LIVRO DO CÉU VOLUME 3-72
20 de Maio de 1900
72- Todas as coisas têm início no nada. Necessidade do repouso e do silêncio interior.
(1) Encontrando-me fora de mim mesma, me parecia que fosse de noite e via todo o universo, toda a ordem da natureza, o céu estrelado, o silêncio noturno, em suma, me parecia que tudo tinha um significado. Enquanto olhava para isto, parecia-me que via Nosso Senhor, que tomando a palavra acerca do que via disse:
(2) “Toda a natureza convida ao repouso, mas qual é o verdadeiro repouso? É o repouso interior e o silêncio de tudo o que não é Deus. Olhe, as estrelas cintilantes de luz moderada, não deslumbrante como o sol; o sono e o silêncio de toda a natureza, dos homens e até dos animais, e que todos procuram um lugar, uma caverna onde estar em silêncio e repousar do cansaço da vida. Se isso é necessário para o corpo, muito mais para a alma é necessário repousar em seu próprio centro que é Deus. Mas para poder repousar em Deus é necessário o silêncio interior, como ao corpo é necessário o silêncio exterior para poder-se pacificamente adormecer. Mas o que é este silêncio interior? É fazer calar as próprias paixões tendo-as em seu lugar, é impor silêncio aos desejos, às inclinações, aos afetos, em suma, a tudo o que não chama a Deus. Agora, qual é o meio para chegar a isto? O único meio e de absoluta necessidade é desfazer o próprio ser e reduzir-se ao nada, como era antes de ser criada, e quando tiver reduzido a nada o seu ser, retomá-lo em Deus.
(3) Minha filha, todas as coisas têm princípio do nada, esta mesma máquina do universo que você vê com tanta ordem, se antes de criá-la tivesse estado cheia de outras coisas, Eu não poderia colocar minha mão criadora para fazê-la com tanta maestria e deixá-la tão esplêndida e adornada, no máximo poderia desfazer tudo o que podia estar, e depois refazê-la como a Mim me agradava; mas estamos sempre ali, em que todas minhas obras têm princípio do nada, e quando há mistura de outras coisas, não é decoroso para minha Majestade descer e obrar na alma, mas quando a alma se reduz a nada e sobe a Mim, e toma seu ser no meu, então Eu obro como o Deus que sou, e a alma aí encontra o verdadeiro repouso. Eis como todas as virtudes têm princípio na humildade e no aniquilamento de si mesmo.
(4) Quem pode dizer quanto compreendia sobre o que me dizia o bendito Jesus? Oh, como seria feliz minha alma se pudesse chegar a desfazer meu pobre ser, para poder receber de meu Deus seu Ser Divino! ¡ Oh, como me enobreceria, como ficaria santificada! Mas que tolice é a minha, onde tenho o cérebro se ainda não o faço? ¡ Que miséria humana, que em vez de buscar seu verdadeiro bem e de empreender seu vôo ao alto, se contenta com arrastar-se por terra e viver na lama e na podridão!
(5) Depois disto meu amado Jesus me transportou dentro de um jardim em que havia muita gente que se preparava para assistir a uma festa, mas só aqueles que recebiam uma divisa podiam assistir, mas eram poucos os que recebiam esta divisa; a mim me veio um grande desejo de recebê-la, e tanto fiz que consegui meu propósito. Depois, tendo chegado ao ponto onde os recebiam, uma venerável matrona primeiro me vestiu de branco, depois me pôs uma banda celestial da
qual pendia uma medalha marcada com o rosto de Jesus, e que enquanto era rosto ao mesmo tempo era espelho, que ao contemplar-se nele se descobriam as menores manchas, e que a alma com a ajuda de uma luz que vinha de dentro daquele rosto, podia ser facilmente removido. Parecia-me que essa medalha continha um significado misterioso. Depois tomou um manto de ouro finíssimo e me cobriu toda. Parecia-me que vestida assim podia competir com as virgens bem- aventuradas. Enquanto isso acontecia Jesus me disse:
(6) “Minha filha, voltemos a ver o que fazem os homens, por agora basta que estejas vestida, quando for a festa então te levarei para assistir”.
(7) Assim, depois de ter virado um pouco, transportou-me para a minha cama.
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