O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS
LIVRO DO CÉU
A chamada às criaturas à ordem, ao seu posto e à finalidade para a qual foram criadas por Deus.
Este livro foi traduzido pelo site www.divinavontadenobrasil.com para distribuição gratuita
Volume 06
NIHIL OBSTAT
Beato Annibale M. Di Francia.
12 Outubro de 1926
IMPRIMATUR Exmo. Sr. Giuseppe M. Leo, Arcebispo da Diocese de Trani – Barletta – Bisceglie Italia 16 Outubro 1926
Imprima-se
Arcebispado de Guadalajara Jal.,
23 de novembro de 2010
Mons. J. Gpe Ramiro Valdés Sánchez
Vigario Geral
2
Queremos consagrar este livro e os frutos que possam resultar de sua leitura, à nossa Mãe Santíssima,
a Rainha do reino da Divina Vontade
3
Volume 06
1I. M. I.
6-1
Novembro 1, 1903
Quando a alma faz todas as suas ações pelo único fim de amar a Jesus, caminha sempre de dia, para ela jamais é noite.
(1) Continuando meu estado habitual, me encontrei fora de mim mesma, e me via como um pequeno vapor, e eu ficava toda maravilhada ao me ver reduzida nessa forma. Enquanto eu estava nisto veio o meu adorável Jesus e disse-me:
(2) “Minha filha, a vida do homem é vapor, e assim como ao vapor é só o fogo que o faz caminhar, e à medida que o fogo é vivo e muito, assim corre mais veloz, e se é pouco caminha a passo lento, e se está apagado fica detido; assim a alma, se o fogo do amor de Deus é muito, pode-se dizer que voa sobre todas as coisas da terra, e sempre corre e voa a seu centro que é Deus; agora, se é pouco se pode dizer que caminha com dificuldade, arrastando-se e enlameando-se de tudo o que é terra; se está apagado fica parada, sem vida de Deus nela, como morta a tudo o que é divino. Minha filha, quando a alma em todas suas ações não as faz por outra coisa senão com o único fim de me amar, e nenhuma outra recompensa quer de seu obrar mais que meu amor, caminha sempre de dia, jamais é noite para ela, mas bem caminha no mesmo sol, que quase como vapor a circunda para fazê-la caminhar nele, fazendo-lhe gozar toda a plenitude da luz, e não só isso, senão que suas mesmas ações servem de luz para o seu caminho e sempre adicionar nova luz”.
+ + + +
6-2
Novembro 8, 1903
Jesus diz como deve ser o amor do próximo.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava a implorar por certas necessidades do próximo, e o bendito Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(2) “Com que fim rezas por estas pessoas?”
(3) E eu: “Senhor, e Tu por qual fim nos amaste?”
(4) E Ele: “Amo-vos porque sois coisa minha, e quando o objeto é próprio, sente-se como obrigado, é como uma necessidade amá-lo”.
(5) E eu: “Senhor, estou rezando por estas pessoas porque são coisa tua, de outra maneira não me teria interessado”. E Ele, pondo a mão na minha testa, quase a apertando, acrescentou: (6) “Ah! Então é porque são coisa minha? Assim está bem o amor do próximo”.
+ + + +
1Este livro foi traduzido do espanhol
4
Volume 06
6-3
Novembro 10, 1903
Como o verdadeiro amor se esquece de si mesmo.
(1) Continuando no meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus, dizia-me: (2) “Minha filha, o verdadeiro amor se esquece de si mesmo e vive nos interesses, às penas e a tudo o que pertence à pessoa amada”.
(3) E eu: “Senhor, como se pode esquecer de si mesmo enquanto o sentimos tanto, não é que seja uma coisa distante de nós, ou bem dividida que facilmente se possa esquecer?” E de novo acrescentou que aí está o sacrifício do verdadeiro amor, porque enquanto se tem a si mesmo deve viver a tudo o que pertence à pessoa amada, e mais, se se recorda de si mesmo, esta lembrança deve servir para se fazer principalmente em como poder consumir-se pelo objeto amado, e o amado se vê que a alma se dá toda a Ele, a saberá recompensar bem dando-lhe todo a si mesmo, fazendo-a viver de sua Vida Divina; assim que quem tudo esquece, tudo encontra. Além disso, é necessário ver a diferença que há entre o que se esquece e o que se encontra: Esquece-se o feio e encontra-se o belo, esquece-se a natureza e encontra-se a graça, esquecem-se as paixões e encontram-se as virtudes, esquece-se a pobreza e encontra-se a riqueza, esquece-se a ignorância e encontra-se a sabedoria, esquece-se o mundo e encontra-se o Céu”.
+ + + +
6-4
Novembro 16, 1903
Não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o
esquecimento de si mesmo fazem nascer o amor mais puro e perfeito.
1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus nos braços, e uma virgem que me estendeu em terra para me fazer sofrer a crucificação, mas não com pregos, mas com fogo, pondo-me um carvão de fogo nas mãos e nos pés, e o bendito Jesus que me assistia enquanto sofria, dizia-me:
(2) “Minha filha, não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o esquecimento de si faz nascer o amor mais puro e perfeito, e sendo sagrado o sacrifício, acontece que este me consagra à alma como digno santuário meu para fazer ali minha perpétua morada. Então faz com que o sacrifício trabalhe em ti para te tornares sagrado a alma e o corpo, para que tudo seja em ti sagrado, e consagra-me tudo a Mim”.
+ + + +
6-5
Novembro 19, 1903
5
Volume 06
Enquanto se é nada pode ser tudo
(1) Continuando o meu habitual estado, vi dentro de mim o bendito Jesus, e uma luz na minha inteligência que dizia:
(2) “Enquanto se é nada se pode ser tudo, mas em que modo? Torna-se tudo com o sofrimento. Sofrer faz com que a alma se torne pontífice, sacerdote, rei, príncipe, ministro, juiz, advogado, reparador, protetor, defensor. E como o verdadeiro sofrer é o sofrer querido por Deus em nós, se a alma se une em tudo a seu Querer, esta união, unida ao sofrer, faz que a alma impere sobre a justiça, sobre a misericórdia de Deus, sobre os homens e sobre todas as coisas. Agora, assim como a Cristo o sofrer lhe deu todas as mais belas qualidades e todas as honras e ofícios que a natureza humana pode conter, assim a alma, participando no sofrer de Cristo participa das qualidades, das honras e dos ofícios de Cristo, que é o todo”.
+ + + +
6-6
Novembro 23, 1903
Não há beleza igual ao sofrer somente por Deus.
(1) No meu íntimo, fiquei impressionada com o que tinha escrito acima, como se não estivesse conforme à verdade, por isso assim que vi o bendito Jesus disse: “Senhor, o que escrevi não está bem, como pode ser tudo isso só com o sofrer?”
(2) E Ele: “Minha filha, não te admires, porque não há beleza que iguale ao sofrer só pelo amor de Deus. De Mim partem continuamente duas flechas, uma do meu coração, que é de amor e fere a todos aqueles que estão no meu regaço, isto é, que estão na minha graça, e esta flecha produz chagas, mortifica, irrita, aflige, atrai, revela, consola e continua minha Paixão e Redenção naqueles que estão em meu colo; a outra parte de meu trono eu a confio aos anjos, os quais como ministros meus fazem correr esta flecha sobre qualquer espécie de pessoas, punindo-as e excitando todos à conversão”.
(3) Agora, enquanto isto dizia me participou suas dores dizendo-me:
(4) “Eis também em ti a continuação de minha Redenção”.
+ + + +
6-7
Novembro 24, 1903
Como cada palavra de Jesus são tantos elos de graça.
(1) Continuando o meu estado habitual, mal vi o bendito Jesus dentro de mim, e como se quisesse continuar a tirar-me as dúvidas disse-me:
6
Volume 06
(2) “Filha, Eu sou a verdade mesma, e jamais pode sair de Mim a falsidade, ou mais alguma coisa que o homem não compreende, e isto faço-o para fazer ver que se não se compreende bem a palavra, como se pode compreender em tudo o Criador? Mas no entanto a alma deve corresponder pondo em prática a minha palavra, porque cada palavra são tantos elos de graça que saem de Mim, dos quais faço dom à criatura, e se corresponde, estes elos os acorrenta aos outros já adquiridos; se não, os devolve a seu Criador, e não só isto, senão que Eu somente falo quando vejo a capacidade da criatura que pode receber esse dom, e correspondendo-me não só adquire tantos elos de graça, mas adquire também tantos elos de sabedoria divina, e se os vejo acorrentados com a correspondência, disponho-me a dar-lhe outros dons; mas se vejo meus dons rejeitados, retiro-me guardando silêncio”.
+ + + +
6-8
Dezembro 3, 1903
Com a Divina Vontade somos tudo, sem Ela somos nada.
(1) Continuando o meu estado habitual, por pouco tempo veio o meu bendito Jesus dizendo-me: (2) “Minha filha, qualquer ação humana que não tem nenhum nexo com a Vontade Divina, põe fora a Deus de sua própria criação; até mesmo o mesmo sofrer, por quão santo, nobre e precioso fosse a meus olhos, não obstante, se não é parto de minha Vontade, em vez de me agradar me indigna e me é desagradável”.
(3) Oh! poder da Vontade Divina, como é santa, adorável e amável, Contigo somos tudo, ainda que nada façamos, porque tua Vontade é fecunda e nos dá a luz todos os bens, e sem Ti somos nada, embora tudo façamos, porque a vontade humana é estéril e esteriliza todas as coisas. + + + + +
6-9
Dezembro 5, 1903
Como o santo desejo de receber a Jesus substitui o sacramento,
fazendo com que a alma respire a Deus, e que Deus respire a alma.
(1) Não tendo podido receber a comunhão esta manhã, estava toda aflita, mas resignada, e pensava entre mim que se não tivesse sido porque me encontrava nesta posição de estar na cama, e se fosse vítima, certamente a teria podido receber, e dizia ao Senhor: “Olhe, o estado de vítima me submete ao sacrifício de privar-me de recebê-lo no sacramento, ao menos aceita o sacrifício de privar-me de Ti para te contentar, como um ato mais intenso de amor por Ti, porque ao menos o pensar que sua mesma privação atesta ainda mais meu amor por Ti, adoça a amargura de sua privação”. E enquanto dizia isto, as lágrimas me desciam dos olhos, mas, ó bondade do meu bom Jesus, não apenas me adormeci, sem fazer-me esperar tanto e procurar segundo o habitual, veio
7
Volume 06
de súbito e me pondo suas mãos no rosto, me acariciava e me dizia:
(2) “Minha filha, pobre filha, ânimo, minha privação estimula principalmente o desejo, e neste desejo incentivado, a alma respira a Deus, e Deus sentindo-se mais iluminado por este estimular da alma, respira a alma, e neste respirar-se mutuamente Deus e a alma, acende-se principalmente a sede do amor, e sendo o amor fogo, forma o purgatório da alma, e este purgatório de amor serve-lhe não de uma só comunhão ao dia, como permite a Igreja, mas de uma contínua comunhão, porque é contínuo o respiro, mas todas comunhões de puríssimo amor, só de espírito e não de corpo, E sendo o espírito mais perfeito, acontece que o amor é mais intenso. Assim recompenso Eu, não a quem não quer receber-me, senão a quem não pode receber-me, privando
se de Mim para me agradar a Mim”.
+ + + + +
6-10
Dezembro 10, 1903
Quem busca o Senhor, cada vez recebe uma tinta um lineamento divino. (1) Continuando meu estado, sentia um peso sobre minha alma pela privação do bendito Jesus, como se sobre mim gravitasse todo o peso do mundo, e em minha imensa amargura fazia quanto mais podia por buscá-lo. Depois, tendo vindo, disse-me:
(2) “Minha filha, cada vez que a alma me procura recebe uma tinta, um lineamento divino, e outras tantas vezes renasce em Mim e Eu renasço nela”.
(3) Enquanto dizia isto, estava a pensar no que tinha dito, quase maravilhando-me dizendo: “Senhor, que dizes?”
(4) E Ele acrescentou: “Oh, se soubesses a glória, o gosto que sente todo o Céu ao receber esta nota da terra, de uma alma que procura sempre a Deus, toda conforme a nota deles! O que é a vida dos bem-aventurados? Quem a forma? Este renascer continuamente em Deus e Deus neles, isto é aquele ditado: “Que Deus é sempre velho e sempre novo”. Jamais sentem cansaço, porque estão em contínua atitude de nova vida em Deus”.
+ + + +
6-11
Dezembro 17, 1903
O verdadeiro espírito de adoração consiste nisto: que a criatura se perca a si mesma e se encontre no ambiente divino, e adore tudo o que Deus faz, e que se una com Ele.
(1) Continuando o meu habitual estado, por poucos instantes vi o bendito Jesus com a cruz nas costas, no momento de encontrar a sua Santíssima Mãe, e eu disse-lhe: “Senhor, o que fez a tua
8
Volume 06
Mãe neste encontro dolorosíssimo?”
(2) E Ele: “Minha filha, não fez outra coisa senão um ato de adoração profundíssimo e simplíssimo, como o ato quanto mais simples, tanto mais fácil para unir-se com Deus, Espírito simplíssimo, por isso neste ato fundiu-se em Mim e continuou o que eu mesmo operava em meu interior; e isto me foi sumamente grato que se tivesse feito qualquer outra coisa maior, porque o verdadeiro espírito de adoração consiste nisto, que a criatura se perca a si mesma e se encontre no ambiente divino, e adore tudo o que Deus faz, e com Ele se una. Você crê que seja verdadeira adoração aquela em que a boca adora enquanto a mente está em outra parte, ou seja, a mente adora e a vontade está longe de Mim? Ou então, que uma potência adora-me e as outras estão todas desarrumadas? Não, Eu quero tudo para Mim, e tudo o que lhe dei em Mim, e este é o ato de culto e de adoração maior que a criatura pode fazer-me”.
+ + + +
6-12
Dezembro 21, 1903
Glória que goza no Céu a Celestial Mãe
(1) Esta manhã encontrei-me fora de mim mesma, e vendo a abóbada do céu, via sete sóis muito resplandecentes, mas a forma era diferente do sol que nós vemos, começavam em forma de cruz e terminavam em ponta, e esta ponta estava dentro de um coração. Ao princípio não se via bem, porque era tanta a luz destes sóis que não deixava ver quem estava dentro, mas quanto mais me aproximava, mais se distinguia que dentro estava a Rainha Mãe, e em meu interior ia dizendo: “Quanto gostaria de lhe perguntar se quer que me esforce para sair deste estado sem que esperasse o sacerdote”. Enquanto isso acontecia me encontrei a seu lado e o disse, e me respondeu um “não” incisivo. Eu fiquei mortificada por esta resposta, e a Santíssima Virgem se voltou para uma multidão de pessoas que lhe faziam coroa e lhes disse:
(2) “Escutem o que ela quer fazer”.
(3) E todos disseram: “Não, não”.
(4) Depois, aproximando-se de mim, toda a bondade me disse:
(5) “Minha filha, ânimo no caminho da dor, vê estes sete sóis que me saem do coração, são minhas sete dores que me frutificaram tanta glória e esplendor, estes sóis, fruto de minhas dores, lançam setas continuamente no trono da Santíssima Trindade, a qual, sentindo-me ferida me enviam sete canais de graça continuamente, convertendo-me em dona e eu os disponho para glória de todo o Céu, para alívio das almas purgantes, e para benefício de todos os viadores”.
(6) Enquanto dizia isto desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.
+ + + + +
6-13
Dezembro 22, 1903
9
Volume 06
A cruz forma a encarnação de Jesus no seio das almas, e a encarnação da alma em Deus.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, veio meu adorável Jesus crucificado, e tendo-me participado suas penas, enquanto eu sofria me disse:
(2) “Minha filha, na Criação Eu dei à alma minha imagem, na Encarnação dei minha Divindade, divinizando a humanidade. E no mesmo ato em que se encarnou a Divindade na humanidade, naquele mesmo instante se encarnou na cruz, assim que desde que fui concebido me concebi unido com a cruz, e se pode dizer que assim como a cruz foi unida Comigo na encarnação no seio de minha Mãe, assim a cruz forma outras tantas encarnações minhas no seio das almas; e assim como forma minha encarnação nas almas, assim a cruz é a encarnação da alma em Deus, destruindo lhe tudo o que é de natureza humana, e enchendo-a tanto da Divindade, de formar uma espécie de encarnação: Deus na alma e a alma em Deus”.
(3) Eu fiquei como extasiada ao ouvir que a cruz é a encarnação da alma em Deus, e Ele repetiu: (4) “Não digo união, mas encarnação, porque a cruz se intromete tanto na natureza, de chegar a transformar a mesma natureza em dor, e onde está a dor aí está Deus, sem poder estar separados Deus e a dor; e a cruz formando esta espécie de encarnação volta a união mais estável, e muito difícil a separação de Deus com a alma, assim como é difícil separar a dor da natureza. Enquanto que com a união, facilmente pode ocorrer a separação. Entende-se que não são encarnações, mas semelhanças de encarnações”.
(5) Dito isto desapareceu, mas pouco depois voltou no momento de sua Paixão quando foi coberto de opróbrios, de ignomínias, de cuspidos, e eu lhe disse: “Senhor, ensina-me que coisa posso fazer para afastar de Ti estes opróbrios e restituir-te as honras, os louvores e as adorações”. (6) E Ele disse: “Minha filha, em torno de meu trono há um vazio, e este vazio deve ser preenchido pela glória que me deve a Criação; por isso, quem me vê desprezado pelas outras criaturas e me honra, não só por si, mas pelos demais me faz renascer as honras neste vazio; quando não me vê amado e me ama, me faz renascer o amor; quando vê que cumulo as criaturas de benefícios e não me reconhecem e nem sequer me agradecem, e ela me agradece como se lhe tivessem sido feitos os benefícios, faz-me renascer neste vazio a flor da gratidão e do agradecimento, e assim de todo o resto que me deve a Criação, e que com negra ingratidão me nega. Agora, sendo tudo isto uma superabundância da caridade da alma, que não só me devolve o que me deve por si, senão que o que transborda de si me faz pelas outras, sendo esta glória fruto da caridade, estas flores que me manda neste vazio em torno de meu trono, recebem uma cor mais bonita e a Mim muito agradável”.
+ + + +
6-14
10
Volume 06
Dezembro 24, 1903
O desejo faz com que Jesus nasça na alma. O mesmo faz o demônio.
(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, veio o menino Jesus, e eu, vendo-o muito pequeno, como se acabasse de nascer, disse-lhe: “Meu querido, qual foi a causa, quem te fez vir do Céu e nascer tão pequeno no mundo?”
(2) E Ele: “O amor foi a causa, e não só isto, mas o meu nascimento no tempo foi o desabafo de amor da Santíssima Trindade para com as criaturas. Num desabafo de amor de minha Mãe nasci de seu seio, e num desabafo de amor renasci nas almas. Mas este desabafo é formado pelo desejo, assim que a alma começa a desejar-me, eu fico já concebido, quanto mais se adentra no desejo, assim me vou alargando na ama, quando este desejo enche todo o interior e chega a transbordar fora, então renasço em todo o homem, isto é, na mente, na boca, nas obras e nos passos.
(3) De igual modo, também o demônio faz seus nascimentos nas almas, assim que a alma começa a desejar e a querer o mal, fica concebido o demônio com suas obras perversas, e se este desejo vem alimentado, o demônio se engrandece e enche todo o interior de paixões, as mais feias e asquerosas, e chega a transbordar fora, dando ao homem o caminho de todos os vícios. Minha filha, quantos nascimentos faz o demônio nestes tristíssimos tempos, se tivessem poder, os homens e os demônios teriam destruído meus nascimentos nas almas”.
+ + + +
6-15
Dezembro 28, 1903
Como todas as vidas estão em Cristo.
(1) Depois de haver esperado muito, assim que veio meu bendito Jesus, fazia-me ver muitas almas humanas em sua humanidade, e enquanto via me disse:
(2) “Minha filha, todas as vidas humanas estão em minha Humanidade no Céu como dentro de um claustro, e estando dentro de meu claustro, de Minha parte o regime de suas vidas, não só isto, senão que minha Humanidade sendo claustro, faz as vidas de cada alma; qual não é minha alegria quando as almas estão neste claustro, e o eco que sai da minha Humanidade combina-se com o eco de cada vida humana da terra; e qual é a minha amargura quando vejo que as almas não estão contentes e saem, e outras estão, mas forçadas e de má vontade, não se submetem às regras e ao regime de meu claustro, por isso os ecos não se combinam juntos”.
+ + + + +
11
Volume 06
6-16
Janeiro 6, 1904
A raça humana é toda uma família; quando alguém faz alguma boa obra e a oferece a Deus, toda a família humana participa naquela oferta, e para Ele é como se todos a oferecessem.
(1) Continuando o meu habitual estado, veio o bendito Menino Jesus, e depois de se ter colocado nos meus braços e de me ter abençoado com as suas mãozinhas, disse-me: (2) “Minha filha, sendo a raça humana toda uma família, quando alguém faz alguma obra boa e me oferece alguma coisa, toda a família humana participa naquela oferta e está presente como se todos me oferecessem. Como hoje os magos, ao oferecer-me seus dons Eu tive em suas pessoas presente a toda a geração humana, e todos participaram do mérito de sua boa obra. A primeira coisa que me ofereceram foi o ouro, e Eu em correspondência lhes dei a inteligência e o conhecimento da verdade; mas você sabe qual é o ouro que quero agora das almas? Não o ouro material, não, mas o ouro espiritual, isto é, o ouro de sua vontade, o ouro dos afetos, dos desejos, dos próprios gostos, o ouro de todo o interior do homem, este é todo o ouro que a alma tem, e o quero tudo para Mim. Agora, para dar-me isto, à alma é muito difícil dá-lo sem sacrificar-se e mortificar-se, e esta é a mirra, que como fio elétrico ata o interior do homem e o faz mais resplandecente, e lhe dá a tinta de múltiplas cores, dando à alma todas as espécies de belezas; mas isto não é tudo, é necessário quem mantenha sempre vivas as cores, o frescor, que como perfume e brisa exala do interior da alma, requer-se quem ofereça e quem obtenha dons maiores daqueles que doa, como também se requer ainda quem obrigue a habitar no próprio interior Aquele que recebe e Aquele que dá e tê-lo em contínua conversa e em contínuo comércio com ele, então quem faz tudo isto? A oração, em especial o espírito de oração interior, que sabe converter não só as obras internas em ouro, mas também as obras externas, e este é o incenso”.
+ + + + +
6-17
Fevereiro 7, 1904
Como é difícil encontrar uma alma que se dê toda a Deus.
Para poder fazer com que Deus se dê tudo dela.
(1) Passei todo o mês passado sofrendo muito, por isso negligenciei escrever, e continuava me sentindo muito débil e sofrida, me vem frequentemente um temor, porque não é que não possa escrever, senão que não quero, e por desculpa digo que não posso; é verdade que sinto muita repugnância e devo fazer um grande esforço para escrever, e só a obediência podia vencer-me. Por isso, para tirar qualquer dúvida, decidi não escrever tudo, mas apenas algumas palavras que
12
Volume 06
me lembro, para ver se realmente posso ou não posso. Recordo que um dia me sentindo mal me disse:
(2) “Minha filha, o que será se cessar a música no mundo?”
(3) E eu: “Senhor, que música pode cessar?
(4) E Ele ajuntou: “Tua música amada minha, porque quando a alma sofre por Mim, roga, repara, louva, agradece continuamente, é uma contínua música a meu ouvido, e me tira o sentir a iniquidade da terra, e portanto de castigar como convém, e não só isso, mas que é música nas mentes humanas e as impede de fazer coisas piores. Então, se eu te levar, a música não vai parar? Para mim é nada, porque não será outra coisa que transportá-la da terra ao Céu, e em vez de tê-la na terra a terei no Céu, mas o mundo como fará?”
(5) Então eu pensava para mim: “Estes são os habituais pretextos para não levar-me, há tantas almas boas no mundo e que tanto fazem por Deus, e que eu entre todas elas não ocupo senão talvez o último lugar, porém diz que se me levar cessará a música. Há tantas que a fazem melhor”. Enquanto isso pensava, como um raio veio e acrescentou:
(6) “Minha filha, isto que dizes é verdade, que há muitas almas boas e que muito fazem por Mim, mas como é difícil encontrar uma que me dê tudo para poder dar-me tudo; quem se retém um pouco de amor próprio, um a própria estima, outro um afeto inclusive a pessoas mesmo santas, e outro uma pequena vaidade, quem se retém um pouco de apego à terra, quem ao interesse, em suma, quem a uma coisa e quem a outra, todos retêm alguma coisa de próprio e isto impede que tudo seja divino neles. Então, não sendo todo divino o que sai deles, não poderá sua música produzir aqueles efeitos a meu ouvido e às mentes humanas. Por conseguinte, o muito fazer deles não poderá produzir aqueles efeitos, nem me agradar tanto, como o pequeno fazer de quem não retém nada para si e que toda a Mim se dá”.
+ + + +
6-18
Fevereiro 8, 1904
Uma das qualidades de Jesus é a dor. Para quem vive da sua
Santíssima Vontade não existe o purgatório.
(1) Recordo que outro dia, continuando com meu sofrimento, via que o confessor rogava a Nosso Senhor que me tocasse onde eu sofria para acalmar-me os sofrimentos, e Jesus bendito me disse: (2) “Minha filha, o teu confessor quer que te toque para aliviar as dores, mas entre tantas qualidades minhas Eu sou pura dor, e tocando-te, em vez de diminuir pode aumentar a dor, porque a minha Humanidade na coisa em que mais se deleitou foi na dor, e se deleita ainda em comunicá
lo a quem ama”.
(3) E parecia que na realidade me tocava e me fazia sentir mais dor, então eu agreguei: “Doce bem
13
Volume 06
meu, quanto a mim, não quero outra coisa que sua Santíssima Vontade, eu não olho nem se me dói, nem se gozo, senão que teu Querer é tudo para mim”.
(4) E Ele acrescentou: E isto é o que Eu quero, e é a minha mira sobre ti, e isto me basta e me agrada, e é o culto maior, mais honrado que a criatura me pode fazer, e que me deve como a seu Criador, e a alma fazendo assim, pode-se dizer que sua mente vive e pensa em minha mente; seus olhos, encontrando-se nos meus, olham por meio de meus olhos; sua boca fala por meio de minha boca; seu coração ama por meio do meu; suas mãos operam em minhas mesmas mãos; os pés andam em meus pés, e eu posso dizer: “Tu és meu olho, minha boca, meu coração, minhas mãos e meus pés”. E a alma pode dizer ao contrário: “Jesus Cristo é meu olho, minha boca, meu coração, minhas mãos e meus pés”. E a alma encontrando-se nesta união, não só de vontade, mas pessoal, morrendo, nada lhe resta por purgar, e por isso o purgatório não pode tocá-la, porque o purgatório toca aqueles que vivem fora de Mim, em tudo, ou em parte”.
+ + + + +
6-19
Fevereiro 12, 1904
Lamentações da alma, Jesus tranquiliza-a.
(1) Continuando em meu estado habitual, sofrendo mais, veio o bendito Jesus e de todas as partes de sua humanidade saíam tantos riachos de luz que se comunicavam a todas as partes de meu corpo, e destes rios que eu recebia saíam de mim outros tantos rios que se comunicavam à Humanidade de nosso Senhor. Enquanto estava nisto encontrei-me rodeada por uma multidão de santos, que olhavam para mim e diziam entre eles: “Se o Senhor não concordar com um milagre não poderá viver mais, porque lhe faltam os humores vitais, o curso do sangue já não é natural, por isso, segundo as leis naturais deve morrer”. E rogavam a Jesus bendito que fizesse este milagre, que eu continuasse a viver, e nosso Senhor lhes disse:
(2) Pela comunicação dos rios, como vêem, significa que tudo o que ela faz, até as coisas naturais estão identificadas com a minha humanidade, e quando eu faço chegar a alma a este ponto, de tudo o que opera a alma e o corpo nada se perde, tudo permanece em Mim; enquanto que se a alma não chegou a identificar-se em tudo com a minha humanidade, muitas obras que faz se perdem. E tendo-a feito chegar a este ponto, por que não posso eu levá-la?”
(3) Agora, enquanto diziam isto, pensava entre mim: “Parece que todos estão contra mim, a obediência não quer que eu morra, estes estão rogando ao Senhor que não me leve, que querem de mim? Eu não sei por que quase à força querem que esteja nesta terra, afastada do meu sumo bem”. E toda me afligia. Enquanto isso pensava Jesus me disse:
14
Volume 06
(4) “Minha filha amada, não queira te afligir, as coisas do mundo ficam tristíssimas e sempre mais piorarão, se chegar o ponto em que deva dar livre desabafo a minha justiça te levarei, e então não escutarei mais a nenhum”.
+ + + +
6-20
Fevereiro 21, 1904
Promessa.
(1) Diante da presença da Santíssima Trindade, da Rainha-Mãe Maria Santíssima, do meu anjo guardião, e de toda a corte celestial, e por obedecer ao meu confessor, prometo que se o Senhor por sua infinita misericórdia me fizer a graça de morrer, quando me encontrar com meu Esposo Celestial, rogarei e suplicarei o triunfo da Igreja e a confusão e conversão de seus inimigos; que em nosso país triunfe o partido católico e que a igreja de São Cataldo se reabra ao culto, que meu confessor fique livre de seus habituais sofrimentos, com uma santa liberdade de espírito e a santidade de um verdadeiro apóstolo de nosso Senhor, e que, se o Senhor permite que me envie a Ele, pelo menos uma vez por mês, para lhe referir as coisas celestiais e coisas pertencentes ao bem da sua alma. Eu prometo, quanto está do meu lado e eu juro.
+ + + + +
6-21
Fevereiro 22, 1904
O grande dom de ter uma vítima.
(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus via pessoas que sofriam, e eu rogava a Jesus que as libertasse daqueles sofrimentos mesmo à custa de eu sofrer em lugar deles, e Ele me disse:
(2) Se você quer sofrer tanto porque é vítima, o que acontecerá depois quando não estiver a vítima, então verão o vazio que sentirão aqueles que te rodeiam, o próprio país e também os reinos. Oh! Então como você vai saber, com a perda, o grande bem que eu tinha dado a eles dando-lhes uma vítima”.
+ + + +
6-22
Fevereiro 12, 1904
Fala com alguns sacerdotes sobre a igreja de São Cataldo.
(1) Tinha esquecido de dizer quanto estou por escrever, que agora por obediência o digo, se não são coisas certas mas dúvidas, porque faltava a presença de nosso Senhor:
15
Volume 06
(2) Encontrava-me fora de mim mesma e parecia que me encontrava dentro de uma igreja, onde estavam alguns veneráveis sacerdotes, e unidas almas do purgatório e pessoas santas que estavam discutindo entre si sobre a igreja de San Cataldo, e diziam quase com certeza que se havia conseguido abri-la ao culto, e eu escutando isto disse: “Como pode ser isto, no outro dia corriam rumores de que o Capítulo tinha perdido a causa, então, por meio do tribunal não se pôde obter, o município não a quer dar, e vocês dizem que se deve obter?” E eles acrescentaram: “Apesar de todas estas dificuldades, porém não está perdida, e ainda que se chegue a pôr mãos à obra para derrubá-la, não se poderá dizer perdida porque São Cataldo saberá defender bem seu templo, mas, pobre Corato se a isto chegarem”. Enquanto isso diziam, repetiram: “Já se levaram as primeiras coisas, a Virgem coroada já foi levada para sua casa, vai tu diante da Virgem e roga-lhe que tendo começado a graça, a cumpra”. Eu saí daquela igreja para ir rogar, mas enquanto isso fiz me encontrei em mim mesma.
+ + + +
26-23
Março 4, 1904
A alma deve viver no alto. Quem vive no alto não pode ser danificado.
(1) Encontrando-me muito aflita e sofredora pela perda de meu bom Jesus, assim que o vi me disse:
(2) “Minha filha, tua alma deve tratar de ter o vôo da águia, isto é, morar no alto, sobre todas as coisas baixas desta terra, e tão alto, que nenhum inimigo a possa prejudicar, porque quem vive no alto pode ferir os inimigos, mas não ser ferida. E não só deve viver no alto, mas deve tratar de ter pureza e acuidade de olhos semelhantes aos da águia. Assim, tendo esta vista e vivendo no alto, com a acuidade de sua vista penetra as coisas divinas, não de passagem, senão mastigando-as até fazer delas seu alimento predileto, desgostando-se de qualquer outra coisa, mas também penetra as necessidades do próximo e não teme descer entre eles e fazer-lhes o bem, e se for necessário põe sua própria vida. E com a pureza da vista, de dois amores faz um, o amor de Deus tal deve ser a alma se quer me agradar”.
+ + + +
6-24
Março 5, 1904
A cruz serve de intimação, advogado e juiz à alma, para tomar posse do reino eterno. (1) Esta manhã sentindo-me muito sofredora, com a adição de sua privação, depois de ter esperado muito, apenas por poucos instantes veio e me disse:
2Este capítulo tem data 12/02/04 porque devido a um esquecimento não o pôs no que escreveu nessa data, e por ordem do confessor o faz agora. Ela repete esta data no cabeçalho, mesmo que não corresponda.
16
Volume 06
(2) “Minha filha, os sofrimentos, as cruzes, são como tantos citatórios que Eu envio às almas, se a alma aceita estes convocatórios, ou que anunciem à alma que deve pagar alguma dívida, ou que sejam um aviso para que faça alguma aquisição para a vida eterna, se a alma me responde com a resignação a minha Vontade, com o agradecimento, com a adoração a minhas santas disposições, imediatamente nos pomos de acordo, e a alma evitará muitos inconvenientes, como ser convocada novamente, colocar advogados, fazer julgamento e sofrer a condenação do juiz. Com apenas responder ao encontro com a resignação e com o agradecimento suprirá a tudo isto, porque a cruz lhe será intimatório, advogado e juiz, sem necessitar de outra coisa para tomar posse do reino eterno. Mas se não aceita estas intimações, pense você mesma, em quantos abismos de desgraças, de problemas se mete a alma, e qual será o rigor do juiz ao condená-la por não ter aceitado à cruz por juiz, a qual é muito mais moderada, mais compassiva, mais inclinada a enriquecê-la em vez de julgá-la, mais atenta a embelezá-la do que a condená-la”.
+ + + + +
6-25
Março 12, 1904
Ameaça de guerras. Toda a Europa está sobre os ombros de Luisa.
(1) Estando doente Luisa, ordenei-lhe que ela ditasse, e não podendo desobedecer tem ditado quanto segue, com grande repugnância.
(2) Tendo-me lamentado com nosso Senhor de que sentindo-me sofredora, no entanto não me levava ao Céu, o bendito Jesus me disse:
(3) “Minha filha, ânimo no sofrimento, não quero que te abatas por não te ver ainda levada ao Céu. Saiba que toda a Europa está sobre os seus ombros, e o sucesso bom ou mau para a Europa depende do seu sofrimento. Se você é forte e constante no sofrimento, as coisas serão mais suportáveis; se você não é forte e constante no sofrer, ou bem Eu te levo ao Céu, serão tão graves que estará a ameaça de ser invadida e governada pelos estrangeiros”.
(4) E mais, acrescentou que: “Se você permanecer na terra e sofrer muito com desejo e constância, tudo o que acontecerá de castigos na Europa servirá para que venha o triunfo da Igreja. E se, apesar de tudo isto, a Europa não o aproveitar e permanecer obstinada no pecado, os seus sofrimentos servirão de preparativo para a sua morte, sem que a Europa o aproveite”.
Sac. Gennaro Di Gennaro
+ + + +
6-26
Março 14, 1904
Pela necessidade dos tempos, Jesus pede o silêncio porque quer castigar.
17
Volume 06
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, depois de muito esperar, o bendito Jesus saiu de meu interior, e eu querendo falar me pôs o dedo na boca dizendo:
(2) “Cala-te, cala-te”.
(3) Eu fiquei mortificadíssima e não tive mais coragem de abrir a boca, e o bendito Jesus vendo-me tão mortificada acrescentou:
(4) “Minha querida filha, a necessidade dos tempos traz o silêncio, porque se você me fala, sua palavra ata minhas mãos e jamais chego aos fatos de castigar como convém, e estamos sempre de cabeça, por isso é necessário que entre você e eu tenha lugar por algum tempo o silêncio”. (5) E enquanto isso dizia, ele lançou um cartaz no qual estava escrito: “São decretados flagelos, penas e guerras”. E desapareceu.
+ + + +
6-27
Março 16, 1904
A verdadeira resignação não põe a escrutínio as coisas,
mas adora em silêncio as divinas disposições.
A cruz é alegre, jubilosa, gozosa, anelante.
(1) Esta manhã me encontrando fora de mim mesma, me encontrei sobre uma pessoa que tinha o aspecto como se estivesse vestida como uma ovelha, e eu era levada sobre suas costas, mas ia a passo lento; adiante ia uma espécie de máquina mais veloz, e eu em meu Interior disse: “Este vai lento, gostaria de ir dentro daquela máquina que caminha mais veloz”. Não sei porquê, mas assim que pensei nisto, encontrei-me dentro dela na companhia dos que iam nela, e eles disseram-me: “O que fizeste? Como deixou o pastor? E que pastor, pois estando sua vida nos campos são suas todas as ervas medicinais, nocivas e boas à saúde, e estando com Ele se pode estar sempre com boa saúde, e se o vês vestido de ovelha é para tornar-se semelhante às ovelhas, fazendo que elas se aproximem sem nenhum temor, e se vai a passo lento, mas é mais seguro”. Quando ouvi isto, disse dentro de mim: “Já que assim é, gostaria de lhe dizer alguma coisa sobre a minha doença”. Enquanto pensava isto encontrei-o perto de mim, e eu toda contente aproximei-me do seu ouvido e lhe disse : “Bom Pastor, se és assim tão perito dá-me algum remédio para os meus males, pois eu encontro-me neste estado de sofrimentos”. E querendo dizer mais, calou-me ao dizer:
(2) “A verdadeira resignação, não fantástica, não põe a escrutínio as coisas, mas adora em silêncio as divinas disposições”.
(3) E enquanto dizia isto, parecia que se rompia a pele de lã e via o rosto de Nosso Senhor, e sua cabeça coroada de espinhos. Eu ao ouvir que me dizia isto, não sabia mais o que dizer, ficava em silêncio contente de estar junto com Ele, e Ele continuou:
18
Volume 06
(4) “Tu esqueceste de dizer ao confessor outra coisa sobre a cruz”.
(5) E eu: “Adorável Senhor meu, eu não me lembro, diga e direi”.
(6) E Ele: “Minha filha, entre tantos títulos que tem a cruz, tem o título de um dia festivo, porque quando se recebe um dom, o que acontece? Faz-se festa, goza-se, está-se mais alegre; agora, a cruz sendo o dom mais precioso, mais nobre e feito pela pessoa maior e única que existe, resulta mais agradável e leva mais festa, mais alegria que todos os outros dons. Então, você mesma pode dizer que outros títulos você pode dar à cruz”.
(7) E eu: “Como Tu dizes, pode-se dizer que a cruz é festiva, jubilosa, alegre, anelante”. (8) E Ele: “Bem, disseste bem, mas a alma chega a experimentar estes efeitos da cruz quando está perfeitamente resignada à minha Vontade, e deu-se toda a si mesma a Mim, sem reter nada para si, e Eu para não me deixar vencer em amor pela criatura, dou-lhe tudo Eu mesmo, e no doar-me a Mim mesmo dou também a minha cruz, e a alma reconhecendo-a como meu dom faz festa e goza”.
+ + + +
6-28
Março 20, 1904
Todas as coisas têm origem na fé.
(1) Esta manhã sentia-me desanimada e entristecida pela perda de meu adorável Jesus, e enquanto estava neste estado, fez ouvir sua dulcíssima voz que me dizia:
(2) “Minha filha, todas as coisas têm origem na fé. Quem é forte na fé é forte no sofrer, a fé faz encontrar Deus em cada lugar, faz com que se descubra em cada ação, toca em cada movimento, e cada nova ocasião que se apresenta é uma nova revelação divina que recebe. Por isso, seja forte na fé, porque se estiver forte nela em todos os estados e vicissitudes, a fé te fornecerá a força e te fará estar sempre unida com Deus”.
+ + + +
6-29
Abril 9, 1904
Basta um ato perfeito de resignação à Vontade Divina para ficar
purgado de todas as imperfeições nas quais a alma não tem posto nada do seu.
(1) Tendo recebido esta manhã a comunhão, estava pensando comigo: “Que dirá meu bendito Jesus quando vier a minha alma? Dirá: “Como é feia esta alma, má, fria, abominável”. Quão rápido vai consumir as espécies para não estar em contato com esta alma tão feia, mas o que queres de mim? Embora eu seja tão ruim, você ainda deve ter paciência para vir, porque de qualquer forma você é necessário para mim, e eu não posso fazer outra coisa”. Enquanto dizia isto, saiu de dentro
19
Volume 06
de mim e disse-me:
(2) “Minha filha, não queira te afligir por isto, não se requer nada para remediá-lo, basta um ato perfeito de resignação à minha Vontade para poder ficar purgado de todas estas fealdades que você diz, e Eu te direi o contrário do que pensa, te direi: “Como é bela, sinto o fogo do meu amor em ti, e o perfume das minhas fragrâncias, em ti quero fazer a minha perfeita morada.”
(3) E desapareceu. Então, vindo o confessor, contei-lhe tudo, e ele me disse que não estava bem, porque é a dor que purga a alma, e que a resignação não entrava nisto. Por isso, depois de ter recebido a comunhão, disse: “Senhor, o padre disse-me que não está bem o que me disseste, então, mostra-te melhor e faz-me conhecer a verdade”. E Ele bondosamente adicionou:
(4) “Minha filha, quando se trata de pecado voluntário, então se requer a dor, mas quando se trata de imperfeições, de fraquezas, de frialdades e outras coisas, e que a alma não tem posto nada do seu, então basta um ato de perfeita resignação, e se tem necessidade também deste estado para ficar purgado, porque a alma ao fazer este ato primeiro se encontra com a Vontade Divina que purga a vontade humana e a embeleza com suas qualidades, e depois se funde comigo”.
+ + + + +
6-30
Abril 10, 1904
As três cordas que amarram por todos os lados e estreitam mais intimamente a Jesus com a alma, são: sofrimentos assíduos, reparação perpétua, amor perseverante.
(1) Esta manhã, encontrando-me com o temor de que o bendito Jesus, vendo-me ainda tão má, me tivesse deixado, senti-o sair de dentro de mim e disse-me:
(2) “Minha filha, por que te ocupas em pensamentos inúteis e em coisas que não existem? Deves saber que há três títulos diante de Mim que como três cordas me amarram por toda parte e me estreitam mais intimamente a ti, de modo que não posso deixar-te, e são: sofrimentos assíduos, reparação perpétua, amor perseverante. Se você como criatura é contínua nisto, talvez o Criador seja menos que a criatura? Ou se deixará vencer por ela? Isto não é possível”.
+ + + +
6-31
Abril 11. 1904
Jesus agradece a Luisa.
(1) Continuando o meu estado habitual, depois de ter esperado muito, assim que vi o meu adorável Jesus disse-me:
(2) “Tu que tanto me querias contigo, o que queres, o que te importa mais?” (3) E eu: “Senhor, nada quero, o que mais me importa é só Tu”.
(4) E Ele disse: “Como, não queres nada? Pede-me qualquer coisa, a santidade, minha graça, as
20
Volume 06
virtudes, que Eu tudo te posso dar”.
(5) E eu disse mais uma vez: “Nada, nada, só te quero a Ti e ao que queres Tu”. (6) E mais uma vez acrescentou: “Então não queres mais nada? Eu só basto para você? Seus desejos não têm outra vida em você que eu só? Então toda a tua confiança deve estar só em Mim, e apesar de não quereres nada, obterás tudo”.
(7) E sem me dar mais tempo, como relâmpago desapareceu. Então eu fiquei muito decepcionada, especialmente porque quanto mais o chamava, não voltava, e pensava entre mim: “Eu não quero nada, não penso, não me preocupo mas somente com Ele, e Ele parece que não se interessa por mim, não sei como seu bom coração pode chegar a tanto”. E tantos outros disparates que eu dizia. Agora, enquanto estava nisto, voltou e me disse:
(8) “Obrigado, obrigado. O que é mais, quando o Criador agradece à criatura ou quando a criatura agradece ao Criador? Agora, deves saber que quando você me espera e tardo em vir, Eu te agradeço a ti; quando venho logo, você está obrigada a me agradecer a Mim. Então, parece-te pouco que o teu Criador te dê a ocasião de poder ficar vinculado contigo e agradecer-te?”
(9) Eu fiquei toda confusa.
+ + + +
6-32
Abril 12, 1904
A paz é o maior tesouro.
(1) Esta manhã me sentia perturbada pela ausência do bendito Jesus, então depois de ter esperado muito, assim que o vi me disse:
(2) “Minha filha, quando um rio está exposto aos raios do sol, vendo dentro dele vê-se o mesmo sol que está no céu, mas isto acontece quando o rio está calmo, sem que nenhum vento perturbe as águas; mas se as águas estão agitadas, apesar de o rio estar todo exposto ao sol, nada se vê, tudo é confusão. Assim a alma quando está exposta aos raios do Sol Divino, se está calma adverte o Sol divino em si mesma, sente o calor, vê a luz e compreende a verdade; mas, se está perturbada, embora a tenha em si mesma, não sente outra coisa que confusão e perturbação. Por isso considera a paz como o maior tesouro, se deseja estar unida Comigo”.
+ + + +
6-33
Abril 14, 1904
Se a alma dá a Deus o alimento do amor paciente, Deus dará o pão doce da Graça.
21
Volume 06
(1) Continuando meu estado habitual, mas sempre com imensa amargura em minha alma pela privação do bendito Jesus, e que no máximo vem quando já não posso mais, e depois de que quase estou persuadida de que não virá mais. Então, quando eu mal o vi carregando um cálice na mão me disse:
(2) “Minha filha, se além do alimento do amor me der o pão de sua paciência, porque o amor paciente e sofredor é alimento mais sólido, mais substancioso e tonificante, porque se o amor não é paciente se pode dizer que é amor vazio, leve e sem nenhuma substância, Então, pode ser dito que faltam as matérias necessárias para formar o pão da paciência. Portanto, se me deres este pão, eu te darei o pão doce da graça”.
(3) E enquanto dizia isto, deu-me a beber o que estava dentro do cálice que tinha na mão, que parecia doce, como uma espécie de licor que não sei distinguir, e desapareceu. (4) Depois disto, vi ao redor do meu leito muitas pessoas estranhas: sacerdotes, homens de bem, mulheres que pareciam que deviam vir ao meu encontro, e alguns deles pareciam dizer ao confessor: “Dá-nos notícias desta alma, de tudo o que o Senhor lhe manifestou, as graças que lhe tem feito, porque nos manifestou o Senhor desde 1882 que escolhia uma vítima, e o sinal desta vítima seria que o Senhor a teria mantido sempre neste estado como jovenzinha, tal como quando a escolheu, sem envelhecer ou mudar a mesma natureza”. Agora, enquanto isso diziam, não sei como eu me via tal como quando me deitei na cama, sem que tivesse mudado em nada por ter estado tantos anos neste estado de sofrimento.
+ + + + +
6-34
Abril 16. 1904
Jesus e Deus Pai falam sobre a Misericórdia.
(1) Continuando o meu estado habitual encontrei-me fora de mim mesma, e via uma multidão de povos, e no meio deles se ouviam rumores de bombas e explosões, e as pessoas caíam mortas e feridas, os que ficavam fugiam para um palácio próximo, mas os inimigos atacavam-no e matavam nos com mais segurança do que aqueles que ficavam expostos. Então eu dizia entre mim: “Como gostaria de ver se o Senhor está entre estas nações para lhe dizer: “Tem misericórdia, piedade desta pobre gente”. Então eu virei e girado novamente e eu o vi como um pequeno menino, mas pouco a pouco estava crescendo até que ele chegou à idade perfeita, então eu me aproximei e lhe disse: “Amável Senhor, não vê a tragédia que acontece? Não queres fazer mais uso da misericórdia, talvez queiras ter inútil este atributo que sempre glorificou com tanta honra a tua Divindade encarnada, fazendo com ela uma coroa especial à tua augusta cabeça e adornando-te uma segunda coroa tão querida e amada por Ti, como são as almas?” Agora, enquanto isso dizia, Ele me disse:
(2) “Basta, basta, não vá em frente, você quer falar de misericórdia, e da justiça o que faremos? Já
22
Volume 06
o disse e repito, é necessário que a justiça tenha o seu curso”.
(3) Portanto, tenho repetido: “Não há remédio, e para que me deixar nesta terra quando não posso aplacar-te mais e sofrer eu em lugar de meu próximo? Sendo assim é melhor que me faças morrer”. Enquanto eu estava nisto, via outra pessoa por detrás das costas de Jesus bendito, e disse-me quase acenando-me com os olhos: “Apresenta-te a meu Pai e vê o que te diz”. Eu me apresentei toda trêmula, e ele me viu e disse:
(4) “Que queres que venhas a mim?”
(5) E eu: “Bondade adorável, misericórdia infinita, sabendo que Tu és a mesma misericórdia, vim pedir-te misericórdia, misericórdia para as tuas próprias imagens, misericórdia para as obras criadas por Ti, misericórdia não para os outros, mas para as tuas próprias criaturas”. E Ele me disse:
(6) “Então é misericórdia o que você quer? Mas se você quiser verdadeira misericórdia, a justiça depois de ter desabafado, produzirá grandes e abundantes frutos de misericórdia”. (7) Então, não sabendo mais o que dizer, disse: “Pai infinitamente santo, quando os servos, os necessitados se apresentam aos patrões, aos ricos, se são bons, se não dão tudo o que é necessário, dão-lhes sempre alguma coisa, e eu, que tive o bem de me apresentar ante Ti, dono absoluto, rico sem termo, bondade infinita, nada queres dar a esta pobrezinha do que te pediu, não fica acaso mais honrado e contente o patrão quando dá do que quando nega o que é necessário a seus servos? Depois de um momento de silêncio há agregado:
(8) “Por amor de Ti, em vez de fazer por dez farei por cinco”.
(9) Dito isto desapareceram, e eu vi em mais partes da terra, e especialmente na Europa, multiplicar guerras, guerras civis e revoluções.
+ + + +
6-35
Abril 21, 1904
Quem tem o título de vítima pode lutar com a justiça.
(1) Continuando o meu habitual estado, ouvia ao redor do meu leito pessoas que rogavam a nosso Senhor, eu não prestava atenção a escutar o que queriam, prestava atenção só a que já era tarde e que Jesus bendito não se fazia ver ainda. Oh! como se destroçava meu coração temendo que não viesse, e dizia para mim: “Senhor bendito, estamos já na última hora, e não vem ainda? Ai! não me dê este desgosto, pelo menos faça-se ver”. Enquanto isso dizia saiu de dentro de mim e disse àqueles que estavam ao meu redor:
(2) “Lutar com a minha justiça não é lícito às criaturas, mas só é lícito a quem tem o título de vítima, e não só de lutar mas de brincar com a justiça, e isto porque ao lutar ou jogar facilmente se recebem os golpes, as derrotas, as perdas, e a vítima está pronta a receber sobre si os golpes,
23
Volume 06
resignar-se nas derrotas e perdas sem que preste atenção às suas perdas, aos sofrimentos, senão só à glória de Deus e ao bem do próximo. Se eu quisesse me acalmar, tenho aqui a minha vítima que está pronta a lutar e a receber sobre si todo o furor da minha justiça”.
(3) Vê-se que estavam rogando para aplacar ao Senhor, eu fiquei mortificada e mais amarga ao escutar isto de nosso Senhor.
+ + + +
6-36
Abril 26, 1904
O hábito não faz o monge.
(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma encontrei-me com o menino Jesus nos braços, rodeada de várias pessoas devotas, sacerdotes, muitos dos quais estavam atentos à vaidade, ao luxo e à moda, e parecia que diziam entre eles aquele ditado antigo O hábito não faz o monge”. E o bendito Jesus me disse:
(2) “Amada minha, oh! como me sinto desiludido pela glória que a criatura me deve, e que com tanta desfaçatez me nega, e até pelas pessoas que se dizem devotas”.
(3) Eu ao ouvir isto disse: “Querido do meu coração, recitemos três Glória ao Pai pondo a intenção de dar toda a glória que a criatura deve à vossa Divindade, assim receberá pelo menos uma reparação”.
(4) E ele: “Sim, sim, recitemos”.
(5) E recitámo-las juntos, depois recitámos uma Ave Maria, pondo também a intenção de dar à Rainha Mãe toda a glória que lhe devem as criaturas. Oh! como era belo rezar com o bendito Jesus, encontrava-me tão bem que continuei: “Meu amado, como gostaria de fazer a profissão de fé nas tuas mãos ao recitar juntamente contigo o Credo”.
(6) E Ele: “O Credo o recitarás sozinha, porque a ti te corresponde, não a Mim, e o dirás a nome de todas as criaturas para me dar mais glória e honra”.
(7) Então eu pus as minhas mãos nas suas e recitei o Credo, depois disto o bendito Jesus me disse:
(8) “Minha filha, parece que me sinto mais aliviado e afastada aquela nuvem negra da ingratidão humana, especialmente das devotas. ¡ Ah! minha filha, a ação externa tem tanta força de penetrar no interior, que forma um vestido material à alma, e quando o toque divino a toca, não o sentem vivo, porque têm a vestidura lamacenta revestindo a alma, e não sentindo a vivacidade da graça, a graça, ou é rejeitada ou fica infrutífera. Oh! como é difícil gozar os prazeres, vestir-se de luxo externamente, e desprezá-los internamente, acontece o contrário, isto é, amar no interior e gozar do que externamente nos rodeia. Minha filha, considera tu mesma qual não é a dor de meu
24
Volume 06
coração nestes tempos, ver minha graça rejeitada por todo tipo de gente, enquanto todo meu consolo é o socorrer às criaturas, e toda a vida das criaturas é a ajuda divina, e as criaturas rejeitam o meu socorro e a minha ajuda. Entra tu a tomar parte de minha dor e compadece minhas amarguras”.
(9) Dito isto desapareceu, ficando toda afligida pelas penas de meu adorável Jesus. + + + +
6-37
Abril 29, 1904
A vida de Deus manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos.
(1) Continuando meu estado habitual, me encontrei rodeada por três virgens, as quais tomando-me a viva força queriam me crucificar sobre uma cruz, e eu como não via ao bendito Jesus, temendo, punha resistência, e elas vendo minha resistência me disseram: “Irmã caríssima, não temas que não esteja nosso Esposo, deixa que te comecemos a crucificar, que o Senhor atraído pela virtude dos sofrimentos virá, nós viemos do Céu, e como vimos males gravíssimos que estão por acontecer na Europa, para fazer com que pelo menos aconteçam mais benignos viemos fazer-te sofrer”. Enquanto isso me trespassaram com pregos as mãos e os pés, mas com tal crueza de dor que me sentia morrer. Agora, enquanto sofria veio o bendito Jesus, e vendo-me com severidade me disse:
(2) “Quem te ordenou que te pusesses nestes sofrimentos? Então para que me serves? Para não poder nem sequer ser livre de fazer o que quero, e para ser um contínuo estorvo à minha justiça?” (3) Eu no meu íntimo dizia: “Que quer de mim, eu nem sequer queria, foram elas que me induziram, e a toma contra mim”. Mas não podia falar por causa da dor; aquelas virgens vendo a severidade de nosso Senhor, mais me faziam sofrer tirando e voltando a cravar os pregos, e me aproximavam a Ele mostrando-lhe meus sofrimentos, e quanto mais sofria, mais parecia que o Senhor se apaziguava, e quando o viram mais apaziguado e quase enternecido por meu sofrer, me deixaram e se foram, deixando-me só com nosso Senhor. Então Ele mesmo me assistia e sustentava, e vendo-me sofrer, para me reanimar disse-me:
(4) “Minha filha, a minha Vida manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos”.
(5) Enquanto estava nisto, o confessor veio chamar-me à obediência, e em parte pelos sofrimentos, e em parte porque o Senhor não me deixava, não podia obedecer. Então lamentei com meu Jesus, dizendo: “Senhor, como é que o confessor está esta hora? Justo agora devia vir?”
25
Volume 06
(6) E Ele: “Minha filha, deixa que fique um pouco conosco e que participe também em minhas graças. Quando alguém continuamente frequenta uma casa, participa do pranto e do riso, da pobreza e da riqueza; assim é do confessor, não participou de suas mortificações e privações? Agora participa de minha presença”.
(7) Então parecia que lhe participava a força divina dizendo-lhe: “A Vida de Deus na alma é a esperança, e por quanto esperas, tanto de Vida Divina contes em ti mesmo, e assim como a Vida Divina contém potência, sabedoria, fortaleza, amor e outras coisas, assim a alma se sente regar por tantos fluxos por quantas são as virtudes divinas, e a Vida Divina cresce sempre em ti mesmo; mas se não esperas, no espiritual, e pelo espiritual participará também o corporal, a Vida Divina se irá consumindo até apagar-se de tudo, por isso espera, espera sempre”.
(8) Depois, com esforço recebi a comunhão, e depois me encontrei fora de mim mesma e via três homens em forma de três cavalos indômitos que desenfreados na Europa, fazendo tantos estragos de sangue, e parecia que queriam envolver como dentro de uma rede à maior parte da Europa em guerras encarniçadas, todos tremiam à vista destes diabos encarnados, e muitos ficavam destruídos.
+ + + +
6-38
Maio 1, 1904
O olho que se deleita só das coisas do Céu, tem a virtude de ver Jesus, e quem se deleita das coisas da terra, tem a virtude de ver as coisas da terra.
(1) Encontrando-me no meu habitual estado, estava pensando em nosso Senhor, quando, tendo chegado ao monte calvário, foi despido de tudo e amargurado com fel, e rogava-lhe, dizendo: “Adorável Senhor meu, não vejo em Ti mais que uma veste de sangue adornada de chagas, e por gosto e deleite amarguras de fel, por honra e glória confusões, opróbrios e Cruzes. Ah! não permitas que depois de que Tu sofreste tanto, que eu não veja as coisas desta terra mais que como esterco e lama, que não me tome outro prazer que em Ti só, e que toda minha honra não seja outro que a cruz”. E Ele fazendo-se ver me disse:
(2) “Minha filha, se você fizesse de maneira diferente perderia a pureza do olhar, porque fazendo se um véu à vista perderia o bem de me ver, porque o olho que se recria só das coisas do Céu tem a virtude de me ver, e quem se recria das coisas da terra tem a virtude de ver as coisas da terra, porque o olho, vendo-as diferentes do que são, vê-as e ama-as”.
+ + + +
6-39
Maio 28, 1904
26
Volume 06
A mortificação derruba tudo e imola tudo a Deus.
(1) Continuando meu habitual estado, e estando com suma amargura pelas contínuas privações de meu adorável Jesus, fez-se ver-me dizendo:
(2) “Minha filha, a primeira mina que se deve lançar no interior da alma é a mortificação, e quando esta mina se põe na alma lança por terra tudo, e imola tudo a Deus, porque na alma há como tantos palácios, mas todos de vícios, como seria o orgulho, a desobediência e tantos outros vícios, e a mina da mortificação derrubando tudo reedifica muitos outros palácios de virtudes, imolando-os e sacrificando-os todos à glória de Deus”.
(3) Dito isto desapareceu, e depois veio o demônio que só queria molestar-me eu, sem sentir medo, disse-lhe: “O que ganhas em irritar-me? Quer aparentar ser mais valente, toma um pau e golpeia-me até não me deixar sequer uma gota de sangue, entendendo no entanto, que cada gota de sangue que derramo é um testemunho de mais de amor, de reparação e de glória que intento dar ao meu Deus”.
(4) E aquele: “Não encontro paus para poder te golpear, e se vou buscá-lo você não me espera. (5) E eu: “Vai então que aqui te espero”. E assim se foi, ficando eu com a firme vontade de esperá lo, quando com minha surpresa vi que tendo encontrado com outro demônio iam dizendo: “É inútil que voltemos, em que aproveita a golpear se deve servir para nosso dano e com nossa perda? É bom fazer sofrer quem não quer sofrer, porque este ofende a Deus, mas a quem quer sofrer, fazemos- nos mal com as nossas mãos”. E não voltou, ficando eu mortificada.
+ + + +
6-40
Maio 30, 1904
A Paixão serve como veste ao homem.
A soberba transforma em demônios as imagens de Deus.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, estava pensando e oferecendo a Paixão de Nosso Senhor, especialmente a coroa de espinhos, e lhe rogava que desse luz a tantas mentes cegas, que se fizesse conhecer, porque é impossível conhecê-lo e não amá-lo. Enquanto dizia isto, meu adorável Jesus saiu de dentro de mim e me disse:
(2) “Minha filha, quanta ruína faz na alma a soberba, basta dizer-te que forma um muro de divisão entre a criatura e Deus, e de imagens minhas as transforma em demônios. E além disso, se tanto te dói e te desagrada que as criaturas sejam tão cegas que elas mesmas não entendam nem vejam o precipício em que se encontram, e tanto deseja que Eu as ajude, minha Paixão serve como vestes ao homem, que lhe cobre as maiores misérias, o embeleza e lhe restitui todo o bem
27
Volume 06
que pelo pecado se havia tirado e perdido, pelo que Eu te faço dom de minha Paixão, a fim de que te sirva a ti e para quem tu queiras”.
(3) Ao ouvir isto veio-me tal temor, vendo a grandeza do dom, e temendo que não soubesse usar este dom, e por isso desagradar ao mesmo Doador; então disse: “Senhor, não sinto a força de aceitar tal dom, sou muito indigna de tal favor, melhor fique Você que é o Tudo e tudo conhece, conhece a quem é necessário e convém aplicar esta vestimenta preciosa e de imenso valor, porque eu, pobrezinha, que coisa posso conhecer? E se é necessário aplicá-lo a alguém e eu não o faço, que rigorosa conta não me pedirás?”
(4) E Jesus: “Não temas, o próprio Doador te dará a graça de não ter inútil o dom que te deu, acreditas tu que Eu te faço um dom para te fazer mal? Não, jamais”.
(5) Então eu não soube o que responder, mas fiquei espantada e em brasas, reservando-me para ouvir como pensava a senhora obediência. Entende-se, no entanto, que este vestido, não quer significar outra coisa senão tudo o que fez, mereceu e sofreu nosso Senhor, onde a criatura encontra o vestido para cobrir-se a nudez despojada de virtude, as riquezas para enriquecer-se, as belezas para tornar-se bela e embelezada, e o remédio para todos os seus males. Depois, tendo dito à obediência, me disse que aceitasse.
+ + + + +
6-41
Junho 3, 1904
Quem se deixa dominar pela cruz, destrói na alma três reinos maus que são: o mundo, o demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são:
o reino espiritual, o divino e o eterno.
(1) Esta manhã, como não vinha o bendito Jesus, sentia-me toda oprimida e cansada. Depois, ao vir disse:
(2) “Minha filha, não queiras cansar-te no sofrimento, faz como se a cada instante começasses a sofrer, porque quem se deixa dominar pela cruz destrói na alma três reinos maus, que são: o mundo, o demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são: o reino espiritual, o divino e o eterno”.
(3) E desapareceu.
+ + + +
6-42
Junho 6, 1904
Ânimo, fidelidade e suma atenção se necessita para seguir o que a Divindade obra em nós. (1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo se fez ver desde dentro de meu interior,
28
Volume 06
primeiro Ele só e depois as Três Divinas Pessoas, mas todas em profundo silêncio, e eu continuava ante sua presença com meu trabalho acostumado interior, e parecia que o Filho se unia comigo, e eu não fazia outra coisa senão segui-lo, mas tudo era silêncio, e não se fazia outra coisa neste silêncio que fundir-se com Deus, e todo o interior, afetos, batimentos, desejos, respiros, converteram-se em profundas adorações à Majestade Suprema. Então, depois de ter estado um pouco tempo neste estado, parecia que as Três falavam, mas formavam uma só voz, e me disseram:
(2) “Filha querida nossa, ânimo, fidelidade e atenção soma ao seguir o que a Divindade obra em ti, porque tudo o que fazes não o fazes tu, senão que não fazes outra coisa que dar tua alma por habitação à Divindade. Acontece-te a ti como a um pobre que tendo um pequeno quartinho, o rei o pede por habitação, e ela o dá e faz tudo o que quer o rei; então, habitando o rei aquele pequeno quartinho, contém riquezas, nobreza, glória e todos os bens, mas de quem são? Do rei, e se o rei quiser deixá-lo, à pobre o que lhe resta? Fica-lhe sempre sua pobreza”.
+ + + +
6-43
Junho 10, 1904
Jesus fala da beleza do homem.
(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o meu adorável Jesus, todos os aflitos e sofredores me disseram:
(2) “Ah! minha filha, se o homem se conhecesse a si mesmo, oh! como se cuidaria de manchar-se, porque é tal e tanta sua beleza, sua nobreza, sua formosura, que todas as belezas e diversidade das coisas criadas as reúne em si, e isto porque sendo criadas todas as outras coisas da natureza para serviço do homem, e o homem devia ser superior a todas, portanto, para ser superior devia reunir em si todas as qualidades das outras coisas criadas, e não só isso, senão que tendo sido criadas as outras coisas para o homem e o homem só para Deus e para sua delícia, por consequência não somente devia reunir em si todo o criado, senão que devia superá-lo até receber em si mesmo a imagem da Majestade Suprema. E o homem, apesar de tudo isto, não cuidando de todos estes bens, não faz outra coisa senão sujar-se com as mais feias porcarias”.
(3) E desapareceu. Então eu compreendia que a nós nos sucede como a uma pobre, que tendo recebido um vestido tecido de ouro, enriquecido com gemas e com pedras preciosas, como não entende nem conhece seu valor, o tem exposto ao pó, ele o suja facilmente e o tem como um vestido tosco e de pouco valor, de modo que se o tira, pouco ou nenhum desgosto sente. Assim é nossa cegueira a respeito de nós mesmos.
29
Volume 06
+ + + +
6-44
Junho 15, 1904
A criatura não é outra coisa que um pequeno
recipiente cheio de doses de todas as partículas divinas.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio me disse:
(2) “Minha querida filha, a criatura me é tão querida e a amo tanto, que se a criatura o compreendesse lhe explodiria o coração de amor, e isto é tão certo, que ao criá-la não a fiz outra coisa que um pequeno recipiente cheio de partículas dos atributos divinos, de modo que de todo meu Ser, atributos, virtudes, perfeições, a alma contém muitas pequenas partículas de tudo isso, segundo a capacidade dada por Mim, e isto para que pudesse encontrar nela outros tantos pequenos distintivos correspondentes aos meus atributos e assim poder deleitar-me e brincar perfeitamente com ela. Agora, este pequeno recipiente cheio do divino, quando a alma se ocupa das coisas materiais e as faz entrar nela, feita fora alguma coisa do divino e toma seu lugar alguma coisa material; que afronta recebe a Divindade e que dano à alma; mas se por necessidade se ocupa das coisas materiais, quanta atenção se requer para não as fazer entrar! Você, filha, está atenta, de outra maneira, se vejo em você alguma coisa que não seja divina, Eu não me farei ver mais”.
+ + + + +
6-45
Junho 17, 1904
A consumação da vontade humana na divina nos torna uma só coisa
com Deus, e põe em nossas mãos o divino poder.
(1) Esta manhã, depois de muito esperar, o bendito Jesus veio e me disse:
(2) “Minha filha, olha quantas coisas se dizem de virtude, de perfeição, porém vão acabar todas em um só ponto, isto é, na consumação da vontade humana na Divina. Assim, quem mais está consumado nesta, pode-se dizer que contém tudo e é o mais perfeito de todos, porque todas as virtudes e obras boas são tantas chaves que nos abrem os tesouros divinos, fazem-nos adquirir mais amizade, mais intimidade, mais trato com Deus, mas só a consumação é a que nos torna uma coisa com Ele e põe em nossas mãos o divino poder, e isto porque a vida deve ter uma vontade para viver, agora, vivendo da Vontade Divina, naturalmente se torna dona”.
+ + + + +
6-46
Junho 19, 1904
30
Volume 06
Fala de castigos.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, ouvia a meu adorável Jesus que dizia junto a mim: (2) “Minha filha, em que momento tão doloroso está entrando a Igreja, mas toda a glória nestes tempos é daqueles espíritos atléticos que não pondo atenção a cordas, cadeias e penas, não fazem outra coisa que romper o caminho espinhoso que divide a sociedade de Deus”. (3) Depois continuou: “No homem vê-se uma avidez de sangue humano. Ele a partir da terra, e Eu do Céu enviarei terremotos, incêndios, furacões, desgraças, para fazê-los morrer em boa parte”. + + + + +
6-47
Junho 20, 1904
As almas vítimas são filhas da Misericórdia.
(1) Depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, chegou a tanto a perfídia humana, de esgotar por sua parte minha misericórdia, mas minha bondade é tanta, de constituir as filhas da misericórdia, a fim de que também por parte das criaturas não fique esgotado este atributo, e estas são as vítimas que estão em plena posse da Vontade Divina por haver destruído a própria, porque nestas, o recipiente dado a elas por Mim ao criá-las está em pleno vigor, e tendo recebido a partícula de minha Misericórdia, sendo filha a fornece a outros. Entende-se, no entanto, que para administrar a misericórdia aos outros deve ser encontrada ela na justiça”.
(3) E eu: “Senhor, quem pode ser encontrado na justiça?”
(4) E Ele: “Quem não comete pecados graves e quem se abstém de cometer pecados veniais ligeiros, por sua própria vontade”.
+ + + +
6-48
Junho 29, 1904
Sinal para saber que Deus se retira do homem.
(1) Esta manhã encontrando-me no meu estado habitual, apenas se fez ver o meu adorável Jesus me disse:
(2) “Minha filha, o sinal de que minha justiça não pode mais suportar ao homem e está em ato de mandar graves castigos, é quando o homem não pode suportar-se mais a si mesmo, porque Deus rechaçado pelo homem, dele se retira e faz sentir ao homem todo o peso da natureza, do pecado e das misérias, e o homem não podendo suportar o peso da natureza sem a ajuda divina, procura ele mesmo o modo de destruir-se. Em tal estado encontra-se agora a presente geração”.
+ + + +
31
Volume 06
6-49
Julho 14, 1904
A vida é uma consumação contínua.
(1) Os meus dias estão a tornar-se cada vez mais dolorosos devido às privações quase contínuas de meu adorável Jesus, eu mesma não sei por que me sinto devorar a alma e também o corpo por esta separação. Que duro martírio! Meu único consolo é a Vontade de Deus, porque se tudo o perdi, inclusive a Jesus, só esta santa e dulcíssima Vontade de Deus está em meu poder, mas como também sinto que me devora o corpo, me engano de que não está tão distante a separação dele, porque lamento sucumbir, e por isso espero que um dia o Senhor me chame a Si e termine esta dura separação. Por isso, esta manhã depois de ter esperado muito, assim que veio me disse: (2) “Minha filha, a vida é uma consumação contínua, quem a consome pelos prazeres, quem pelas criaturas, quem por pecar, outros pelos interesses, algum por caprichos, há tantos tipos de consumação. Agora, quem esta consumação a forma toda em Deus, pode dizer com toda certeza: Senhor, minha vida se consumiu de amor por Ti, e não só me consumiu, senão que estou morta só por teu amor”. Por isso, se tu te sentes consumir continuamente por minha separação, podes dizer que morres continuamente em Mim, e tantas mortes sofres por amor meu. E se você consome seu ser por Mim, por quanto se consome de você, outro tanto adquire de divino em si mesma”
+ + + + +
6-50
Julho 22, 1904
Só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma.
(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, quando a alma se propõe não pecar, ou bem fazer um bem e não segue os propósitos feitos, significa que não se faz com toda a vontade, e que a luz divina não teve contato com a alma, porque quando a vontade é verdadeira e a luz é divina, lhes faz conhecer o mal a evitar ou o bem a fazer, e dificilmente a alma não segue o que se propôs, e isto porque a luz divina não vendo a estabilidade da vontade, não fornece a luz necessária para evitar um e para fazer o outro, no máximo podem ser momentos de desventura, abandonos de criaturas, ou qualquer outro acidente pelo que a alma parece que se quereria destruir por Deus, que quer mudar de vida, mas apenas o vento dos acidentes muda, que logo muda a vontade humana. Assim, em vez de vontade e luz, pode-se dizer que há uma mistura de paixões segundo as mudanças dos ventos. Assim que só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma, porque sendo Deus imutável, quem o possui participa de sua imutabilidade no bem”.
32
Volume 06
+ + + +
6-51
Julho 27, 1904
Tudo deve ser selado pelo amor.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus saiu de meu interior, e tendo-me levantada a cabeça, que pelo prolongado do tempo que o esperei estava muito cansada, me disse: (2) “Minha filha, a quem verdadeiramente me ama, tudo o que lhe acontece, interior e exterior, devora tudo numa só coisa, na Vontade Divina. De todas as coisas nenhuma lhe parece estranha, olhando-as como um produto de Divina Vontade, por isso Nela tudo consome, seu centro, sua mira, é única e somente a Vontade de Deus; assim que nela sempre gira como dentro de um anel, sem encontrar jamais o caminho para sair, fazendo dela o seu alimento contínuo”.
(3) Dito isto desapareceu, e depois de ter retornado adicionou:
(4) “Filha, faz com que tudo te seja selado pelo amor, assim se pensas, deves só pensar no amor, se falas, se obras, se palpita, se desejas; inclusive um só desejo que saia de ti que não seja amor, roda-o em ti mesma e converte-o em amor, e depois dá-lhe a liberdade de sair”. (5) E enquanto dizia isto, parecia que com a sua mão tocava toda a minha pessoa, colocando tantos selos de amor.
+ + + +
6-52
Julho 28, 1904
A alma desapegada de tudo, em tudo encontra Deus.
(1) Esta manhã me encontrando em meu habitual estado, por uns momentos veio o Bendito Jesus e me disse:
(2) “Minha filha, quando a alma está desapegada de tudo, em todas as coisas encontra Deus, encontra-o em si mesma, encontra-o fora de si mesma, encontra-o nas criaturas, assim pode dizer que todas as coisas se convertem em Deus para a alma desapegada de tudo, mais ainda, não só o encontra, mas o olha, o sente, o abraça, e como em tudo o encontra, assim todas as coisas lhe proporcionam a ocasião de adorá-lo, de lhe implorar, de lhe agradecer, de se estreitar mais intimamente a Ele, e além disso, seus lamentos por minha privação não são razoáveis, pois se você me sente em seu interior, é sinal de que não só estou fora mas também dentro, como no meu próprio centro”.
(3) Eu esqueci de dizer no início, que foi trazido para mim pela Rainha Mãe, e como eu lhe implorava para me contentar e não me deixar privado dele, Jesus abençoado respondeu como está escrito acima.
+ + + + +
6-53
33
Volume 06
Julho 29, 1904
A fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar.
(1) Continuando o meu estado habitual, mal vi o meu adorável Jesus, e eu disse-lhe: “Meu Senhor e meu Deus”. E Ele disse:
(2) “Deus, Deus, só Deus; filha, a fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar, assim que a fé sem a confiança é fé estéril. E embora a fé possua imensas riquezas para que a alma possa enriquecer, se falta a confiança fica sempre pobre e desprovida de tudo”. (3) Então, enquanto dizia, sentia-me atraída a Deus, e ficava absorvida nele como uma gotinha de água no imenso mar, por mais que olhasse não encontrava nem os confins ao largo nem ao longo, nem ao alto, Céus e terra, viadores e bem-aventurados, todos estavam imersos em Deus. Depois via também as guerras, como a da Rússia com o Japão, os milhares de soldados que morreram ou que morrerão, e que por justiça, ainda natural, a vitória será do Japão; também outras nações europeias estão tramando maquinações de guerra contra as mesmas nações da Europa. Mas quem pode dizer tudo o que se via de Deus e em Deus? Para terminar ponho ponto.
+ + + +
6-54
Julho 30, 1904
Desapego que devem ter os sacerdotes.
(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha, e eu encontrando-me fora de mim mesma girava e voltava a girar em busca de meu sumo e único bem, e não encontrando-o, minha alma se sentia morrer a cada instante, mas o que aumentava minha dor era que enquanto me sentia morrer, não morria, porque se eu pudesse morrer teria alcançado minha finalidade, ao me encontrar para sempre no centro Deus. Oh! separação, como é amarga e dolorosa, não há pena que possa
comparar-se a ti. Oh! privação divina, tu consomes, tu trespassas, tu és uma faca de dois gumes, que de um lado corta e do outro queima, a dor que provocas é tão imensa porque imenso é Deus. (2) Agora, enquanto andava vagando me encontrei no purgatório, e minha dor, meu pranto, parecia que aumentava a dor daquelas pobres almas privadas de sua vida: “Deus”. Então, entre estas almas parecia que haviam sacerdotes, um dos quais parecia que sofria mais que os outros, e este me disse:
(3) “Meus graves sofrimentos provêm de que em vida fui muito apegado aos interesses da família, às coisas terrenas e um pouco de apego a alguma pessoa, e isto produz tanto mal ao sacerdote, que forma uma couraça de ferro enlameada, que como veste o envolve, e só o fogo do purgatório e o fogo da privação de Deus, que comparado com o primeiro fogo, desaparece o primeiro, pode destruir essa couraça. Oh, quanto sofro! Minhas penas são inenarráveis, roga, roga por mim”.
34
Volume 06
(4) Então eu me sentia mais aflita e me encontrei em mim mesma, e depois, apenas vi a sombra do bendito Jesus e me disse:
(5) “Minha filha, o que tens procurado? Para ti não há outros alívios e ajudas que Eu só”. (6) E como um relâmpago desapareceu. E eu fiquei dizendo: Ah! Ele mesmo me diz? Que só Ele é tudo para mim, no entanto tem a coragem de me deixar privada e sem Ele”. + + + +
6-55
Julho 31, 1904
A vontade humana falsifica e profana até as obras mais santas.
(1) Continuando meu pobre estado, parece que Jesus veio mais de uma vez, e parecia que o via menino circundado como por uma sombra, e me disse:
(2) “Filha, não sente a frescura da minha sombra? Repõe-te nela porque encontrarás alívio”. (3) E parecia que repousávamos juntos à sua sombra, e me sentia toda reanimada junto a Ele, e depois continuou:
(4) “Minha querida, se você me ama, não quero que você olhe nem em si mesma nem fora de você, nem se está quente ou fria, nem se faz muito ou pouco, nem se sofre ou goza, tudo isto deve ser destruído em ti e só deves te fixar se fazes quanto mais podes por Mim e tudo por me agradar, os outros modos, por quanto altos, sublimes e laboriosos, não podem me agradar e contentar meu amor. Oh! quantas almas falsificam a verdadeira devoção e profanam as obras mais santas com a própria vontade, buscando-se sempre a si mesmas. E se também nas coisas santas se busca o modo e o gosto próprio e a satisfação de si mesma, encontra-se a si mesma, foge Deus, e não o encontra”.
+ + + +
6-56
Agosto 4, 1904
A glória dos bem-aventurados no Céu será de acordo com os modos
como se comportaram com Deus na terra. Do modo como é Deus
para a alma, pode-se ver como a alma é para Deus.
(1) Esta manhã, tendo vindo o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, e tomando me com a mão me conduziu até a abóbada do céu, de onde se viam os bem-aventurados, ouvia-se seu canto. Oh! como os bem-aventurados nadavam em Deus, via-se a vida deles em Deus, e a vida de Deus neles, a mim isto parece-me ser o essencial da sua felicidade. Parece-me também que cada bem-aventurado é um novo céu naquela bem-aventurada morada, mas todos distintos entre eles, não há um igual a outro, e isto vem de acordo com os modos com que se comportaram com Deus sobre a terra: Alguém procurou amá-lo mais, este o amará mais no Céu e receberá de
35
Volume 06
Deus sempre novo e mais crescente amor, e este céu ficará com uma tinta e um lineamento divino todo especial. Outro tem procurado glorificá-lo demais, Deus bendito lhe dará sempre mais glória crescente, para ficar este novo céu mais glorioso e glorificado da mesma glória divina. E assim de todos os outros modos distintos que cada um teve com Deus na terra, que se eu quisesse dizer tudo me alongaria muito. Assim, pode-se dizer que o que se faz para Deus na terra, o continuaremos no Céu, mas com maior perfeição, então o bem que fazemos não é temporal, senão que durará para toda a eternidade e resplandecerá ante Deus e em torno de nós continuamente. ” Oh! como seremos felizes vendo que todo nosso bem e a glória que demos a Deus, e a nossa, vem daquele pouco de bem iniciado imperfeitamente sobre a terra; se todos pudessem vê-lo, oh! como se apressariam para amar, louvar, agradecer e mais ao Senhor, para poder fazê-lo com maior intensidade no Céu. Mas quem pode dizer tudo? Mas parece-me que estou dizendo tantos desatinos daquela bem-aventurada morada, a mente o capta de um modo, a boca não encontra as palavras para saber-se manifestar, por isso passo a outra coisa.
(2) Depois me transportou para a terra. Oh! como os males da terra são assustadores nestes tristes tempos, no entanto parecem nada ainda em comparação com o que virá, tanto no estado religioso, que parece que seus próprios filhos vão rasgar esta boa e santa mãe, a Igreja; como no estado secular. Então, depois disto me reanimou e me disse:
(3) “Minha filha, me diga um pouco o que sou Eu para você”.
(4) E eu: “Tudo, és tudo para mim, nada entra em mim exceto Tu só, tudo corre fora”. (5) E Ele: “E Eu sou tudo, tudo para ti, nada de ti sai fora de Mim, senão que todo me deleito em ti. Assim como Eu sou para você, você pode ver como você é para Mim”.
(6) Disse isso desapareceu.
+ + + + +
6-57
Agosto 5, 1904
Jesus é o governante dos reis e o senhor dos dominadores.
(1) Continuando meu estado habitual, o bendito Jesus veio em ato de reger e dominar tudo, e de reinar com a coroa de rei na cabeça e com o cetro de comando na mão, e enquanto o via nesta atitude me disse, mas em latim, pelo que eu digo como tenho entendido:
(2) “Minha filha, Eu sou o governante dos reis e Senhor dos dominadores, e só a Mim corresponde este direito de justiça que me deve a criatura, e que não dando-me isso, me desconhece como Criador e dono de tudo”.
(3) E enquanto dizia isto, parecia que pegava o mundo pela mão e o agitava de cima a baixo para fazer com que as criaturas se submetessem a seu regime e domínio. E ao mesmo tempo via também como nosso Senhor regia e dominava minha alma com uma maestria tal, que me sentia toda abismada nele, e dele partia o regime de minha mente, dos afetos, dos desejos, assim que
36
Volume 06
entre Ele e eu havia tantos fios elétricos, que tudo dirigia e dominava.
+ + + + +
6-58
Agosto 6, 1904
A privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e sua finalidade é destruir a vida humana, para dar lugar à vida divina.
(1) Esta manhã me passei muito amarga pela privação de meu sumo e único bem, era tanto a dor da privação, que encontrando-me fora de mim mesma, era tanta a pena da alma, que a mesma pena lhe fornecia tal força, que o que encontrava queria destruir como se fosse um obstáculo para encontrar seu tudo, Deus, e não encontrando-o gritava, chorava, corria mais que o vento, queria transtornar tudo, pôr tudo de cabeça para encontrar a vida que lhe faltava. Oh! privação, quão intensa é sua amargura, sua dor é sempre nova, e porque é sempre nova a alma sente sempre nova a acerbidade da pena; minha alma sente como se uma só carne se separasse em tantos pedaços, e todos aqueles pedaços pedem com justiça a própria vida, e só a encontrarão se encontrarem a Deus mais que vida própria. Mas quem pode dizer o estado em que me encontrava? Enquanto eu estava nisso, havia muitos santos, anjos, almas purgantes fazendo-me coroa ao redor e impedindo-me de correr, compadecendo-me e assistindo-me, mas para mim era tudo inútil, porque entre eles não encontrava Aquele que era o único que podia mitigar a minha dor e restituir me a vida, e mais gritava chorando: “Dizei-me, onde, onde o posso encontrar? Se querem ter piedade de mim, não demorem em indicá-lo, porque não posso mais”. Então, depois disto saiu do fundo de minha alma, parecia que fingia dormir sem sentir pena da dureza do meu pobre estado, e apesar de que Ele não sentia pena e dormia, ao só vê-lo respirei a própria vida como se respira o ar, dizendo: “Ah, está aqui comigo” No entanto não isenta de pena ao ver que nem sequer me punha atenção. Por isso, depois de muito pesar, como se tivesse acordado me disse:
(2) “Minha filha, todas as outras tribulações podem ser penitências, expiações, satisfações, mas só a privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e não se rende se não vê destruída a vida humana, mas enquanto consome, vivifica e constitui a Vida Divina.
+ + + +
6-59
Agosto 7, 1904
Os primeiros a perseguir a Igreja serão os religiosos.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me rodeada de anjos e santos, que me disseram:
(2) “É necessário que você sofra mais pelas coisas iminentes que estão para acontecer contra a Igreja, porque se não acontecerem imediatamente, o tempo as fará acontecer mais moderadas e com menor ofensa de Deus”.
37
Volume 06
(3) E eu disse: “Porventura está em meu poder sofrer? Se o Senhor me dá, de boa vontade sofrerei”. Entretanto fui tomada e levada ao trono de nosso Senhor, e todos pediam que me fizesse sofrer, e Jesus bendito, vindo ao nosso encontro na forma de crucificado, participava-me das suas dores, e não só uma vez, senão que quase toda a manhã a passei em contínuas renovações da crucificação, e depois me disse:
(4) “Minha filha, os sofrimentos desviam minha justa ira e se renova a luz da graça nas mentes humanas. Ah! filha, você acha que serão os leigos os primeiros a perseguir minha Igreja? Ah! não, serão os religiosos, as mesmas cabeças, que fingindo por agora filhos, pastores, mas no fundo são serpentes venenosas que se envenenam a si mesmos e aos demais, os que começarão a prejudicar entre si mesmos esta boa mãe, e depois seguirão os leigos”.
(5) E depois, tendo-me chamado a obediência, o Senhor retirou-se mas todo amargurado. + + + +
6-60
Agosto 8, 1904
Buscar a Jesus no nosso interior, não no exterior.
Tudo deve estar encerrado numa palavra: “Amor”. Quem ama a Jesus é outro Jesus.
(1) Continuava esperando, e assim que veio o meu adorável Jesus, se bem o sentia próximo, mas fazia por tocá-lo e fugia, e quase me impedia sair de mim mesma para ir em sua busca. Depois de ter esperado muito, assim que se fez ver me disse:
(2) “Minha filha, não me busques fora de ti senão dentro de ti, no fundo de tua alma, porque se saíres fora e não me encontrares sofrerás muito e não poderás resistir; se me podes encontrar com mais facilidade, por que te queres fatigar?”
(3) E eu: “Creio que se não te encontro rápido em mim, posso te encontrar fora, é o amor que me empurra a isto”.
(4) E Ele: “Ah! É o amor que te empurra para isto? Tudo, tudo deveria estar encerrado em uma só palavra: “Amor”, e quem não encerra tudo nisto, pode-se dizer que do amar-me a alma não conhece nem sequer um jota, e à medida que a alma me ame, assim lhe aumentarei o dom do sofrer”.
(5) E eu, interrompendo a sua fala, toda surpreendida e aflita, disse: “Vida minha e todo o meu bem, então eu pouco ou nada sofro, por conseguinte pouco ou nada te amo, que espanto, ao só pensar que não te amo minha alma sente por isso um vivo desgosto, e quase me sinto ofendida por Ti”.
(6) E Ele acrescentou: “Eu não tento te desagradar, teu desgosto oprimia mais meu coração que o teu, e além disso não deves olhar só os sofrimentos corporais, senão também os espirituais, a
38
Volume 06
vontade verdadeira que tens de sofrer, porque o querer a alma verdadeiramente sofrer, diante de mim é como se a alma o tivesse sofrido, por isso acalma-te e não te perturbes, e deixa-me continuar a dizer: Você nunca viu dois amigos íntimos? Oh! Como tratam de imitar-se um ao outro e de retratar em si mesmo o amigo, portanto imitam a voz, os modos, os passos, as obras, os vestidos, assim que o amigo pode dizer: Aquele que me ama é outro eu mesmo, e sendo eu mesmo não posso fazer menos que amá-lo”. Assim faço Eu pela alma que se fecha a toda si mesma como dentro de um breve giro de amor, todo Eu me sinto como retratado nela mesma, e encontrando-me Eu mesmo, de todo coração a amo, e não posso fazer outra coisa que estar com ela, porque se a deixo me deixaria a Mim mesmo”.
(7) Enquanto isto dizia desapareceu.
+ + + +
6-61
Agosto 9, 1904
Não são as obras que constituem o mérito do homem, mas apenas a obediência, como parto da Vontade Divina.
(1) Tendo tardado em vir, de repente, como um golpe de luz veio e fiquei dentro e fora toda cheia de luz, mas não sei dizer o que nesta luz compreendeu e provou minha alma, só digo que depois o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, não são as obras que constituem o mérito do homem, mas somente a obediência é a que constitui todos os méritos como parto da Vontade Divina, tanto que tudo o que fiz e sofri no curso de minha Vida, tudo foi parto da Vontade do Pai, por isso os meus méritos são inumeráveis, porque todos foram constituídos pela obediência divina. Por isso Eu não olho tanto para a multiplicidade e grandeza das obras, mas à conexão que têm, diretamente à obediência divina, ou indiretamente à obediência de quem me representa”.
+ + + +
6-62
Agosto 10, 1904
Deus sabe o número, o valor, o peso de todas as coisas criadas.
(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me girando nas igrejas, fazendo a peregrinação a Jesus Sacramentado com o anjo guardião, e tendo dito dentro de uma igreja: “Prisioneiro de amor, Tu estás abandonado e sozinho, e eu vim fazer-te companhia e, enquanto te faço companhia, tento amar-te por quem te ofende, louvar-te por quem te despreza, agradecer por quem derramaste graças e não te rende o tributo do agradecimento, consolar-te por quem te aflige,
39
Volume 06
reparar-te qualquer ofensa, numa palavra, tento fazer-te tudo o que as criaturas estão obrigadas a fazer-te por teres ficado no Santíssimo Sacramento, e tantas vezes tento repeti-las por quantas gotas de água, quantos peixes e grãos de areia há no mar”. Enquanto dizia isto, diante da minha mente puseram-se todas as águas do mar e dentro de mim dizia: “A minha vista não pode abranger toda a vastidão do mar, nem conhece a profundidade e o peso daquelas imensas águas, mas o Senhor conhece o número, o seu peso e medida”. E ficava toda maravilhada. Enquanto estava nisto o bendito Jesus me disse:
(2) “Tola, tola que és, por que te admiras tanto? O que à criatura é difícil e impossível, ao Criador é fácil e possível, e inclusive natural; acontece nisto como a alguém que olhando em um abrir e fechar de olhos milhões e milhões de moedas, diz para si: “São inumeráveis, quem as pode contar? Mas quem as pôs naquele lugar, numa palavra pode dizer tudo, são tantas, valem tanto, pesam tanto; minha filha, eu sei quantas gotas de água pus Eu mesmo no mar, e ninguém pode me perder nem sequer uma só, Eu numerei tudo, pesei tudo e avaliei tudo, e assim de todas as outras coisas; então, que maravilha que saiba tudo”.
(3) Ao ouvir isto deixei de me admirar, mas bem me admirei de minha loucura.
+ + + + +
6-63
Agosto 12, 1904
O homem destrói a beleza com a qual Deus o criou.
(1) Continuava esperando, quando de improviso me encontrei toda eu mesma dentro de nosso Senhor, e da cabeça dele descia um fio luminoso à minha que me amarrava toda para ficar dentro de Jesus. Oh! Como estava feliz de estar dentro Dele, por quanto olhava não descobria outra coisa que a Ele sozinho, e esta é minha máxima felicidade, só, só Jesus e nada mais, oh! como se está bem. Enquanto isso me disse:
(2) “Coragem, minha filha, não vês como o fio da minha Vontade te ata toda dentro de Mim? Então, se qualquer outra vontade quer amarrá-lo, se não é santa não pode, porque estando dentro de Mim, se não é santa não pode entrar em Mim”.
(3) E enquanto dizia isto, via e via, e depois acrescentou:
(4) “Criei a alma de uma beleza singular, dotei-a de uma luz superior a qualquer luz criada, não obstante o homem destrói esta beleza na fealdade e esta luz nas trevas”.
+ + + + +
6-64
Agosto 14, 1904
40
Volume 06
A alma, quanto mais golpes da cruz a abatem, tanto mais luz adquire.
(1) Encontrando-me um pouco sofredora, o bendito Jesus ao vir me disse:
(2) “Filha amada minha, quanto mais atingido o ferro, mais brilho adquire, e ainda que o ferro não tivesse ferrugem, os golpes servem para mantê-lo brilhante e sem pó; assim que qualquer que se aproxima facilmente se olha refletido naquele ferro como se fosse um espelho. Assim a alma, quanto mais os golpes da cruz a abatem, tanta luz adquire e se mantém limpa qualquer mínima coisa, de modo que qualquer que se aproxima se olha dentro como se fosse espelho, e naturalmente sendo espelho faz seu ofício, isto é, de fazer ver se os rostos estão manchados ou limpos, se bonitos ou feios, e não só isso, senão que Eu mesmo me deleito de ir a me olhar nela, pois não encontro nela nem pó nem outra coisa que me impeça de fazer refletir nela minha imagem, por isso a amo sempre mais”.
+ + + + +
6-65
Agosto 15, 1904
A melancolia é para a alma como o inverno às Plantas. O triunfo da Igreja não está longe.
(1) Esta manhã sentia-me muito oprimida, e sentia uma melancolia que me enchia toda a alma. Parece que o bendito Jesus não me fez esperar tanto, e ao me ver tão oprimida me disse: (2) “Minha filha, o que tem com esta melancolia? Não sabes tu que a melancolia é para a alma como o inverno para as plantas, que as despoja de folhas e as impede de produzir flores e frutos, tanto que se não viesse a alegria da primavera e do calor, as pobres plantas ficariam desativadas e terminariam por secar-se? Assim é a melancolia à alma, a despoja da frescura divina que é como chuva que lhe faz reverdecer todas as virtudes; a inabilita para fazer o bem, e se o fizer, fá-lo-á cansativamente e quase por necessidade, mas não por virtude; impede-a de crescer na graça, e se não se agita com uma santa alegria, que é uma chuva primaveril que dá em brevíssimo tempo o desenvolvimento às plantas, terminará por secar-se no bem”.
(3) Agora, enquanto dizia isto, dentro de um relâmpago vi toda a Igreja, as guerras que devem sofrer os religiosos e que devem receber dos demais; guerras entre a sociedade, parecia uma briga geral; parecia também que o Santo Padre devia servir-se de pouquíssimas pessoas religiosas, tanto para reduzir a boa ordem o estado da Igreja, os sacerdotes e outros, como pela sociedade neste estado de perplexidade. Agora, enquanto via isto, o bendito Jesus disse-me:
(4) “Acreditas tu que o triunfo da Igreja está distante?”
(5) E eu: “Certo, quem deve pôr a ordem a tantas coisas transtornadas?
(6) E Ele: “Ao contrário, digo-te que está próximo, é um choque que deve acontecer, mas forte, e por isso permitirei tudo junto entre os religiosos e os leigos para abreviar o tempo. E neste choque
41
Volume 06
que trará um transtorno forte, acontecerá o choque bom e ordenado, mas em tal estado de mortificação, que os homens se verão perdidos, e aí lhes darei tanta graça e luz, para conhecer o mal e abraçar a verdade, fazendo-te sofrer também por este propósito. Se com tudo isto não me escutam, então te levarei ao Céu, e as coisas acontecerão ainda mais graves e esperarão mais para que chegue o desejado triunfo”.
+ + + + +
6-66
Agosto 23, 1904
Castigos, também na Itália.
(1) Esta manhã passei-a amargamente, privada quase totalmente do meu bendito Jesus, só que me encontrava fora de mim mesma no meio de guerras e pessoas mortas, países sitiados, e parecia que acontecia também na Itália. Que espanto sentia, queria subtrair-me de cenas tão dolorosas, mas não podia, uma potência suprema me tinha ali pregada; se era anjo ou santo não sei dizer com segurança, disse-me:
(2) “Pobre Itália, como será destruída por guerras”.
(3) Ao ouvir isto fiquei ainda mais espantada, e encontrei-me em mim mesma, e não tendo visto Aquele que é a minha vida, e com todas aquelas cenas na mente, sentia-me a morrer. Então vi apenas um braço e me disse:
(4) “Certamente haverá alguma coisa na Itália”.
+ + + +
6-67
Setembro 2, 1904
Só Deus tem poder para entrar nos corações e dominá-los como lhe aprouver. Novo modo como os sacerdotes devem se comportar.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado me sentia toda oprimida, com o agregado temor de que meu pobre estado fosse toda obra diabólica, e me sentia consumir alma e corpo. Depois, assim que veio, disse-me:
(2) “Minha filha, por que te perturbas tanto? Não sabes tu que se se unirem todas as potências diabólicas, não podem entrar dentro de um coração e tomar domínio dele, a menos que a própria alma, por sua própria vontade lhes dê a entrada? Só Deus tem este poder de entrar nos corações e dominá-los como lhe aprouver”.
(3) E eu: “Senhor, por que me sinto consumir alma e corpo quando me privas de Ti? Não é porventura este o sopro diabólico que penetrou na minha alma e que assim me menta?”
42
Volume 06
(4) E Ele: “Antes te digo que é o sopro do Espírito Santo, que soprando sobre ti continuamente te tem sempre acesa, e te consome por amor seu”.
(5) Depois disto encontrei-me fora de mim mesma e via o Santo Padre assistido por nosso Senhor, que estava escrevendo um novo modo como devem comportar-se os sacerdotes, o que devem fazer e o que não devem fazer, para onde não devem ir, e impunha castigos a quem não se submetia à sua obediência.
+ + + +
6-68
Setembro 7, 1904
A atenção para não cometer pecado, suplique a dor do pecado.
(1) Estava pensativa por ter lido num livro, que o motivo de tantas vocações frustradas é a contínua falta da dor do pecado, e como eu não penso nisto e só penso em Jesus bendito e no modo como fazê-lo vir, e de nenhuma outra coisa me ocupo, pensei entre mim que estava em mau estado. Depois, encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, a atenção em não cometer pecado supre a dor, e ainda que alguém sentisse dor, e com tudo e isso cometesse pecado, sua dor seria vã e infrutífera, enquanto a atenção contínua para não cometer pecados não só tem o lugar da dor, senão que força a graça a ajudá-la continuamente em modo especial a não cair em pecado, e mantém a alma sempre limpa. Por isso
continua a estar atenta a não me ofender nem minimamente, e isto suplantará o resto”. + + + +
6-69
Setembro 8, 1904
O desalento mata mais almas que todos os outros vícios.
A coragem faz reviver, e é o ato mais louvável que a alma pode fazer.
(1) Continuando o meu estado habitual, o meu adorável Jesus não vinha. Então, tendo esperado muito me sentia toda desalentada e temia muito que esta manhã não viesse. Depois, assim que veio, disse-me:
(2) “Minha filha, não sabes tu que o desânimo mata mais almas que o resto dos vícios? Por isso, coragem, coragem, porque assim como o desencorajamento mata, assim o valor, a coragem fazem reviver, e é o ato mais louvável que a alma pode fazer, porque enquanto se sente desencorajada, do mesmo desencorajamento toma valor, anula-se a si mesma e espera; e desfazendo-se a si mesma, já se encontra recusada em Deus”.
+ + + +
43
Volume 06
6-70
Setembro 9, 1904
Assim que a alma sai do fundo da paz, assim sai do ambiente divino.
A paz faz descobrir se a alma busca a Deus por Deus, ou por si mesma.
(1) Continuando o meu estado habitual, sentia-me perturbada pela ausência do meu adorável Jesus. Por isso, depois de ter esperado muito, veio e me disse:
(2) “Minha filha, assim que a alma sai do fundo da paz, sai do ambiente divino e se encontra no ambiente, ou diabólico ou humano. Só a paz é a que faz descobrir se a alma busca a Deus por Deus ou por si mesma, e se obra por Deus, ou bem por si mesmo ou pelas criaturas, porque se é por Deus, a alma não é jamais perturbada, pode-se dizer que a paz de Deus e a paz da alma se entrelaçam juntas, e ao redor da alma se alargam os limites da paz, de modo que tudo se transforma em paz, mesmo as mesmas guerras. E, se a alma está perturbada, ainda que fosse nas coisas mais santas, no fundo vê-se que não está Deus, senão o próprio eu ou qualquer fim humano. Por isso, quando não se sente em calma, sinta-se um pouco para ver o que há no fundo, destrua-o e encontrará paz”.
+ + + +
6-71
Setembro 13, 1904
A verdadeira doação é ter sacrificado continuamente a própria vontade, e isto é um martírio de atenção contínua que a alma faz a Deus.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, depois de ter esperado muito, Jesus fez-se ver que estava apertado a mim, tendo o meu coração entre as suas mãos, e olhando-me fixamente disse me:
(2) “Minha filha, quando uma alma me deu sua vontade, não é dona de fazer mais o que lhe agrada, de outra maneira não seria verdadeira doação. Enquanto que a verdadeira doação é ter sacrificado continuamente a própria vontade Àquele que lhe foi doada, e isto é um martírio de atenção contínua que a alma faz a Deus. O que você diria de um mártir que hoje se oferece a sofrer qualquer tipo de penas, e amanhã se retira? Dirias que não tinha verdadeira disposição ao martírio, e que um dia ou outro acabará por renegar a fé. O mesmo digo Eu à alma que não me deixa fazer de sua vontade o que me agrada, agora me a dá e logo me a tira, e lhe digo: dedique filha, não está disposta a sacrificar-te e martirizar-te por Mim, porque o verdadeiro martírio consiste na continuação, poderá dizer-te resignada, uniformada, mas não mártir, e um dia ou outro poderás acabá-la retirando-se de Mim, fazendo de tudo, um jogo de criança. Por isso está atenta e dá-me a plena liberdade de fazer contigo segundo o modo que mais me agrade”.
+ + + +
44
Volume 06
6-72
Setembro 26, 1904
Todas as penas que Jesus sofreu em sua Paixão foram triplas. Isto não foi casual, mas tudo foi para restituir completa glória devida ao Pai, a reparação que lhe
deviam as criaturas, e o bem que mereciam as mesmas criaturas.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, ouvia uma voz que me dizia: “Há uma luz que qualquer um que se aproxime dela pode acender quantas lâmpadas quiser, e estas lâmpadas servem para fazer coroa de honra à luz, e dar luz a quem as acende”. Eu dizia para mim: “Que bela luz é esta, que tem tanta luz e tanta potência, que enquanto dá aos outros quanta luz querem, ela sempre fica o que é, sem empobrecer em luz; mas quem será aquele que a tem?” Enquanto pensava nisto, ouvi-os dizer:
(2) “A luz é a Graça e a tem Deus, e a aproximação significa a boa vontade da alma de fazer o bem, porque quantos bens se querem tomar da Graça, se tomam, e as lâmpadas que se formam são as diversas virtudes, que enquanto dão glória a Deus dão luz à alma”.
(3) Depois disto, assim que vi o bendito Jesus, disse-me: Minha filha, e isto porque pensava que Nosso Senhor não só uma vez, mas por três vezes se fez coroar de espinhos, e como aqueles espinhos ficavam partidos dentro da cabeça, ao cravá-la de novo, “Doce amor meu, e por que por três vezes quis sofrer tão doloroso martírio? Não bastava uma vez para pagar tantos maus pensamentos nossos?” Então ele me disse:
(4) “Minha filha, não só a coroação de espinhos foi tripla, mas quase todas as dores que sofri na minha Paixão foram triplas. Triplas foram as três horas da agonia do horto; tripla foi a flagelação, açoitando-me com três flagelos diferentes; três vezes me despiram; três vezes fui condenado à morte: de noite, de madrugada, e em pleno dia; três foram as quedas debaixo da cruz; três os pregos; três vezes meu coração derramou sangue, isto é, no horto por si mesmo; de seu próprio centro no ato da crucificação quando fui estirado sobre a cruz, tanto, que todo meu corpo ficou deslocado e meu coração se destroçou dentro, e derramou sangue; e depois de minha morte quando com uma lança me foi aberto o lado; três horas de agonia na cruz. Se tudo se quisesse examinar, oh! quantas coisas triplas se encontrariam. Isto não foi por acaso, mas tudo foi pela ordem divina, e para completar a glória devida ao Pai, a reparação que lhe era devida por parte das criaturas, e merecer o bem para as mesmas criaturas, porque o maior dom que a criatura recebeu de Deus foi cria-la a sua imagem e semelhança, e dotá-la com três potências, inteligência, memória e vontade, e não há culpa que cometa a criatura em que estas três potências não concorram, e por isso mancha, danifica a bela imagem divina que contém em si mesma, servindo-se do dom para ofender o doador; e Eu para refazer de novo esta imagem divina na criatura, e para dar toda aquela glória que a criatura devia a Deus, tenho concorrido com toda minha inteligência, memória e
45
Volume 06
vontade, e de modo especial nestas coisas triplas sofridas por Mim, para tornar completa tanto a glória que se devia ao Pai, como o bem que era necessário às criaturas”.
+ + + +
6-73
Setembro 27, 1904
O que agrada mais a Jesus é o sacrifício voluntário.
Os dotes naturais são luz que serve ao homem para o encaminhar no caminho do bem.
(1) Continuando o meu estado habitual, vi o meu abençoado Jesus quase em ato de castigar as nações, e tendo-lhe pedido que se acalmasse disse-me:
(2) “Minha filha, a ingratidão humana é horrenda; não só os sacramentos, a graça, as luzes, as ajudas que dou ao homem, mas também os mesmos dotes naturais que lhe dei, todas são luzes que servem para encaminhá-lo no caminho do bem, e portanto para encontrar a própria felicidade, e o homem convertendo tudo isto em trevas, busca ali a própria ruína, e enquanto ali busca a ruína diz que busca o meu próprio bem; esta é a condição do homem, pode dar-se cegueira e ingratidão maior que esta? Filha, meu único consolo e gosto que a criatura me pode dar nestes tempos, é sacrificar-se voluntariamente por Mim, porque tendo sido meu sacrifício todo voluntário por eles, onde encontro a vontade de sacrificar-se por Mim, Sinto-me recompensado pelo que fiz por eles. Por isso, se queres aliviar-me e dar-me gosto, sacrifica-te voluntariamente por Mi”.
+ + + +
6-74
Setembro 28, 1904
Reprimir-se a si mesmo vale mais que adquirir um reino.
(1) Esta manhã, não havendo vindo o dulcíssimo Jesus, passei muito mal, e não fazia outra coisa que me reprimir e forçar a mim mesma, e dizia entre mim: “Que mais vou fazer? Para que me serve este reprimir continuamente a mim mesma?” E enquanto isso pensava, como um relâmpago veio e me disse:
(2) “Vale mais reprimir-se a si mesmo que adquirir um reino”.
(3) E desapareceu.
+ + + +
6-75
Outubro 17, 1904
Para encontrar a Divindade, deve-se agir unido com
46
Volume 06
a Humanidade de Cristo, com a sua própria Vontade.
(1) Continuando o meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus disse-me: (2) “Minha filha, é necessário agir através do véu da Humanidade de Cristo para encontrar a Divindade, isto é, agir unido com a sua Humanidade, com a mesma Vontade de Cristo, como se a dele e a da criatura fossem uma só, para agradá-lo só a Ele, obrando com seus mesmos modos, dirigindo tudo a Cristo, chamando-o junto a ela em tudo o que faz, como se Ele mesmo devesse fazer suas mesmas ações; fazendo assim, a alma se encontra em contínuo contato com Deus, porque a humanidade a Cristo não era outra coisa senão uma espécie de véu que cobria a Divindade; então, operando no meio destes véus, já se encontra com Deus. E aquele que não quer agir por meio de sua Humanidade Santíssima, e quer encontrar a Cristo, é como aquele que quer encontrar o fruto sem encontrar a casca. E impossível.
+ + + +
6-76
Outubro 20, 1904
Vê sacerdotes que se mordem entre eles.
(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, no meio de uma rua onde estavam muitos cachorrinhos que se mordiam uns aos outros, e no princípio desta rua um religioso que os via morder-se, os ouvia e se impressionava, porque via naturalmente, e os cachorrinhos diziam-lhe sem aprofundar e analisar bem as coisas e sem uma luz sobrenatural, que lhes fizesse conhecer a verdade. Enquanto via isto, ouvi uma voz que dizia:
(2) “Todos estes são sacerdotes que se mordem entre eles”.
(3) E aquele religioso que vendo os sacerdotes morderem-se entre eles, parecia que era o visitador, e os deixava sem a assistência Divina.
+ + + +
6-77
Outubro 25, 1904
Verbo significa manifestação, comunicação, união divina ao humano.
Se o Verbo não tivesse tomado carne, não haveria meio de unir Deus e o homem.
(1) Continuando meu estado habitual, depois de ter esperado muito veio, e assim que o vi, disse lhe: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós”. E o bendito Jesus acrescentou: (2) “O Verbo tomou carne, mas não ficou carne, ficou o que era, e assim como Verbo significa
47
Volume 06
palavra e não há nada que mais influa que a palavra, assim o Verbo significa manifestação, comunicação, união divina ao humano. Assim, se o Verbo não tivesse tomado carne, não haveria meio de unir Deus e o homem”.
(3) Disse isto desapareceu.
+ + + +
6-78
Outubro 27, 1904
Luisa fica sem sofrer para fazer um pouco de vazio à Justiça,
e assim pode castigar as pessoas.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual passei-me muito agitada, não só pela quase total privação do meu único e sumo bem, mas também porque encontrando-me fora de mim mesma via que os homens deviam matar-se como tantos cães, via como a Itália seria comprometida em guerra com outras nações; via tantos soldados que partiam em turbas e turbas, e que tendo sido mortos estes, chamavam outros. Quem pode dizer como me sentia oprimida, muito mais que me sentia quase sem sofrimentos. Então estava me lamentando dizendo entre mim: “Que proveito tem o viver? Jesus não vem, o sofrer me falta, meus mais amados e inseparáveis companheiros, Jesus e a dor me deixaram, no entanto eu vivo; eu acreditava que sem o um e o outro não teria podido viver, tão inseparáveis eram de mim, no entanto vivo ainda. ” Oh Deus! Que mudança, que ponto tão doloroso, que rasgo indescritível, que crueldade inaudita, a outras almas as deixou privadas de Ti, mas jamais sem a dor, a ninguém fizeste esta afronta tão ignominiosa, só a mim, só para mim estava preparado este desprezo tão terrível, só eu merecia este castigo insuportável. Mas justo castigo por meus pecados, e mais, merecia algo pior”. Enquanto eu estava nisto, como um relâmpago veio me dizendo com imponência:
(2) O que você tem para falar assim? Te basta minha Vontade para tudo; seria castigo se te pusesse fora do ambiente divino e te fizesse faltar o alimento de minha Vontade, o qual quero que sobretudo o tenha em conta e estima. Além disso é necessário que por algum tempo te falte o sofrer para fazer um pouco de vazio à justiça, e assim poder castigar as pessoas”.
+ + + +
6-79
Outubro 29, 1904
A cadeia de graças está ligada às obras perseverantes.
Todos os males estão fechados na não perseverança.
(1) Depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, quando a alma se dispõe a fazer um bem, ainda que fosse dizer uma “Ave Maria”, a graça concorre a fazer junto com ela dito bem; mas se a alma não é perseverante em fazer este
48
Volume 06
bem, vê-se com clareza que não estima e não valoriza este dom recebido, e faz troça da mesma graça. Quantos males estão fechados neste modo de agir: hoje sim e amanhã não; agrada-me e faço-o; para fazer este bem requer-se um sacrifício, não quero fazê-lo’. Acontece como aquele que, tendo recebido um dom de um senhor, hoje o recebe, amanhã o rejeita; aquele senhor por sua bondade o manda de novo, e aquele depois de havê-lo tido por algum tempo, cansado de ter consigo esse dom, novamente o rejeita. Agora, o que dirá aquele senhor? Se vê que não estima meu dom, se empobrece ou morre, não quero ter mais que ver com ele. Tudo, tudo está unido ao modo de agir com perseverança, a cadeia de minhas graças está entrelaçada às obras perseverantes; assim, se a alma se dá suas escapadas rompe esta cadeia, e quem lhe assegura que a unirá de novo? Meus desígnios se cumprem somente em quem une suas obras à perseverança. A perfeição, a santidade, tudo, tudo vai unido com ela, assim que se a alma é intermitente, sendo uma espécie de febre intermitente, o não agir com perseverança manda ao vazio os desígnios divinos, perde sua perfeição, e frustra sua santidade”.
+ + + +
6-80
Novembro 13, 1904
A criatura jamais teria sido digna do amor divino sem o livre arbítrio.
(1) Continuando em meu habitual estado, minhas amarguras vão sempre aumentando pelas privações e silêncio do meu Santíssimo e único Bem. Tudo é, em suas visitas, sombra e relâmpago, e foge. Sinto-me oprimida e tola, não compreendo mais nada, porque Aquele que contém a luz está distante de mim, e como relâmpago que enquanto estoura clareia, mas depois se faz mais escuro que antes. Minha única herança que me resta é o Querer Divino. Então, depois de ter esperado muito e sentir que não podia seguir adiante, por breves instantes veio e me disse:
(2) “Minha filha, minha Humanidade, sendo Homem e Deus, via presentes todos os pecados, os castigos, as almas perdidas; teria querido agarrar em um só ponto tudo isto e destruir pecados, castigos e salvar as almas, assim que teria querido sofrer não um dia de Paixão, mas todos os dias para poder conter tudo em Si estas penas, e poupá-las às pobres criaturas. Com tudo isso que ele teria desejado, e poderia, ter destruído o livre arbítrio das criaturas e destruído esse acúmulo de males, mas o que seria do homem sem méritos próprios? Sem a sua vontade para fazer o bem? Que papel faria ele? Seria objeto digno de mim Sabedoria Criadora? Não, certamente. Não teria sido como um filho em uma família estranha, que não tendo trabalhado junto com os próprios filhos não tem nenhum direito e alguma herança? E por isso, se come, se bebe, está sempre cheio de rubor, porque sabe que não fez nenhum gesto propício para testemunhar o seu amor para com aquele pai; e por isso jamais pode ser digno do amor daquele pai para com ele, Assim, a criatura
49
Volume 06
jamais teria sido digna do Amor Divino sem o livre arbítrio. Por outro lado, minha Humanidade não devia infringir minha Sabedoria criadora, devia adorá-la como a adorou e se resignou a receber os vazios da justiça na Humanidade, mas não na Divindade, porque estes vazios da justiça divina são preenchidos com castigos nesta vida, no inferno e no purgatório. Então, se a minha humanidade se resignou a tudo isto, talvez tu quisesses superar-me e não receber nenhum vazio de sofrer sobre ti, para não me fazer castigar as pessoas? Filha, unifique-se Comigo e esteja em paz”.
+ + + +
6-81
Novembro 17, 1904
Nós podemos ser alimento para Jesus.
(1) Tendo recebido a comunhão, estava pensando na bondade de Nosso Senhor ao dar-se em alimento a uma tão pobre criatura, a qual sou eu, e em como poderia corresponder a um favor tão grande. Enquanto pensava assim, o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, assim como Eu me faço alimento da criatura, assim a criatura pode fazer-se meu alimento, convertendo todo seu interior para meu alimento, de modo que pensamentos, afetos, desejos, inclinações, batimentos, suspiros, amor, tudo, tudo deveriam dirigir para Mim, e Eu vendo o verdadeiro fruto de meu alimento, que é divinizar a alma e converter tudo em Mim, viria a alimentar a alma, isto é, de seus pensamentos, de seu amor e de todo o resto seu. Assim a alma me poderia dizer: Assim como Tu te tens feito comer e dar-me tudo, também eu me tenho feito teu alimento, não fica outra coisa que te dar, porque tudo o que sou, tudo é teu”.
(3) Enquanto estava nisto, compreendia a ingratidão enorme das criaturas, porque enquanto Jesus se dignava chegar a tal excesso de amor de se fazer nosso alimento, nós lhe negamos seu alimento, e o fazemos ficar em jejum”.
+ + + +
6-82
Novembro 18, 1904
O Céu de Jesus sobre a terra são as almas que dão lugar à sua Divindade.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o meu adorável Jesus disse-me: (2) “Minha filha, meu céu quando vim à terra foi a minha humanidade; e assim como no céu se vê a multidão das estrelas, o sol, a lua, os planetas, a amplitude, tudo posto em bela ordem, e este é imagem do céu que existe por cima, onde tudo está ordenado; assim minha Humanidade, sendo meu céu, devia transluzir fora a ordem da Divindade que habitava dentro, isto é: as virtudes, a potência, a graça, a sabedoria e o resto. Agora, quando o céu da minha humanidade, depois da Ressurreição ascendeu ao Céu empírico, o meu céu sobre a terra devia continuar a existir, e estas
50
Volume 06
são as almas que dão a habitação à minha Divindade, e Eu habitando nelas formo meu céu e também faço transparecer fora a ordem das virtudes que estão dentro. Oh, que honra é para a criatura emprestar o céu ao Criador! Mas quantos me negam isso! E você, não gostaria de ser meu céu? Diga-me o que quer”.
(3) E eu: “Senhor, não quero outra coisa senão ser reconhecida no teu sangue, nas tuas chagas, na tua humanidade, nas tuas virtudes, só nisto gostaria de ser reconhecida, para ser o teu céu e ser desconhecida por todos”. Parecia que aprovava minha proposta e desapareceu.
+ + + + +
6-83
Novembro 24, 1904
Para dar e receber se requer a união de querer.
(1) Estando toda afligida e oprimida, e vendo o bom Jesus jorrar sangue, eu disse: “Bendito seja o Senhor, e não me queres dar pelo menos uma gota de sangue para curar todos os meus males? E Ele me disse:
(2) “Minha filha, para dar se requer a vontade de quem deve dar, e a vontade de quem deve receber, de outra maneira se uma pessoa quer dar e a outra não quer receber, mesmo que a primeira queira dar, não pode dar, e vice-versa, se a primeira não quer dar, a outra não pode receber, requer-se a união dos querer. Ai! Quantas vezes minha graça é sufocada, meu sangue rejeitado e pisoteado”.
(3) E, enquanto dizia isto, via que no sangue do doce Jesus se moviam todas as nações, e muitos saíam dele, não querendo estar dentro daquele sangue onde estavam contidos todos os nossos bens, e qualquer remédio para os nossos males.
+ + + +
6-84
Novembro 29, 1904
A Divindade de Jesus em sua Humanidade desceu no abismo mais profundo de todas as humilhações humanas, e divinizou e santificou todos os atos humanos.
(1) Esta manhã, estava oferecendo todas as ações da humanidade de Nosso Senhor para reparar todas as nossas ações humanas feitas, ou indiferentes sem um fim sobrenatural, ou pecaminosas, para impedir que todas as criaturas façam suas ações com a intenção e união das ações de Jesus bendito, e para preencher o vazio da glória que a criatura deveria dar a Deus se fizesse isso. Enquanto fazia isso, meu adorável Jesus me disse:
(2) “Minha filha, minha Divindade em minha Humanidade desceu no abismo mais profundo de todas as humilhações humanas, tanto que não houve nenhum ato humano, por quão baixo e
51
Volume 06
pequeno, que Eu não divinizara e santificara. E isto para restituir ao homem dobrada soberania, a perdida na Criação, e a que lhe adquiri na Redenção. Mas o homem sempre ingrato e inimigo de si mesmo, ama o ser escravo em vez de soberano, enquanto podia com um meio tão fácil, isto é com a intenção de unir suas ações às minhas, tornar suas ações merecedoras do mérito divino, delas faz um desperdício e perde a divisa de rei e a soberania de si mesmo”.
(3) Dito isto desapareceu e encontrei-me em mim mesma.
+ + + +
6-85
Dezembro 3, 1904
Duas perguntas para saber se é Deus ou o demónio que trabalha em Luísa.
(1) Continuando meu habitual estado, me encontrei fora de mim mesma, atirada na terra, de cara ao sol, seus raios me penetravam dentro e fora fazendo-me ficar como extasiada. Depois de muito tempo, tendo-me cansado daquela posição, me arrastava por terra porque não tinha força para levantar-me e caminhar; depois de muito esperar veio uma virgem, que me tomando pela mão me conduziu dentro de uma habitação, sobre uma cama, onde estava o menino Jesus que pacificamente dormia. Eu, contente por tê-lo encontrado me aproximei dele, mas sem acordá-lo. Depois de algum tempo, tendo despertado, pôs-se a passear sobre o leito, e temendo que desaparecesse disse: “Querido do meu coração, Tu sabes que és a minha vida, ah! Não me deixe”. (2) E Ele: “Estabeleçamos quantas vezes devo vir”.
(3) E eu: “Único bem meu, que dizes? A vida é sempre necessária, por isso sempre, sempre”. Enquanto estava nisto vieram dois sacerdotes, e o menino se pôs nos braços de um deles me ordenando que eu falasse com o outro, este queria contas de meus escritos, e um por um os estava revisando, então eu, temendo, lhe disse: “Quem sabe quantos erros eles têm”.
(4) E ele com uma seriedade afável disse: “O que, erros contra a lei cristã?” (5) E eu: “Não, erros de gramática”.
(6) E ele: “Isso não importa”.
(7) E eu tendo confiança adicionei: “Temo que tudo seja ilusão”.
(8) E ele, olhando-me nos olhos, disse: “Achas que preciso de rever os teus escritos para saber se és iludida ou não? Eu com duas perguntas que te faça conhecer se é Deus ou o demônio quem obra em ti. Primeiro, você crê que todas as graças que Deus te fez você as mereceu, ou bem, foram dom e graça de Deus?”
(9) E eu: “Tudo pela graça de Deus”.
(10) “Segundo, acreditas tu que em todas as graças que o Senhor te fez, a tua boa vontade
52
Volume 06
precedeu a graça, ou a graça precedeu você?”
(11) E eu: “Certamente, a graça sempre me precedeu”.
(12) E ele: “Estas respostas me fazem saber que não é ilusão”.
(13) Naquele momento eu me encontrei em mim mesma.
+ + + +
6-86
Dezembro 4, 1904
É mais fácil combater com Deus do que com a obediência.
(1) Estando muito agitada, e com o temor de que o bendito Jesus não me queria mais neste estado, sentia uma força interior para sair, e tanta era a força que sentia, que não podendo contê-la ia repetindo: “Sinto-me cansada, não posso mais”. E dentro de mim ouvia-me dizer: “Também Eu me sinto cansado, não posso mais, algum dia é necessário que fique suspensa de todo do estado de vítima, para fazê-los tomar a decisão das guerras, e quando as guerras começarem, ele vai pensar no que vai acontecer a ti”. Eu não sabia o que fazer, a obediência não queria, e combater com a obediência é o mesmo que superar um monte que enche a terra e toca o céu e não há caminho para poder caminhar, portanto é inacessível. Eu acredito, não sei se é uma loucura, que é mais fácil combater com Deus que com esta terrível virtude. Então, agitada como estava encontrei me fora de mim mesma ante um crucifixo e dizia: “Senhor, não posso mais, minha natureza desfalece, falta-me a força necessária para continuar o estado de vítima, se queres que continue dá-me a força, de outra maneira eu me retiro”. Enquanto dizia isto, aquele crucifixo fazia brotar uma fonte de sangue para o Céu, que voltando a cair à terra se convertia em fogo. E algumas virgens diziam: Pela França, Itália, Áustria e Inglaterra, e nomeavam outras nações que eu não entendi bem. Há gravíssimas guerras preparadas, civis e de governos. Eu ao ouvir isto me assustei muito, e me encontrei em mim mesma, e não sabia eu mesma decidir a quem devia seguir, ou à força interna que me impulsionava a levantar, ou à força da obediência que me impulsionava a ficar, porque ambas são fortes e poderosas sobre o meu fraco e pobre coração. Até agora parece que prevalece a obediência, se bem trabalhosamente, e não sei onde irei terminar.
+ + + + +
6-87
Dezembro 6, 1904
O princípio da bem-aventurança eterna é perder todo o gosto próprio.
(1) Continuava esperando, e assim que veio o bendito Jesus eu me via nua, despojada de tudo; talvez alma mais miserável não se pode encontrar, tão extrema é minha miséria. Que mudança tão
53
Volume 06
funesta! Se o Senhor não fizer um novo milagre de sua onipotência para me fazer ressurgir deste estado, certamente morrerei de miséria. Então o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, coragem, o princípio da bem-aventurança eterna é perder todo gosto próprio, porque segundo a alma vai perdendo os próprios gostos, assim os gostos divinos tomam possessão nela, e a alma, tendo-se desfeito e perdido a si mesma, não se reconhece mais a si mesma, não encontra mais nada seu, nem sequer as coisas espirituais; e Deus vendo que a alma não tem mais nada do seu, a enche toda de Si mesmo e a enche de todas as felicidades divinas, e então a alma pode dizer-se verdadeiramente bem-aventurada, porque enquanto tinha alguma coisa própria não podia estar isenta de amarguras e temores, nem Deus podia comunicar-lhe a própria felicidade. Cada alma que entra no porto da bem-aventurança eterna, não pode estar isenta deste ponto, doloroso, sim, mas necessário, nem pode fazer menos. Geralmente o fazem no ponto da morte, e o purgatório lhes dá a última mão, por isso se se pergunta às criaturas o que é gosto de Deus, o que significa bem-aventurança divina, são coisas até então desconhecidas, e não sabem articular palavra. Mas às minhas almas queridas, não quero, tendo-me dado a todas, que a sua bem-aventurança tenha princípio lá no Céu, mas que tenha princípio aqui na terra, e não só quero enchê-las da felicidade, da glória do Céu, mas quero enchê-las dos bens, dos sofrimentos, das virtudes que teve minha Humanidade na terra, por isso as despojo não só dos gostos materiais, que a alma chega a considerar como esterco, mas também dos gostos espirituais, para enchê-las todas de meus bens e dar-lhes o principio da verdadeira bem aventurança.
+ + + +
6-88
Dezembro 22, 1904
Quanto mais a alma está vazia e é humilde, tanto mais a luz divina
a enche e lhe comunica as suas graças e perfeições.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, via o menino Jesus com um punho de luz na mão, e dos dedos lhe corriam os raios fora. Eu fiquei admirada e Ele me disse:
(2) “Minha filha, a perfeição é luz, e quem diz querer alcançá-la não faz outra coisa que como quem quer tomar em um punho um corpo de luz, que enquanto faz por tomá-lo, a mesma luz lhe escapa por entre os dedos, só que a mão fica submersa na mesma luz. Agora, a luz é Deus, e só Deus é perfeito, e a alma que quer ser perfeita não faz outra coisa que agarrar as sombras, as gotinhas de Deus, e às vezes não faz outra coisa que viver só na luz, isto é, na Verdade. E assim como a luz, quanto mais vazio encontra e quanto mais profundo é o lugar, tanto mais dentro se introduz, e assim mais espaço toma, assim a luz divina, quanto mais vazia e humilde é a alma, tanto mais a
54
Volume 06
luz a enche e lhe comunica suas graças e perfeições”.
+ + + +
6-89
Dezembro 29, 1904
A fraqueza humana é falta de vigilância e de atenção.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava pensando nos acontecimentos mais humilhantes que sofreu Nosso Senhor, e em mim mesma sentia horror, mas depois dizia entre mim: “Senhor, perdoa aqueles que te renovam estes momentos dolorosos, porque é a muita debilidade que o homem contém”. Enquanto estava nisto, o bendito Jesus, assim que veio, disse
me:
(2) “Minha filha, o que se diz fraqueza humana, na maioria das vezes é falta de vigilância e de atenção de quem é cabeça, isto é: pais e superiores, porque a criatura quando é vigiada e observada, e não se dá a liberdade que quer, a debilidade não tendo seu alimento (o encobrir a debilidade é alimento para piorar na debilidade), por si mesma se destrói”.
(3) Depois continuou: “Ah! Minha filha, assim como a virtude permeia a alma de luz, de beleza, de graça, de amor, como uma esponja seca se impregna de água, assim o pecado, as fraquezas encobertas impregnam a alma, como uma esponja se impregna de lama, de trevas e fealdade, e até de ódio contra Deus”.
+ + + +
6-90
Janeiro 21, 1905
Quem desonra a obediência, desonra a Deus.
(1) Tendo exposto certas dúvidas ao confessor, minha mente não se aquietava com o que me dizia, então tendo vindo o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, que raciocina sobre a obediência, só raciocinar vem a desonrá-la, e quem desonra a obediência desonra a Deus”.
+ + + +
6-91
Janeiro 28, 1905
A cruz é semente de virtudes.
(1) Estando sofrendo mais do que o habitual, assim que veio meu adorável Jesus me disse: (2) “Minha filha, a cruz é semente de virtude, e assim como quem semeia colheita por dez, vinte, trinta, e inclusive por cem, assim a cruz, sendo semente multiplica as virtudes, as aperfeiçoa, as
55
Volume 06
embeleza de maravilha; assim, quanto mais cruzes se acumulam em torno de ti, tantas sementes de virtudes se lançam em sua alma. Por isso, em vez de afligir-se quando uma nova cruz chegar, deveria alegrar-se pensando em fazer aquisição de outra semente para poder enriquecer e também completar sua coroa”.
+ + + +
6-92
Fevereiro 8, 1905
Características dos filhos de Deus: Amor à cruz,
amor à glória de Deus e amor à glória da Igreja.
(1) Continuando meu pobre estado de privações e de amargura indizível, no máximo se faz ver em silêncio, e esta manhã me disse:
(2) “Minha filha, as características dos meus filhos são: amor à cruz, amor à glória de Deus, e amor à glória da Igreja, até expor a própria vida. Quem não tem estas três características, em vão se diz meu filho; quem se atreve a dizê-lo é um mentiroso e traidor, que trai a Deus e a si mesmo. Olhe um pouco em você se as tem”. e desapareceu.
+ + + +
6-93
Fevereiro 10, 1905
Quais são os contentamentos da alma.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia um descontentamento de mim mesma, e tendo vindo o bendito Jesus me senti entrar em tal contentamento, que disse: “Ah! Senhor, só Tu és o verdadeiro contentamento”.
(2) “E Ele continuou: “E eu te digo que o primeiro contentamento da alma é só Deus; o segundo contentamento é quando a alma dentro de si, e fora de si, não olha outra coisa que a Deus; o terceiro é quando a alma se encontra neste ambiente divino, nenhum objeto criado, nem criaturas, nem riquezas, quebram a Imagem divina em sua mente, porque a mente se alimenta do que pensa, e olhando só a Deus, das coisas daqui abaixo vê só aquelas que quer Deus, não se preocupa com todo o resto, e assim permanece sempre em Deus; o quarto contentamento é o sofrer por Deus, porque a alma e Deus, ora para manter a conversação, ora para estreitar-se mais intimamente, ora por declarar-se um à outra o muito que se querem, Deus a chama e a alma responde, Deus se aproxima e a alma o abraça, Deus lhe dá o sofrer e a alma sofre voluntariamente, é mais, deseja sofrer mais por amor dele, para poder lhe dizer: “Vês como te amo?” E este é o maior de todos os contentamentos”.
56
Volume 06
+ + + + +
6-94
Fevereiro 24, 1905
Fala sobre a humildade.
(1) Esta manhã, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, a humildade é uma flor sem espinhos, se pode tomar na mão, se pode estreitar, se pode pôr onde se quiser, sem temor de receber incômodo ou picar-se. Assim é a alma humilde, pode-se dizer que não tem as picadas dos defeitos, e como não é espinhosa pode-se fazer o que se queira, e não tendo espinhos, naturalmente não pica nem dá incômodo aos outros, porque os espinhos dá quem os tem, mas quem não os tem, não pode da-los.
(3) E não só isso, mas a humildade é uma flor que fortifica e clareia a vista, e com a sua clareza sabe-se estar longe dos mesmos espinhos”.
+ + + +
6-95
Março 2, 1905
Jesus dá-lhe a chave da sua Vontade.
(1) Continuando o meu estado habitual, estando fora de mim mesma encontrei-me na mão uma chave; e se bem percorria um caminho longo e de vez em quando me distraía, apenas pensava na chave que se encontrava sempre na mão. Agora, via que esta chave servia para abrir um palácio, e dentro estava o menino Jesus que dormia, eu tudo via de longe, e tinha toda a pressa, a pressa para ir abrir, temendo que acordasse, que chorasse, e que eu não me encontrasse a seu lado. Por isso me apressava, mas quando estive lá para subir, me encontrei em mim mesma, por isso fiquei pensativa. Depois, havendo vindo o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, a chave que se encontravas sempre na sua mão é a chave da minha Vontade, que Eu pus em tuas mãos, e quem tem na mão um objeto, pode fazer com ele o que quiser”.
+ + + +
6-96
Março 5, 1905
Fala da cruz.
(1) Estando sofrendo um pouco mais que o habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus e me disse:
57
Volume 06
(2) “Minha filha, a cruz é sustento dos fracos, é fortaleza dos fortes, é germe e custódia da virgindade”.
(3) Dito isto desapareceu.
+ + + +
6-97
Março 20, 1905
O verdadeiro amor e as verdadeiras virtudes devem ter o seu princípio em Deus.
(1) Continuando o meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, o amor que não tem o princípio em Deus, não pode dizer-se amor verdadeiro, e as mesmas virtudes que não têm princípio em Deus, são virtudes falsificadas, porque tudo o que não tem princípio em Deus não pode dizer-se nem amor, nem virtude, mas sim luz aparente que acaba por converter-se em trevas”.
(3) Em seguida, acrescentou:
(4) “Como por exemplo: Um confessor trabalha, sacrifica-se tanto por uma alma, isto é coisa santa, aparentemente chega ao heroísmo; porém, se isto o faz porque obteve, ou espera obter alguma coisa, o princípio de seu sacrifício não está em Deus, senão em si mesmo e por si mesmo, portanto, não se pode dizer virtude”.
+ + + +
6-98
Março 23, 1905
Glória e complacência de Jesus.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus e eu lhe disse: “Senhor, é a tua glória o meu estado?”
(2) E Ele: “Minha filha, toda minha glória e toda minha complacência, é que te quero toda mais em Mim”.
(3) Depois acrescentou: “O tudo está na desconfiança e temor da alma em si mesma, e na confiança e firmeza em Deus”.
(4) Dito isto desapareceu.
+ + + +
6-99
Março 28, 1905
Efeitos da perturbação. Encontro contínuo de Jesus com a alma.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, quando mal chegou o bendito Jesus, e tendo eu dito a uma alma perturbada: “Pensa em não querer estar perturbada, não só por teu bem, mas muito mais por amor de Nosso Senhor, porque a alma perturbada não só está ela perturbada, senão que
58
Volume 06
faz se perturbar a Jesus Cristo”. Depois disse entre mim: “Que disparate disse, Jesus não pode perturbar-se jamais”. Então ao vir me disse:
(2) “Minha filha, em lugar de um absurdo há dito uma verdade, porque em cada alma formo uma Vida Divina, e se a alma está turbada, esta Vida Divina que Eu vou formando fica também turbada; e não só isto, senão que jamais chega a cumprir-se perfeitamente”.
(3) E como relâmpago se foi. Então eu continuei meu acostumado trabalho interior sobre a Paixão, e tendo chegado àquele momento do encontro de Jesus e Maria no caminho à cruz, de novo fez-se ver e disse-me:
(4) “Minha filha, também com a alma me encontro continuamente, e se no encontro que faço com a alma a encontro em ato de exercitar as virtudes e unida Comigo, me recompensa da dor que sofri quando encontrei minha Mãe tão dolorosa por minha causa”.
+ + + +
6-100
Abril 11, 1905
A perseverança é selo da vida eterna, e desenvolvimento da vida divina.
(1) Estando muito aflita pela privação de meu adorável Jesus, estava dizendo para mim: “Como se fez cruel comigo, eu mesma não sei entender como seu bom coração pode chegar a fazê-lo, e além disso, se o perseverar lhe agrada tanto, como é que minha perseverança não comove seu bom coração?” Enquanto dizia estes e outros disparates, de improviso veio e me disse:
(2) “Certamente a coisa que mais me agrada da alma é a perseverança, porque a perseverança é selo da vida eterna e desenvolvimento da Vida Divina. Porque assim como Deus é sempre antigo e sempre novo e imutável, assim a alma com a perseverança, com tê-la praticado sempre é antiga, e com a atitude de fazer é sempre nova, e cada vez que a faz renova-se em Deus, permanecendo nele imutável, e sem se dar conta. E como com a perseverança faz aquisição contínua da Vida Divina em si mesma, adquirindo a Deus sela a vida eterna. Pode haver selo mais seguro que o próprio Deus?”
+ + + +
6-101
Abril 16, 1905
Sofrer é reinar.
(1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo fez-se ver meu amável Jesus com um cravo dentro do coração, e aproximando-se a meu coração me tocava com seu mesmo prego, eu sentia penas mortais, e depois me disse:
(2) “Minha filha, este prego me põe o mundo até dentro de meu coração, e me dá uma morte
59
Volume 06
contínua, assim que por justiça, como eles me dão morte contínua, assim permitirei que se dêem morte entre eles, matando-se como cães”.
(3) E enquanto dizia isto, fazia-me ouvir os gritos dos revoltosos, tanto que fiquei ensurdecida por quatro ou cinco dias. Por isso, estando sofrendo muito, pouco depois voltou e me disse: (4) “Hoje é o dia das palmas em que fui proclamado Rei. Todos devem aspirar a um reino, e para adquirir o reino eterno é necessário que a criatura adquira o regime de si mesma com o domínio de suas paixões. O único meio para isso é o sofrer, porque o sofrer é reinar, isto é, com a paciência se põe em ordem a si mesmo, fazendo-se rei de si mesmo e do reino eterno”.
+ + + +
6-102
Abril 20, 1905
A humanidade nestes tempos encontra-se como um osso fora de lugar. Como saber se as paixões foram dominadas.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, quando mal chegou o bendito Jesus, quase em ato de castigar as nações, me disse:
(2) “Minha filha, as criaturas me laceram a carne, pisoteiam meu sangue continuamente, e Eu permitirei que suas carnes sejam laceradas e seu sangue derramado. A humanidade nestes tempos se encontra como um osso fora de lugar, fora de seu centro, e para colocá-lo em seu lugar e fazê-lo entrar novamente em seu centro, é necessário que o destrua”.
(3) Depois, acalmando-se um pouco continuou: “Minha filha, a alma pode saber se tem dominado suas paixões, se quando tocada pelas tentações ou pelas pessoas, não as toma em conta, como por exemplo: É tentada pela impureza; se tem dominado esta paixão a alma não faz caso e a mesma natureza fica em seu posto; se não a tem dominado, a alma se entristece, se aflige, e em seu corpo sente correr um rio purulento. Ou uma pessoa mortifica, injuria a outra; se esta dominou a paixão da soberba fica em paz, se não assim for, sente correr um rio de fogo, de desprezo, de altaneira, que a põe toda alterada, porque a paixão quando existe, quando chega a ocasião, sai, e assim por diante”.
+ + + +
6-103
Maio 2, 1905
Três tipos de ressurreição contém o sofrimento.
(1) Continuando um pouco mais do que o habitual meus sofrimentos, meu bom Jesus ao vir disse me:
(2) “Minha filha, o sofrer contém três tipos de ressurreição, isto é: o sofrer faz ressurgir a alma à graça; segundo, adentrando-se o sofrer reúne as virtudes e ressurge à santidade; terceiro, continuando o sofrer, o sofrer aperfeiçoa as virtudes, as embeleza de esplendor, formando uma
60
Volume 06
bela coroa, e coroada a alma ressurge à glória na terra, e à glória no Céu”.
(3) Dito isto desapareceu.
+ + + +
6-104
Maio 5, 1905
Efeitos da Graça.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, quando veio o bendito Jesus, parecia que de dentro de seu interior saía outra imagem toda igual a Ele, só que menor. Eu fiquei maravilhada ao ver isto e Ele me disse:
(2) “Minha filha, tudo o que pode sair de dentro de uma pessoa se chama parto, e este parto se torna filho de quem o pare. Agora, esta minha filha é a Graça, que saindo de Mim se comunica a todas as almas que a querem receber, e as converte em outros tantos filhos meus; e não só isso, senão que tudo o que pode sair de bem, de virtude destes segundos filhos, se tornam filhos da Graça. Vê um pouco que longa geração de filhos se forma a Graça só que recebam; mas quantos a rejeitam, e minha filha se volta a meu seio só e sem prole”.
(3) Enquanto dizia isto, aquela imagem fechou-se dentro de mim, enchendo-me toda de si mesma. + + + +
6-105
Maio 9, 1905
A alma unida à Graça pode fazer o que a morte deve fazer à natureza.
(1) Continuando o meu estado habitual, parecia-me que o meu adorável Jesus saía de dentro de Meu interior e com uma voz doce e afável dizia:
(2) “E por que minha filha tudo o que a morte deve fazer à natureza, não pode fazê-lo antecipadamente a alma unida à Graça? Isto é, fazê-la morrer antecipadamente, por amor de Deus, a tudo o que deverá morrer. Mas esta bem-aventurada morte chega a fazê-la quem somente faz contínua morada com a minha Graça, porque vivendo com Deus é mais fácil morrer a tudo o que é obsoleto. E a alma vivendo em Deus e morrendo a todo o resto, a mesma natureza vem antecipar os privilégios que a devem enriquecer na ressurreição, ou seja, sentir-se-á espiritualizada, deificada e incorruptível, além de todos os bens em que participará a alma sentindo-se partícipe de todos os privilégios da Vida Divina, e além disto a diferença de glória que estas almas terão no Céu, serão tão diferentes das outras, como é diferente o Céu da terra”.
(3) Dito isto desapareceu.
+ + + +
6-106
61
Volume 06
Maio 12, 1905
Meio para não perder o amor de Jesus.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, quando veio meu bendito Jesus, eu, só ao vê-lo, não sei por que disse:
(2) “Senhor, no entanto há uma coisa que lacera minha alma, o pensamento de que posso perder seu amor”.
(3) E ele: “Minha filha, quem te disse? Em todas as coisas, a minha paterna bondade providenciou os meios para ajudar a criatura, desde que estes meios não sejam rejeitados. Portanto, o meio para não perder meu amor, é fazer dele e de tudo o que me concerne, como se fossem coisas próprias; pode alguém perder tudo o que é seu? Não, certamente, no máximo se não tem estima de suas coisas não terá cuidado de guardá-las, mas se não as estima e não a custodia é sinal de que não as ama, portanto aquele objeto não contém mais vida de amor e não se pode incluir entre as coisas próprias. Mas meu amor quando se faz próprio, se estima, se conserva, se tem sempre à vista, de modo que não pode perder o que é seu, nem em vida nem em morte”.
+ + + +
6-107
Maio 15, 1905
O caminho da virtude é fácil.
(1) Continuando o meu estado habitual, por pouco tempo veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, dizem que o caminho da virtude é difícil. Falso, é difícil para quem não caminha, porque não conhecendo nem as graças, nem os consolos que deve receber de Deus, nem a facilitação ao caminhar, parece-lhe difícil, e sem caminhar sente todo o peso do caminho. Mas para quem caminha lhe é facilíssimo, porque a graça que a inunda a fortalece, a beleza das virtudes a atrai, o Divino Esposo das almas a leva apoiada no próprio braço, acompanhando-a no caminho, e a alma em vez de sentir o peso, a dificuldade do caminhar, quer apressar o caminho para chegar mais rápido ao final do caminho e do seu próprio centro”.
+ + + +
6-108
Maio 18, 1905
O amor merece a preferência acima de tudo.
(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, o medo tira a vida ao amor; e não só isto, mas também as mesmas virtudes que não têm princípio no amor, diminuem a vida do amor na alma; enquanto em todas as coisas o amor merece a preferência, porque o amor torna fácil todas as coisas; enquanto as mesmas virtudes que não têm princípio no amor, são como tantas vítimas que vão acabar no matadouro, ou seja, na
62
Volume 06
destruição das mesmas virtudes”.
+ + + +
6-109
Maio 20, 1905
Modo de sofrer.
(1) Esta manhã estava pensando quando o bendito Jesus ficou todo deslocado sobre a cruz, e dizia entre mim: “Ah! Senhor, quão compenetrado pudeste ficar destes atrozes sofrimentos, e como tua alma pôde ficar afligida”. E enquanto isso, quase como uma sombra veio e me disse: (2) “Minha filha, Eu não me ocupava de meus sofrimentos, senão que me ocupava da finalidade de minhas penas, e como em minhas penas via cumprida a Vontade do Pai, sofria, e em mim mesmo sofrer encontrava o mais doce repouso, porque fazer a Vontade Divina contém este bem, que enquanto se sofre ali se encontra o mais belo repouso; e se se goza, e este gozar não é querido por Deus, no mesmo gozar se encontra o mais atroz tormento. Além disso, quanto mais me aproximava do final das penas, ansiando cumprir em tudo a Vontade de Pai, assim me sentia mais iluminado e meu repouso se fazia mais belo. Oh! Como é diverso o modo que têm as almas, se sofrem ou operam não têm nem a mira no fruto que podem recolher, nem o cumprimento da Vontade Divina, concentram-se todas na coisa que fazem, e não vendo os bens que podem ganhar, nem o doce repouso que leva a Vontade de Deus, vivem angustiadas e atormentadas, e rejeitam quanto mais podem o sofrer e o agir, acreditando encontrar repouso e ficam mais atormentadas que ao princípio”.
+ + + +
6-110
Maio 23, 1905
Para não sentir perturbações, a alma deve apoiar-se bem em Deus.
(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma, e sentia uma pessoa em meus braços e a cabeça apoiada sobre o ombro, e eu não conseguia ver quem era, por isso o puxei com força dizendo: “Diga-me ao menos quem é”.
(2) E Ele: “Eu sou o todo”.
(3) E eu ao ouvir dizer que era o todo, disse: “E eu sou o nada. Olhe Senhor quanta razão tenho em querer que este nada esteja unida com o Todo, de outra maneira será como um punho de pó que, o vento espalha”. Enquanto fazia isto, via uma pessoa que duvidava e dizia: “Por que será que por cada pequena coisa se sente tanta perturbação?” E eu, por uma luz que vinha do bendito Jesus, disse: “Para não sentir perturbações a alma deve fundir-se bem em Deus, e toda si mesma
63
Volume 06
tender a Deus como a um só ponto, e ver as outras coisas com olho indiferente, mas se fizer de outra maneira, em cada coisa que faça, veja ou sinta, a alma se sentirá investida de um mal-estar, como de uma febre que volta à alma toda afastada, perturbada, sem poder entender-se ela mesma.
+ + + + +
6-111
Maio 25, 1905
A imagem de Jesus na alma.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, via o bendito Jesus fora e dentro de meu interior, se fora o via menino, menino o via dentro; se o via crucificado por fora, também o via dentro. Eu fiquei admirada e Ele me disse:
(2) “Minha filha, quando minha imagem está completamente formada no interior da alma, qualquer forma que queira tomar externamente para voltar a me olhar, ela toma minha mesma imagem que formei na alma. Que maravilha, então!
+ + + +
6-112
Maio 26, 1905
Quando a alma é toda de Jesus, Ele sente o seu murmúrio no seu Ser.
(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o Menino Jesus nos braços e estava a dizer lhe: “Meu querido, sou toda e sempre tua; ah! não permita que corra em mim nada, embora seja uma sombra que não seja tua”.
(2) E Ele: “Minha filha, quando a alma é toda minha, Eu sinto um murmúrio contínuo de seu ser em Mim; este seu murmúrio contínuo eu o sinto correr em minha voz, em meu coração, na mente, nas mãos, em meus passos e até em meu sangue. Oh! Como me é doce este seu murmúrio em Mim, e conforme o sinto vou repetindo: “Tudo, tudo, tudo desta alma é meu, e Eu te amo, te amo muito”. E nela selo o murmúrio do meu amor; e, quando eu sinto o seu, assim a alma sente meu murmúrio em todo seu ser, assim que se a alma em toda si mesma se sente correr meu murmúrio, é sinal de que é toda minha”.
+ + + +
6-113
Maio 29, 1905
Quem repousa nos braços da obediência, recebe todas as cores divinas. (1) Esta manhã, ao vir o bendito Jesus lançou-se nos meus braços como se quisesse repousar e disse-me:
64
Volume 06
(2) “Como uma criança repousa segura nos braços da mãe, assim a alma deve repousar nos braços da obediência, e quem repousa nos braços da obediência recebe todas as cores divinas, porque com quem verdadeiramente dorme se pode fazer o que se quer; assim quem verdadeiramente repousa nos braços da obediência, pode-se dizer que dorme, e Deus pode fazer à alma o que Ele quer”.
+ + + +
6-114
Maio 30, 1905
A vida de amor de Jesus.
(1) Continuando o meu estado habitual, estava dizendo: “Senhor, o que queres de mim? Manifesta me a tua Santa Vontade”.
(2) E Ele: “Minha filha, quero-te toda em Mim, a fim de que possa encontrar tudo em ti. Assim como todas as criaturas tiveram vida na minha humanidade, e eu me satisfiz por todas, assim, estando toda em Mim, far-me-ás encontrar todas as criaturas em ti, isto é, unida Comigo me farás encontrar em ti a reparação por todos, a satisfação, o agradecimento, o louvor, e tudo o que as criaturas são obrigadas a dar-me. O amor, além da Vida Divina e humana me forneceu a terceira vida, que me fez germinar todas as vidas das criaturas em minha humanidade, é esta vida de amor, e que enquanto me dava vida, me dava morte contínua, me feria e me fortalecia, me humilhava e me exaltava, me amargurava e me adoçava, me atormentava e me dava delícias. O que não contém esta vida de amor incansável e disposta a qualquer coisa? Tudo, tudo nela se encontra, sua vida é sempre nova e eterna. Oh! Como gostaria de encontrar em ti esta vida de amor para ter-te sempre em Mim, e encontrar tudo em ti”.
+ + + +
6-115
Junho 2, 1905
A paciência é o alimento da perseverança.
(1) Esta manhã, o bendito Jesus ao vir me disse:
(2) “Minha filha, a paciência é o alimento da perseverança, porque a paciência mantém em seu lugar as paixões e corrobora todas as virtudes, e as virtudes, recebendo da paciência a atitude da vida contínua, não sentem o cansaço que produz a inconstância, tão fácil para a criatura. Por isso a alma não se abate se é mortificada ou humilhada, porque rapidamente a paciência lhe fornece o alimento necessário, e forma um vínculo mais forte e estável de perseverança. Nem se é consolada e exaltada se eleva muito, porque a paciência alimentando a perseverança, se contém na moderação sem sair de seus limites. Além disso, assim como a paciência é alimento, e até enquanto uma pessoa se alimenta pode dizer que tem vida, não está morta; assim a alma, até que tenha paciência, desfrutará a vida da perseverança”.
65
Volume 06
+ + + +
6-116
Junho 5, 1905
As cruzes são fontes batismais.
(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, as cruzes, as mortificações, são outras tantas fontes batismais, e qualquer espécie de cruz que está empapada no pensamento de minha Paixão, perde a metade da aspereza e diminui a metade do peso”.
(3) E como relâmpago desapareceu. Então eu fiquei fazendo certas adorações e reparos em meu interior, e de novo voltou e acrescentou:
(4) “Qual não é meu consolo ao ver refeito em ti o que minha Humanidade fez tantos séculos antes, porque qualquer coisa que Eu determinei que cada alma fizesse, foi feita primeiro em minha Humanidade, e se a alma me corresponde, o que Eu fiz por ela o refaz de novo em si mesma, e se não, fica só feito em Mim mesmo, e Eu sinto por isso uma amargura indizível”.
+ + + + +
6-117
Junho 23, 1905
Quem está unido com a Humanidade de Jesus, encontra-se à porta da sua Divindade.
(1) Continuando meu estado habitual, estava pensando em como Jesus Cristo morreu e que Ele não podia de modo algum temer a morte, porque estando tão unido com a Divindade, aliás, transmutado, já se encontrava seguro como um em seu próprio palácio; mas para a alma, oh! como é diferente. Enquanto estes e outros desatinos pensavam, o bendito Jesus veio e me disse:
(2) “Minha filha, quem está unido com minha Humanidade já se encontra à porta de minha Divindade, porque minha Humanidade é espelho à alma, da qual se reflete a Divindade nela; quem se encontra nos reflexos deste espelho, entende-se que todo seu ser é transformado em amor, porque minha filha, tudo o que da criatura sai, até o movimento dos olhos, dos lábios, o mover dos pensamentos e todo o resto, tudo deveria ser amor e feito por amor, porque sendo meu Ser todo amor, onde encontro amor absorvo tudo em Mim, e a alma habita segura em Mim, como um em seu próprio palácio; então, que temor pode ter a alma ao morrer de vir a Mim, se já se encontra em Mim?”
+ + + +
6-118
Julho 3, 1905
Declarações de Jesus sobre o estado de Luisa.
(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma, e encontrei a Rainha Mãe com o menino Jesus nos braços, que lhe estava dando seu dulcíssimo leite; eu ao ver que o
66
Volume 06
menino sugava o leite do peito de nossa Mãe, lentamente o tirei do peito e me pus eu a sugar. Ao ver-me fazer isto, ambos sorriram da minha astúcia, mas deixaram-me chupar. Então depois disso, a Rainha Mãe me disse:
(2) “Toma o teu Querido e desfruta dele.”.
(3) Eu o tomei em braços e enquanto, fora, se escutavam rumores de armas e Ele me disse: (4) “Este governo cairá”.
(5) E eu: “Quando?”
(6) Tocando-se a ponta do dedo continuou: “Outra ponta de dedo”.
(7) E eu: “Quem sabe quanto será esta ponta de dedo ante Ti”. Ele não me prestou atenção, e eu não querendo saber estava dizendo: “Como gostaria de conhecer a Vontade de Deus a respeito de mim”.
(8) E Ele me disse: “Toma um papel, que Eu mesmo te escreverei e declararei minha Vontade sobre ti”.
(9) Eu não tinha e fui buscá-lo e dei-lhe, e o menino escrevia:
(10) “Declaro perante o Céu e a terra que é minha Vontade que a escolhi vítima; declaro que me fez doação da alma e do corpo, e sendo Eu o absoluto dono, quando a Mim me agrada participo das penas de minha Paixão, e eu em correspondência lhe abri a porta de minha Divindade; declaro que neste acesso me roga continuamente cada dia pelos pecadores, e toma um fluxo contínuo de vida em proveito dos mesmos pecadores”.
(11) E escreveu tantas outras coisas que eu não me lembro muito bem, por isso as omito. Eu ao ouvir isto me senti toda confusa e disse: “Senhor, perdoa-me se me torno impertinente, isto que escreveste não queria sabê-lo, basta-me que o saibas Tu sozinho, o que queria saber é se é Tua vontade que continue neste estado”. Eu em minha mente continuava pensando em se é Sua vontade que venha o confessor a me chamar à obediência, ou bem é minha fantasia o tempo que perco com o confessor, mas não quis dizê-lo temendo querer saber muito, convencendo-me eu mesma que se é Sua uma coisa, Será sua a outra vontade”. E o menino Jesus continuou a escrever:
(12) “Declaro que é Minha vontade que continue neste estado, que venha te chamar à obediência o confessor o tempo que perdes com ele, e é Minha vontade que te surpreenda o temor de não ser Minha Vontade teu estado, este temor e dúvida te purifica de todo mínimo defeito”. (13) A Rainha Mãe e Jesus abençoaram-me, beijei-lhe a mão e encontrei-me em mim mesma.
+ + + +
6-119
Julho 5, 1905
A Humanidade de Jesus é música à Divindade.
67
Volume 06
(1) Continuando meu estado habitual, eu estava fazendo minhas práticas internas habituais, e o bendito Jesus vindo me disse:
(2) “Minha filha, minha Humanidade é música à Divindade, porque todas minhas ações formavam tantas teclas para formar a música mais perfeita e harmoniosa, para recriar o ouvido divino; e a alma que se uniforma à minhas mesmas ações internas e externas, continua a música de minha própria Humanidade à Divindade”.
+ + + +
6-120
Julho 18, 1905
A alma não deve abrir o seu interior aos outros, só ao confessor.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, mal chegou o bendito Jesus disse-me: (2) “Minha filha, quando um confessor manifesta seu modo de agir interno às almas, perde o ímpeto de continuar agindo, e a alma, conhecendo o propósito que o confessor tem sobre ela, se tornará descuidada e debilitada em seu agir. Assim a alma, se manifesta seu interior aos demais, ao descobrir seu segredo evaporará o ímpeto, permanecendo toda debilitada; e se isto não ocorre com abrir-se ao confessor, é porque a força do sacramento mantém o vapor e aumenta a força e põe seu selo”.
+ + + +
6-121
Julho 20, 1905
Quando a alma não é fiel aos desejos de Deus,
Deus interrompe seus desígnios sobre ela.
(1) Esta manhã estava rezando por um sacerdote doente que havia sido meu diretor, e pensava entre mim: “Se tivesse continuado minha direção, teria estado doente ou não? E o bendito Jesus, ao vir, disse-me:
(2) “Minha filha, quem goza dos bens que há dentro de uma casa? Certamente quem está dentro, e embora uma pessoa tenha estado primeiro dentro, é sempre quem está no presente que os goza. Como um patrão, até enquanto um servo está com ele, paga-lhe e faz-lhe gozar dos bens que há em sua casa, quando se vai chama a outro, paga-lhe e lhe participa de seus bens. É assim que faço quando uma coisa é querida por mim, e é deixada por um, a transmito a outro, dando-lhe tudo o que estava destinado para o primeiro, assim que se tivesse continuado sua direção, estando seu estado de vítima teria gozado dos bens de seu estado, e unidos a quem atualmente te guia, por isso não estaria doente. E se o guia presente, apesar de sua santidade, não obtém o resto que quer, é porque não faz plenamente o que quero, e apesar de que goza dos bens, também alguns carismas não os merece”.
68
Volume 06
+ + + +
6-122
Julho 22, 1905
Deus não olha para a obra, mas para a intensidade do amor no agir.
(1) Estando irritada por não poder fazer certas mortificações, parecendo que o Senhor me abominava e por isso não permitia que as fizesse, o bendito Jesus ao vir me disse: (2) “Minha filha, quem verdadeiramente me ama não se incomoda jamais de nada e busca converter todas as coisas em amor. Por que motivo você queria te mortificar? Certamente por amor meu, e eu te digo: “Por amor meu te mortifique, por amor meu toma os consolos, e um e o outro serão diante de Mim de igual peso”. De acordo com a dose de amor que contém uma ação, ainda que indiferente, assim se aumenta o peso, porque Eu não olho a obra, mas a intensidade do amor que o obrar contém, por isso não quero nenhum incômodo em você, senão sempre paz, porque os abomino, as perturbações, é sempre o amor próprio que quer sair para reinar, ou o inimigo para fazer mal”.
+ + + +
6-123
Agosto 9, 1905
Efeitos da paz e da perturbação.
(1) Continuando meu habitual estado, me sentia um pouco perturbada, e o bendito Jesus ao vir me disse:
(2) “Minha filha, a alma em paz e que todo seu ser tende a Mim, goteja de sua alma gotas de luz que caem sobre minhas vestes e formam meu adorno; pelo contrário, a alma turbada goteja trevas e formam o adorno diabólico. E não só isto, senão que a turbação impede o caminho à graça, e torna inútil à criatura para obrar o bem”.
(3) Em seguida, acrescentou: “Se a alma a cada coisa se perturba, é sinal de que está cheia de si mesma; se uma coisa que lhe acontece se perturba e a outra não, é sinal de que tem alguma coisa de Deus, mas há muitos vazios por preencher; se nada a turba, é sinal de que toda está cheia de Deus. Oh! Quanto mal faz a perturbação à alma, até rejeitar a Deus e enchê-la toda de si mesma”.
+ + + +
6-124
Agosto 17, 1905
Toda a glória de uma alma, é ouvir dizer que de tudo o que tem,
nada é seu, senão tudo é de Deus.
(1) Continuando o meu estado habitual, via a Rainha Mãe a dizer ao nosso Senhor: “Venha, venha
69
Volume 06
ao seu jardim para se deleitar.” Parecia que me apontava a mim. Eu ao ouvir isto me sentia cheia de vergonha e dizia entre mim: “Eu não tenho nem pingo de bem, como se poderá deleitar? Enquanto isso pensava o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, por que te ruborizas? Toda a glória de uma alma é ouvir dizer que tudo o que tem, nada é seu, senão que tudo é de Deus. E Eu em correspondência lhe digo que tudo o que é meu é seu”.
(3) E enquanto dizia isso, parecia que meu pequeno jardim feito por Ele mesmo, se unia com o seu grandiosíssimo jardim que tinha em seu coração, e se faziam um só e nos deleitávamos juntos, e depois me encontrei em mim mesma.
+ + + +
6-125
Agosto 20, 1905
A Graça toma tantas imagens em torno da alma, por
quantas são as perfeições e virtudes divinas.
(1) Esta manhã o bendito Jesus ao vir me disse:
(2) “Minha filha, se a alma em todas as suas ações opera tudo por Deus e para agradar só a Deus, a graça entra por todas as partes na alma, como uma casa quando estão abertos balcões, portas, janelas, a luz do sol entra por toda parte e goza toda a plenitude da luz, assim a alma goza toda a plenitude da luz divina. E esta luz com a correspondência da alma vai sempre aumentando, até converter-se toda ela em luz; mas se depois faz diversamente, a luz entra pelas fissuras e na alma tudo é trevas. Minha filha, a quem me dá tudo, dou tudo, por isso minha Graça, não sendo a alma capaz de receber tudo junto ao meu Ser, toma tantas imagens em torno da alma por quantas são minhas perfeições e virtudes, assim que toma a imagem da beleza e comunica a luz da beleza na alma; a imagem da sabedoria, e comunica a luz da sabedoria; a imagem da bondade, e comunica a bondade; a imagem da santidade, da justiça, da força, do poder, da pureza, e comunica-lhe a luz da santidade, da justiça, da força, do poder e da pureza, e assim por diante; de modo que a alma está adornada não por um sol, mas por tantos sóis por quantas são minhas perfeições, e estas imagens estão em torno de cada alma, só que para quem está aberta e corresponde, estão todas em atividade, trabalhando; para quem não, estão como adormecidas para aquelas almas, assim que pouco ou nada podem empregar sua atividade”.
+ + + +
6-126
Agosto 22, 1905
Quem divide com Jesus o peso dos seus sofrimentos, isto é,
o trabalho da Redenção, vem participar dos ganhos do trabalho da Redenção.
70
Volume 06
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, assim que chegou meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma, e me participava seus sofrimentos. Depois me disse: (2) “Minha filha, quando duas pessoas dividem o peso de um trabalho, juntas dividem o pagamento que recebem por aquele trabalho, e tanto um como outro podem fazer bem a quem quiserem com aquele pagamento. Então, dividindo Tu Comigo o peso de meus sofrimentos, isto é, o trabalho da minha Redenção, vens a participar no ganho do trabalho da Redenção; e sendo dividida entre Eu e Tu o pagamento de nossas penas, Eu posso fazer bem a quem quero, em geral e também em modo especial; assim você, é livre de fazer bem a quem quiser com o pagamento que lhe corresponde. Este é o lucro de quem divide Comigo minhas penas, que só é concedido ao estado de vítima, e o lucro de quem lhe está mais próximo, porque estando perto, mais facilmente participa dos bens que um possui; por isso minha filha, alegra-te quando mais te participo minhas penas, porque maior será a parte do teu pagamento”.
+ + + +
6-127
Agosto 23, 1905
Se a alma faz tudo por Deus, permanece extinta na chama do amor divino. Pensar em si mesmo nunca é virtude, mas sempre vício.
(1) Continuando meu habitual estado, meu bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, se a alma faz tudo por Mim, imita aquelas pequenas borboletas que giram e giram em torno de uma chama e ficam extintas naquela mesma chama. Assim a alma, segundo o perfume de suas ações, de seus movimentos e desejos oferecidos a Mim, assim gira em torno de Mim, agora ao redor dos olhos, agora ao rosto, agora às mãos, agora ao coração; segundo as diversas ofertas que me vai fazendo, e com o seu contínuo girar em torno de Mim permanece toda extinta na chama do meu amor, sem tocar as chamas do purgatório”.
(3) Depois desapareceu, e tendo regressado acrescentou:
(4) “O pensar em si mesmo é o mesmo que sair de Deus e voltar a viver em si mesmo. Além disso, pensar em si mesmo nunca é virtude, mas sempre vicio, mesmo que fosse sob aspecto de bem”. + + + +
6-128
Agosto 25, 1905
As verdadeiras virtudes devem ter as raízes no coração de Jesus,
e desenvolver-se no coração da criatura.
(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, a alma deve viver em meu coração, e as mesmas virtudes, deve fazer de modo
71
Volume 06
que as raízes estejam em meu coração e desenvolvê-las em seu coração; de outra maneira se podem ter as virtudes naturais, ou bem de simpatia, as quais se chamam virtudes a tempo e circunstância, e são mutáveis; enquanto as virtudes que a raiz está fixa em meu coração e desenvolvida na alma, são estáveis e se adaptam a todos os tempos e a todas as circunstâncias, e são iguais para todos, ao contrário aquelas não, e acontece que sentem uma caridade ilimitada por uma pessoa, ou seja, a um tempo são todo fogo, fazem verdadeiros sacrifícios, gostariam de pôr a vida; mas se apresenta outra, e ainda que seja mais necessitada que a primeira, num momento se muda a cena, se fazem de gelo, nem sequer querem fazer o sacrifício nem de ouvir, nem de dizer uma palavra, estão desenganadas e a despedem irritadas, furiosas; é porventura esta caridade aquela que a raiz está fixa no meu coração? Certamente que não, pelo contrário, é caridade viciosa, toda humana e de simpatia, que a um momento parece florescer, e em outro se seca e desaparece. Alguma outra é obediente a uma pessoa, submissa, humilde, faz-se um trapo, de modo que aquela pessoa pode fazer com ela o que quiser; mas com outra é desobediente, relutante, soberba; é acaso esta obediência que sai de meu coração, que obedece a todos, até aos mesmos carrascos? Não, certamente. Outra é paciente em certas ocasiões, mesmo em sofrimentos sérios, parece um cordeiro que nem sequer abre a boca para lamentar-se; mas diante de outro sofrimento, talvez menor, monta em fúria, irrita-se, amaldiçoa; é talvez esta a paciência que a raiz está fixa em meu coração? Não, certamente. Outra, um dia é todo fervor, ora sempre, até transgredir os deveres do próprio estado; outro dia recebeu um encontro um pouco desagradável, sente-se fria, abandona de fato a oração até transgredir os deveres de um cristão, as orações de obrigação; É este o meu espírito de oração, que cheguei a suar sangue, a sentir a agonia da morte, e no entanto não negligenciei um só momento a oração? Certamente que não, e assim de todas as outras virtudes. Só as virtudes que estão radicadas em meu coração e enxertadas na alma são estáveis e permanecem, e resplandecem cheias de luz; as outras, enquanto aparecem como virtudes são vícios, aparecem como luz e são trevas”.
(3) Disse isto e desapareceu. Eu continuava desejando-o, e voltou e acrescentou: (4) “A alma que me deseja sempre se embebe de Mim continuamente, e Eu sentindo-me embebido pela alma me embebo da alma, de modo que onde quer que volte, encontro-a com seus desejos e a toco continuamente”.
+ + + +
6-129
Agosto 28, 1905
O coração de Jesus se ata com os corações humanos, e estes tomam
tudo do coração Dele, até sua própria Vida, se lhe correspondem.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus ao vir me fazia ver seu amável coração, e de dentro saíam
72
Volume 06
como tantos fios resplandecentes de ouro, de prata, vermelhos, e parecia que formavam uma rede, e fio por fio amarrava todos os corações humanos. Eu fiquei admirada ao ver isto, e Ele me disse: (2) “Minha filha, meu coração se liga com estes fios a todos os afetos, os desejos, os batimentos, o amor e até a própria vida dos corações humanos, em tudo similares ao meu coração humano, só diferentes na santidade, e tendo-os atado, desde o Céu, como se movem meus desejos, o fio dos desejos estimula os desejos deles; se se movem os afetos, o fio dos afetos move os afetos deles; se amo, o fio do amor estimula o amor deles; e o fio da minha vida lhes dá a vida. Oh! Que harmonia entre o Céu e a terra, entre meu coração e os corações humanos, mas isto o adverte só quem me corresponde; mas quem faz algo de má vontade, com o vigor de sua vontade nada adverte e manda ao vazio as operações de meu coração humano.
+ + + +
6-130
Setembro 4, 1905
Em todos os tempos, Deus teve almas que receberam, por quanto pode uma criatura, a finalidade da Criação, Redenção e Santificação.
(1) Continuando o meu habitual estado, o meu adorável Jesus fazia-me ver a sua Santíssima Humanidade, todas as suas chagas, as suas tristezas, e do interior das suas chagas e até das suas gotas de sangue saíam tantos ramos cheios de frutos e flores, e parecia que me comunicava seus sofrimentos e todos seus ramos carregados de flores e frutos. Eu fiquei maravilhada ao ver a bondade de nosso Senhor que me participava todos seus bens, sem excluir-me de nada de tudo o que Ele continha; e o bendito Jesus me disse:
(2) “Filha amada minha, não te admires do que vês, porque não estás sozinha ou és única, porque em todos os tempos tive almas, que, na medida em que uma criatura pode, de algum modo, receber a finalidade da criação, redenção e santificação, e que a criatura possa receber todos os bens pelos quais a criei, redimi e santifiquei; caso contrário, se eu não estivesse em todo o tempo, mesmo que fosse um apenas, se frustraria todo minha obra, pelo menos por algum tempo. Esta é a ordem da minha providência, da minha justiça e do meu amor, que em cada tempo tivesse ao menos uma só a que Eu pudesse participar todos os bens, e que a criatura me desse tudo o que me deve como criatura, de outra maneira, em que aproveitaria manter o mundo? Num momento o destroçaria; e por isso precisamente escolho as almas vítimas, porque assim como a divina justiça encontrou em Mim tudo o que deveria encontrar em todas as criaturas, e participou-me todos juntos os bens que teria participado a todas as criaturas, de modo que a minha humanidade continha tudo, assim nas vítimas encontro tudo nelas e lhes compartilho todos os meus bens. No tempo da minha Paixão tive a minha amadíssima Mãe, que enquanto lhe participava todas as
73
Volume 06
minhas penas e todos os meus bens, Ela como criatura estava atentíssima a reunir em Si tudo o que me teriam feito as criaturas, assim que Eu encontrava nela toda a minha satisfação e toda a gratidão, o agradecimento, o louvor, a reparação, a correspondência que devia encontrar em todos os outros. Logo vinha a Madalena, João, e assim em todos os tempos da Igreja, por isso, para fazer que ditas almas me fossem mais agradáveis e pudesse sentir-me atraído a dar-lhes tudo, as previno primeiro e logo lhes enobreço a alma, o corpo, o trato, e até a voz, de modo que uma só palavra tem tanta força, é tão graciosa, doce, penetrante, que tudo me comove e me enternece, me transforma muda-me e eu digo: Ah! É esta a voz de minha amada, não posso fazer menos que escutá-la, seria como se quisesse negar-me a Mim mesmo o que quer, se não devo escutá-la convém-me tirar a vontade de fazê-la falar, mas mandá-la vazia jamais; assim que entre ela e eu há tal eletricidade de união, que a própria alma não pode compreender tudo nesta vida, ainda que o compreenda com toda clareza na outra”.
+ + + +
6-131
Setembro 6, 1905
O mal da distração.
(1) Esta manhã, depois de ter esperado muito, via nosso Senhor crucificado, e eu estava beijando as chagas de suas mãos, reparando e rogando que santificasse, aperfeiçoasse, purificasse todas as obras humanas por amor do que havia sofrido em suas santíssimas mãos, e o bendito Jesus me disse:
(2) “Minha filha, as obras que mais irritam minhas mãos, e que mais me amargam e ampliam minhas chagas são as boas obras feitas com distração, porque a distração tira a vida às boas obras, e as coisas que não têm vida estão sempre próximas a apodrecer, por isso a Mim me dão náuseas, e ao olho humano é mais escândalo a boa obra feita sem atenção do que o próprio pecado, porque o pecado é conhecido como trevas, e não é maravilha que as trevas não dêem luz; mas a boa obra que é luz e dá trevas ofende tanto ao olho humano, que não sabe mais onde encontrar a luz, e por isso encontra um obstáculo no caminho do bem”.
+ + + +
6-132
Setembro 8, 1905
A verdadeira caridade é fazer o bem ao próximo, porque é imagem de Deus. (1) Encontrando-me em meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, a verdadeira caridade é quando fazendo o bem ao próximo, o faz porque é minha imagem. Toda a caridade que sai deste ambiente não se pode dizer caridade; se a alma quer o mérito da caridade não deve sair jamais deste ambiente de ver em tudo a minha imagem. Tanto é verdade que nisto está a verdadeira caridade, que a minha caridade não sai jamais deste
74
Volume 06
ambiente, tanto ama a criatura porque é imagem minha, e se com o pecado deforma esta minha imagem, não sinto mais amá-la, mas a abomino; e conservo as plantas, os animais, porque servem a minhas imagens, e a criatura deve adaptar-se toda ela mesma a exemplo de seu Criador”.
+ + + +
6-133
Setembro 17, 1905
Como você pode participar das dores da Rainha Mãe.
(1) Tendo sofrido muito pela privação de meu dulcíssimo Jesus, esta manhã, dia das dores de Maria Santíssima, depois de haver-me de algum modo fatigado, veio e me disse: (2) “Minha filha, que queres que tanto me almejas?
(3) E eu: “Senhor, o que tens para Ti, é o que desejo para Mim”.
(4) E Ele: “Minha filha, para Mim tenho espinhos, pregos e cruz”.
(5) E eu: “Bem, é isso que quero para mim”. E me deu sua coroa de espinhos e me participava as dores da cruz, e depois acrescentou:
(6) “Todos podem participar nos méritos e nos bens que frutificaram das dores de minha Mãe. Quem antecipadamente se coloca nas mãos da providência, oferecendo-se a sofrer qualquer tipo de penas, misérias, enfermidades, calúnias e tudo o que o Senhor disponha sobre ela, vem a participar da primeira dor da profecia de Simeão. Quem atualmente se encontra nos sofrimentos e está resignado e está mais estreito Comigo, não me ofende, e como se me salvasse das mãos de Herodes, e são e salvo me conserva no Egito de seu coração, participa da segunda dor. Quem se encontra abatido de ânimo, árido e privado da minha presença, e está firme e fiel aos seus habituais exercícios, aliás, procura a ocasião de me amar e buscar-me mais, sem se cansar, vem participar dos méritos e bens que adquiriu a minha Mãe no meu extravio. Quem em qualquer ocasião que se encontre, especialmente de me ver ofendido gravemente, desprezado, pisoteado, e busca reparar-me, compadecer-me e rogar por aqueles mesmos que me ofendem, é como se encontrasse naquela alma a minha mesma Mãe, que se tivesse podido libertar-me dos meus inimigos, e participasse na quarta dor. Quem crucifica seus sentidos por amor de minha crucificação, e tenta copiar em si as virtudes de minha crucificação, participa do quinto. Quem está em contínua atitude de adorar, de beijar minhas chagas, de reparos, de agradecimentos e mais, em nome de todo o gênero humano, é como se me tivesse em seus braços, como me teve minha Mãe quando fui deposto da cruz, e participa do sexto sofrimento. Quem se mantém em minha graça e me corresponde, e não dá a nenhum outro albergue no próprio coração senão a Mim só, é como se me sepultasse no centro do coração, e participa no sétimo.”
75
Volume 06
+ + + +
6-134
Outubro 10, 1905
O sinal de que a alma está perfeitamente estreitada e unida com Jesus, é se está unida com todos os demais.
(1) Estando muito afligida pelas fadigas que o bendito Jesus me faz sofrer ao esperá-lo, esta manhã ao momento de fazer-se ver me disse:
(2) “Minha filha, me desagrada sua tristeza e o ver-te como imersa em amarga aflição por minha privação. Sinto tanta pena de sua aflição, especialmente porque é por minha causa, que a sinto como se fosse minha, e é tão grande, que se todas as aflições dos outros se unissem, não me daria tanta pena como a sua só, porque é só por minha causa. É por isso que, me mostre seu rosto alegre e me faça ver que está contente”.
(3) Depois aproximou-se estreitando fortemente a mim e acrescentou:
(4) “O sinal de que a alma está perfeitamente estreita e unida Comigo, é se está unida com todos os próximos. Assim como nenhuma nota discordante e mesclada deve existir com aqueles que estão visíveis na terra, assim nenhuma nota discordante de desunião pode existir com o invisível Deus”.
+ + + +
6-135
Outubro 12, 1905
O conhecimento de si mesma, esvazia a alma de si mesma e a enche de Deus. (1) Continuando meu habitual estado, quando veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, o conhecimento de si mesma esvazia a alma de si mesma e a enche de Deus; e não só isto, na alma há muitos armários, e tudo o que no mundo se vê, de acordo com o conceito que se forma disso, assim, quem mais, quem menos, tomam seu lugar nestes armários. Agora, a alma que se conhece a si mesma e está cheia de Deus, sabendo que ela é nada, mas bem se sabe um vaso frágil, putrefato, fétido, cuida-se bem de fazer entrar em seu interior outras podridões fétidas, como são as coisas que se vêem no mundo. Seria um louco aquele que tendo uma chaga putrefata vai juntando mais podridão para colocá-la sobre sua chaga; conhecer-se a si mesma leva consigo o conhecimento das coisas do mundo, por isso, como tudo é vaidade, fugacidade, bens só disfarçados, enganos, inconstância de criatura, então conhecendo quais são as coisas em si mesmas, se cuida bem de fazê-las entrar em si mesma, e todos aqueles armários ficam cheios das virtudes de Deus”.
76
Volume 06
+ + + +
6-136
Outubro 16, 1905
Quanto mais a alma se aproxima do amor de Deus, mais perderá as virtudes.
(1) Tendo lido um livro que tratava das virtudes, olhando para mim mesma estava pensativa porque não via em mim nenhuma virtude; se não fosse só porque quero amá-lo, quero-o, amo-o, e quero ser amada por Jesus bendito, nada, nada existiria em mim de Deus. Agora, encontrando-me em meu estado habitual, meu adorável Jesus me disse:
(2) “Minha filha, quanto mais a alma chega ao termo, para aproximar-se da fonte de todo bem, qual é o verdadeiro e perfeito amor de Deus, onde tudo ficará submerso e só o amor existirá para ser o motor de tudo, assim a alma perderá todas as virtudes que praticou na viagem, para encerrar tudo no amor e repousar de tudo para só amar; não perdem todos os bem-aventurados só por amar? Assim a alma, quanto mais caminha, menos sente o diversificado trabalho das virtudes, porque o amor investindo-as todas, as converte todas em si, tendo-as em si mesmo em repouso, como tantas nobres princesas, trabalhando ele só e dando-lhes vida a todas, e enquanto a alma não as alerta, no amor as encontra todas, porém mais belas, mais puras, mais perfeitas, mais enobrecidas, e se a alma as alerta é sinal de que estão divididas do amor. Como por exemplo, um recebe uma ordem, e a alma exercita a obediência por obedecer ao que dá a ordem para adquirir a virtude para sacrificar a vontade própria, e tantas outras razões que pode haver; agora, fazendo assim se adverte que se exercita a obediência, sente-se a fadiga, o sacrifício que leva consigo esta virtude. Outra obedece, não por obedecer ao que dá a ordem, nem por outras razões, mas sabendo que Deus se desgostaria por sua desobediência, vê Deus naquele que ordena, e por amor seu sacrifica tudo e obedece. A alma não adverte que obedece, senão só que ama, porque só por amor obedeceu, senão teria desobedecido o mesmo, e assim por diante. Por isso, ânimo no caminho, que quanto mais se caminha, tanto mais rápido saborearás a bem-aventurança eterna do único e verdadeiro amor, mesmo daqui”.
+ + + +
6-137
Outubro 18, 1905
O tudo está em aumentar o amor, e estar próximo de Jesus.
(1) Esta manhã, encontrando-me no meu habitual estado, Jesus veio de improviso e disse-me: (2) “Minha filha, que tolice, até nas coisas santas pensam em como contentar-se a si mesmos, se nas coisas santas me fazem a um lado, onde encontrarei Eu um lugar nas ações de minhas criaturas? Que engano! Enquanto o todo está em que as ações sejam precedidas pelo amor, em
77
Volume 06
levá-las a cabo, reunir quanto mais coisas possa para aumentar o amor, e estar tão próximo a Mim para beber da fonte de meu amor, para submergir tudo em meu amor. No entanto, que erro! Fazem tudo de maneira diversa”.
(3) Disse isso e desapareceu.
+ + + +
6-138
Outubro 20, 1905
A Justiça Divina converte o fogo do pecado em fogo de castigo.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus, quase em ato de mandar castigos, disse-me:
(2) “Minha filha, o pecado é fogo, minha justiça é fogo. Agora, devendo minha justiça permanecer sempre igual, sempre justa em seu agir, e não receber em si nenhum fogo profano, quando o fogo do pecado quer unir-se ao seu, derrama-o sobre a terra, convertendo-o em fogo de castigo”.
+ + + +
6-139
Outubro 24, 1905
As misérias da natureza humana servem para reordenar nela a ordem de todas as virtudes.
(1) Considerando minha miséria, a debilidade da natureza humana, sentia-me um objeto abominável a mim mesma, e imaginava como sou mais abominável diante de Deus, e dizia entre mim: “Senhor, como se fez feia a natureza humana”. E vindo me disse: (2) “Minha filha, nada saiu de minhas mãos que não seja bom, mas sim criei a natureza humana bela, mas de aparência enganosa, e se a alma a vê desprezível, purulenta, débil, abominável, isto serve à natureza humana como serve o esterco à terra, que quem não entende de tudo diria: Louco aquele que suja o terreno com esta sujeira, enquanto que quem entende que essa sujeira serve para fecundar a terra, para fazer crescer as plantas e fazer mais belos e saborosos os frutos. Assim criei a natureza humana com estas misérias para reordenar nela a ordem de todas as virtudes, de outra maneira ficaria sem o exercício das verdadeiras virtudes”.
(3) Então via em minha mente a natureza humana como se estivesse toda cheia de buracos, e nestes buracos estava o pus, a lama, e de dentro saíam ramos carregados de flores e frutos Por isso compreendia que tudo está no uso que fazemos dela, inclusive das mesmas misérias. + + + +
78
Volume 06
6-140
Novembro 2, 1905
A alma deve uniformar-se à Divina Vontade, e a alma que
se comporta deste modo, Jesus a faz viver d’Ele e n’Ele.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual, estava muito afligida pela privação de meu adorável Jesus, e estava dizendo: “Ah Senhor! Eu não quero outra coisa que a Ti, não encontro outro contentamento mais que em Ti somente, e Tu me deixaste tão cruelmente?” Enquanto dizia, saiu de dentro de mim e disse:
(2) “Ah! Isso mesmo, Eu sou apenas o seu contentamento, e eu encontro todo o meu contentamento em você, então se eu não tivesse outro, você sozinha me faria feliz. Minha filha, um pouco de paciência até que comecem as guerras, que depois nos colocaremos em ordem como antes”.
(3) E eu, sem saber o que dizia, eu mesma, disse: “Senhor, faze-as começar”. Mas rapidamente acrescentei: “Senhor, enganei-me”.
(4) E Ele: “Tua vontade deve ser a minha, nada deves querer, ainda que seja coisa santa, que não seja uniforme à minha Vontade. No giro de minha Vontade quero que você gire sempre, sem sair um instante, para poder te tornar dona de Mim mesmo; Eu quero a guerra, também você. E com a alma que se comporta deste modo, Eu faço de meu Ser um círculo em torno dela, de modo a fazê-la viver de Mim e em Mim”.
(5) E desapareceu.
+ + + +
6-141
Novembro 6, 1905
Jesus em suas penas, sua finalidade era principalmente agradar
em tudo e por todos ao Pai, e depois a redenção das almas.
(1) Pensando na Paixão de Nosso Senhor, dizia entre mim mesma: Quanto gostaria de entrar no interior de Jesus Cristo para poder ver tudo o que Ele fazia, e para ver o que mais agradava a seu coração, para poder fazê-lo também eu e atenuar suas penas oferecendo-lhe o que Ele mais gostava”. Enquanto dizia isto, o bendito Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(2) “Minha filha, meu interior estava ocupado nas penas, principalmente a agradar em tudo e por todos ao meu amado Pai, e depois na redenção das almas; e a coisa que mais agradava a
79
Volume 06
meu coração ver a complacência que me mostrava o Pai ao me ver sofrer tanto por seu amor, assim que tudo reunia em Si, nem sequer um respiro, um suspiro se dispersou, senão que tudo recolheu para poder-se agradar e me mostrar sua complacência. E Eu estava tão satisfeito com isso, que se não tivesse outra coisa, a simples complacência de meu Pai me bastava para sentir-me satisfeito pelo que sofria; enquanto que por parte das criaturas, muito, muito da minha Paixão ficou disperso. E tanta era a complacência do Pai, que a torrentes derramava em minha Humanidade os tesouros da Divindade. Por isso acompanha minha Paixão desta maneira, que me dará muito gosto”.
+ + + +
6-142
Novembro 8, 1905
A alma que se resigna à Divina Vontade chega a fazer de Deus seu alimento cotidiano.
(1) Tendo esperado muito, assim que Jesus veio me disse:
(2) “Minha filha, à alma que se resigna a minha Vontade, lhe sucede como a aquele que, aproximando-se ao ver um belo alimento, sente o desejo de comê-lo, e estimulando o desejo passa a desfrutar daquele alimento e convertê-lo em sua carne e em seu sangue. Se não tivesse visto o belo alimento, não poderia vir o desejo, nem sentir o gosto, e continuaria a permanecer em jejum. Assim é a resignação à alma, enquanto se resigna, na mesma resignação descobre uma luz divina, e esta luz limpa a névoa que impede ver a Deus, e vendo
o, deseja gostar de Deus, e enquanto gosta Dele sente como se o comesse, de modo que o sente tudo transformado em si ao mesmo Deus. Assim que disto se entende que o primeiro passo é o resignar-se, o segundo é o desejo de fazer em tudo a Vontade de Deus, o terceiro fazer dele seu alimento primoroso cotidianamente, o quarto é consumar a Vontade de Deus na sua. Mas se não fizer o primeiro passo ficará em jejum de Deus”.
+ + + +
6-143
Dezembro 12, 1905
A palavra de Deus é palavra fecunda que germina virtudes.
(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse: (2) “Minha filha, quando a criatura opera o bem, parte dela uma luz que vai ao Criador, e esta luz dá glória ao Criador da luz, e embeleza com uma beleza divina a alma”. (3) Depois vi o confessor que tirava o livro escrito por mim para o ler, e junto estava Nosso Senhor que dizia:
(4) “A minha palavra é chuva, e assim como a chuva fecunda a terra, assim o sinal para saber
Volume 06
81
se o que está escrito neste livro é chuva da minha palavra, é ver se é palavra fecunda que germina
virtudes.”
+ + + +
6-144
Dezembro 15, 1905
Jesus quis ser crucificado e levantado na cruz, para fazer com que as almas,
segundo o queiram, o encontrem.
(1) Continuando meu habitual estado, estava pensando na Paixão de Jesus bendito, e fazendo-se
ver crucificado me participava um pouco de suas dores dizendo-me:
(2) “Minha filha, quis ser crucificado e levantado na cruz para fazer que as almas, segundo me
queiram me encontrem. Então você me ama como um professor porque você sente a necessidade
de ser ensinada, e eu me abaixo para ensinar-lhe tanto as coisas pequenas como as mais altas e
sublimes para torná-la mais instruída. Outro gemido no abandono, no esquecimento, gostaria de
encontrar um pai, vem aos pés da minha cruz, e eu me faço pai lhe dando habitação em minhas
chagas, por bebida meu sangue, por alimento minhas carnes, e por herança meu mesmo reino.
Aquele outro está doente e me encontra médico, que não só o curo, mas dou-lhe os remédios
seguros para não cair mais nas enfermidades. Este outro está oprimido por calúnias, por
desprezos, e aos pés da minha cruz encontra o seu defensor, até lhe mudar as calúnias, os
desprezos, em honras divinas; e assim por diante, assim quem me quer juiz encontra-me juiz,
quem amigo, quem esposo, quem advogado, quem sacerdote, assim me acham. Por isso quis ser
cravado de mãos e pés, para não me opor a nada do que querem, para fazer-me como querem;
mas, ai! de quem, vendo que Eu não posso me mover, nem mesmo um dedo, se atrevem a me
ofender”.
(3) Enquanto dizia isto eu disse: “Senhor, quem são os que mais te ofendem?” E Ele acrescentou:
(4) “Aqueles que mais me fazem sofrer são os religiosos, os quais vivendo em minha Humanidade
me atormentam e dilaceram minhas carnes em minha mesma Humanidade; enquanto quem vive
fora de minha Humanidade, me lacera de longe”.
+ + + +
6-145
Janeiro 6, 1906
A oração é música ao ouvido de Jesus, especialmente se é de uma
alma uniformada à sua Vontade.
(1) Continuando o meu habitual estado, assim que veio o meu bendito Jesus e no ato em que
estava orando, me estremeceu disse:
Volume 06
82
(2) “Minha filha, a oração é música ao meu ouvido, especialmente quando uma alma está toda
uniformada à minha Vontade, de modo que não se adverte em todo seu interior mais que uma
contínua atitude de vida de Vontade Divina. Esta alma é como se saísse outro Deus e me fizesse
esta música, oh! como é agradável encontrar quem me pague com a mesma moeda e possa dar-
me a honras divinas. Só quem vive em meu Querer pode chegar a tanto, porque todas as demais
almas, embora fizessem e orassem muito, serão sempre coisas e orações humanas as que farão,
não divinas, por isso não terão aquela potência e aquela atração a meu ouvido”.
+ + + +
6-146
Janeiro 14, 1906
Jesus forma a sua imagem na luz que sai da alma.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) “Filha minha, Eu não estou contente quando saem da alma reflexos de luz, quero que seja luz o
pensamento, luz a palavra, luz o desejo, luz as obras, luz os passos, e estas luzes unidas formam
um sol, e neste sol vem formada toda minha imagem, e isto acontece quando faz tudo, tudo por
Mim, torna-se toda luz, e assim como quem quer entrar dentro da luz solar não encontra obstáculo
para poder entrar, assim Eu não encontro obstáculo neste sol que a criatura formou de todo seu
ser; em troca, em quem não é toda luz encontro muitos impedimentos para formar minha imagem”.
+ + + +
6-147
Janeiro 16, 1906
Quem vive no ambiente da Vontade Divina está no porto de todas as riquezas.
(1) Continuando meu habitual estado, por pouco tempo veio meu bendito Jesus e me disse:
(2) “Na verdade ninguém pode resistir, nem o homem pode dizer que não é verdade; por quanto
mau e estúpido não pode alguém dizer que o branco é negro, e que o negro é branco, que a luz é
trevas, e que as trevas são luz; só que quem a ama a abraça e a põe em ação, e quem não a ama
fica perturbado e atormentado”.
(3) E como relâmpago desapareceu, e pouco depois voltou e acrescentou:
(4) “Minha filha, quem vive no ambiente da minha Vontade está no porto de todas as riquezas, e
quem vive fora deste ambiente da minha vontade está no porto de todas as misérias, por isso se
diz no Evangelho que a quem tem lhe será dado, e a quem não tem lhe será tirado aquele pouco
que tem, porque quem vive na minha vontade, estando no porto de todas as riquezas, não é
maravilha que se irá enriquecendo sempre mais com todos os bens, porque vive em Mim como em
Volume 06
83
sua própria casa, e Eu, tendo-o em Mim, acaso serei avarento? Não lhe vou dar dia a dia, agora
um favor, ora outro, e nunca deixarei de lhe dar até, que não lhe tenha participado todos os meus
bens? Sim, certamente, ao contrário, quem vive no porto das misérias, fora de minha Vontade, já
por si mesma a própria vontade é a maior das misérias e a destruidora de todo bem, que maravilha
então que se tem um pouco de bem, não tendo contato com minha Vontade e vendo-o inútil
naquela alma lhe seja tirado?”
Deo Gratias.
Nihil obstat
Canonico Hanibale M. Di Francia
Eccl.
Imprimatur
Arcebispo Giuseppe M. Leo
Outubro 1926
Dê seu testemunho sobre seu encontro com a Divina Vontade