minha luz santa, que é minha própria Divindade, não poderá comunicar outra coisa que
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santidade e ordem, portanto a alma sente sair de si, luz de paciência, de humildade, de caridade e mais. Se minha palavra produz em você estes sinais, por que teme?” (3) Depois disto, Jesus me fez ouvir que rogava ao Pai por mim, dizendo: “Pai Santo, peço-te por esta alma, faz com que cumpra em tudo perfeitamente a nossa Santíssima Vontade, faz Ó Pai adorável que as suas ações estejam tão conformadas com as minhas, mas de tal modo que não se possam distinguir umas das outras, e assim poder cumprir sobre ela o que desenhei”.
(4) Mas quem pode dizer a força que me sentia infundir na minha alma por esta oração de Jesus? Sentia-me a vestir a alma por uma força tal, que para cumprir a Vontade Santíssima de Deus não me teria importado sofrer mil martírios, se assim fosse seu beneplácito. Sempre sejam dadas as graças ao Senhor, que tanta misericórdia usa com esta pobre pecadora.
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2-63
21 de agosto de 1899
Efeitos de agradar somente a Jesus.
(1) Depois de ter passado dois dias de sofrimentos, Jesus mostrava-se todo afabilidade e doçura. Em meu íntimo eu dizia: “Como é bom comigo o Senhor, porém não encontro em mim nada de bom que lhe possa agradar”. E Jesus, respondendo, disse-me:
(2) “Amada minha, assim como você não encontra outro prazer nem outro contente, que te entreter e conversar Comigo e dar-me gosto só a Mim, de modo que todas as outras coisas que não são minhas te desgostam, assim Eu, meu prazer e minha consolação é vir a me entreter e falar contigo. Tu não podes entender a força que tem sobre meu coração, de me atrair a ela, uma alma que tem a única finalidade de me agradar só a Mim; sinto-me tão unido com ela que estou obrigado a fazer o que ela quer”.
(3) Enquanto Jesus assim dizia, compreendi que falava no modo como em dias passados, enquanto sofria acerbos dores, em meu interior ia dizendo: “Meu Jesus, tudo por teu amor, estas dores sejam tantos atos de louvor, de honra, de homenagem que te ofereço, estas dores sejam tantas vozes que te glorifiquem e tantos testemunhos que digam que te amo”.
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Agosto 22, 1899
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Jesus comunica-lhe as suas virtudes.
(1) Meu amado Jesus continua vindo, todo amável e majestoso;enquanto estava neste aspecto me disse:
(2) “A pureza dos meus olhares resplandeça em todas as tuas obras, de modo que subindo de novo aos meus olhos me produza um resplendor e me distraia das porcarias que fazem as criaturas”.
(3) Eu fiquei toda confusa diante destas palavras, tanto que não ousava dizer-lhe nada, mas Jesus me alentou, para me dar confiança começou a dizer-me:
(4) “Diz-me, o que queres?”
(5) E eu: “Quando tenho a Ti, há mais alguma coisa que possa desejar?” (6) Mas Jesus insistiu mais de uma vez que lhe dissesse o que queria;e eu olhando para ele, vi a beleza de suas virtudes e lhe disse: “Meu dulcíssimo Jesus, dá-me suas virtudes”. (7) E Ele, abrindo o seu coração, fazia sair tantos raios diferentes das suas virtudes, que ao entrar no meu sentia-me fortalecido nas virtudes.
(8) Em seguida, acrescentou: “O que mais você quer?”
(9) E eu, lembrando-me que nos dias passados por uma dor que sofria não conseguia que meus sentidos se perdessem em Deus, disse-lhe: “Meu benigno Jesus, faz que a dor não me impeça o poder perder-me em Ti”.
(10) E Jesus, tocando-me com a sua mão a parte em que sofria, atenuou a acuidade da dor, de modo que posso recolher-me e perder-me nele.
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Agosto 27, 1899
O efeito quando Jesus vai à alma.
(1) Esta manhã enquanto via o meu doce Jesus, sentia um temor de que não fosse Ele senão o demônio para me enganar. E Jesus, respondendo ao meu temor, disse-me: (2) “Quando sou Eu quem se apresenta à alma, todas as potências interiores se aniquilam e conhecem o seu nada, e Eu, vendo a alma humilhada, faço abundar o meu amor, como tantos rios, de modo a inundar tudo e fortalecê-la no bem. O oposto acontece quando ele é o demônio”.
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2-66
Agosto 30, 18991
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Jesus lhe faz ver o estado lamentável do mundo.
(1) Esta manhã meu amado Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fez ver a decadência da religião nos homens e um preparativo de guerra. Eu disse-lhe: “Ó Senhor, em que estado se encontra tão lamentável o mundo nestes tempos quanto à religião! Parece que o mundo já não reconhece Aquele que enobrece o homem e o faz aspirar a um fim eterno, mas o que mais faz chorar, é que parte daqueles mesmos que se dizem religiosos, que deveriam pôr a própria vida para defender a religião e fazê-la ressurgir, a ignoram”. E Jesus, tomando um aspecto afligidíssimo, disse-me:
(2) “Minha filha, esta é a causa de que o homem viva como besta, porque perdeu a religião; mas tempos mais tristes virão para o homem em castigo da cegueira na qual ele mesmo se submergiu, tanto, que me oprime o coração ao vê-lo. Mas o sangue fará reviver esta santa religião, este sangue que farei derramar por todo tipo de gente, por leigos e religiosos, regará ao resto das pessoas que vivem como selvagens, e civilizá-las lhes restituirá de novo sua nobreza. Eis a necessidade de que o sangue se derrame e que as mesmas igrejas fiquem quase abatidas, para fazer que voltem de novo e existam com seu primeiro brilho e esplendor”.
(3) Mas quem pode dizer o rasgo cruel que farão nos tempos vindouros? Passo-o em silêncio porque não o recordo bem e não o vejo tão claro; se o Senhor quer que o diga dar-me-á mais claridade e então tomarei de novo a pena sobre este argumento, por isso, por agora termino.
* * * * * *
2-67
Agosto 31, 1899
O confessor dá a obediência de rejeitar Jesus e não falar com Ele.
(1) Tendo dado ao confessor a obediência de que quando viesse Jesus devia dizer: “Não posso falar, afasta-te”. Eu o tomei como uma brincadeira, não como obediência formal, por isso quando veio Jesus, quase não levando em conta a ordem recebida, ousei dizer-lhe: “Meu bom Jesus, olhe um pouco o que quer fazer o pai”.
(2) E Ele disse-me: “Filha, abnegação”.
(3) E eu: “Mas Senhor, a coisa é séria: trata-se de não te querer! Como posso fazê-lo?” (4) E Ele, pela segunda vez: “Abnegação”.
(5) E eu: “Mas Senhor! Que dizes? Crês Tu que possa estar sem Ti?”
(6) E Ele pela terceira vez: “Minha filha, abnegação”.
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(7) E desapareceu. Quem pode dizer como fiquei ao ver que Jesus queria que me dispusesse à obediência?
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2-68
Setembro 1, 1899
Continua a obediência, mas um pouco mais moderada.
(1) Vindo o confessor, perguntou-me se tinha cumprido a obediência, e tendo-lhe dito o que tinha acontecido, renovou a obediência de que não devia absolutamente falar com Jesus, meu único e único consolo, e que devia despedi-lo se viesse. E eis que, havendo entendido que a obediência que me era dada era verdadeira, em meu interior disse o “Fiat Voluntas Tua” também nisto; mas, oh, quanto me custa e que cruel martírio! Sinto como um prego cravado no coração, que o atravessa de lado a lado; e como meu coração está acostumado a pedir e desejar a Jesus continuamente, tanto, que assim como é contínuo o respirar e o bater, assim me parece que é contínuo o desejar e querer a meu único Bem, Então, querer impedir isso seria o mesmo que impedir alguém de respirar e bater do coração, como poderia viver? No entanto, é preciso fazer prevalecer a obediência. ¡Oh Deus, que pena, que rasgo tão atroz! Como impedir ao coração que peça sua própria vida? Como detê-lo? A vontade se punha com toda sua força a freá-lo, mas como se necessitava contínua e grande vigilância, de vez em quando se cansava e se distraía e o coração fazia sua escapada e pedia a Jesus; a vontade dando-se conta disto se punha com maior força a freá-lo, mas era vencida freqüentemente; pelo que me parecia que fazia contínuos atos de desobediência. ¡ Oh, em que contrastes, que guerra sangrenta, que agonias mortais sofria meu pobre coração! Encontrava-me em tais estreitezas e em tais sofrimentos, que acreditava que me ia a vida, não obstante isto teria sido um consolo para mim se pudesse morrer, mas não, e o que era pior era que sentia penas de morte, mas sem poder morrer.
(2) Então, depois de haver derramado lágrimas amarguíssimas todo o dia, na noite, encontrando-me em meu habitual estado, meu sempre benigno Jesus veio, e eu, obrigada pela obediência lhe disse: “Senhor, não venha, porque a obediência não quer”. (3) E Ele compadecendo-me e querendo fortalecer-me nos sofrimentos em que me encontrava, com a sua mão criadora marcou a minha pessoa com um grande sinal de cruz e deixou-me. (4) Mas quem pode dizer o purgatório em que me encontrava? O pior era que não podia me lançar para meu sumo e único Bem. ¡ Ah sim, eu era negado pedir e desejar Jesus! Oh! às almas benditas do purgatório lhes é permitido pedir, desejar, lançar-se ao sumo Bem, só que lhes está proibido tomar posse dele, a mim, não, a mim me era negado mesmo este consolo.
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Então, toda a noite não fiz outra coisa que chorar; quando minha débil natureza não podia mais, o amável Jesus voltou em atitude de querer falar comigo, e eu em seguida, recordando a obediência que quer reinar sobre tudo, lhe disse: “Amada Vida minha, não posso falar, e não venha, porque a obediência não quer. Se queres fazer entender a tua vontade, vai ter com o confessor”.
(5) Enquanto dizia isto, vi o confessor, e Jesus, aproximando-se dele, disse-lhe: “Isto é impossível, tenho as minhas almas tão submersas em Mim, que formamos uma mesma substância, tanto que não se distingue mais uma da outra, e assim como quando duas substâncias se unem, uma se transmite na outra, e depois, embora se queira separá-las, é inútil até mesmo pensar, assim é impossível que minhas almas possam estar separadas de Mim”.
(6) E, havendo dito isto, já se foi, e eu fiquei mais aflita do que antes, o meu coração batia tão forte que sentia abrir-me o peito. Depois disto, não sei dizer como, encontrei-me fora de mim mesma, e esquecendo-me não sei como da obediência recebida, virei pela abóbada do céu chorando, gritando e buscando a meu doce Jesus, quando de repente o vi vir, lançando-se entre meus braços, todo cheio de amor e definhando, mas logo me lembrei do mandato recebido e lhe disse: “Senhor, não me queiras tentar esta manhã, não sabes que a obediência não quer?”
(7) E Ele: “Mandou-me o confessor, por isso vim”.
(8) E eu: “Não é verdade, és porventura algum demónio que me quer enganar e fazer-me faltar à obediência?”
(9) E Jesus: “Não sou demónio”.
(10) E eu: “Se não és demónio, façamo-nos juntos o sinal da cruz”. E os dois signamos-nos com a cruz. Depois, continuei dizendo-lhe: “Se é verdade que o confessor te enviou, vamos a ele, a fim de que ele mesmo possa ver se és Jesus Cristo ou bem o demônio, e então poderei estar segura”.
(11) Assim fomos com o confessor, e como Jesus estava em forma de menino o dei em seus braços dizendo-lhe: “Pai, veja você mesmo, é meu doce Jesus, ou não?” (12) Agora, enquanto Jesus bendito estava com o pai, disse-lhe: “Se és verdadeiramente Jesus, beija a mão do confessor”. E em minha mente pensava que se fosse o Senhor teria feito essa humilhação de lhe beijar a mão, mas se fosse um demônio, não. E Jesus a beijou, mas não ao homem, senão a potestade sacerdotal, assim a beijou. Depois disto parecia que o confessor o conjurava para ver se era demônio, e não o encontrando tal me devolveu. Mas com tudo isso meu pobre coração não podia gozar os abraços do meu amado Jesus, porque a
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obediência o tinha como atado, impedido, muito mais porque ainda não havia nenhuma ordem contrária, por isso meu coração não ousava desabafar, nem sequer dizer uma palavra de amor…
(13) Ó santa obediência, como és forte e poderoso! Eu te vejo nestes dias de martírio ante mim como um guerreiro potentíssimo, armado da cabeça aos pés com espadas, flechas, cheio de todos aqueles instrumentos aptos para ferir, e quando vê que meu pobre coração cansado e abatido quer consolar-se buscando seu refrigério, sua vida, o centro ao qual se sente atrair como por um ímã, você, olhando-me com mil olhos, por toda parte me fere com feridas mortais. ¡ Ah, tenha piedade de mim e não seja tão cruel comigo!
(14) Mas enquanto digo isto, a voz do meu adorável Jesus faz-se ouvir nos meus ouvidos que diz:
(15) “A obediência foi tudo para Mim, a obediência quero que seja tudo para ti. A obediência me fez nascer, a obediência me fez morrer, as chagas que tenho em meu corpo são feridas e marcas que me fez a obediência. Com razão disse que é um guerreiro potentíssimo, armado com toda classe de armas aptas para ferir, porque em Mim não me deixou nem uma gota de sangue, me arrancou as carnes, me deslocou os ossos, e meu pobre coração, destroçado, sangrante, ia buscando um alívio, Alguém que tivesse compaixão de mim. A obediência então, tornando-se para Mim mais do que cruel tirano, só se contentou quando me sacrificou na cruz e me viu expirar vítima por seu amor. E por que isso? Porque o ofício deste potentíssimo guerreiro é de sacrificar às almas, por isso não faz outra coisa que mover guerra encarniçada a quem não se sacrifica tudo por ela, por isso não tem nenhuma consideração se a alma sofre ou goza, se vive ou morre, seus olhos estão atentos para ver se ela vence, que das outras coisas não se dá ao trabalho. Por isso o nome deste guerreiro é “vitória”, porque concede todas as vitórias à alma obediente, e quando parece que esta morre, então começa a verdadeira vida. E o que não me deu obediência? Por meio dele venci a morte, derrotei o inferno, desamarrei o homem acorrentado, abri o Céu, e como Rei vitorioso tomei posse do meu reino, não só para Mim, mas para todos os meus filhos que se teriam aproveitado da minha Redenção. ¡ Ah! sim, é verdade que me custou a vida, mas a palavra “obediência” me soa doce ao ouvido e por isso amo tanto as almas que são obedientes”.
(16) Volto a falar de onde deixei.
(17) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe dito tudo o que disse acima, renovou me a obediência de continuar da mesma maneira, e tendo-lhe dito: “Pai, permita ao menos dar a liberdade ao meu coração de rogar a Jesus, que a obediência de lhe dizer quando vem, não venha e não posso conversar, faço-a”.
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(18) E Ele: “Faça o que puder para detê-lo, e quando não puder, então dê-lhe liberdade”.
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2-69
Setembro 2, 1899
O confessor deixa-a livre.
(1) Agora, com esta obediência um pouco mais mitigada, meu pobre coração parecia que de estar morto começasse a reviver um pouco, mas com tudo e isto não deixava de estar dilacerado de mil maneiras, porque a obediência, quando via que o coração se detinha um pouco mais em busca de seu Criador, como se quisesse repousar nele porque estava sem força, vinha-me em cima e com suas armas me feria toda. E além disso, esse ter que repetir aquele refrão quando o bendito Jesus se fazia ver: “Não venhas, não posso conversar porque a obediência não quer”, era para mim o mais atroz e cruel martírio. Então meu doce Jesus, encontrando-me eu em meu estado habitual, veio e eu lhe manifestei a ordem recebida, e Ele se foi. Uma vez, enquanto eu lhe dizia: “Não venhas, que a obediência não quer”, disse-me:
(2) “Minha filha, tenha sempre diante de sua mente a luz de minha Paixão, porque ao ver minhas acerbísimas penas, as suas lhe parecerão pequenas, e ao considerar a causa pela qual sofri tantas dores imensas, que foi o pecado, os menores defeitos lhe parecerão graves. Em troca, se não olhar em Mim, as menores penas lhe parecerão pesadas e os defeitos graves os tomará como coisa de nada”. E desapareceu.
(3) Depois de um pouco veio o confessor, e tendo-lhe perguntado se ainda devia continuar esta obediência, disse-me: “Não, podes dizer-lhe o que quiseres e tê-lo quanto queiras”. (4) Parece que fui deixada livre e já não tenho tanto que fazer com este guerreiro tão potente, de outra maneira esta vez se teria feito tão forte que me daria a morte, mas me teria feito fazer uma grande ganância porque me teria unido para sempre ao sumo Bem, e não a intervalos, e ter-lhe-ia agradecido, aliás, ter-lhe-ia cantado o cântico da obediência, ou seja, o cântico das vitórias, assim que me teria rido de toda a sua força… Mas enquanto dizia isto, diante de mim apareceu um olho resplandecente e belo, e uma voz que dizia: “E eu ter-me-ia unido a ti e ter me-ia agradado de rir, porque teria sido minha a vitória”.
(5) E eu: “Oh! Querida obediência, depois de nos termos rido juntas, ter-te-ia deixado aos portões do Paraíso para te dizer adeus e não nos vermos mais, e assim não ter-me-ia que ver mais contigo, e ter-me-ia cuidado muito bem de não te deixar entrar”.
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2-70
Setembro 5, 1899
Como Jesus opera a perfeição na alma pouco a pouco.
(1) Esta manhã estava tão desanimada e parecia tão má, que eu mesma me tornava insuportável. Tendo vindo Jesus, disse-lhe as minhas mágoas e o miserável estado em que me encontrava, e Ele disse-me:
(2) “Minha filha, não queira perder o ânimo, este é meu costume, o obrar a perfeição passo a passo e não tudo em um instante, a fim de que a alma, vendo sempre que lhe falta alguma coisa, se impulsione, faça todos os esforços para alcançar o que lhe falta, a fim de me agradar mais e de se santificar mais, então Eu, atraído por esses atos sinto-me forçado a lhe dar novas graças e favores celestiais, e com isto se vem a formar um comércio todo divino entre a alma e Deus, de outra maneira, possuindo a alma em si a plenitude da perfeição, e portanto de todas as virtudes, não encontraria modos de se esforçar, como lhe agradar mais e viria a faltar a fogueira para acender o fogo entre a criatura e o Criador”.
(3) ¡ Seja sempre bendito o Senhor!
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2-71
Setembro 9, 1899
Jesus fala-lhe do nada e do amor que o leva.
(1) Jesus continua a vir, mas com um aspecto todo novo. Parecia que de seu coração bendito saía um tronco de árvore que tinha três raízes distintas, e este tronco, de seu coração entrava no meu, e saindo de meu coração o tronco formava tantas formosas ramificações carregadas de flores, de frutos, de pérolas e de pedras preciosas, resplandecentes como estrelas fulgidíssimas. Agora, meu amado Jesus, vendo-se à sombra desta árvore, se recriava tudo, muito mais que da árvore caíam tantas pérolas que formavam um belo adorno a sua Santíssima Humanidade. Enquanto estava nesta posição, disse-me:
(2) “Minha querida filha, as três raízes que vês nesta árvore são: a fé, a esperança e a caridade. E o que você vê que este tronco sai de Mim e se introduz em tua oração, significa que não há bem que possuam as almas que não venha de Mim; assim que depois da fé, a esperança e a caridade, o primeiro desenvolvimento que faz este tronco é o fazer conhecer que todo o bem vem de Deus, que delas não têm outra coisa senão a sua própria nada, e que este nada não faz outra coisa senão dar-me a liberdade de me fazer entrar nelas e fazer-me
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trabalhar o que quero; enquanto que há outras nadas, isto é, outras almas, que com a livre vontade que têm se opõem, então, faltando este conhecimento, o tronco não produz nem ramos nem frutos, nem nenhuma outra coisa de bom. Os ramos que contém esta árvore, com todo o aparato das flores, frutos, pérolas e pedras preciosas, são todas as diversas virtudes que pode possuir a alma. Quem deu vida a esta bela árvore? Certamente as raízes, isto significa que a fé, a esperança e a caridade abraçam tudo, contêm todas as virtudes, tanto que são colocadas como base e fundamento da árvore, e sem elas não se pode produzir nenhuma outra virtude”.
(3) Assim compreendi também que as flores significam as virtudes, os frutos os sofrimentos, as pedras preciosas e as pérolas o sofrer unicamente pelo só amor de Deus. Eis por que aquelas pérolas que caíam formavam esse belo ornamento a Nosso Senhor. Agora, enquanto Jesus se sentava à sombra desta árvore, olhava-me com ternura toda paterna, então, tomado por um arrebatamento amoroso, que parecia que não podia conter em Si, abraçando-me fortemente começou a dizer:
(4) “Como és bela! Vós sois minha cândida pomba, minha amada morada, meu templo vivo, no qual unido com o Pai e o Espírito Santo me deleito em deleitar-me. Seu contínuo pesar por Mim me alivia e conforta das contínuas ofensas que me fazem as criaturas. Deve saber que é tanto o amor que te tenho, que sou obrigado a escondê-lo em parte, para fazer que você não enlouqueça e possa viver, porque se o fizesse ver não só enlouqueceria, senão que não poderia continuar vivendo, sua fraca natureza seria consumada pelas chamas do meu amor”.
(5) Enquanto dizia isto, sentia-me toda confusa e aniquiladora, e sentia-me afundar no abismo do meu nada, porque me via toda imperfeita, especialmente notava a minha ingratidão e frieza às tantas graças que o Senhor me faz. Mas espero que tudo redunde em sua glória e honra, esperando com firme confiança que em um esforço de seu amor queira vencer minha dureza.
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16 de setembro de 1899
Divergência com Jesus. Efeitos do sofrer só por Deus.
(1) Esta manhã, meu adorável Jesus veio, e temendo que fosse o demônio, eu lhe disse: “Permita-me que te mostre a testa com a cruz”, e logo o persegui e assim fiquei mais segura e tranqüila.
(2) Agora, Jesus bendito parecia cansado e queria repousar em mim, e como também eu me
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sentia cansada pelos sofrimentos dos dias passados, especialmente por suas pouquíssimas chegadas, sentia a necessidade de repousar nele. Então, depois de ter discutido um pouco me disse:
(3) “A vida do coração é o amor. Eu sou como um enfermo que arde pela febre, que vai buscando um refresco, um alívio para o fogo que o devora. Minha febre é o amor; mas onde obtenho os refrescos, os alívios mais aptos para o fogo que me consome? Das dores e aflições sofridas por minhas almas prediletas só por meu amor; muitas vezes estou esperando e esperando a que a alma se volte a Mim para dizer-me: “Senhor, só por amor teu eu quero sofrer esta dor”. Ah sim, estes são os meus lanches e os alívios mais aptos que me aliviam e me apagam o fogo que me consome!”
(4) Depois disso ele se jogou em meus braços definhando para descansar. Enquanto Jesus repousava eu compreendia muitas coisas sobre as palavras ditas por Ele, especialmente sobre o sofrer por seu amor. ¡ Oh, que moeda de valor inestimável! Se todos a conhecêssemos, faríamos concorrência para ver quem sofreria mais; mas eu acredito que todos somos míopes para conhecer esta moeda tão preciosa, por isso não se chega a ter conhecimento dela.
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2-73
Setembro 19, 1899
Jesus fala da fé, da esperança e da caridade.
(1) Encontrando-me esta manhã um pouco perturbada, especialmente pelo temor de que não seja Jesus quem vem senão o demônio, e de que meu estado não seja Vontade de Deus, enquanto me encontrava nesta agitação, veio meu adorável Jesus e me disse: (2) “Minha filha, não quero que perca tempo, pensando nisso você se distrai de Mim e me faz faltar o alimento para me nutrir, o que quero é que pense somente em me amar e em estar toda abandonada em Mim, assim me preparará um alimento muito agradável, e não de vez em quando como faria se continuasse fazendo assim, senão continuamente. E não seria isto a tua grandíssima alegria, que a tua vontade, estando abandonada em Mim e no meu amor, fosse alimento para Mim, teu Deus?”
(3) Depois disto me fez ver seu coração e dentro tinha três balões de luz distintos, que depois formavam um só, e Jesus voltando a falar me disse:
(4) “Os balões de luz que vês no meu coração são a fé, a esperança e a caridade, que trouxe à
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terra para fazer feliz o homem sofredor, oferecendo-o em dom; agora, também a ti quero fazer te um dom mais especial”.
(5) E enquanto assim dizia, daqueles globos de luz saíam como tantos fios de luz que inundavam minha alma, formando como uma espécie de rede, e eu ficava dentro. (6) E Jesus: “Olha no que quero que ocupes tua alma: Primeiro voa com as asas da fé e submergindo nessa luz conhecerás e adquirirás sempre novas notícias de Mim, teu Deus, mas ao conhecer-me mais teu nada se sentirá quase dispersa, e não terás onde te apoiar. Mas tu te eleve mais e lançando-te no mar imenso da esperança, que são todos meus méritos que adquiri no curso de minha vida mortal, e todas as penas de minha Paixão que também delas fiz dom ao homem, e só por meio destes podes esperar os bens imensos da fé, Porque não há outro meio para obtê-los. Então, servindo-te destes meus méritos como se fossem teus, teu nada se sentirá mais dispersa e afundada no abismo do nada, senão que adquirindo nova vida ficará embelezada, enriquecida em modo tal de atrair-se os mesmos olhares divinas; e então não mais tímida, mas a esperança fornecer-lhe-á a coragem, a força, de modo a voltar à alma estável como coluna, exposta a todas as inclemências do ar, como são as diferentes tribulações da vida, que não a moverão nada, e a esperança fará com que a alma não só se submerja sem temor nas imensas riquezas da fé, senão que se tornará dona e chegará a tanto com a esperança, de fazer seu ao mesmo Deus. ¡ Ah! Sim, a esperança faz a alma chegar até onde quer, a esperança é a porta do Céu, assim que só por seu meio se abre, porque quem tudo espera, tudo obtém. Então a alma, quando tiver chegado a fazer seu ao mesmo Deus, súbito, sem nenhum obstáculo se encontrará no oceano imenso da caridade, e aí levando consigo a fé e a esperança, mergulhará dentro e fará uma só coisa Comigo, seu Deus”. (7) O amantíssimo Jesus continua dizendo: “Se a fé é o rei e a caridade é a rainha, a esperança é como mãe pacificadora que põe paz em tudo, porque com a fé e a caridade pode haver tribulações, mas a esperança, sendo vínculo de paz, converte tudo em paz. A esperança é sustento, a esperança é alívio, e quando a alma elevando-se com a fé vê a beleza, a santidade, o amor com o qual é amada por Deus, sente-se atraída a amá-lo, mas vendo sua insuficiência, o pouco que faz por Deus, o como deveria amá-lo e não o ama, sente-se desconsolada, perturbada e quase não se atreve a aproximar-se de Deus; então, logo sai esta
mãe pacificadora da esperança, e pondo-se no meio da fé e a caridade começa a fazer seu ofício de pôr paz, assim que põe em paz de novo a alma, a empurra, a eleva, lhe dá novas forças e levando-a diante do rei da fé e a rainha da caridade, desculpa a alma, põe diante da alma nova efusão de seus méritos e lhes pede que a queiram receber, e a fé e a caridade, tendo em vista somente esta mãe pacificadora, tão terna e cheia de compaixão, recebem a
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alma e Deus forma a delícia da alma, e a alma a delícia de Deus”.
(8) Ó santa esperança, como você é admirável! Eu imagino ver a alma que é possuída por esta bela esperança, como um nobre viajante que caminha para ir tomar posse de umas terras que formarão toda sua fortuna, mas como é desconhecido e viaja por terras que não são suas, quem o escarnece, quem o insulta, quem o despoja de seus vestidos e quem chega até golpeá-lo e a ameaçar com lhe tirar a pele, e o nobre viajante o que faz em todas estas dificuldades? Será que ele vai ficar perturbado? Ah, não, nunca! Pelo contrário, não terá em conta aqueles que lhe fazem tudo isto, e sabendo bem que, quanto mais sofrer, tanto mais será honrado e glorificado quando chegar a tomar posse de suas terras, por isso ele mesmo incita as pessoas a atormentá-lo mais. Mas ele está sempre tranquilo, goza a mais perfeita paz, e no meio destes insultos está tão calmo, que enquanto os outros estão acordados ao seu redor, ele está dormindo no seio de seu suspirado Deus. Quem fornecerá a este viajante tanta paz e tanta firmeza para seguir a viagem empreendida? Certamente a esperança dos bens eternos que serão seus, e assim superará tudo para tomar posse deles. Agora pensando que são seus, vem amá-los, e eis que a esperança faz nascer a caridade.
(9) Quem pode dizer o que Jesus bendito me faz ver com aquela luz? Queria passá-lo em silêncio, mas vejo que a senhora obediência deixando o vestido amigável, toma o aspecto de guerreiro e toma suas armas para fazer-me guerra e ferir-me. ¡¡ Ah, não te armes tão cedo! , deixa tuas garras, fica tranqüila, que por quanto possa farei como tu dizes, e assim permaneceremos sempre amigas.
(10) Agora, quando a alma se põe no vasto mar da caridade, prova delícias inefáveis, goza alegrias inenarráveis a uma alma mortal. Tudo é amor; seus suspiros, seus batimentos, seus pensamentos, são tantas vozes sonoras que faz ressoar em torno de seu amadíssimo Deus, vozes todas de amor que o chamam, de modo que Deus bendito, atraído, ferido por estas vozes amorosas, lhe corresponde, e acontece que os suspiros, O coração e todo o Ser Divino continuamente chamam a alma para Deus.
(11) Quem pode dizer como a alma é ferida por estas vozes? Como começa a delirar como se tivesse febre altíssima, como corre como enlouquecida e vai lançar-se no amoroso coração de seu Amado para encontrar refresco e a torrentes chupa as delícias divinas? Ela fica embriagada de amor, e em sua embriaguez entoa cantos todos amorosos a seu Esposo dulcíssimo. Mas quem pode dizer tudo o que acontece entre a alma e Deus? Quem pode dizer algo sobre esta caridade que é o próprio Deus?
(12) Neste momento vejo uma luz grandíssima e minha mente agora fica assombrada, agora se fixa em um ponto, agora em outro, e faço por colocá-lo no papel mas me sinto balbuciante
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ao explicá-lo. Portanto, não sabendo o que fazer, por agora faço silêncio; e espero que a senhora obediência por esta vez queira perdoar-me, pois se ela quer zangar-se comigo, desta vez não tem tanta razão, porque a culpa é sua, porque não me dá uma língua ágil para saber dizê-lo. Compreendeu, Excelência? Ficamos em paz, não é verdade?
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21 de setembro de 1899
Divergências com a obediência. A causa de seu estado.
(1) No entanto, quem diria? Embora a culpa seja sua, que não me dá a capacidade de o saber manifestar, a senhora obediência levou a mal e começou a fazê-la de tirano cruel, e chegou a tal crueldade que me tirou a vista do meu amado Bem, meu único e único consolo. Vê-se que às vezes até se comporta como criança, que quando quer sair com a sua num capricho, se não o consegue pela boa enche a casa com gritos, com choros, tanto, que se vê obrigado a satisfazê-la pela força. Não há razões, não há meios para persuadi-la; assim faz a senhora obediência, é tenaz, não teria acreditado assim, e como ela quer vencer, quer que ainda balbuciante escreva sobre a caridade. ¡ Oh Deus santo! Torna-a tu mesmo mais razoável, porque deste modo não se pode seguir em frente. E tu, oh! Obediência, devolve-me o meu doce Jesus, não me toques mais ao vivo e peço-te que não me tires a vista de meu sumo Bem, e eu prometo-te que ainda balbuciante escreverei como queres tu. Só te peço a graça de que me deixe reanimar durante alguns dias, porque minha mente, muito pequena, não resiste mais estar submersa naquele vasto oceano da caridade divina, especialmente que aí descubro mais minhas misérias e minha feiura, e ao ver o amor que Deus me tem, Sinto-me quase louco, por isso, a minha fraca natureza sente-se desfalecer e não pode mais. Mas ao mesmo tempo eu vou me ocupar em escrever outras coisas, para depois continuar com a caridade.
(2) Eu continuo com o meu pobre dizer. Encontrando minha mente ocupada nas coisas ditas antes, pensava entre mim: “Em que aproveitaria escrever isto se eu mesma não praticasse o que escrevo? Este escrito certamente seria uma condenação para mim”. Enquanto isso pensava, veio o bendito Jesus e me disse: “Este escrito servirá para fazer conhecer quem é Aquele que te fala e ocupa tua pessoa; e além disso, se não te servir a ti, minha luz servirá a outros que lerão o que te faço escrever”.
(3) Quem pode dizer como fiquei mortificada ao pensar que outros aproveitarão as graças que me faz se lerem estes escritos, e eu que os recebo não? Não me condenarão eles? E ainda, só
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de pensar que chegarão às mãos de outros, me oprime o coração pela pena e pela vergonha de mim mesma. Agora, permanecendo em grandíssima aflição, ia repetindo: “Em que aproveita o meu estado se servirá de condenação?”
(4) E o amorosíssimo Jesus regressado disse-me: “Minha Vida foi necessária para a salvação dos povos, e como não pude continuar sobre a terra, por isso escolho a quem me apraz para prossegui-la neles, para poder continuar a salvação dos povos, eis o proveito de seu estado”.
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22 de setembro de 1899
Jesus lhe fala de seus escritos. Contendas com a obediência.
(1) Sentindo-me um prego cravado no coração pelas palavras que ontem disse meu doce Jesus, e sendo Ele sempre benigno com esta miserável pecadora, para aliviar minhas penas veio, e compadecendo-me toda me disse:
(2) “Minha filha, não queira te afligir mais. Deves saber que tudo o que te faço escrever, ou sobre as virtudes ou sob alguma semelhança, não é outra coisa que fazer que te pintes tu mesma, e a essa perfeição à qual fiz chegar a tua alma”.
(3) ¡ Oh Deus! Que grande repugnância sinto ao escrever estas palavras, porque não me parece que seja verdade o que diz. Sinto que ainda não entendo o que é virtude e perfeição, mas a obediência assim o quer, e é melhor morrer do que ter que ver com ela. Muito mais que tem duas faces: Se se faz como ela diz, toma o aspecto de senhora e te acaricia como amiga fiel, e até te promete todos os bens que há no Céu e na terra; mas se depois descobre uma sombra de dificuldade contra, súbito, sem que se o avise, se um olhar se encontra como um guerreiro que está preparando suas armas para te ferir e destruir. ¡ Oh meu Jesus! Que tipo de virtude é esta obediência que faz tremer só de pensar nela?
(4) Então, enquanto Jesus me dizia aquelas palavras, eu lhe disse: “Meu bom Jesus, em que aproveita a minha alma ter tantas graças, se depois me amargam toda a minha vida, especialmente nas horas da tua privação? Porque o compreender quem Tu és e de quem estou privada, é um contínuo martírio para mim; portanto não me servem mais do que para fazer-me viver continuamente amarga”.
(5) E Ele acrescentou: “Quando uma pessoa gostou do doce de um alimento e depois é obrigada a tomar o amargo, para tirar essa amargura duplica-se o desejo de saborear o doce, e isto serve muito aquela pessoa, porque se ela sempre gostou do doce sem nunca provar o
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amargo, não teria grande apreço pelo doce, e se sempre gostasse do amargo sem conhecer o doce, não conhecendo-o nem sequer o desejaria, por isso um e o outro servem, e assim te servem também”.
(6) E eu: “Meu Jesus pacientíssimo, perdoa-me por ter que suportar uma alma tão mísera e ingrata, parece-me que desta vez quero investigar demasiado”.
(7) E Jesus: “Não te perturbes, sou Eu mesmo quem ponho as dificuldades em teu interior para ter ocasião de conversar contigo, e ao mesmo tempo para te instruir em tudo”.
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2-76
Setembro 25, 1899
Medo de que seus escritos possam ser encontrados nas mãos de outros.
(1) Em minha mente estava pensando: “Se estes escritos chegassem às mãos de alguém, talvez dissesse: “Deve ser uma boa cristã porque o Senhor lhe faz tantas graças”, sem saber que apesar de tudo isto sou ainda muito má. Eis como as pessoas podem ser enganadas tanto no bem como no mal. Ah Senhor, só Você conhece a verdade e o fundo dos corações!” Enquanto isso pensava veio o bendito Jesus e me disse:
(2) “Amada minha, e se as nações soubessem que tu és a minha defensora, e a delas?” (3) E eu: “Meu Jesus, que dizes?”
(4) E Ele: “Como! Não é verdade que você me defende das penas que elas me dão ao te colocar no meio entre Eu e elas, e toma sobre você o golpe que Eu estava para receber em Mim, e o que Eu devia descarregar sobre elas? E se alguma vez não os recebes sobre ti é porque não to permito, e isto com grande pena, até te lamentares Comigo; podes porventura negá-lo?”
(5) “Não Senhor, não posso negá-lo, mas vejo que é uma coisa que Você mesmo infundiu em mim, por isso digo que o fato não é que eu seja boa, e me sinto toda confusa ao ouvir que me diz estas palavras”.
* * * * * *
2-77
Setembro 26, 1899
Causa pela qual Jesus não leva em conta as
oposições. Visão abstrata e intuitiva da alma.
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(1) Esta manhã, tendo vindo o meu adorável Jesus, transportou-me para fora de mim mesma, mas com o meu profundo pesar, via-o de costas, e por quanto lhe pedi que me deixasse ver o seu santíssimo rosto me era impossível. Em meu interior ia dizendo: “Quem sabe, talvez sejam minhas oposições à obediência de escrever, pelo que não se digna fazer ver seu rosto adorável”. E enquanto isso dizia, chorava. Depois de me ter feito chorar, virou-se e disse:
(2) “Eu não levo em conta suas oposições, porque sua vontade está tão fundida com a minha que não pode querer senão o que quero Eu; por isso enquanto te repugna, ao mesmo tempo se sente atraída como por um ímã a fazê-lo, Assim, suas repugnâncias não servem para outra coisa que para tornar mais bela e resplandecente a virtude da obediência, por isso não as tomo em conta”.
(3) Depois vi seu belíssimo rosto, e em meu interior sentia um contentamento indescritível, e dirigindo-me a Ele lhe disse: “Dulcíssimo Amor meu, se eu sinto tanto deleite ao verte, o que terá sentido nossa Mamãe Rainha quando se fechou em seu seio puríssimo? Que felizes, quantos agradecimentos não lhe deu?”
(4) E Ele: “Minha filha, foram tais e tantas as delícias e as graças que derramei nela, que basta dizer-te que o que Eu sou por natureza, nossa Mãe o chegou a ser por graça; muito mais, pois não tendo culpa, minha graça pôde dominar Nela livremente, assim que não há coisa de meu Ser, que não confiei a Ela”.
(5) Naquele instante me parecia ver a nossa Rainha Mãe como se fosse outro Deus, com esta única diferença: que em Deus é natureza própria, e em Maria Santíssima é graça conseguida. Quem pode dizer como fiquei espantada? Como minha mente se perdia ao ver um portento de graça tão prodigioso? Então, dirigindo-me a Ele lhe disse: “Amado Bem meu, nossa Mãe teve tanto bem porque te fazia ver intuitivamente; eu gostaria de saber como te mostras a mim, com a vista abstrata ou intuitiva. Quem sabe se é também abstrata”.
(6) E Ele: “Quero fazer-te compreender a diferença que há entre uma e outra. Na abstrata a alma olha para Deus, na intuitiva entra dentro Dele e consegue as graças, isto é, recebe em si a participação do Ser Divino; e tu, quantas vezes não participaste do meu Ser? Esse sofrer que em você parece como se fosse natural, essa pureza que chega até sentir como se não tivesse corpo, e tantas outras coisas, não te dei quando te atraí a Mim intuitivamente?”
(7) “Ah! Senhor, é verdade, e eu, que agradecimentos te dei por tudo isto? Qual foi a minha correspondência? Sinto vergonha só de pensar nisso, mas ah! me perdoe e faça que me possam conhecer no Céu e na terra como um sujeito de suas infinitas misericórdias. * * * * * *
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2-78
Setembro 30, 1899
Tentações. Como a paciência em sofrer as
tentações é como um alimento substancioso.
(1) Primeiro devo dizer que passei uma hora de inferno.Logo, rapidamente olhei uma imagem do menino Jesus, e um pensamento como raio disse ao menino: “Como és feio!” Tenho tentado não dar importância nem me perturbar para evitar qualquer jogo com o demônio, mas apesar disso aquele raio diabólico me penetrou no coração, e sentia que meu pobre coração odiava a Jesus. ¡ Ah sim, me sentia no inferno fazendo companhia aos condenados, sentia o amor mudado em ódio! Oh Deus, que pena o não poder te amar! Dizia: “Senhor, é verdade que não sou digna de te amar, mas ao menos aceita esta pena, que gostaria de te amar e não posso”.
(2) Depois de ter passado no inferno mais de uma hora, parece que saí, graças a Deus, mas quem pode dizer quanto afligido ficou meu pobre coração, débil pela guerra mantida entre o ódio e o amor? Sentia tal prostração de forças que me parecia não ter mais vida. Então fui surpreendida pelo meu estado habitual, mas oh, como estava decaída, meu coração e todas as potências interiores, que com ânsia inenarrável desejam e vão em busca de seu sumo e único Bem e só param quando o encontraram, e com sumo contente se o gozam, desta vez não se atreviam a mover-se, estavam tão aniquiladas, confusas e abismadas em seu próprio nada, que não se faziam sentir. ¡ Oh Deus, que golpe cruel teve que sofrer meu pobre coração! Com tudo isto, o meu sempre benigno Jesus veio e a sua vista consoladora fez-me esquecer rapidamente o ter estado no inferno, tanto que nem sequer pedi perdão a Jesus. As potências interiores, humilhadas, cansadas como estavam, pareciam repousar n’Ele; tudo era silêncio, de ambas as partes, não havia mais que algum olhar amoroso com o qual nos feríamos o coração um ao outro. Depois de haver estado por algum tempo é este profundo silêncio, Jesus me disse:
(3) “Minha filha, tenho fome, dá-me alguma coisa”.
(4) E eu: “Não tenho nada para te dar”. Mas nesse mesmo instante vi um pão e dei-lho, e parecia que Ele com todo o gosto o comia. Agora, dentro de mim estava a dizer: “Há já alguns dias que não me diz nada”. E Jesus respondeu ao meu pensamento:
(5) “Às vezes, o esposo tem prazer em tratar com a sua esposa, em confiar-lhe os seus segredos mais íntimos; outras vezes, deleita-se com mais prazer em descansar e em contemplar-se mutuamente a sua beleza, enquanto o falar impede o repouso, e o simples pensamento do que se deve dizer ou do que se deve tratar, não deixa prestar atenção em ver a beleza do esposo e da esposa, mas no entanto isto serve, porque depois de haver repousado e
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compreendido de mais sua beleza, vêm amar-se mais e com maior força saem para trabalhar, tratar e defender seus interesses. É o que estou fazendo com você, não está feliz?” (6) Depois disto, um pensamento me iluminou na mente, acerca da hora passada no inferno e subito disse: “Senhor, perdoa-me quantas ofensas te fiz”.
(7) E Ele: “Não queiras afligir-te nem perturbar-te, sou Eu quem conduz a alma até o profundo do abismo, para poder depois conduzi-la mais rápido ao Céu”.
(8) Depois me fez compreender que aquele pão que encontrei em mim não era outra coisa que a paciência com a qual havia suportado essa hora de sangrenta batalha, assim que a paciência, a humilhação, a oferta a Deus do que se sofre em tempo de tentação, é um pão substancioso que se dá a Nosso Senhor e que Ele aceita com muito gosto.
* * * * * *
2-79
Outubro 1, 1899
Jesus fala com amargura dos abusos dos sacramentos.
(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver em silêncio, mas com um aspecto afligidíssimo, e tinha cravada na cabeça uma tupida coroa de espinhos; minhas potências interiores as sentia em silêncio e não se atreviam a dizer uma só palavra; vendo que sofria muito na cabeça estendi minhas mãos e pouco a pouco lhe tirei a coroa, mas, que acerbo espasmo sofria, como se abriam as feridas e o sangue corria a rios! Na verdade, era uma coisa que rasgava a alma. Depois de lhe ter tirado a coroa de espinhos, coloquei-a sobre a minha cabeça, e Ele mesmo ajudava a que penetrasse bem, mas tudo era silêncio de ambas as partes. Mas qual foi meu espanto, porque pouco depois o olhei de novo e lhe estavam pondo outra coroa de espinhos com as ofensas que lhe faziam. ¡ Oh perfídia humana! Oh incomparável paciência do meu Jesus, quão grande você é! E Jesus calava-se e quase não os via para não saber quem eram os seus ofensores. Então, tirei-a de novo, e, avivando-lhe todas as minhas forças interiores por uma terna compaixão, disse-lhe:
(2) “Meu bem amado, minha doce vida, por que não me diz nada? Nunca foi seu costume esconder seus segredos de mim. Ah! , falemos um pouco, assim desafogaremos um pouco a dor e o amor que nos oprime”.
(3) E Ele: “Minha filha, tu és o alívio em minhas penas. No entanto deves saber que não te digo
nada porque tu me obrigas sempre a não castigar as pessoas, queres opor-te à minha justiça,
e se não faço como tu queres fica descontente e Eu sinto uma pena de mais, ou seja, não te ter
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contente, Então, para evitar problemas de ambos os lados, é melhor eu ficar em silêncio”.
(4) E eu: “Meu bom Jesus, esqueceste-te de quanto sofres depois de teres usado a justiça?
Ver-te sofrer nas criaturas é o que me obriga a forçar-te a não punires as pessoas. E além
disso, esse ver as mesmas criaturas se voltarem contra Ti como tantas víboras venenosas, que
se estivesse em seu poder já teriam te tirado a vida, porque se vêem sob seus flagelos, e
assim irritam mais sua justiça, não me dá coragem para dizer Fiat Voluntas Tua”.
5) E Ele: “A minha justiça não pode continuar; sinto-me ferido por todos, por sacerdotes, por
devotos, por leigos, especialmente pelo abuso dos sacramentos: Quem não lhes presta
atenção, acrescentando os desprezos; quem os frequenta, deles fazem uma conversa de
prazer, e quem não estando satisfeito em seus caprichos, chega por isto a ofender-me. ¡ Oh!
como fica dilacerado meu coração ao ver reduzidos os sacramentos como aqueles quadros
pintados, ou como aquelas estátuas de pedra que de longe parecem vivas, mas se se aproxima
um se começa a descobrir o engano; e então se se faz por tocá-las, que coisa se encontra?
Papel, pedra, madeira, objetos inanimados, e fica desenganado de tudo. Assim são reduzidos
os sacramentos, para a maior parte não há outra coisa senão a aparência e ficam mais sujos
que limpos. E além disso, o espírito de interesse que reina nos religiosos, é para chorar, não te
parece que são todos olhos aí onde há um miserável lucro, até chegar a degradar sua
dignidade? Mas onde não há interesse, não têm mãos nem pés para mover-se nem sequer um
pouquinho. Este espírito de interesse enche-lhes tanto o interior, que transborda para o exterior
e até os próprios leigos sentem a peste, e escandalizados não têm fé em suas palavras. ¡¡¡ Ah
sim, ninguém deixa de me ofender! ; há quem me ofenda diretamente, e quem, podendo
impedir tanto mal, não se preocupa em fazê-lo, por isso não tenho a quem me dirigir. Mas Eu
os castigarei de maneira a torná-los inúteis, e a quem destruirei perfeitamente, chegarão a
tanto, que ficarão desertas as igrejas, sem ter quem administre os sacramentos”.
(6) Interrompendo a sua palavra, toda espantada disse: “Senhor, o que dizes? Se há quem
abuse dos sacramentos, também há muitas filhas boas que as recebem com as devidas
disposições e sofrem muito se não as frequentam”.
(7) E Ele: “Muito escasso é seu número, e além disso sua pena por não poder recebê-los,
servirá como uma reparação a Mim e para ser vítimas por aqueles que abusam”.
(8) Quem pode dizer como fiquei ferida por falar de Jesus bendito? Mas espero que queira
aplacar-se por sua infinita misericórdia.
* * * * * *
2-80
82
Outubro 3, 1899
Divergências com a obediência, e como esta é o próprio Jesus.
(1) Esta manhã, Jesus continuava fazendo-se ver afligido. Eu não tinha coragem de dizer uma
palavra ao meu pacientíssimo Jesus, por temor de que voltasse a lamentar-se pelo estado
religioso, e isto porque a obediência quer que escreva tudo, também no que diz respeito à
caridade do próximo, e isto é tão penoso para mim que tive que lutar a braço partido com a
senhora obediência, a que tomou seu aspecto de guerreiro potentíssimo, armado com suas
armas para me dar a morte. Na verdade me encontrei em tais estreitezas, que eu mesma não
sabia o que fazer. Escrever segundo a luz com a qual Jesus me fazia ver a caridade do
próximo, me parecia impossível, me sentia ferir o coração por mil espinhos, me sentia
emudecer a boca e diminuir o ânimo e lhe dizia: “Amada obediência, tu sabes quanto te amo e
que de boa vontade por amor teu daria a vida, mas vejo que aqui não posso, e tu mesma vês o
rasgo da minha alma. ¡ Ah! Não se torne inimiga, não seja impiedosa comigo, seja mais
indulgente com quem tanto te ama. Venha comigo você mesma e vejamos juntas o que mais
nos convém dizer”.
(2) Assim parece que depôs sua ira e ela mesma ditava o que era mais necessário, encerrando
em poucas palavras todo o sentido das diferentes coisas a respeito da caridade, embora às
vezes quisesse ser mais detalhada e eu lhe dizia, basta, que com um pouco de reflexão
entendam o que significa, não é melhor encerrar numa palavra todo o significado, do que em
tantas palavras?.
(3) Às vezes cedia a obediência, às vezes eu, e assim parece que estivemos de acordo.
Quanta paciência se necessita com esta bendita senhora obediência, verdadeiramente
senhora, porque basta que lhe seja dado o direito de dominar, e muda seu aspecto pelo de um
mansíssimo cordeiro, ela mesma faz o sacrifício do trabalho e faz repousar a alma com seu
Senhor, E enquanto a alma dorme, esta nobre senhora, o que faz? Ela está suando de sua
testa, apressando-se no trabalho que tocava a alma, o que verdadeiramente faz assombrar a
qualquer mente humana inteligente, e move os corações a amá-la.
(4) Agora, enquanto digo isto, no meu íntimo penso: “Mas que coisa é esta obediência? De que
está formada? Qual é o alimento que a sustenta?” E Jesus faz ouvir a sua voz harmoniosa no
meu ouvido que diz:
(5) “Queres saber o que é a obediência? A obediência é a quintessência do amor; a obediência
é o amor mais fino, mais puro, mais perfeito, extraído pelo sacrifício mais doloroso, que é
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destruir-se a si mesmo para viver de Deus. A obediência, sendo nobilíssima e divina, não
admite na alma nada de humano e que não seja seu, por isso toda sua atenção é destruir na
alma tudo o que não pertence a sua nobreza divina, como é o amor próprio, e feito isso, pouco
lhe interessa que seja ela sozinha que se esforce e se fatigue por isso deveria fazer a alma, e a
esta a faz repousar tranqüilamente. Finalmente, a obediência sou Eu mesmo”.
(6) Quem pode dizer como fiquei maravilhada e estática ao ouvir este falar de Jesus
abençoado? Oh! santa obediência, como és incompreensível, eu me prostro a teus pés e te
adoro; peço-te que sejas meu guia, mestra, luz no desastroso caminho da vida, para que
guiada, ensinada, escoltada por tua luz puríssima possa com segurança tomar posse do porto
eterno. Acabo por me esforçar quase para sair desta virtude da obediência, senão nunca mais
falaria. É tanta a luz que vejo desta virtude, que poderia escrever sempre sobre ela, mas outras
coisas me chamam, por isso faço silêncio e sigo onde deixei.
(7) Então vi meu doce Jesus aflito, e lembrando que a obediência me havia dito que rezasse
por uma pessoa, com todo o coração a confiei, e Jesus me disse:
(8) “Minha filha, que faça de maneira que todas as suas obras resplandeçam só de virtude, mas
especialmente lhe recomendo que não se intrometa nas coisas de família; se tem alguma
coisa, que se desfaça dela, se não tem, não quero que ele se intrometa; que deixe que as
coisas sejam feitas por quem deve e ele permaneça livre, sem se enfatizar nas coisas terrenas,
de outra maneira viria a incorrer na desventura dos demais, que a princípio, tendo querido
intrometer-se em alguma coisa de família, depois de todo o peso ter ficado nos seus ombros, e
Eu, somente por minha misericórdia, tive que permitir que não prosperassem, mas sim que
empobrecem e assim fazê-los tocar com a mão como inconveniente é a um ministro meu
enlamear-se nas coisas terrenas, enquanto, palavra que saiu da minha boca, que aos ministros
do meu santuário, desde que não tocassem nas coisas terrenas, jamais lhes faltaria o alimento
quotidiano. Agora, se a estes Eu os houvesse feito prosperar, teriam enlameado seu coração e
não teriam prestado atenção nem a Deus nem às coisas pertencentes a seu ministério; agora,
aborrecidos, cansados de seu estado, querem libertar-se mas não podem e isto é em castigo
pelo que não deveriam fazer”.
(9) Depois lhe confiei a um enfermo, e Jesus me mostrava suas chagas, que lhe tinha feito
aquele enfermo. Eu tentei suplicar-lhe, aplacá-lo e repará-lo e parecia que aquelas chagas se
fechavam. E Jesus, toda a bondade me disse:
(10) “Minha filha, hoje tu fizeste o ofício de um médico muito experiente, que procurou não só
aliviar, de ligar, mas também curar as chagas que me fez esse enfermo, por isso sinto-me muito
aliviado e aplacado”.
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(11) Então compreendi que rezando pelos doentes faz-se o ofício de médico a Nosso Senhor,
que sofre nas suas próprias imagens.
* * * * * *
2-81
Outubro 7, 1899
Vê Jesus zangado contra as pessoas
(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha e tive que me armar de paciência para esperá-lo.
Dentro de mim dizia: “Meu amado Jesus, vem, não me faças esperar tanto. Desde ontem à
noite não te vejo e agora já é muito tarde e Você não vem ainda. Veja com quanta paciência eu
esperei por você. Ah! não me faça chegar a impacientar porque demora tanto em vir, pois a
causa é Você com suas demoras. Por isso vêem, porque não posso mais”.
(2) Agora, enquanto eu estava dizendo estes e outros disparates, meu único Bem veio, mas
com grande dor minha, eu o vi irritado com as pessoas. Súbito, disse-lhe: “Meu bom Jesus,
peço-te que faças a paz com o mundo”.
(3) E Ele: “Filha, não posso; eu sou como um rei que quer entrar numa casa, mas aquela casa
está cheia de coisas imundas, de podridões e de muitas outras porcarias. O rei, como rei tem o
poder de entrar, não há ninguém que o possa impedir e ainda pode limpar aquela habitação
com suas próprias mãos, mas não quer fazê-lo, porque não é decoroso a sua real pessoa
descer a tantas baixezas, e enquanto o quarto não for limpo por outros, contudo e que tenha o
poder, o querer e um grande desejo, até a sofrer, não se dignará pôr nele o pé. Assim sou Eu.
Sou Rei que posso e quero, mas quero sua vontade, quero que tirem a podridão das culpas
para entrar e fazer a paz com eles. Não, não é digno a minha realeza entrar e pôr-me em paz
com eles, é mais, não farei outra coisa que mandar castigos. O fogo da tribulação os inundará
por toda parte, até aterrorizá-los, a fim de que se lembrem que existe um Deus, o único que
pode ajudá-los e libertá-los”.
(4) E eu, interrompendo o seu falar, disse-lhe: “Senhor, se queres lançar mão dos castigos, eu
quero ir para o Céu, não quero estar mais nesta terra. Como poderá o meu coração resistir a
ver as tuas criaturas sofrerem?” E Jesus, tomando um aspecto benigno, disse-me:
5) “Se tu vieres, para onde irei habitar nesta terra? Por agora pensemos em estar juntos aqui,
porque no Céu teremos muito tempo para estar juntos, como é toda a eternidade. E além disso,
muito cedo você esqueceu o ofício de me fazer de mãe na terra. Portanto, enquanto castigue
as pessoas eu virei me refugiar e morarei contigo”.
(6) E eu: “Ah Senhor, de que serviu o meu estado de vítima durante tantos anos? Que bem tem
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chegado aos povos, já que Tu me dizias que me querias como vítima para evitar os castigos às
pessoas? E agora me faz ver que esses castigos, em vez de acontecerem tantos anos atrás,
vão acontecer agora, nem mais nem menos que isto”.
(7) E Ele: “Minha filha, não digas isso; minha magnanimidade foi por amor de ti, e o bem que
veio disto, foi que terríveis castigos que deviam fazer estragos por muitíssimo tempo, agora por
isso serão mais breves. E não é um bem que alguém, em vez de estar por muitos anos sob o
peso de um castigo, esteja apenas por poucos? Além disso, ao longo destes últimos anos,
guerras, mortes imprevistas que não deviam ter tempo de se converter, agora em vez disso
tiveram-no e salvaram-se, não é isto um grande bem? Minha querida, por agora não é
necessário fazer-te compreender o proveito de teu estado para ti e para os povos, mas o
mostrarei quando vieres ao Céu e o dia do juízo o mostrarei a todas as nações. Por isso, não
fale mais deste modo”.
* * * * * *
2-82
Outubro 14, 1899
Jesus diz como são necessários os castigos, e
fala em modo comovedor da esperança.
(1) Esta manhã sentia-me um pouco perturbada e toda aniquilada em mim mesma. Via-me
como se o Senhor me quisesse atirar de Si. Meu Deus, que pena! Quando me encontrava em
tal estado, o bendito Jesus veio com uma cordinha na mão e golpeando meu coração três
vezes, disse-me:
(2) “Paz, paz, paz, paz, não sabes tu que o reino da esperança é reino de paz, e o direito desta
esperança é a justiça? Tu, quando vires que a minha justiça se arma contra as nações, entra
no reino da esperança, e investindo-te das mais poderosas qualidades que ela possui, sobe ao
meu trono e faze o que puderes para desarmar o meu braço armado; e isto o farás com as
vozes mais eloquentes, mais ternas, mais piedosas, com as razões mais poderosas, com as
orações mais ardentes, que a mesma esperança te ditará. Mas quando você vê que a mesma
esperança está para sustentar certos direitos de justiça que são absolutamente necessários, e
que querê-los ceder seria um querer fazer afronta a si mesma, o que não pode jamais ser,
então junte-se a Mim e entregue-se à justiça”.
(3) E eu, mais aterrorizada do que nunca, porque devia ceder à justiça, disse-lhe: “Ah Senhor,
como posso fazer isto? Parece-me impossível, o simples pensamento de que deves castigar as
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pessoas, sendo tuas imagens, não posso tolerá-lo, se ao menos fossem criaturas que não te
pertenciam. No entanto, isto é nada, o que mais me entristece é que devo ver Ti, quase estou
por dizer, golpeado por Ti mesmo, esbofeteado, açoitado, afligido, porque os castigos cairão
sobre teus mesmos membros, não sobre os outros, e por isso Tu mesmo virá a sofrer. Diga-me,
meu único e único Bem, como poderá resistir meu coração te ver sofrer, golpeado por Ti
mesmo? Que te façam sofrer as criaturas, são sempre criaturas e é mais tolerável, mas isto é
tão duro, que não posso aceitá-lo, por isso não posso me conformar Contigo, nem ceder”.
(4) Ele, pois, se compadecendo e sentindo pena de tudo por causa deste meu falar, e tomando
um aspecto aflito e benigno, disse-me:
(5) “Minha filha, você tem razão em que ficarei golpeado em meus próprios membros, tanto que
ao te ouvir falar, todas minhas entranhas me sinto comovidas e movidas a misericórdia e o
coração me sinto destroçado de ternura. Mas acredite em mim que são necessários castigos, e
se você não quiser me ver espancado agora um pouco, me verá mais tarde terrivelmente,
porque mais me ofenderão, e isto não te desagradaria mais? Por isso, aceita-te Comigo, de
outra maneira me obrigarás, para não te ver desgostosa, a não te dizer nada, e com isto virás a
negar-me o alívio que sinto ao conversar contigo. ¡ Ah! sim, me reduzirá ao silêncio sem ter
com quem desabafar minhas penas”.
(6) Quem pode dizer como fiquei amarga por sua falar? E Jesus, como se me quisesse distrair
da minha aflição, continuou a falar sobre a esperança, dizendo-me:
(7) “Minha filha, não se perturbe, a esperança é paz, e assim como Eu, no momento mesmo de
fazer justiça estou na mais perfeita paz, assim você, imergindo-se na esperança esteja em paz.
A alma que está na esperança, ao querer afligir-se, turbar, desconfiar, incorreria na desventura
daquela que, enquanto possui milhões e milhões de moedas e é rainha de vários reinos, vai
imaginando e dando lamentos dizendo: “De que vou viver? Como eu vou me vestir? Oh, eu
estou morrendo de fome! Hum, eu sou muito infeliz! Eu vou me reduzir para a mais estreita
miséria e eu vou acabar perecendo!” E ao dizer isto chora, suspira e passa seus dias triste,
esquálida, imersa na maior tristeza. E isto não é tudo, o que é pior é que se vê seus tesouros,
se caminha por suas propriedades, em vez de alegrar-se aflige mais pensando em seu fim
próximo e vendo o alimento não o quer tocar para sustentar-se, e se alguém quer persuadi-la
fazendo-lhe tocar com a mão suas riquezas mostrando-as e dizendo-lhe que não pode ser que
se reduza à mais estreita miséria, ela não se convence, fica aturdida e chora ainda mais sua
triste sorte.O que as pessoas diriam dela? Que está louca, que se vê que não tem razão, que
perdeu o cérebro; a razão está clara, não pode ser de outra maneira. No entanto, pode
acontecer que esta situação possa cair na desventura que se imagina, mas de que modo?
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Saindo de seus reinos, abandonando todas suas riquezas e indo a terras estrangeiras, no meio
de gente bárbara, onde ninguém se digne dar-lhe nem uma migalha de pão. E eis que sua
fantasia se tornou realidade; o que era falso agora é verdade. Mas quem foi a causa? A quem
se culparia de uma mudança de estado tão triste? a sua pérfida e obstinada vontade.
Precisamente assim é uma alma que se encontra em posse da esperança: o querer perturbar-
se, desanimar, já é a maior loucura”.
(8) E eu: “Ah! Senhor, como pode ser que a alma possa estar sempre em paz vivendo na
esperança? E se a alma comete algum pecado, como pode estar em paz?”.
(9) E Jesus: “No momento em que a alma peca, sai do reino da esperança, já que pecado e
esperança não podem estar juntos. Qualquer razão aceita que cada um é obrigado a respeitar,
conservar e cultivar o que é seu, quem é aquele homem que vai a seus terrenos e queima o
que possui? Quem é que não tem zelosamente guardadas suas posses? Creio que nenhum.
Agora, a alma que vive na esperança, com o pecado, ofende à mesma esperança e, se
estivesse em seu poder, queimaria todos os bens que possui a esperança, e então se
encontraria na desventura daquela tal que, abandonando seus bens vai viver a terras
estranhas. Assim a alma, com o pecado, afastando-se desta mãe pacífica, da esperança tão
terna e piedosa, que chega a alimentá-la com as suas próprias carnes, como é Jesus no
Sacramento, objecto primário da nossa esperança, vai-se viver no meio de gente bárbara como
são os demónios, que, negando-lhe até o menor consolo, não a alimentarão de outra coisa
senão de veneno, que é o pecado. Não obstante, esta mãe piedosa. O que faz? Enquanto a
alma se afasta dela, ficará indiferente? Ah não! Chora, reza, chama-a com as vozes mais
ternas, mais comovedoras, vai junto a ela e só se contenta quando a retorna ao seu reino”.
(10) O meu doce Jesus continua a dizer-me: “A natureza da esperança é paz, e o que ela é por
natureza, a alma que vive no seio desta mãe pacífica consegue-o por graça”.
(11) E no mesmo momento em que Jesus bendito diz estas palavras, com uma luz intelectual
faz-me ver sob a semelhança de uma mãe o que fez esta esperança pelo homem. ¡ Oh, que
cena tão comovente e terníssima, que se todos pudessem vê-la, chorariam de pena até os
corações mais duros e todos se afeiçoariam, iriam amá-la tanto, que seria impossível separar-
se por um só momento de seus joelhos maternos. E agora tentarei dizer o que compreendo e
posso:
(12) O homem vivia acorrentado, escravo do demônio, condenado à morte eterna, sem
esperança de poder ressurgir à vida eterna; tudo estava perdido e sua sorte estava em ruínas.
Esta mãe vivia no Empíreo, unida com o Pai e o Espírito Santo, bem-aventurada, feliz com
Eles; mas parecia que não estava contente, queria a seus filhos, a suas amadas imagens em
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torno dela, a obra mais bela saída de suas mãos. Agora, enquanto estava no Céu, seu olho
estava atento ao homem que estava perdido na terra. Toda ela se ocupa da maneira de salvar
a estes seus amados filhos, e vendo que estes filhos não podem absolutamente satisfazer à
Divindade, mesmo à custa de qualquer sacrifício, pois são muito inferiores a Ela, o que faz esta
mãe piedosa?Vê que não há outro meio para salvar a estes filhos que dar a própria vida para
salvar a deles, e tomar sobre si suas penas e misérias e fazer tudo o que eles deviam fazer por
eles mesmos, então, o que pensa fazer? Esta mãe amorosa se apresenta ante a divina justiça
com lágrimas nos olhos, com as vozes mais ternas, com as razões mais potentes que seu
magnânimo coração lhe dita e diz: “Graça te peço para meus perdidos filhos, não me resiste o
ânimo vê-los separados de Mim, a qualquer custo quero salvá-los, e se bem vejo que não há
outro meio que pôr minha própria vida, quero colocá-la com tal de que readquiram a deles. O
que queres deles? Reparação? Reparo eu por eles. Glória, honra? Eu te honro e glorifico por
eles. Agradecimentos? Eu te agradeço, tudo o que queres deles te dou Eu, desde que os
possa ter junto Comigo reinando”.
(13) A Divindade fica comovida ao ver as lágrimas, o amor desta piedosa mãe, e convencida
por suas potentes razões se sente inclinada a amar a estes filhos, e choram juntos sua
desventura, e pondo-se de acordo concluem que aceitam o sacrifício da vida desta mãe,
ficando por isso plenamente satisfeitos, para readquirir estes filhos. Não apenas é assinado o
decreto, desce em seguida do Céu e vem à terra, e deixando suas vestes reais que tinha no
Céu se veste das misérias humanas, como se fosse a mais vil escrava e vive na pobreza mais
extrema, nos sofrimentos mais inauditos, nos mais insuportáveis desprezos pela natureza
humana; não faz outra coisa senão chorar e interceder por seus amados filhos. Mas o que mais
o faz ficar espantado, tanto desta mãe como destes filhos, é que enquanto ela ama tanto estes
filhos, estes, em vez de receber esta mãe com os braços abertos, já que vem salvá-los, fazem
o contrário; ninguém a quer receber ou reconhecer, aliás, a obrigam a ir errante, a desprezam e
começam a planejar como matar a esta mãe tão terna e excessivamente amante deles. O que
fará esta mãe tão terna ao ver-se tão mal correspondida por seus ingratos filhos? Acaso irá
parar? Ah! Não, mas acende-se mais de amor por eles e corre de um ponto a outro para reuni-
los e colocá-los em seu colo. ¡ Oh, como se cansa, como se cansa, até pingar suor, não só de
água mas também de sangue! Não se dá um momento de trégua, está sempre em atitude de
efetuar sua salvação, provê a todas suas necessidades, remedia todos seus males passados,
presentes e futuros; em suma, não há nada que não ordene e disponha para seu bem.
(14) Mas o que fazem esses filhos? Arrependeram-se talvez da ingratidão que tiveram ao
recebê-la? Você mudou seus pensamentos em favor desta mãe? oh! não, olham-na com maus
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olhos, desonram-na com as calúnias mais negras, procuram-lhe opróbrios, desprezos,
confusões, golpeiam-na com todo tipo de flagelos, reduzindo-a toda a uma chaga, e acabam
por fazê-la morrer com uma morte, a mais infame que se possa encontrar, em meio a cruéis
espasmos e dores. Mas o que essa mãe faz no meio de tantas dores? Será que ela odiará
talvez esses filhos tão rebeldes e insolentes? Ah não, nunca! , agora mais do que nunca os
ama extremamente, oferece suas penas por sua própria salvação e expira com a palavra da
paz e do perdão.
(15) OH! Minha mãe bela, ó amada esperança, como você é amável em si mesma, eu te amo!
Ah! Mantenha-me sempre em seu colo e serei a mais feliz do mundo. Enquanto estou
determinada a deixar de falar da esperança, uma voz ressoa-me por toda a parte que diz:
(16) “A esperança contém todo o bem presente e futuro, e quem vive no seu colo e cresce
sobre os seus joelhos obtém tudo o que deseja. O que a alma quer: glória, honra? A esperança
lhe dará toda a maior honra e glória na terra, diante de todas as nações, e no Céu a glorificará
eternamente. Você talvez vai querer riqueza? ” Oh! Esta mãe esperança é riquíssima, e o que é
mais, dando seus bens a seus filhos, não diminuem suas riquezas em nada; além disso, estas
riquezas não são fugazes e passageiras, mas eternas. Você vai querer prazeres,
contentamentos? Ah! Sim, esta esperança contém em si todos os prazeres e gostos possíveis,
que se possam encontrar no Céu e na terra, que nenhum outro jamais poderá iguala-la, e quem
a seu seio se nutre, gosta-os até a saciedade, e oh! como é feliz e contente. Quererá ser douta,
sábia? Esta Mãe esperança contém em si as ciências mais sublimes, antes é a mestra de
todos os mestres, e quem se faz ensinar por ela aprende a ciência da verdadeira santidade”.
(17) Em suma, a esperança nos fornece tudo, de modo que, se um é fraco, lhe dará a força; se
outro está manchado, a esperança instituiu os Sacramentos e aí preparou a lavagem de suas
manchas; se sente fome e sede, esta Mãe piedosa nos dá o alimento mais belo, mais
saboroso, como são suas delicadíssimas carnes e por bebida seu preciosíssimo sangue. Que
outra coisa mais pode fazer esta mãe pacífica da esperança? Quem se assemelhará a ela? Ah!
Só ela pôs em paz o Céu e a terra, a esperança uniu com ela a fé e a caridade e formou esse
anel indissolúvel entre a natureza humana e a Divina. Mas quem é esta Mãe? Quem é esta
esperança? É Jesus Cristo, que operou a nossa Redenção e formou a esperança do homem
extraviado.
* * * * * *
2-83
Outubro 16, 1899
Expectativas. Jesus fala de castigos.
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(1) Esta manhã meu doce Jesus não vinha e desde ontem à noite não o vi, quando se fez ver
com um aspecto que dava piedade e terror ao mesmo tempo, queria-se esconder para não ver
os castigos que Ele mesmo estava mandando às pessoas e o modo como devia destruí-las. ¡¡
Oh Deus, que espetáculo tão dilacerante, jamais visto! Enquanto esperava e esperava, em meu
interior ia dizendo: “Como é que não vem? Quem sabe, talvez não venha porque eu não me
conformo com sua justiça, mas, como posso fazê-lo? Me parece quase impossível dizer “Fiat
Voluntas Tua”. Dizia também: “Não vem porque o confessor não me manda”. Agora, enquanto
pensava isto, quando quase não vi a sua sombra, disse-me:
(2) “Não temas, o poder dos sacerdotes é limitado; só que na medida em que se prestem a
pedir-me que venha a ti e a oferecer-te para te fazer sofrer com o fim de conseguir que perdoe
as pessoas, assim Eu, quando enviar os castigos os curarei e os libertarei, mas se nenhum
pensamento for dado, Eu também não terei consideração por eles”.
(3) Dito isto desapareceu, deixando-me num mar de aflição e de lágrimas.
* * * * * *
2-84
Outubro 21, 1899
Os bens terrenos devem servir para a santificação,
não para serem ídolos para o homem. Causa dos castigos.
(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, sentia-me cansada e sem forças, ainda
que ia oferecendo estas mesmas penas dizendo: “Senhor, Tu sabes quanto me custa estar
privada de Ti, mas me resigno a tua Santa Vontade, oferecendo esta pena acerbíssima como
meio para atestar-te meu amor e aplacar-te. Estes aborrecimentos, aborrecimentos, fraquezas,
frieiras que sinto, tenho intenção de enviá-los como mensageiros de louvores e de reparações
por mim e por todas as criaturas; isto tenho e isto te ofereço. É certo que Tu aceitas o sacrifício
da boa vontade quando se te oferece o que se pode sem reserva alguma, mas vem, porque
não posso mais”.
(2) Muitas vezes me vinha a tentação de me conformar à justiça e pensava que a causa pela
qual não vinha era eu mesma, porque quando Jesus, nos dias passados, me tinha dito que se
não me conformasse o obrigaria a que não viesse e a não dizer-me mais nada para não ter-me
descontente, mas não tinha vontade de fazê-lo, muito mais porque a obediência não o
consentia. Enquanto me encontrava entre estas amarguras, primeiro veio uma luz, com uma
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voz que dizia:
(3) “À medida que o homem se intromete nas coisas terrenas, assim se afasta e perde a estima
dos bens eternos. Eu dei as riquezas para que se sirvam delas para sua santificação, mas elas
se serviram delas para me ofender e formar um ídolo para seu coração, e eu destruirei as
pessoas e as riquezas junto com elas”.
(4) Depois disto vi o meu caríssimo Jesus, mas tão sofredor, ofendido e irado com as nações,
que dava terror. Eu súbito comecei a dizer-lhe: “Senhor, ofereço-te as tuas chagas, o teu
sangue, o uso santíssimo dos teus santíssimos sentidos que fizeste no curso da tua vida
mortal, para te reparar as ofensas e o mau uso dos sentidos que fazem as criaturas”.
(5) E Jesus, levando um aspecto sério e quase irado disse:
(6) “Você sabe como os sentidos das criaturas se tornaram? Como aqueles rugidos das bestas
ferozes, que com seus rugidos afastam os homens em vez de atraí-los. É tanta a podridão e a
multiplicidade das culpas que sai de seus sentidos, que me obrigam a fugir”.
(7) E eu: “Ah! Senhor, como te vejo zangado. Se queres continuar a mandar castigos, eu quero
ir para o Céu, ou então quero sair deste estado. De que adianta estar nele se não posso mais
me oferecer vítima para livrar as pessoas?” E Ele, falando-me sério, tanto que me sentia
aterrado, disse-me:
(8) “Tu queres tocar os dois extremos, ou que não faça nada, ou que tu queres vir. Não te
contentas com que as nações sejam perdoadas em parte? Crês tu que Corato seja o melhor e
o que menos me ofende? E o fato de o ter perdoado em parte em comparação com as outras
cidades é coisa de nada? Por isso, conforta-te e acalma-te, e enquanto Eu me ocupo em
castigar as nações, Tu me acompanhas com teus suspiros e com teus sofrimentos, pedindo-me
que os mesmos castigos sirvam para a conversão dos povos”.
* * * * * *
2-85
Outubro 22, 1899
A cruz, um caminho cravejado de estrelas.
(1) Continua Jesus fazendo-se ver afligido. Assim que chegou, lançou-se em meus braços, todo
extenuado como querendo um alívio. Participou-me um pouco dos seus sofrimentos e depois
disse-me:
(2) “Minha filha, o caminho da cruz é um caminho cheio de estrelas, à medida que se caminha,
essas estrelas mudam-se em sóis luminosíssimos. Que felicidade será para a alma por toda a
eternidade estar circundada por estes sóis? Além disso, o grande prêmio que dou à cruz é tal,
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que não há medida, nem de comprimento nem de largura, é quase incompreensível às mentes
humanas, e isto porque ao suportar as cruzes não pode haver nada de humano, senão todo
divino”.
* * * * * *
2-86
Outubro 24, 1899
O homem é uma reprodução do Ser Divino.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus veio e me transportou para fora de mim mesma, entre as
nações, e parecia que Jesus olhava com olhos de compaixão as criaturas, e os mesmos
castigos apareciam como infinita misericórdia sua, saída do mais íntimo de seu coração
amorosíssimo; então, voltou para mim e disse:
(2) “Minha filha, o homem é uma reprodução do Ser Divino, e como nosso alimento é o amor,
sempre recíproco, conforme e constante entre as Três Divinas Pessoas, por isso, o homem
tendo saído de nossas mãos e do amor puro e desinteressado, É como uma partícula do nosso
alimento. Agora, esta partícula tornou-se amarga; não só isso, mas a maior parte, separando-se
de nós tornou-se pasto das chamas infernais e alimento do ódio implacável dos demônios,
nossos e seus capitais inimigos. Eis a causa principal de nosso descontentamento pela perda
das almas: Porque são nossas, são coisa que nos pertence; e também a causa que me impele
a castigá-los é o grande amor que tenho por eles, para poder pôr a salvo suas almas”.
(3) E eu: “Ah! Senhor, parece que desta vez não tens outras palavras a dizer além de castigos,
a tua Potência tem tantos outros meios para salvar estas almas. E além disso, se estivesse
certa que toda a pena cairia sobre eles e Você ficasse livre, sem sofrer neles, me contentaria,
mas vejo que já está sofrendo muito por aqueles castigos que tem mandado, o que será se
continuar mandando outros castigos?”
(4) E Jesus: “Apesar de tudo o que sofro, o amor obriga-me a enviar flagelos mais pesados, e
isto porque não há meio mais potente para fazer entrar em si mesmo o homem e fazê-lo
conhecer o que é seu ser, do que fazer que se veja a si mesmo desfeito; Os outros meios
parecem que o robustecem de mais, por isso, recompõe-te à minha justiça. Vejo bem que o
amor que você me tem é o que te leva a não se conformar Comigo e não tem coração de me
ver sofrer; mas também minha Mãe me amou mais que todas as criaturas, tanto, que nenhuma
outra jamais poderá iguala-la, No entanto, para salvar as almas, conformou-se com a justiça e
contentou-se em ver-me sofrer tanto. Se minha Mãe fez isso, como você não poderia?”
(5) E no momento em que Jesus falava, sentia-me tão atraído pela sua vontade que quase não
sabia resistir a conformar-me com a sua justiça, não sabia o que dizer, tão convencida me
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sentia; no entanto, não manifestei a minha vontade. Jesus desapareceu e eu fiquei nesta
dúvida, se devo ou não me conformar.
* * * * * *
2-87
Outubro 25, 1899
Jesus fala do seu grande amor pelas criaturas.
(1) O meu dulcíssimo Jesus continua a manifestar-se quase sempre igual. Esta manhã
acrescentou:
(2) “Minha filha, é tanto o amor pelas criaturas, que como um eco ressoa nas regiões celestes,
enche a atmosfera e se difunde sobre toda a terra. Mas qual é a correspondência que as
criaturas dão a este eco amoroso? Ah! Correspondem-me com um eco de ingratidão,
venenoso, cheio de todo tipo de amarguras e de pecados, com um eco quase assassino, apto
só para me ferir. Mas eu despovoarei a face da terra, a fim de que este eco cheio de veneno
não mais atordoado meus ouvidos”.
(3) E eu: “Ah! Senhor, o que dizes?”
(4) E Jesus: “Eu não faço mais que como um médico piedoso, que tem os remédios extremos
para seus filhos, e estes filhos estão cheios de chagas, o que faz este pai e médico que ama a
seus filhos mais que a própria vida? Deixará que gangrenem estas chagas? Os deixará morrer
por temor de que aplicando o fogo e os instrumentos eles sofram? Não, jamais! Embora sentira
como se tais instrumentos se aplicassem a ele, contudo e isto tomará os instrumentos, rasgo e
corta a carne, aplica o remédio, o fogo, para impedir que a corrupção avance mais. Se bem que
muitas vezes acontece que nestas operações os pobres filhos morrem, mas não era esta a
vontade do pai médico, senão que sua vontade é vê-los curados. Assim sou Eu, magoo para
curá-los, destruo-os para ressuscitá-los. Que muitos pereçam, não é essa minha Vontade, isto
é efeito de sua malvada e obstinada vontade, é efeito deste eco venenoso que, até serem
destruídos, querem me enviar”.
(5) E eu: “Diz-me, meu único Bem, como poderia adoçar-te este eco venenoso que tanto te
aflige?”
(6) E Ele: “O único meio é que tu faças sempre todas as tuas obras com a única finalidade de
me agradar e que uses todos os teus sentidos e poderes com a finalidade de me amar e
glorificar. Faz com que cada pensamento teu, palavra e todo o resto, não queira outra coisa
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que o amor que tens por Mim, assim o teu eco subirá agradável ao meu trono e adoçará o meu
ouvido”.
* * * * * *
2-88
Outubro 28, 1899
Quem é você e quem sou eu?
(1) Esta manhã o meu amável Jesus veio no meio de uma luz, e olhando para mim como se me
penetrasse por todos os lados, tanto que me sentia aniquilada, disse-me:
(2) “Quem sou eu, e quem és tu?”
(3) Estas palavras me penetravam até a medula dos ossos e descobria a infinita distância que
há entre o Infinito e o finito, entre o Todo e o nada; e não só isso, senão que descobria também
a maldade deste nada e o modo como se tinha enlameado, me parecia como um peixe que
nada nas águas, assim minha alma nadava na podridão, nos vermes e em tantas outras coisas
aptas somente para dar horror à vista. ¡ Oh Deus, que vista abominável! Minha alma queria
fugir da vista de Deus três vezes Santo, mas com outras duas palavras me amarrou: “Qual é o
meu Amor para contigo? E qual é a sua correspondência para mim?”
(4) Agora, enquanto à primeira palavra teria querido fugir espantada pela sua presença, à
segunda palavra, qual é o meu Amor para contigo? Encontrei-me abismada, atada por toda
parte por seu amor, assim que minha existência era um produto de seu amor, e se este amor
cessava, eu não existia mais. Então, me parecia que os batimentos do coração, a inteligência e
até o respiro eram todos uma reprodução de seu Amor, eu nadava nele e mesmo o querer fugir
me parecia impossível, porque seu amor me circundava por todos lados. Meu amor me parecia
como uma gota de água atirada no mar, que desaparece e não se pode mais distinguir.
(5) Quantas coisas compreendi, mas se quisesse dizê-las todas, prolongar-me-ia
demasiado. Então Jesus desapareceu e eu fiquei toda confusa, via-me todo pecado e em meu
íntimo implorava perdão e misericórdia. Pouco depois meu único Bem voltou e eu me sentia
toda banhada pela amargura e pela dor de meus pecados, e Ele me disse:
(6) “Minha filha, quando uma alma está convencida de ter feito mal ao me ofender, faz já o
ofício da Madalena que banhou meus pés com suas lágrimas, ungiu-os com bálsamo e os
secou com seus cabelos. A alma, quando começa a ver em si mesma o mal que fez, prepara-
me um banho às minhas chagas. Vendo o mal, sente amargura e prova dor, e com isto vem
ungir as minhas chagas com um bálsamo requintado. Por este conhecimento a alma gostaria
de fazer uma reparação, e vendo a ingratidão passada, sente nascer nela o amor por um Deus
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tão bom e gostaria de dar a sua vida para testemunhar o seu amor, e estes são os cabelos, que
como tantas correntes de ouro a unem ao meu amor”.
* * * * * *
2-89
Outubro 29, 1899
Jesus a leva nos braços e a instrui.
(1) Continua vindo meu adorável Jesus, mas esta manhã, quando veio me tomou em seus
braços e me transportou para fora de mim mesma; e eu, encontrando-me naqueles braços
compreendia muitas coisas e especialmente que para poder estar livremente nos braços de
Nosso Senhor e também para entrar boamente em seu coração e sair dele como a alma mais
lhe agrade, e para não ser de peso e aborrecimento ao bendito Jesus, é absolutamente
necessário despojar-se de tudo. Portanto, com todo o coração lhe disse: “Meu amado e único
Bem, o que te peço para mim é que me despojes de tudo, porque bem vejo que para ser
revestida por Ti e viver em Ti, e que Tu vivas em mim, é necessário que não tenha sequer a
sombra do que não te pertence”. E Ele, toda benignidade, me disse:
(2) “Minha filha, a coisa principal para que Eu entre em uma alma e forme minha habitação
nela, é o desapego total de toda coisa. Sem isto, não só não posso viver nela, como nem
sequer uma virtude pode tomar lugar na alma.Depois que a alma fez sair tudo de si, então eu
entro nela e unido com a vontade da alma fabricamos uma casa, os fundamentos desta casa
se baseiam na humildade, e quanto mais profundos forem, tanto mais altos e fortes são os
muros; estas paredes serão feitas de pedras de mortificação, cobertas de ouro puríssimo de
caridade. Depois que os muros foram construídos, Eu, como um pintor excelentíssimo, não
com cal e água, mas com os méritos da minha Paixão, simbolizados pela cal, e com as cores
do meu sangue, simbolizados pela água, os revesti e neles formo as mais Excelentíssimas
pinturas, e isto serve para protegê-la bem das chuvas, das nevadas e de qualquer golpe.
Imediatamente depois vêm as portas, e para fazer que estas sejam sólidas como madeira, não
presas à mariposa, é necessário o silêncio, que forma a morte dos sentidos exteriores. Para
guardar esta casa é necessário um guardião que vigie por toda parte, por dentro e por fora, e
este é o santo temor de Deus, que a guarda de qualquer inconveniente, vento, ou qualquer
outra coisa que possa ameaçá-la.Este temor será a salvaguarda desta casa, que fará agir a
alma não por temor da pena, mas por temor de ofender ao proprietário desta casa. Este santo
temor deve fazer com que tudo seja feito para agradar a Deus, sem nenhuma outra
intenção. Logo se deve adornar esta casa e enchê-la de tesouros, estes tesouros não devem
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ser outra coisa que desejos santos, lágrimas; estes eram os tesouros do Antigo Testamento e
neles encontraram sua salvação, no cumprimento de seus votos sua consolação, a força nos
sofrimentos; em suma, toda a sua fortuna se baseava no desejo do futuro Redentor e nesse
desejo agiam como atletas. A alma sem desejo trabalha quase como morta; mesmo as mesmas
virtudes, tudo é tédio, aborrecimento, animosidade, nada lhe agrada, caminha quase
arrastando-se pelo caminho do bem. Ao contrário a alma que deseja, nada lhe causa peso,
tudo é alegria, voa, nas mesmas penas encontra seus gostos, e isto porque havia um
antecipado desejo, e as coisas que primeiro se desejam, depois vêm a amar-se, e amando-se,
encontram-se os prazeres mais agradáveis. Por isso este desejo deve acompanhar a alma
desde antes de que se fabrique esta casa.
(3) Os adornos desta casa serão as pedras mais preciosas, as pérolas, as gemas mais caras
desta minha vida, baseada sempre no sofrer e no puro sofrer; e como Aquele que a habita é o
doador de todo bem, põe nela o enxoval de todas as virtudes, a perfuma com os mais suaves
odores, semeia as flores mais encantadoras e perfumadas, faz soar uma música celestial das
mais agradáveis, faz respirar um ar de Paraíso.
(4) Esqueci de dizer que é preciso ver se há paz doméstica, e esta não deve ser outra coisa
que o recolhimento e o silêncio dos sentidos interiores”.
(5) Depois disto, eu continuava nos braços de Nosso Senhor e me encontrava despojada de
tudo; enquanto estava nisto, via o confessor presente e Jesus me disse, mas me parecia que
queria fazer uma brincadeira para ver o que eu dizia:
(6) “Minha filha, você se despojou de tudo, e você sabe que quando se despoja se necessita
outra pessoa que pense em vesti-lo, em alimentá-lo e que lhe dê um lugar onde viver. Tu, onde
queres estar, nos braços do confessor ou nos meus?”
(7) E enquanto dizia isto, tentava colocar-me nos braços do confessor. Eu comecei a insistir
que não queria ir, e Ele que queria. Depois de um pouco de disputa me disse:
(8) “Não temas, te tenho em meus braços”.
(9) E assim ficamos em paz.
* * * * * *
2-90
Outubro 30, 1899
Ameaça de castigos. Não se conforma à Justiça.
(1) Esta manhã meu benigno Jesus veio todo aflito, e as primeiras palavras que me disse
foram:
(2) “Pobre Roma, como será destruída! Ao te ver Eu te compadeço!”
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(3) E o dizia com tal ternura que dava compaixão; mas não entendi se serão só as pessoas ou
também os edifícios. Eu, como tinha a obediência de não me conformar à justiça, mas de rezar,
por isso lhe disse: “Meu amado Jesus, quando se fala de castigos não se necessita opor mais,
senão somente rezar”. E assim comecei a rezar, a beijar suas chagas e a fazer atos de
reparação. E enquanto isso fazia, Ele de vez em quando me dizia:
(4) “Minha filha, não me faças violência, fazendo isto tu queres forçar-me, por isso fica quieta”.
(5) E eu: “Senhor, é a obediência que assim o quer, não sou eu que o quero”.
(6) Ele acrescentou: “O rio da iniqüidade é tanto, que chega a impedir a redenção das almas, e
só a oração e minhas chagas impedem que este rio impetuoso as arraste a todas nele”.
* * * * * *
GLORIA A DEUS!
Nihil obstat
Canonico Annibale
M. Di Francia
Eccl.
Imprimatur
Arzobispo Giuseppe M. Leo
Octubre de 1926
80
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade